Usura de Paulo Nozolino

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Usura, de Paulo NozolinoBES Arte & Finança, LisboaDe 20 de Setembro a 4 de JaneiroEntrada livre

Inaugura-se no próximo dia 20 no BES Arte & Finança, no Marquês de Pombal, em Lisboa, a exposição Usura, de Paulo Nozolino. Comissariada por Sérgio Mah, esta exposição reúne pela primeira vez um conjunto de nove trípticos do fotógrafo feitos entre 1999 e 2008.

A percorrer estes trabalhos estão as tensões que marcam o quotidiano, mas este olhar não procura a beleza perdida, nem o move a nostalgia pelo Antigo. O seu olhar constrói-se através de uma atenção extrema, sensível, humana, aos conflitos, aos traumas, à dureza do dia-a-dia, à morte que se testemunha diariamente, à injustiça da guerra, da perseguição: estes são os traumas que compõem a tragédia da vida para a qual não há saída e que são os elementos da obra de Paulo Nozolino. As quais, como escreve Sérgio Mah na apresentação da exposição, são "formas e meios legítimos - e necessários - de representar e escrutinar a realidade, e, consequentemente, a história, as suas representações e as suas memórias".

O título, baseado no canto XLV de Ezra Pound, o qual termina com os versos "cadáveres dispostos no banquete / às ordens de usura", não descreve os acontecimentos das imagens de Nozolino, mas serve como mote ou, se se preferir, serve para fazer destas imagens instâncias críticas, distanciando-as dos campos da distracção e do hedonismo visual.

Para Mah, trata-se de ensaiar um "incisivo comentário crítico sobre alguns dos acontecimentos mais trágicos da história moderna e contemporânea. Através das imagens e títulos de cada tríptico [por exemplo: Acid Rain, Ukraine, 2008 ou Remember the damned, the expropriated, the exterminated, Bucharest 2003 - Madrid 2003 - Auschwitz 1994], encontramos referências mais ou menos explícitas ao Holocausto, ao declínio da Europa, à invasão do Iraque, ao atentado às Torres Gémeas e à catástrofe de Chernobil, mas também a temas menos concretos no tempo e no espaço, como o desaparecimento do mundo rural, a religião, a morte e a imigração". Acontecimentos estes cujas memórias são provocadas e activadas pelas imagens.

Esta é uma exposição em que os diferentes elementos exigem, como diz Mah, uma "visão relacional" na qual nada tem um valor individual, mas são as diferentes relações e movimentos que importa aprender, reter, sentir. No final, a experiência destas obras é uma experiência dramática e intensa, não por excesso retórico ou por questões de estilo, mas porque a sua natureza não permitiria outro tom, outra forma, outro estilo. Nuno Crespo

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