Apostila 2 o passo História de Quem Conta - Portal SME
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Desvelando Caminhos por um Brasil literário:<br />
ontem, hoje e sempre!<br />
Junho <strong>de</strong> 2012
Para início <strong>de</strong> conversa...<br />
Queridos Dinamizadores,<br />
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
“Não restam dúvidas <strong>de</strong> que isto é leitura:<br />
reescrever o texto da obra <strong>de</strong>ntro<br />
do texto <strong>de</strong> nossas vidas”<br />
Roland Barthes<br />
consi<strong>de</strong>rando que este ano nosso projeto não se pren<strong>de</strong> à nenhuma efeméri<strong>de</strong> e a Literatura<br />
flui plena e livre por nossas leituras, escolhas e escolas, neste segundo <strong>passo</strong> – <strong>História</strong> <strong>de</strong> quem<br />
conta histórias – optamos por <strong>de</strong>ixar que os próprios autores, suas vidas e obras figurassem como<br />
personagens principais nessa apostila.<br />
Todos os escritores citados por vocês em <strong>de</strong>zembro passado aparecem aqui. Os que já foram<br />
homenageados ou cujas palavras nortearam nosso trabalho também. E ainda os que estiveram<br />
conosco este ano e estão conosco hoje.<br />
E Bia Bedran nossa homenageada, claro!<br />
Além disso, vocês ainda vão encontrar textos voltados para a pedagogia da leitura, no espaço<br />
chamado Construindo Sentidos e Significados; e po<strong>de</strong>rão revisitar algumas Sugestões <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s.<br />
Sintam-se à vonta<strong>de</strong> para inserirem outros autores e obras, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que justificados em seus<br />
projetos. Afinal, ninguém melhor do que vocês – Dinamizador <strong>de</strong> Leitura e Dinamizador <strong>de</strong><br />
Biblioteca – para reconhecerem que palavras serão melhor absorvidas e entrelaçadas à história <strong>de</strong><br />
suas escolas e alunos.<br />
Nossa intenção, como sempre, é contribuir. Mas, <strong>de</strong>sta vez, também queremos provocar! Sim,<br />
provocar.<br />
Provocar o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> se tornarem autores <strong>de</strong> seus projetos <strong>de</strong> trabalho, ligados à <strong>SME</strong>,<br />
vinculados à Equipe <strong>de</strong> Leitura, como sempre, mas, cada vez mais com i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, com a assinatura<br />
<strong>de</strong> vocês, como representantes e articuladores <strong>de</strong> leitura <strong>de</strong> suas Unida<strong>de</strong>s Escolares.<br />
Afinal, reiteramos a assertiva <strong>de</strong> Barthes “isto é leitura: reescrever o texto da obra <strong>de</strong>ntro do<br />
texto <strong>de</strong> nossas vidas”! E é por este motivo, somado à capacida<strong>de</strong> e responsabilida<strong>de</strong> que cada um<br />
<strong>de</strong> vocês têm com a promoção da leitura, que foram escolhidos para esta função!<br />
Levantem esta ban<strong>de</strong>ira com vigor e vonta<strong>de</strong>, porque apenas com intensida<strong>de</strong>, continuida<strong>de</strong><br />
e paixão é que vamos também inscrever a nossa história particular na <strong>História</strong> <strong>de</strong> quem conta<br />
histórias.<br />
Hellenice Ferreira<br />
Duque <strong>de</strong> Caxias, 05 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2012.<br />
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Construindo sentidos e significados...<br />
LITERATURA: LEITURA DE MUNDO, CRIAÇÃO DE PALAVRA<br />
Bartolomeu Campos <strong>de</strong> Queirós<br />
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
Se a literatura é uma extensão do autor, a mim ela surge<br />
pela falta. Meu <strong>de</strong>sejo é talvez <strong>de</strong> contar para os mais jovens<br />
aquilo que gostaria que fosse narrado a mim. Mas o ato <strong>de</strong><br />
escrever dá sentido ao meu cotidiano. Na medida em que<br />
escrevo e me surpreendo com aquilo que eu não sabia que sabia<br />
eu me torno mais amigo meu. Não sei se crio para estar com o<br />
outro ou pela sauda<strong>de</strong> <strong>de</strong> minha infância e, quem sabe, pela<br />
alegria <strong>de</strong> ter vencido aquele tempo.<br />
Des<strong>de</strong> o momento do convite me pus a perseguir uma<br />
i<strong>de</strong>ia sobre o que escrever, eu que cada dia <strong>de</strong>scubro, perplexo<br />
diante do universo, que nada sei. A cada dia que vivo mais tomo<br />
posse do tanto ainda por saber. E o meu exercício <strong>de</strong> vida tem sido o <strong>de</strong> estar procurando o que não foi feito<br />
ainda, o que ainda não sei fazer. Só me interesso pelo que me falta. E falta tanto... O que sei não me basta ou<br />
satisfaz. Isso por acreditar, com convicção, que o mundo só muda quando acrescentamos a ele o nosso po<strong>de</strong>r<br />
<strong>de</strong> reinventar a vida com seus tantos significantes. Acredito <strong>de</strong>mais na capacida<strong>de</strong> inventiva do homem.<br />
Posso afirmar que pela criação tanto o sujeito se redimensiona como também se acrescenta ao mundo. Criar,<br />
para mim, é a alternativa <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>ira para abrandar o peso do não-sabido. E eu tenho um <strong>de</strong>sejo imenso <strong>de</strong><br />
alterar a comunida<strong>de</strong> em que vivo.<br />
Não que eu tenha uma proposta para ser cumprida. Mas é na medida em que travamos um profundo<br />
diálogo entre o nosso ser real e nosso ser i<strong>de</strong>al que <strong>de</strong>terminamos a crença, a i<strong>de</strong>ologia, o mundo a ser<br />
sonhado. Eu gostaria <strong>de</strong> viver em uma socieda<strong>de</strong> mais reflexiva, em que o silêncio fosse um pré-requisito<br />
essencial para toda ação, assim como ele existe no ato da criação. Almejo estar entre pessoas amantes <strong>de</strong> sua<br />
origem, capazes <strong>de</strong> ler o mundo com a mesma sensibilida<strong>de</strong> com que o tempo acaricia os anos com suas<br />
estações. Gostaria <strong>de</strong> viver numa socieda<strong>de</strong> em que não fôssemos dirigidos pelos caprichos <strong>de</strong> alguns, mas<br />
num movimento estabelecido pela soma <strong>de</strong> todos nós. Num mundo pleno <strong>de</strong> dúvidas, numa vez que para<br />
mim a dúvida nos torna mais cuidadosos, mais cautelosos, mais <strong>de</strong>licados com as relações. <strong>Quem</strong> supõe ter<br />
encontrado a verda<strong>de</strong>, passa a um estado <strong>de</strong> fanatismo. E isso no exercício do po<strong>de</strong>r é muito perigoso. Meu<br />
sofrimento advém <strong>de</strong> estar e viver numa socieda<strong>de</strong> tão injusta, em que as diferenças não concorrem para o<br />
enriquecimento, mas a diferença é apenas uma maneira arbitrária <strong>de</strong> dividir os homens em classe. Sofro por<br />
viver em uma comunida<strong>de</strong> analfabeta, como eu, marcada pela impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ler o seu entorno. Uma<br />
socieda<strong>de</strong> em que o sofrimento nos impossibilita <strong>de</strong> participar da poesia existente. Uma vez que as<br />
necessida<strong>de</strong>s básicas são mais prementes.<br />
Mas o tema que me proponho pensar é: “A literatura e o encontro <strong>de</strong> dois mundos”, e me conduz a<br />
dois entendimentos. É que a literatura <strong>de</strong>stinada aos mais jovens é uma conversa entre dois mundos: o<br />
mundo adulto e o mundo da criança. É uma longa distância. E essa literatura (mais uma vez posso dizer a<br />
partir <strong>de</strong> mim) acontece quando uma nostalgia me ameaça, trazida pela minha infância irremediavelmente<br />
perdida. É uma literatura difícil <strong>de</strong> ser construída. Ao configurar meu trabalho me vem sempre o medo <strong>de</strong><br />
estar querendo amadurecer a criança mais cedo, roubando <strong>de</strong>la a infância e colocando-a do meu lado para<br />
não me sentir ameaçado por ela. Esses dois mundos contidos na escrita – a infância vivida e a infância ainda<br />
por viver – me envolvem <strong>de</strong> cuidados. É que cada sujeito, para mim, é proprietário <strong>de</strong> uma vida, um único fio<br />
que não <strong>de</strong>ve ser cortado para que o tecido não apresente falhas.<br />
E <strong>de</strong>pois, a vida para mim nunca foi um processo <strong>de</strong> soma, mas sim, <strong>de</strong> subtração. Viver um dia é ter<br />
menos um dia. Nesse sentido eu, como adulto, já subtraí bastante e sei que concretamente a criança tem mais<br />
vida a viver do que eu. Diante da infância eu tenho que ser humil<strong>de</strong> o suficiente para reconhecer esses dois<br />
mundos.<br />
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Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
Minhas funções talvez sejam a <strong>de</strong> me abrir com minhas fantasias e minha suposta verda<strong>de</strong> diante dos<br />
mais jovens, para que eles não repitam o meu percurso, mas que procurem o caminho das diferenças. É pela<br />
diferença que enriquecemos o mundo e a nós. Na medida em que escrevo e o leitor se inscreve no texto é que<br />
elaboramos um terceiro tempo, <strong>de</strong>mocraticamente. Isso me alivia ao<br />
saber que o leitor vai além <strong>de</strong> mim<br />
enquanto procura <strong>de</strong>cifrar a minha metáfora. Eu sempre preferi<br />
dizer que escrevo pela criança que aconteceu em mim e não escrevo<br />
“para” a criança.<br />
Mas todo ato criador é cheio <strong>de</strong> infância. Se me pergunto<br />
quais os elementos que inauguram a infância, eu me respondo ser a<br />
liberda<strong>de</strong>, a espontaneida<strong>de</strong>, a fantasia, a inventivida<strong>de</strong>. E se me<br />
indago sobre os elementos que estão presentes no ato criador, eu<br />
também me respondo ser a liberda<strong>de</strong>, a espontaneida<strong>de</strong>, a fantasia, a<br />
inventivida<strong>de</strong>.<br />
Daí estar a criança tão próxima da arte. Falar assim me<br />
assusta na medida em que crescer é per<strong>de</strong>r as qualida<strong>de</strong>s da infância e entrar no mundo da contenção. E que,<br />
na medida em que vivo, ouço dizer que a pessoa é educada quando mais contém os seus impulsos. Acredito<br />
pois que crescer é mais per<strong>de</strong>r do que ganhar. Criar, assim pensando, é a única maneira <strong>de</strong> preservar a<br />
juventu<strong>de</strong>.<br />
Vivo numa socieda<strong>de</strong> que não encara a fantasia como o mais profundo do ser.<br />
Quando nos propomos a expressá-lo, estamos trazendo à tona o que há <strong>de</strong> mais reservado em nós.<br />
Daí sentir como difícil é para os processos educacionais a aceitação da literatura em seu contexto.<br />
A literatura é feita <strong>de</strong> fantasia. A escola, por ser servil, quer transformar a literatura em instrumento<br />
pedagógico, limitado, acanhado, como se o convívio com a fantasia fosse um bem menor.<br />
A escola não percebe que a literatura exige do leitor uma mudança, uma transferência movida pela<br />
emoção. Não importa o que o autor diz, mas o que o leitor ultrapassa. E a literatura é feita <strong>de</strong> palavras, e é<br />
necessário um projeto <strong>de</strong> educação capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>spertar o sujeito para o encanto das palavras. Eles não<br />
<strong>de</strong>scobriram, por exemplo, que toda palavra é composta. Quando se diz a palavra “pai”, sei que cada indivíduo<br />
ouvinte adjetiva essa palavra com sua experiência. Para alguém, pai é aquele que o abandonou, para outros, o<br />
que adoçou, para outros, o que eles não conheceram, e assim por diante. Nenhuma palavra é solitária. Cada<br />
palavra remete o leitor ou o ouvinte para além <strong>de</strong> si mesma. Haverá tarefa mais significativa para a escola do<br />
que esta <strong>de</strong> sensibilizar o sujeito para <strong>de</strong>svendar as dimensões da palavra? Por ser assim, trabalhar com a<br />
palavra é compreen<strong>de</strong>r seus <strong>de</strong>slimites e apresentar para o leitor um convite para adivinhar o que está<br />
obscuro no texto e só ele po<strong>de</strong> <strong>de</strong>svendar.<br />
Na medida em que o texto tem como figura maior a construção da<br />
metáfora, é possível ir muito além do escrito. A metáfora cria arestas, faces,<br />
dúvidas. E esta metáfora em função da arte, da beleza, abrirá portas para<br />
muitas e infindáveis paisagens que já existiam na alma do leitor.<br />
Eu venho <strong>de</strong> um país on<strong>de</strong> a diversida<strong>de</strong> cultural é a nossa<br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. São tantas e várias as manifestações que nele sobrevivem. E só<br />
po<strong>de</strong>ria ser assim. Somos uma mistura. O negro que veio para o Brasil não<br />
veio por vonta<strong>de</strong> própria, mas como um castigo. Mesmo lá seu coração era<br />
só sauda<strong>de</strong> e banzo. Daí ele não ter se <strong>de</strong>sligado <strong>de</strong> suas origens religiosas,<br />
artísticas, alimentares. E todos os outros valores trazidos foram praticados<br />
nesta outra terra. De outro lado, os índios que lá estavam com suas antigas<br />
crenças e hábitos eram forçados a um trabalho in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> seus anseios.<br />
Mas também eles não abandonaram os seus ritos. E os portugueses traziam sua cultura milenar e<br />
mais um <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong>senfreado <strong>de</strong> conquistar misturado com um espírito <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s viagens, tesouros e<br />
colonizações. Esses muitos aspectos foram somados e nos conduziram a um lugar on<strong>de</strong> as explicações do<br />
mundo nos são dadas e sem nos surpreen<strong>de</strong>r, por muitas vertentes.<br />
Convivemos com um pensamento rico em que o imaginário, em seus diversos ângulos, nos é bastante<br />
familiar e próximo do nosso cotidiano. Sempre procuramos e praticamos uma explicação para nossos<br />
<strong>de</strong>stinos por diversos caminhos e crenças, já que nossa realida<strong>de</strong> é, por si só, fantástica e não nos espanta. E o<br />
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Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
nosso cotidiano é nosso gran<strong>de</strong> tema, nosso maior assunto. A mobilida<strong>de</strong> e a flexibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pensamento nos<br />
amarram e nos aproximam. Nossos hábitos não são europeus. Não estamos ocupados ou preocupados em<br />
racionalizar os mistérios do mundo dos homens.<br />
Acreditamos não precisar <strong>de</strong> um enredo norteador, mas <strong>de</strong> relatar a existência por meio <strong>de</strong><br />
explicações apenas apaziguadoras. Nosso real é, muitas vezes, mais fantástico que a fantasia. O milagre, para<br />
nós, é um acontecimento quase natural.<br />
O diálogo entre o velho mundo e a América Latina me parece semelhante ao diálogo estabelecido<br />
pelo adulto ao se propor escrever para as crianças. Ou convidamos o leitor a viajar pela fantasia ou somos<br />
também colonizadores, querendo convencê-lo, e não encantá-lo.<br />
Um mundo antigo só po<strong>de</strong> estar do lado <strong>de</strong> um mundo jovem na medida em que dialogamos por meio<br />
dos elementos que configuram o processo criador – neste caso a literatura. O mundo adulto só é possível<br />
para os jovens quando po<strong>de</strong> ser alterado, transformado,<br />
transferido para situação <strong>de</strong> seu interesse.<br />
O adulto está esgotado – como o velho mundo – mas vejo<br />
a infância aberta e sem preconceitos. O mais jovem possui a<br />
vivacida<strong>de</strong>, a força transformadora como elemento mobilizador<br />
da vida.<br />
Mas nós precisamos do velho mundo, não para<br />
chegarmos lá on<strong>de</strong> ele está. O jovem precisa do mais velho em<br />
muitas vertentes, não para simplesmente repeti-lo, mas para<br />
ultrapassá-lo, para romper. Só assim o<br />
passado é útil.<br />
Nós, da América Latina e do terceiro mundo em geral,<br />
precisamos cuidar para que não reeditemos simplesmente o<br />
primeiro mundo. O poeta brasileiro Abgar Renault pronunciou<br />
um discurso em que dizia que para a socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> hoje “um país<br />
<strong>de</strong>senvolvido é aquele capaz <strong>de</strong> matar mais e melhor”.<br />
Mas toda a obra <strong>de</strong> arte, neste caso a literatura, é<br />
contemporânea, atual, universal. Na medida em que a arte<br />
trabalha com os sentimentos que fundam o homem – a busca, a perda, o <strong>de</strong>sencanto, o medo, a esperança, o<br />
luto, o ciúme, a paixão, a fraternida<strong>de</strong> - ela é uma linguagem comum a todos os homens, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes do<br />
lugar on<strong>de</strong> vivemos e da posição <strong>de</strong>ste lugar numa classificação econômico-financeira. A arte é movida pela<br />
força <strong>de</strong> Eros, força que nos amarra, nos aproxima, nos enlaça, nos torna iguais. Não há distância entre os<br />
criadores, não há distâncias entre as literaturas.<br />
O intercâmbio entre literaturas <strong>de</strong> diferentes povos atualiza as relações entre os homens e confirma<br />
que o essencial é inerente ao homem, ainda que as formas <strong>de</strong> expressão difiram segundo suas origens. Nesse<br />
sentido, a arte aproxima os povos.<br />
Por tudo isso, vejo nas ativida<strong>de</strong>s e objetivos que norteiam o IBBY (International Board on Books for<br />
Youth) um trabalho utilíssimo e até urgente <strong>de</strong> aproximar, o mais cedo possível, as crianças da leitura. Isto<br />
nos leva a crer que po<strong>de</strong>mos almejar, para um futuro próximo, um mundo cheio <strong>de</strong> paz, <strong>de</strong>mocracia e<br />
fraternida<strong>de</strong>.<br />
Sugestão <strong>de</strong> leitura:<br />
YUNES, ELIANE (org.). Pensar a Leitura: Complexida<strong>de</strong>. Ed. PUC – Rio; São Paulo: Loyola, 2002.<br />
PAZ, OTÁVIO. O arco e a lira. Tradução <strong>de</strong> Olga Savary. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1982.<br />
CANETTI, ELIAS. A consciência das palavras. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.<br />
RAMOS, MARIA LUIZA. Interfaces. Belo horizonte: Rio <strong>de</strong> Janeiro. Ed. Nova Fronteira, 1990.<br />
SANT’ANNA, AFFONSO ROMANO DE. A sedução da palavra. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Letraviva, 2000.<br />
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UMA JANELA PARA A LITERATURA INFANTIL BRASILEIRA<br />
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
Celso Sisto¹<br />
Não vou entrar aqui naquela discussão, infrutífera, mas tão comum,<br />
se <strong>de</strong>veria existir ou não, uma divisão entre literatura e literatura infantil ou<br />
juvenil ou qualquer outro rótulo que se queira empregar para separar os<br />
segmentos literários. Literatura infantil é aquela que visa o leitor criança, e<br />
pronto! Mas também acredito que só merece ser chamada <strong>de</strong> literatura<br />
infantil, as obras que não se <strong>de</strong>sviaram do caminho da arte, e conseguiram,<br />
aliar público leitor, forma e conteúdo, sem fazer concessão ao didático, ao<br />
utilitário e ao insuportável vício do ensinamento e do moralismo, que ainda<br />
cismam (alguns) em cobrar das obras <strong>de</strong>stinadas ao leitor infantil! Portanto,<br />
nem todo livro pra criança é literatura infantil!<br />
Consi<strong>de</strong>rando que o Brasil tem uma rica e diversificada produção<br />
editorial para crianças, também é bom prestar atenção ao quadro atual <strong>de</strong><br />
vertentes, temas e autores. No panorama contemporâneo, há linhas bem<br />
nítidas e nomes que são também sinônimos <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, criativida<strong>de</strong>, profissionalismo, pesquisa séria e<br />
garantia <strong>de</strong> uma leitura lúdica, principalmente.<br />
Vale lembrar que para atingirmos o estágio atual <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> e crescente multiplicação <strong>de</strong> leitores,<br />
alguns fatores foram (e continuam sendo) importantes: o aumento da circulação <strong>de</strong> boas obras, o surgimento<br />
<strong>de</strong> novas editoras e distribuidoras, a credibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alguns prêmios existentes no país, (responsáveis pela<br />
divulgação <strong>de</strong> obras e autores recomendáveis, especialmente os prêmios da Fundação Nacional do Livro<br />
Infantil e Juvenil e o prêmio Jabuti), a <strong>de</strong>mocratização dos programas <strong>de</strong> leituras espalhados pelo país, a<br />
preocupação com a formação do leitor como parte integrante da formação da cidadania, o aumento do<br />
número <strong>de</strong> bibliotecas no país e o incremento <strong>de</strong> pesquisas acadêmicas na área da literatura infantil. Mas<br />
ainda faltam outras tantas, bem sabemos, especialmente, ações que criem e garantam espaços permanentes<br />
para a crítica aprofundada das obras literárias infantis, nas diversas mídias, e que vá além das resenhas <strong>de</strong><br />
divulgação espalhadas pelo marketing e pelos <strong>de</strong>partamentos <strong>de</strong> divulgação das editoras.<br />
Para pensarmos o quadro atual <strong>de</strong> obras e autores, po<strong>de</strong>mos falar em basicamente seis linhas <strong>de</strong><br />
trabalho, nas quais estas obras se inserem: 1. uma linha inventiva, fantasista, que está preocupada com uma<br />
maneira nova e original <strong>de</strong> escrever histórias para as crianças, seja pela forma, seja pelo tema, mas<br />
principalmente, pela linguagem adotada. 2. uma linha que vai buscar na cultura popular os elementos para<br />
as suas obras. 3. uma linha que está preocupada em explorar a linguagem poética. 4. uma linha que está<br />
preocupada com as intertextualida<strong>de</strong>s (e que dialoga com outras obras e autores) e que aposta na<br />
<strong>de</strong>sconstrução dos clássicos, seja pela paródia, pelo humor, pela atualização dos enredos. 5. uma linha com<br />
clara preocupação social (em geral, mais realista, construída em torno <strong>de</strong> temas mais urbanos, novos<br />
mo<strong>de</strong>los familiares, crianças in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes e com vozes, crítica ao mo<strong>de</strong>lo tradicional escolar, etc.) 6. uma<br />
linha informativa (que produz biografias, livros mais <strong>de</strong> aquisição <strong>de</strong> conhecimento, feitos à altura do leitor<br />
criança, às vezes com linguagem também poética, mas sempre<br />
lúdicos). Nada disso po<strong>de</strong> ser visto <strong>de</strong> forma estanque e rígida.<br />
Essas linhas se interpenetram, se mesclam, se misturam! Note<br />
que estamos falando apenas <strong>de</strong> narrativas e <strong>de</strong> literatura<br />
infantil.<br />
Para cada uma <strong>de</strong>stas vertentes, há autores em <strong>de</strong>staque<br />
(mesmo correndo o risco <strong>de</strong> esquecer alguém...). Na vertente<br />
“inventiva”, preste atenção nas obras <strong>de</strong> Rosa Amanda Strausz,<br />
Eva Furnari, Léo Cunha, Odilon Moraes, Marcio Vassalo, Adriana<br />
Falcão. Na vertente da “cultura popular”, preste atenção em<br />
Roger Mello, Daniel Munduruku, Carolina Cunha, Reginaldo<br />
Prandi, Fernando Vilela, Fátima Miguez, André Neves. Na<br />
vertente “poética” procure conhecer a obra <strong>de</strong> Stela Maris<br />
Resen<strong>de</strong> e Graziela Bozano Hetzel. Na vertente que “retrabalha<br />
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Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
os clássicos”, veja a produção <strong>de</strong> Paula Mastroberti. Na vertente <strong>de</strong> “cunho mais social”, preste atenção em<br />
Lia Zatz, Nilma Gonçalves Lacerda, Gabriel, o pensador. E por fim, na linha da literatura informativa, preste<br />
atenção em Lúcia Fidalgo e Kátia Canton. Esses nomes são mais do que suficientes para que possamos ter<br />
uma boa i<strong>de</strong>ia da produção contemporânea. E claro, não esgotam o que <strong>de</strong> muito bom tem-se feito nesta<br />
área.<br />
Não po<strong>de</strong>mos esquecer que a literatura infantil atual vem sinalizando algumas mudanças<br />
importantes, como o aparecimento <strong>de</strong> novos gêneros (a crônica para crianças é um belo exemplo, sobretudo<br />
nos textos <strong>de</strong> Gilberto Dimenstein e Fernando Bonassi); o espaço cada vez maior para a<br />
poesia <strong>de</strong>stinada ao leitor criança; a exploração, cada vez maior, nas obras, dos novos papéis sociais, novas<br />
famílias e novos temas urbanos. Por outro lado, há também a permanência <strong>de</strong> elementos fundamentais,<br />
como o lugar garantido para o humor, a manutenção <strong>de</strong> uma escrita baseada na oralida<strong>de</strong>, a exploração das<br />
intertextualida<strong>de</strong>s. A gran<strong>de</strong> novida<strong>de</strong> do mercado editorial tem sido a busca frenética das editoras por<br />
textos que contemplem o pequeno leitor.<br />
Mas ainda que esse panorama provoque um gran<strong>de</strong> alento e um enorme estímulo, ainda somos todos<br />
tributários dos “mo<strong>de</strong>los” instaurados lá nos anos 70 e 80 por Ruth Rocha, Ana Maria Machado, Sylvia<br />
Orthof, Lygia Bojunga, Ziraldo, Angela Lago, Ricardo Azevedo, Elias José, Rogério Andra<strong>de</strong> Barbosa, Joel<br />
Rufino dos Santos, Tatiana Belinky, Marcelo Xavier, Marina Colasanti, Bartolomeu Campos <strong>de</strong> Queirós, Pedro<br />
Ban<strong>de</strong>ira – que <strong>de</strong> algum modo são ainda os responsáveis pela “gran<strong>de</strong> virada” na literatura infantil<br />
brasileira.<br />
E para finalizarmos esse panorama, vale a pena lembrar que a literatura infantil continua tendo que<br />
lidar com problemas como: a divisão por faixa etária nos catálogos das editoras, o difícil acesso às obras das<br />
editoras <strong>de</strong> médio e pequeno porte; a pouca abertura para a publicação dos novíssimos autores e<br />
ilustradores, a falta <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong> da leitura além do âmbito escolar, a dificulda<strong>de</strong> em se afastar,<br />
principalmente, do utilitarismo e do “pedagogismo”, o excesso <strong>de</strong> traduções <strong>de</strong>rramadas no mercado<br />
editorial por conta do “barateamento” da produção, a falta <strong>de</strong> espaço na mídia para a crítica literária, o<br />
preconceito em relação ao livro <strong>de</strong> imagem ou livro sem texto, e a quase<br />
inexistência <strong>de</strong> publicações <strong>de</strong> literatura dramática. Problemas que merecem toda<br />
a nossa atenção (e a <strong>de</strong> quem possa ajudar a pensar em saídas e soluções!).<br />
E num último <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> partilha, fica aqui a indicação <strong>de</strong> obras<br />
imperdíveis, para quem quer começar a se aventurar nos caminhos mo<strong>de</strong>rnos<br />
<strong>de</strong>ssa literatura infantil brasileira: Uma i<strong>de</strong>ia toda azul, Doze reis e a moça no<br />
labirinto do vento (<strong>de</strong> Marina Colasanti); Tchau, O meu amigo pintor, A casa da<br />
madrinha (<strong>de</strong> Lygia Bojunga); Menina bonita do laço <strong>de</strong> fita, <strong>História</strong> meio ao<br />
contrário, Bisa Bia, Bisa Bel, De olho nas penas (<strong>de</strong> Ana Maria Machado);<br />
Tampinha, Sua alteza, a Divinha, De morte (<strong>de</strong> Angela Lago); Classificados<br />
poéticos, Jardins, Receitas <strong>de</strong> olhar, Retratos (<strong>de</strong> Roseana Murray); Meninos do<br />
mangue (<strong>de</strong> Roger Mello); Marcelo, marmelo, martelo, Historinhas malcriadas (<strong>de</strong><br />
Ruth Rocha); O coração <strong>de</strong> Corali (<strong>de</strong> Eliane Ganem); Os bichos que tive, A viagem<br />
<strong>de</strong> um barquinho, Galo, galo não me calo, Chora não! (<strong>de</strong> Sylvia Orthof); O menino<br />
maluquinho, O menino quadradinho, A professora maluquinha, Vitor Grandam (<strong>de</strong><br />
Ziraldo); Tigres no quintal (<strong>de</strong> Sérgio Capparelli); Ciganos, Mário, Pedro, In<strong>de</strong>z,<br />
Correspondência (<strong>de</strong> Bartolomeu Campos <strong>de</strong> Queirós); Vera Mentirosa, O último<br />
dia <strong>de</strong> brincar (<strong>de</strong> Stela Maris Rezen<strong>de</strong>); Feito à mão (<strong>de</strong> Nilma Gonçalves<br />
Lacerda). Depois da leitura <strong>de</strong>ssas obras, ninguém será o mesmo!<br />
Celso Sisto é escritor, ilustrador, contador <strong>de</strong> histórias do grupo Morandubetá (RJ), ator, arte-educador, especialista em literatura infantil e juvenil,<br />
pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro (UFRJ), Mestre em Literatura Brasileira pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Catarina (UFSC), Doutorando<br />
em Teoria da Literatura pela Pontifícia Universida<strong>de</strong> Católica do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul (PUC-RS) e responsável pela formação <strong>de</strong> inúmeros grupos <strong>de</strong><br />
contadores <strong>de</strong> histórias espalhados pelo país. Tem 36 livros publicados para crianças e jovens e recebeu os prêmios <strong>de</strong> autor revelação do ano <strong>de</strong><br />
1994 (com o livro Ver-<strong>de</strong>-ver-meu-pai, Editora Nova Fronteira) e ilustrador revelação do ano <strong>de</strong> 1999 (com o livro Francisco Gabiroba Tabajara Tupã,<br />
da editora EDC); ambos concedidos pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ). Vários dos seus livros também receberam o selo<br />
Altamente Recomendável, <strong>de</strong>sta mesma Fundação.<br />
Disponível em: http://www.celsosisto.com<br />
6
Ana Maria Machado<br />
Ana por ela mesma – Por que escrevo?¹<br />
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
Por que escrevo? Porque a linguagem me fascina, me encanta, me intriga.<br />
Porque <strong>de</strong>s<strong>de</strong> criança sempre adorei navegar nos mares das histórias – ouvindo,<br />
lendo, inventando. Porque a leitura é para mim um <strong>de</strong>slumbramento e a escrita é o<br />
outro lado das moedas <strong>de</strong>sse tesouro.<br />
Por nenhuma <strong>de</strong>ssas razões apenas, e por todas elas. E muito mais. Sempre<br />
gostei <strong>de</strong> gente, bicho e planta – e um dia percebi que linguagem, histórias e i<strong>de</strong>ias<br />
são a marca do humano. E, já que eu não sou capaz <strong>de</strong> fazer como as árvores e<br />
transformar gás carbônico em oxigênio, <strong>de</strong>via tentar alguma coisa que eu pu<strong>de</strong>sse<br />
fazer, para que veneno virasse fonte <strong>de</strong> vida.<br />
Des<strong>de</strong> menina, sabia que era sensível, me emocionava facilmente, reparava<br />
em coisas miúdas que passavam <strong>de</strong>spercebidas para muita gente. Chorava à toa, era<br />
uma manteiga <strong>de</strong>rretida. Uma menina que usava palavras esquisitas. Alguns colegas<br />
riam <strong>de</strong> mim por causa disso e não me <strong>de</strong>ixavam esquecer minha diferença. Uma das<br />
minhas irmãs tinha sempre o cuidado <strong>de</strong> me corrigir quando eu contava um caso –<br />
Aos 5 anos, em 1947<br />
“Não foi bem assim, a Ana já está exagerando <strong>de</strong> novo...” Alguns professores e amigos<br />
dos meus pais também apontavam outras coisas – “A Ana tem cada i<strong>de</strong>ia!” – e diziam que eu era muito<br />
racional.<br />
Meu avô era professor <strong>de</strong> física e vivia elogiando meu espírito científico, gabava minha objetivida<strong>de</strong>,<br />
minha memória para os <strong>de</strong>talhes, minha fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> a um fato observado. Em suma, eu era uma contradição<br />
ambulante. O que me <strong>de</strong>ixava sempre com a sensação <strong>de</strong> ser meio marginal em tudo.<br />
Na hora <strong>de</strong> escolher profissão, nem pensei que escrever podia entrar nesta categoria. Fiz teste<br />
vocacional, <strong>de</strong>scobri que <strong>de</strong>via escolher entre ser artista ou cientista. Pensei em estudar agronomia (para<br />
lidar com planta e bicho) ou química (em que eu tinha ótimas notas) ou arquitetura (porque ficava no meio<br />
do caminho entre a ciência e a arte). Acabei escolhendo geografia, um vestibular sem matemática nem latim.<br />
Sonhava com geografia humana, não aguentei um ano estudando rochas e me rendi. No ano seguinte, fiz<br />
outro vestibular. Desta vez para letras, ia ser professora. Mas não pensava em escrever. E como já estava<br />
começando no jornalismo, pu<strong>de</strong> concentrar no texto <strong>de</strong> jornal meu gosto pela escrita, minha capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
observação, minha fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> aos fatos. Meu lado cientista objetivo, enfim.<br />
Artista, sim, eu sabia que era, e não tinha jeito. Mas não achava que isso fosse profissão. Era minha<br />
porção <strong>de</strong>lirante à procura <strong>de</strong> um canal <strong>de</strong> escoamento. Estu<strong>de</strong>i piano muitos anos. Fiz parte <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong><br />
teatro experimental. Fui pintora com paixão (até hoje pinto e adoro), fiz exposições on<strong>de</strong> estranhos<br />
compraram meus quadros, fui elogiada pela crítica, comecei a entrar no circuito profissional.<br />
Mas um dia, pelo fim dos anos 1960, fui percebendo que os títulos <strong>de</strong> muitos quadros e as entrevistas<br />
<strong>de</strong> certos pintores estavam tendo mais importância que a pintura em si.<br />
Pensei: “Se é para usar palavras, por que não escrever logo, em vez <strong>de</strong> ficar<br />
tentando explicar o quadro?” Desse modo, entendi que minha arte era<br />
outra – verbal mesmo. Encontrei as palavras. Ou elas me encontraram.<br />
Escrevendo, juntei todos os meus lados e porções, colei meus cacos<br />
internos, <strong>de</strong>i uma certa or<strong>de</strong>m ao caos interior. Fui me apaixonando pelas<br />
possibilida<strong>de</strong>s infinitas que a escrita literária me abria, pela intensa<br />
liberda<strong>de</strong> que me trazia. Um dia, segui o conselho<br />
<strong>de</strong> Ernest Hemingway, quando disse que o jornalismo nunca fez mal algum<br />
a um escritor... <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que largado a tempo. Demorei um pouco, talvez, mas,<br />
<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 17 anos em redações, me <strong>de</strong>spedi <strong>de</strong>las.<br />
Também escrevo por causa <strong>de</strong> outros fatores. Um <strong>de</strong>les é muito<br />
importante: minhas circunstâncias. Se eu tivesse nascido numa família<br />
analfabeta e sem contato com livros, ou em uma das tantas regiões<br />
paupérrimas do Brasil, ou em uma geração anterior, dificilmente po<strong>de</strong>ria<br />
Pintando nos idos da década <strong>de</strong> 70<br />
7
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
ser escritora profissional viver disso. Ainda mais sendo mulher. Minhas avós, por exemplo, não tiveram<br />
diante <strong>de</strong> si essa escolha. Minha avó materna nasceu na roça, nunca foi à escola, só foi ler e escrever <strong>de</strong>pois<br />
que casou. Minha avó paterna, que estudou no Colégio Sion, falava francês correntemente e era apaixonada<br />
por literatura, bem que tentou escrever, mesmo com sete filhos pra criar. Foi uma pioneira corajosa –<br />
mantinha uma coluna regular num jornal <strong>de</strong> Petrópolis. Mas assinava com pseudônimo, porque moça <strong>de</strong><br />
família não faz essas coisas. E, evi<strong>de</strong>ntemente, escrevia <strong>de</strong> graça – porque o atraso sempre acha que trabalho<br />
intelectual não precisa ser remunerado, já basta a honra <strong>de</strong> ser prestigiado.<br />
Nesse ponto, eu <strong>de</strong>i muita sorte. Por isso, pu<strong>de</strong> escrever – e este é um<br />
porquê importantíssimo. Descobri que era escritora <strong>de</strong>pois que uma geração <strong>de</strong><br />
mulheres (a quem rendo homenagem e gratidão) já tinha aberto as primeiras<br />
portas da imprensa e da literatura. E num momento em que o mercado editorial<br />
brasileiro começava a se ampliar. Foi graças a ele que eu pu<strong>de</strong> existir como autora.<br />
Em 1969, a Editora Abril lançou a revista infantil Recreio. Fui convidada a<br />
colaborar. Em pouco tempo, chegavam a ven<strong>de</strong>r 250 mil exemplares semanais,<br />
quando as histórias eram assinadas por mim ou por Ruth Rocha. Com esse<br />
sucesso, cada vez mais pediam textos nossos. Em início <strong>de</strong> 1970, eu partira para o<br />
exílio e, lá longe, inventava histórias para meu filho. Depois as mandava pra<br />
Recreio. A acolhida dos leitores era a minha garantia.<br />
Escrevo hoje porque eles me profissionalizaram, me permitiram escrever –<br />
mesmo obras aparentemente áridas, como meu primeiro livro, Recado do nome,<br />
um ensaio sobre Guimarães Rosa. Depois fui começando a publicar contos e novelas infantis em livros. Só<br />
pu<strong>de</strong> continuar escrevendo porque os leitores me leram, os críticos me premiaram, os editores me <strong>de</strong>ram<br />
espaço. A eles também <strong>de</strong>vo gratidão e reconhecimento. Sem essa preciosa ajuda, não dava para continuar.<br />
Em 1983, ousei publicar meu primeiro romance, Alice e Ulisses, guardado na gaveta havia cinco anos.<br />
Des<strong>de</strong> então venho alternando obras para crianças, jovens e adultos – leitores <strong>de</strong> qualquer ida<strong>de</strong>, sem os<br />
quais o livro não existe. Escrevo porque eles me leem. E me aflige muito pensar na quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escritores<br />
que não conseguem chegar aos leitores, no número <strong>de</strong> livros que não furem o bloqueio e ficam encalhados,<br />
sem serem lidos, mortos... Por isso, também, sou uma militante da leitura. Fui livreira, editora, vivo fazendo<br />
palestra e dando curso <strong>de</strong> promoção da leitura por este Brasil afora. Também é por isso que escrevo: porque<br />
amo os livros, <strong>de</strong>vo tanto a eles, quero colaborar na expansão <strong>de</strong>sse<br />
universo.<br />
Já disse isso antes, mas não me incomodo <strong>de</strong> repetir:<br />
À medida que o tempo passa e vou amadurecendo e entendo melhor<br />
todo esse processo, constato que escrever, para mim, se liga a dois impulsos.<br />
O primeiro é uma tentativa <strong>de</strong> fixar uma experiência passageira e, assim,<br />
viver a vida com mais intensida<strong>de</strong>, apreen<strong>de</strong>r nela aspectos que me<br />
passavam <strong>de</strong>spercebidos, compreen<strong>de</strong>r seu sentido. O outro é a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
compartilhar, <strong>de</strong> oferecer aos outros essa visão e essa compreensão, para<br />
que <strong>de</strong> alguma forma isso fique, para que minha passagem pelo mundo –<br />
ainda efêmera – não seja inútil. Na trajetória da escrita à leitura, a palavra se<br />
multiplica e se reproduz, fecundante <strong>de</strong> criação compartilhada. ²<br />
Por que escrevo? Simplesmente porque é da minha natureza, é isso<br />
que sei fazer direito. Se fosse árvore, dava oxigênio, fruto, sombra para todo<br />
mundo. Mas só consigo mesmo é fazer brotar palavra, história e i<strong>de</strong>ia, para<br />
dividir com todos.<br />
Junto da estátua <strong>de</strong> Hans Christian<br />
An<strong>de</strong>rsen, em Nova Iorque.<br />
¹ Depoimento para a série “Encontro com o Escritor”, do Instituto Moreira Salles, junho <strong>de</strong> 2000.<br />
² Esta força estranha, Editora Atual, 1996.<br />
MACHADO, ANA MARIA. Texturas sobre leituras e escritos,<br />
Editora Nova Fronteira.<br />
Imagens: http://www.anamariamachado.com<br />
8
<strong>História</strong> <strong>de</strong> Ana<br />
Na vida da<br />
escritora Ana Maria<br />
Machado, os números<br />
são sempre generosos.<br />
São 40 anos <strong>de</strong> carreira,<br />
mais <strong>de</strong> 100 livros<br />
publicados no Brasil e<br />
em mais <strong>de</strong> 18 países<br />
somando mais <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>zoito milhões <strong>de</strong><br />
exemplares vendidos.<br />
Os prêmios conquistados ao longo da carreira <strong>de</strong> escritora<br />
também são muitos, tantos que ela já per<strong>de</strong>u a conta. Tudo<br />
impressiona na vida <strong>de</strong>ssa carioca nascida em Santa Tereza,<br />
em pleno dia 24 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro.<br />
Vivendo atualmente no Rio <strong>de</strong> Janeiro, Ana começou<br />
a carreira como pintora. Estudou no Museu <strong>de</strong> Arte Mo<strong>de</strong>rna<br />
e fez exposições individuais e coletivas, enquanto fazia<br />
faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Letras na Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral (<strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>sistir do curso <strong>de</strong> Geografia). O objetivo era ser pintora<br />
mesmo, mas <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> doze anos às voltas com tintas e telas,<br />
resolveu que era hora <strong>de</strong> parar. Optou por privilegiar as<br />
palavras, apesar <strong>de</strong> continuar pintando até hoje.<br />
Afastada profissionalmente da pintura, Ana <strong>passo</strong>u a<br />
trabalhar como professora em colégios e faculda<strong>de</strong>s, escreveu<br />
artigos para revistas e traduziu textos. Já tinha começado a<br />
ditadura, e ela resistia participando<br />
<strong>de</strong> reuniões e manifestações. No<br />
final do ano <strong>de</strong> 1969, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ser<br />
presa e ter diversos amigos também<br />
<strong>de</strong>tidos, Ana <strong>de</strong>ixou o Brasil e partiu<br />
para o exílio. A situação política se<br />
mostrou insustentável.<br />
Na bagagem para a Europa, levava<br />
cópias <strong>de</strong> algumas histórias infantis<br />
que estava escrevendo, a convite da<br />
revista Recreio. Lutando para<br />
sobreviver com seu filho Rodrigo<br />
ainda pequeno, trabalhou como<br />
jornalista na revista Elle em Paris e<br />
na BBC <strong>de</strong> Londres, além <strong>de</strong> se<br />
tornar professora na Sorbonne.<br />
Nesse período, ela consegue<br />
participar <strong>de</strong> um seleto grupo <strong>de</strong><br />
estudantes cujo mestre era Roland<br />
Barthes, e termina sua tese <strong>de</strong><br />
doutorado em Linguística e Semiologia sob a sua orientação.<br />
A tese resultou no livro "Recado do Nome", que trata da obra<br />
<strong>de</strong> Guimarães Rosa. Mesmo ocupada, Ana não parou <strong>de</strong><br />
escrever as histórias infantis que vendia para a Editora Abril.<br />
A Aca<strong>de</strong>mia Brasileira <strong>de</strong> Letras elegeu, por<br />
unanimida<strong>de</strong>, no dia 8 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro a Diretoria que ficará<br />
à frente da instituição no próximo ano. A Acadêmica Ana<br />
Maria Machado será a Presi<strong>de</strong>nte. Ela substituirá o<br />
Acadêmico Marcos Vinicios Vilaça, que dirigiu a ABL nos<br />
biênios 2006/07 e 2010/11.<br />
Segunda mulher eleita Presi<strong>de</strong>nte da ABL –<br />
antes foi a Acadêmica Nélida Piñon, em 1997, ano do<br />
centenário da Aca<strong>de</strong>mia – a escritora Ana Maria Machado,<br />
assim que foi confirmada sua vitória, afirmou: “Daremos<br />
continuida<strong>de</strong> à linha <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s voltadas para a<br />
promoção dos melhores valores da cultura nacional e da<br />
língua portuguesa. A dinâmica da Casa será a mesma<br />
iniciada pelas gestões anteriores. In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente<br />
disso, dirigiremos nossa ênfase para duas celebrações em<br />
particular: o centenário <strong>de</strong> morte do Barão do Rio Branco,<br />
e a celebração do centenário <strong>de</strong> nascimento <strong>de</strong> Jorge<br />
Amado".<br />
http://www.aca<strong>de</strong>mia.org.br<br />
8/12/2011<br />
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
A volta ao Brasil veio no final <strong>de</strong> 1972, quando<br />
começou a trabalhar no Jornal do Brasil e na Rádio JB - ela foi<br />
chefe do setor <strong>de</strong> Radiojornalismo <strong>de</strong>ssa rádio durante sete<br />
anos. Em 76, as histórias antes publicadas em revistas<br />
passaram a sair em livros. E Ana ganhou o prêmio João <strong>de</strong><br />
Barro por ter escrito o livro "<strong>História</strong> Meio ao Contrário", em<br />
1977. O sucesso foi imenso, gerando muitos livros e prêmios<br />
em seguida. Dois anos <strong>de</strong>pois, ela abriu a Livraria Malasartes<br />
“Era uma vez uma menina linda, linda. Os olhos <strong>de</strong>la<br />
pareciam duas azeitonas pretas, daquelas bem brilhantes.<br />
Os cabelos eram enroladinhos e bem negros, feito<br />
fiapos da noite. A pele era escura e lustrosa, que nem o pelo<br />
da pantera negra quando pula na chuva.<br />
Ainda por cima, a mãe gostava <strong>de</strong> fazer trancinhas no<br />
cabelo <strong>de</strong>la e enfeitar com laço <strong>de</strong> fita colorida. Ela ficava<br />
parecendo uma princesa das terras da África, ou uma fada<br />
do reino do luar.”<br />
Menina bonita do laço <strong>de</strong> fita<br />
com a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> ser um espaço para as crianças po<strong>de</strong>rem ler e<br />
encontrar bons livros.<br />
O jornalismo foi abandonado no ano <strong>de</strong> 1980, para<br />
que a partir <strong>de</strong> então Ana pu<strong>de</strong>sse se <strong>de</strong>dicar ao que mais<br />
gosta: escrever seus livros, tantos os<br />
voltados para adultos como os infantis.<br />
E assim foi feito, e com tamanho<br />
sucesso que em 1993 ela se tornou<br />
hors-concours dos prêmios da<br />
Fundação Nacional do Livro Infantil e<br />
Juvenil (FNLIJ). Finalmente, a<br />
coroação. Em 2000, Ana ganhou o<br />
prêmio Hans Christian An<strong>de</strong>rsen,<br />
consi<strong>de</strong>rado o prêmio Nobel da<br />
literatura infantil mundial. E em 2001,<br />
a Aca<strong>de</strong>mia Brasileira <strong>de</strong> Letras lhe<br />
<strong>de</strong>u o maior prêmio literário nacional,<br />
o Machado <strong>de</strong> Assis, pelo conjunto da<br />
obra.<br />
Em 2003, Ana Maria foi eleita<br />
para ocupar a ca<strong>de</strong>ira número 1 da<br />
Aca<strong>de</strong>mia Brasileira <strong>de</strong> Letras,<br />
substituindo o Dr. Evandro Lins e<br />
Silva. Pela primeira vez, um autor com<br />
uma obra significativa para o público<br />
infantil havia sido escolhido para a Aca<strong>de</strong>mia. A posse<br />
aconteceu no dia 29 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2003, quando Ana foi<br />
recebida pelo acadêmico Tarcísio Padilha e fez uma linda e<br />
afetuosa homenagem ao seu antecessor.<br />
Disponível em: www.anamariamachado.com<br />
9
<strong>História</strong>s <strong>de</strong> Ana<br />
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Junho <strong>de</strong> 2012<br />
O menino que espiava pra <strong>de</strong>ntro<br />
ENSAIO<br />
Recado do Nome. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Imago, 1976. 2ª ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 2003.<br />
Esta Força Estranha. São Paulo: Atual, 1996.<br />
Contracorrente. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ática, 1997. Em espanhol: Buenas palabras, malas palabras.<br />
Argentina: Ed. Sudamericana, 1998.<br />
Texturas. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 2001.<br />
Como e Por que Ler os Clássicos Universais <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Cedo. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Objetiva, 2002. Também<br />
traduzido em espanhol, Bogotá: Editorial Norma, 2004.<br />
Ilhas no Tempo. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 2004.<br />
(Em espanhol, alguns dos ensaios fazem parte <strong>de</strong> Lectura, escuela y creación literária. Madrid: Anaya,<br />
2002; e <strong>de</strong> Literatura infantil: creación, Censura y resistência. Buenos Aires: Ed. Sudamericana,<br />
2003.)<br />
Romântico, sedutor e anarquista: como e por que ler Jorge Amado hoje, 2006.<br />
Balaio: Livros e Leituras. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 2007.<br />
ROMANCE<br />
Alice e Ulisses. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 1983.<br />
Tropical Sol da Liberda<strong>de</strong>. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 1988.<br />
Canteiros <strong>de</strong> Saturno. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Francisco Alves, 1991. 2.ª ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira,<br />
1998.<br />
Aos Quatro Ventos. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 1993.<br />
O Mar nunca Transborda. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 1995. Em espanhol, El Mar no se Desborda.<br />
Bogotá: Editorial Norma, 2003.<br />
A Audácia Desta Mulher. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 1999.<br />
Para Sempre. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Record, 2001.<br />
Palavra <strong>de</strong> Honra. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 2005.<br />
LITERATURA INFANTO-JUVENIL<br />
Bento-que-bento-é-o-fra<strong>de</strong>. São Paulo: Abril 1977. Hoje Salamandra. Também publicado em espanhol<br />
e em Portugal.<br />
Camilão, o Comilão. São Paulo: Abril, 1977. Hoje Salamandra. Também publicado em espanhol.<br />
Currupaco Papaco. São Paulo: Abril 1977. Hoje Salamandra. Também publicado em espanhol.<br />
Severino Faz Chover. Reunião <strong>de</strong> quatro contos, reeditados em separado a partir <strong>de</strong> 1993, na Coleção<br />
Batutinha. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Salamandra.<br />
<strong>História</strong> Meio ao Contrário. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ática, 1979. Também publicado em espanhol, sueco e<br />
dinamarquês.<br />
O Menino Pedro e Seu Boi Voador. São Paulo: Paz e Terra, 1979. Hoje Ática. Também publicado em<br />
espanhol.<br />
Raul da Ferrugem Azul. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Salamandra, 1979. Também publicado em espanhol.<br />
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Junho <strong>de</strong> 2012<br />
A Gran<strong>de</strong> Aventura da Maria Fumaça. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Rocco, 1980. Hoje Salamandra.<br />
Balas, Bombons, Caramelos. São Paulo: Paz e Terra, 1980. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Mo<strong>de</strong>rna, 1998.<br />
O Elefantinho Malcriado. São Paulo: Paz e Terra, 1980. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Mo<strong>de</strong>rna, 1998.<br />
Bem do Seu Tamanho. Rio <strong>de</strong> Janeiro: EBAL, 1980. Hoje<br />
Salamandra. Também publicado em espanhol e em francês.<br />
Do Outro Lado Tem Segredos. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Paz e Terra,<br />
1980. Hoje Nova Fronteira. Também publicado em espanhol.<br />
Era uma Vez, Três. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Berlendis, 1980.<br />
O Gato do Mato e o Cachorro do Morro. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ática,<br />
1980. Também publicado em espanhol.<br />
O Natal <strong>de</strong> Manuel. São Paulo: Paz e Terra, 1980. Hoje Nova<br />
Fronteira.<br />
Série Conte Outra Vez (O Domador <strong>de</strong> Monstros; Uma Boa<br />
Cantoria; Ah, Cambaxirra, Se Eu Pu<strong>de</strong>sse...; O Barbeiro e o<br />
Coronel; Pimenta no cocuruto). Rio <strong>de</strong> Janeiro: Salamandra,<br />
1980-81. Hoje FTD. Também publicados em espanhol.<br />
De Olho nas Penas. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Salamandra, 1981.<br />
Também publicado em espanhol, sueco, dinamarquês,<br />
norueguês.<br />
Palavras, Palavrinhas, Palavrões. São Paulo: Co<strong>de</strong>cri, 1981. Hoje Quinteto. Também publicado em<br />
espanhol.<br />
<strong>História</strong> <strong>de</strong> Jabuti Sabido com Macaco Metido. São Paulo: Co<strong>de</strong>cri 1981. Hoje Nova Fronteira.<br />
Bisa Bia, Bisa Bel. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Salamandra, 1982. Também publicado em espanhol, inglês, sueco e<br />
alemão.<br />
Era uma Vez um Tirano. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Salamandra, 1982. Também publicado em espanhol e<br />
alemão.<br />
O Elfo e a Sereia. São Paulo: Melhoramentos, 1982. Hoje Ediouro. Também publicado em Portugal.<br />
Um Avião, uma Viola. São Paulo: Melhoramentos, 1982. Hoje Formato. Também publicado em<br />
francês.<br />
Hoje Tem Espetáculo. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 1983.<br />
Série Mico Maneco (Cabe na Mala; Mico Maneco; Tatu Bobo; Menino Poti; Uma Gota <strong>de</strong> Mágica; Pena<br />
<strong>de</strong> Pato e <strong>de</strong> Tico-tico; Fome Danada; Boladas e Amigos; O Tesouro da Raposa; O Barraco do<br />
Carrapato: O Rato Roeu a Roupa: Uma Arara e Sete Papagaios; A Zabumba do Quati; Banho sem<br />
Chuva; O Palhaço Espalhafato; No Imenso Mar Azul; Um<br />
Dragão no Piquenique; Troca-troca; Surpresa na Sombra;<br />
Com Prazer e Alegria). São Paulo: Melhoramentos, 1983-88.<br />
Hoje, Salamandra.<br />
Passarinho Me Contou. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira,<br />
1983. Também publicado em espanhol.<br />
Praga <strong>de</strong> Unicórnio. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 1983.<br />
Também publicado em espanhol.<br />
Alguns Medos e Seus Segredos. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova<br />
Fronteira, 1984.<br />
Gente, Bicho, Planta: o Mundo Me Encanta. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />
Nova Fronteira, 1984. Também publicado em espanhol.<br />
Mandingas da Ilha Quilomba (O Mistério da Ilha). Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro: Nova Fronteira, 1984. Hoje Ática. Também publicado em espanhol.<br />
O Menino Que Espiava pra Dentro. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 1984.<br />
A Jararaca, a Perereca e a Tiririca. São Paulo: Cultrix, 1985. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 1998.<br />
Também publicado em espanhol.<br />
O Pavão do Abre-e-Fecha. São Paulo: Cultrix, 1985. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ática, 1998. Também publicado<br />
em espanhol e em Portugal.<br />
<strong>Quem</strong> Per<strong>de</strong> Ganha. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 1985.<br />
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Junho <strong>de</strong> 2012<br />
A Velhinha Maluquete. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Livro Técnico, 1986. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Mo<strong>de</strong>rna, 1988. Também<br />
publicado em espanhol.<br />
Menina Bonita do Laço <strong>de</strong> Fita. São Paulo: Melhoramentos 1986. São Paulo: Ática, 1998. Também<br />
publicado em espanhol, inglês, francês, sueco, dinamarquês e japonês.<br />
O Canto da Praça. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Salamandra, 1986. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ática, 2002. Também publicado<br />
em espanhol.<br />
Peleja. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Berlendis, 1986.<br />
Série Filhote (Lugar Nenhum; Brinca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Sombra; Eu Era um Dragão; Maré Alta, Maré Baixa). São<br />
Paulo: Globo, 1987. São Paulo: Global, 2001 (os três últimos). Rio <strong>de</strong> Janeiro: Salamandra, 2002 (novo<br />
título: Dia <strong>de</strong> Chuva).<br />
Coleção Barquinho <strong>de</strong> Papel (A Galinha Que Criava um Ratinho; Besouro e Prata; A Arara e o<br />
Guaraná; Avental Que o Vento Leva; Ai, <strong>Quem</strong> Me Dera...; Maria Sapeba; Um Dia Desses). Os 4<br />
primeiros na Globo, 1987. De 1994 a 1996, todos na Ática.<br />
Uma Vonta<strong>de</strong> Louca. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 1990. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ática, 1998. Também<br />
publicado em espanhol.<br />
Mistérios do Mar Oceano. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 1992.<br />
Na Praia e no Luar, Tartaruga Quer o Mar. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ática, 1992. Também publicado em inglês.<br />
Vira-vira. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Quinteto, 1992. Hoje O Jogo do Vira-vira. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Formato. Também<br />
publicado em espanhol.<br />
Série Adivinhe Só (O Que É?; Manos Malucos I e II; Piadinhas Infames). São Paulo: Melhoramentos,<br />
1993. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Salamandra, 2000.<br />
Dedo Mindinho. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Livro Técnico, 1993. Hoje Rio <strong>de</strong> Janeiro: Mo<strong>de</strong>rna.<br />
Um Natal Que não Termina. Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro: Salamandra, 1993.<br />
Um Herói Fanfarrão e Sua Mãe Bem<br />
Valente. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ática, 1994.<br />
O Gato Massamê e Aquilo Que Ele Vê.<br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ática, 1994.<br />
Exploration into Latin America.<br />
London: Belitha Press, 1994.<br />
Também publicado em espanhol,<br />
sueco, dinamarquês, norueguês,<br />
francês.<br />
Isso Ninguém Me Tira. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />
Ática, 1994. Também publicado em<br />
espanhol.<br />
O Touro da Língua <strong>de</strong> Ouro. Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro: Ática, 1995.<br />
Uma Noite sem Igual. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ediouro, 1995. Também publicado em espanhol.<br />
Gente como a Gente. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ediouro, 1996. Também publicado em espanhol.<br />
Beijos Mágicos. Rio <strong>de</strong> Janeiro: FTD, 1996. Também publicado em espanhol.<br />
Os Dois Gêmeos. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ática, 1996.<br />
De Fora da Arca. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Salamandra, 1996. Hoje Ática. Também publicado em espanhol.<br />
Série Lê pra Mim (Cachinhos <strong>de</strong> Ouro; Dona Baratinha; A Festa no Céu; Os Três Porquinhos; O Veado<br />
e a Onça; João Bobo). Rio <strong>de</strong> Janeiro: FTD, 1996-1997.<br />
Amigos Secretos. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ática, 1997. Também publicado em espanhol.<br />
Tudo ao Mesmo Tempo Agora. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ática, 1997. Também publicado em espanhol.<br />
Ponto a Ponto. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Berlendis, 1998.<br />
Os Anjos Pintores. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Berlendis, 1998.<br />
O Segredo da Oncinha. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Mo<strong>de</strong>rna, 1998.<br />
Melusina, a Dama dos Mil Prodígios. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ática, 1998.<br />
Amigo é Comigo. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Mo<strong>de</strong>rna, 1999.<br />
Fiz Voar o Meu Chapéu. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Formato, 1999.<br />
12
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
Mas Que Festa!. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 1999. Também publicado em espanhol e francês.<br />
A Maravilhosa Ponte do Meu Irmão. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 2000.<br />
O Menino Que Virou Escritor. Rio <strong>de</strong> Janeiro: José Olympio, 2001.<br />
Do Outro Mundo. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ática, 2002. Também publicado em espanhol e inglês.<br />
De Carta em Carta. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Salamandra, 2002. Também publicado em espanhol.<br />
<strong>História</strong>s à Brasileira. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2002. Também publicado em espanhol.<br />
Portinholas. São Paulo: Mercuryo, 2003.<br />
Abrindo Caminho. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ática, 2003.<br />
Palmas para João Cristiano. São Paulo: Mercuryo, 2004.<br />
O Cavaleiro dos Sonhos. São Paulo: Mercuryo, 2005.<br />
Procura-se Lobo. São Paulo, Ática, 2005.<br />
Coleção Gato Escondido (On<strong>de</strong> Está Meu Travesseiro?, Que Lambança!, Vamos Brincar <strong>de</strong> Escola?, e<br />
Delícias e Gostosuras). São Paulo: Salamandra, 2004-2006. Também publicados em espanhol.<br />
O Menino e o Maestro. São Paulo: Mercuryo, 2006.<br />
A Princesa que Escolhia. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 2006. Publicado em espanhol.<br />
Mensagem Para Você. São Paulo: Ática, 2007. Publicado em espanhol.<br />
<strong>História</strong>s à Brasileira 3 - Pavão Misterioso e outras.. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2008.<br />
A Minhoca da Sorte. São Paulo: Mo<strong>de</strong>rna, 2008.<br />
Não se Mata na Mata: Lembranças <strong>de</strong> Rondon. São Paulo: Mercuryo Jovem, 2008.<br />
Série 7 Mares (Odisseu e a Vingança do Deus do Mar; O Pescador e a Mãe D’Água; Simbad, o Marujo;<br />
O velho do Mar; Pescador <strong>de</strong> Naufrágios) São Paulo: Mo<strong>de</strong>rna, 2008-2010.<br />
ABC do Brasil. São Paulo: SM, 2009.<br />
Sinais do Mar. São Paulo: Cosac & Naify, 2009.<br />
Um pra lá, outro pra cá. São Paulo: Mo<strong>de</strong>rna, 2009.<br />
<strong>História</strong>s à Brasileira 4 – A Donzela Guerreira e outras. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2010.<br />
Curvo ou Reto – Olhar Secreto. São Paulo: Global, 2010.<br />
O urso, a gansa e o leão. São Paulo: FTD, 2011.<br />
ORGANIZAÇÃO DE ANTOLOGIAS<br />
O Tesouro das Virtu<strong>de</strong>s para Crianças. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, vols. I e II em 1999 e 2000; vol.<br />
III em 2002.<br />
O Tesouro das Cantigas para Crianças. Vol. I em 2001; vol. II em 2002.<br />
POESIA<br />
Sinais do Mar. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Cosac & Naify, 2009.<br />
Participações em Obras Coletivas<br />
Hoje é Dia <strong>de</strong> Festa. São Paulo: Cia. das Letras, 2006.<br />
Amor em Texto, Amor em Contexto. São Paulo: Papirus, 2009.<br />
Disponível em: www.aca<strong>de</strong>mia.org.br<br />
O urso, a gansa e o leão<br />
13
Bartolomeu Campos <strong>de</strong> Queirós<br />
Bartolomeu por ele mesmo (1944–2012)<br />
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
Sou mineiro e vivo em Belo Horizonte. Gosto <strong>de</strong> ler e<br />
escrever. Leio poesia, conto, romance. Ler é conversar com<br />
as i<strong>de</strong>ias do escritor. Escrevo quando tenho algo a dizer.<br />
Gosto <strong>de</strong> registrar o que meu pensamento pensa, mesmo<br />
sabendo que parece impossível uma formiga comer um<br />
elefante. Sei que na literatura posso escrever tudo que<br />
penso, sonho e imagino. Se escrevo minha fantasia, ela vira<br />
verda<strong>de</strong>. Gosto <strong>de</strong> ter as crianças como leitoras. Elas são<br />
capazes <strong>de</strong> fantasiar coisas muito bonitas e sérias. Elas não<br />
se espantam com a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> criar uma realida<strong>de</strong> nova<br />
para o mundo on<strong>de</strong> vivem. E quando escrevem, as crianças<br />
contam histórias que surpreen<strong>de</strong>m. É que elas sabem ver<br />
com o coração. Recebi muitos prêmios - no Brasil e no<br />
Exterior - pelos muitos livros que escrevi e que foram<br />
traduzidos para outros países. Mas saber que sou lido em<br />
muitos lugares é o maior prêmio. Quando escrevemos, é<br />
para ser lidos.<br />
BARTOLOMEU CAMPOS DE QUEIRÓS por ele mesmo.<br />
Extraída da obra ISSO NÃO É UM ELEFANTE,<br />
Editora Abacatte, Belo Horizonte, 2009.<br />
“Aqueles que tinham olhos <strong>de</strong> ver à primeira vista sentiam que era um menino<br />
<strong>de</strong>sarmado e feito só para o carinho. Sua maneira <strong>de</strong> olhar, seu jeito <strong>de</strong> se<br />
oferecer ou se encostar, seu modo <strong>de</strong> se aninhar nos braços, dava nas pessoas<br />
uma vonta<strong>de</strong> muito forte <strong>de</strong> fazê-lo sumir entre carinhos. Apertá-lo em<br />
abraços e escondê-lo no coração.”<br />
In<strong>de</strong>z<br />
14
Bartolomeu Campos <strong>de</strong> Queirós viveu sua<br />
infância em Papagaio, cida<strong>de</strong> pequena com gosto<br />
<strong>de</strong> "laranja serra-d'água", no interior <strong>de</strong> Minas<br />
Gerais, antes <strong>de</strong> se instalar em Belo Horizonte,<br />
on<strong>de</strong> residiu e trabalhou.<br />
Seu interesse pela literatura e pelo ensino<br />
da arte o fez viajar muito por este país. Conheceu<br />
as cida<strong>de</strong>s apreciando azulejos e casas<br />
pacientemente - um andarilho atento a cores,<br />
cheiros, sabores e sentidos que ro<strong>de</strong>iam as<br />
pessoas do lugar, com o mesmo encanto na alma<br />
com que observava os rios da<br />
Amazônia, dos quais<br />
costumava sentir sauda<strong>de</strong>s em<br />
Minas.<br />
Bartolomeu só fez o<br />
que gostava, não cumpria<br />
compromissos sociais nem<br />
tarefas que não lhe pareciam<br />
substanciais. Dizia ter fôlego<br />
<strong>de</strong> gato, o que lhe permitiu<br />
nascer e morrer várias vezes.<br />
"Sou frágil o suficiente para<br />
uma palavra me machucar,<br />
como sou forte o suficiente para uma palavra me<br />
ressuscitar."<br />
Em 1974 publicou seu primeiro livro, O<br />
peixe e o pássaro, e <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então firmou seu estilo<br />
<strong>de</strong> escrita como uma prosa poética da mais alta<br />
qualida<strong>de</strong>.<br />
Com formação nas áreas <strong>de</strong> educação e<br />
arte, cursou o Instituto Pedagógico <strong>de</strong> Paris. Des<strong>de</strong><br />
<strong>História</strong> <strong>de</strong> Bartolomeu<br />
“Um bom texto literário faz o<br />
leitor pensar o que ele não<br />
sabia que ele podia pensar.”<br />
Bartolomeu Campos Queirós<br />
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
os anos 70, teve <strong>de</strong>stacada atuação como<br />
educador, em vários níveis, contribuindo com<br />
importantes projetos para a Secretaria <strong>de</strong> Estado<br />
da Educação e para o Ministério da Educação.<br />
Participa do Projeto ProLer, da Biblioteca<br />
Nacional, dando conferências e seminários sobre<br />
educação, leitura e literatura. Tem 43 livros<br />
publicados no Brasil e vários <strong>de</strong>les traduzidos e<br />
editados em outros países.<br />
É <strong>de</strong>tentor dos mais importantes prêmios<br />
literários nacionais, como:<br />
Prêmio Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Belo Horizonte;<br />
Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do<br />
Livro;<br />
Selo <strong>de</strong> Ouro, da Fundação Nacional do<br />
Livro Infanto-Juvenil;<br />
9ª Bienal <strong>de</strong> São Paulo;<br />
1ª Bienal do Livro <strong>de</strong> Belo Horizonte;<br />
Diploma <strong>de</strong> Honra da IBBY, <strong>de</strong> Londres;<br />
Prêmio Rosa Blanca (Cuba);<br />
Quatrième Octagonal (França);<br />
Prêmio Nestlé <strong>de</strong> Literatura;<br />
Prêmio Aca<strong>de</strong>mia Brasileira <strong>de</strong> Letras.<br />
Com o livro "In<strong>de</strong>z", foi o vencedor do<br />
Concurso Internacional <strong>de</strong> Literatura Infanto-<br />
Juvenil (Brasil, Canadá, Suécia, Dinamarca e<br />
Noruega). Vários <strong>de</strong> seus textos foram adaptados<br />
para o teatro, <strong>de</strong>ntre eles, "Ciganos", encenado<br />
pelo Grupo Ponto <strong>de</strong> Partida.<br />
Sua obra tem sido tema <strong>de</strong> teses<br />
acadêmicas (áreas <strong>de</strong> literatura<br />
e psicologia) em várias<br />
universida<strong>de</strong>s brasileiras.<br />
Foi presi<strong>de</strong>nte da<br />
Fundação Clóvis<br />
Salgado/Palácio das Artes,<br />
membro do Conselho Estadual<br />
<strong>de</strong> Cultura e do Conselho<br />
Curador da Escola Guignard,<br />
membro do Conselho <strong>de</strong><br />
Curador da Fundação Municipal<br />
<strong>de</strong> Cultura. Atuava também como crítico <strong>de</strong> arte,<br />
integrando júris e comissões <strong>de</strong> salões e fazendo<br />
curadorias e museografias <strong>de</strong> exposições.<br />
http://www.caleidoscopio.art.br/bartolomeucampos<strong>de</strong>queiros/release<br />
15
<strong>História</strong>s <strong>de</strong> Bartolomeu<br />
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
“Ele está sempre acordado, viajando e vigiando tudo. Sabemos que ele existe porque modifica todas as coisas.<br />
O tempo troca a roupa do mundo. Ele muda a história, <strong>de</strong>svia águas, come estrelas, mastiga reinos,<br />
amadurece frutos, apodrece sementes. Nada fica fora do tempo. Moramos <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>le e impedidos <strong>de</strong> abraçálo.<br />
O tempo foge para não ser amado. <strong>Quem</strong> ama para e fica. O tempo foge.”<br />
Tempo <strong>de</strong> voo.<br />
ANOS 70<br />
O peixe e o pássaro, 1971. Saraiva<br />
Pedro, 1973. Global<br />
Raul- Luar, 1978. RHJ<br />
On<strong>de</strong> tem bruxa tem fada, 1979. Mo<strong>de</strong>rna<br />
ANOS 80<br />
Ciganos, 1982. Global<br />
Mario ou <strong>de</strong> pedras, conchas e sementes, 1983. Global<br />
Ah! Mar..., 1985. RHJ<br />
As patas da vaca, 1985. Global<br />
Cavaleiros das sete luas, 1986. Global<br />
Coração não toma sol, 1986. FTD<br />
<strong>História</strong> em 3 atos, 1986. Global<br />
Correspondência, 1986. Global<br />
Pintinhos e pintinhas, 1986. FTD<br />
Apontamentos, 1988. Formato<br />
Papo <strong>de</strong> Pato, 1989. Formato<br />
In<strong>de</strong>z, 1989. Global<br />
ANOS 90<br />
Escritura, 1990. Mazza<br />
Minerações, 1991. RHJ<br />
Faca afiada, 1992. Mo<strong>de</strong>rna.<br />
Diário <strong>de</strong> classe, 1992. Mo<strong>de</strong>rna<br />
Por parte <strong>de</strong> pai, 1995. RHT<br />
Ler, escrever e fazer conta <strong>de</strong> cabeça, 1996. Global<br />
“Há trabalho mais <strong>de</strong>finitivo, há ação<br />
mais absoluta do que essa <strong>de</strong> aproximar<br />
o homem do livro?”<br />
O livro é passaporte é bilhete <strong>de</strong> partida<br />
16
ANOS 2000<br />
Rosa dos Ventos, 2000. Global<br />
Bichos...são todos bichos, 2001. Brasil<br />
De não em não, 2001. Global<br />
Flora, 2001. Global<br />
Os cinco sentidos, 2002. Global<br />
Mais com mais dá menos, 2002. RHJ<br />
A Matinta Pereira, 2002. FTD<br />
Olhar <strong>de</strong> bichos, 2002. Dimensão<br />
Piolho, 2003. RHJ<br />
Menino <strong>de</strong> Belém, 2003. Mo<strong>de</strong>rna<br />
Vida e obra <strong>de</strong> Aletrícia <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> Zeroastro,<br />
2003. Mo<strong>de</strong>rna<br />
Rosa e Rosa, 2003. Franco<br />
Até passarinho passa, 2003. Mo<strong>de</strong>rna<br />
Para criar passarinho, 2004. Global<br />
O olho <strong>de</strong> vidro do meu avô, 2004. Mo<strong>de</strong>rna<br />
Entretantos, 2004. Conselho Regional <strong>de</strong> Psicologia<br />
O guarda-chuva do guarda, 2004. Mo<strong>de</strong>rna.<br />
Pato pacato, 2004. Mo<strong>de</strong>rna<br />
De letra em letra, 2004. Mo<strong>de</strong>rna<br />
Formiga amiga, 2004. Mo<strong>de</strong>rna<br />
Pé <strong>de</strong> sapo e sapato <strong>de</strong> pato, 2004. Brasil<br />
Somos todos igualzinhos, 2005. Global<br />
Sem palmeira ou sabiá, 2006. Peirópolis<br />
Antes e <strong>de</strong>pois, 2006. Manati<br />
Para ler em silêncio, 2007. Mo<strong>de</strong>rna<br />
Sei por ouvir dizer, 2007. E<strong>de</strong>lbra<br />
O ovo e o anjo, 2007. Global<br />
Foi assim..., 2008. Mo<strong>de</strong>rna<br />
Anacleto, 2008. Larousse<br />
Menino inteiro, 2009. Global<br />
Tempo <strong>de</strong> voo, 2009. Edições SM<br />
Nascemos livres, 2009. Edições SM<br />
O livro <strong>de</strong> Ana, 2009. Global<br />
ABC até Z, 2009. Larousse<br />
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
“Quanto a gente fala <strong>de</strong> uma<br />
socieda<strong>de</strong> leitora, nós estamos<br />
justamente tentando uma<br />
socieda<strong>de</strong> reflexiva, que pensa o<br />
seu <strong>de</strong>stino, que pensa o seu<br />
caminho.”<br />
A palavra conta<br />
ANOS 2010<br />
Isso não é um elefante, 2010. Abacate<br />
2 patas e 1 tatu, 2010. Positivo<br />
A árvore, 2010. Paulinas.<br />
Vermelho amargo, 2011. Cosac Naify<br />
O fio da palavra, 2011. Galera Record.<br />
“Meu avô me convidou, naquela tar<strong>de</strong>, para me assentar ao seu lado nesse banco cansado. Pegou minha mão e, sem tirar os olhos do<br />
horizonte, me contou:<br />
O tempo tem uma boca imensa. Com sua boca do tamanho da eternida<strong>de</strong> ele vai <strong>de</strong>vorando tudo, sem pieda<strong>de</strong>. O tempo não tem pena.<br />
Mastiga rios, árvores, crepúsculos. Tritura os dias, as noites, o sol, a lua, as estrelas. Ele é o dono <strong>de</strong> tudo. Pacientemente ele engole todas as<br />
coisas, <strong>de</strong>gustando nuvens, chuvas, terras, lavouras. Ele consome as histórias e saboreia os amores. Nada fica para <strong>de</strong>pois do tempo.<br />
As madrugadas, os sonhos, as <strong>de</strong>cisões, duram pouco na boca do tempo. Sua garganta traga as estações, os milênios, o oci<strong>de</strong>nte, o oriente, tudo<br />
sem retorno. E nós, meu neto, marchamos em direção à boca do tempo.<br />
Meu avô foi abaixando a cabeça e seus olhos tocaram em nossas mãos entrelaçadas. Eu achei serem pingos <strong>de</strong> chuva as gotas rolando sobre<br />
meus <strong>de</strong>dos, mas a noite estava clara, como tudo mais.”<br />
Por parte <strong>de</strong> pai<br />
17
Bia Bedran<br />
Bia por ela mesma - O quintal – Memórias <strong>de</strong> uma contadora <strong>de</strong> histórias...<br />
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
Um quintal é o primeiro palco que uma criança pisa.<br />
Po<strong>de</strong> ser uma área ou um pequeno pedaço qualquer<br />
on<strong>de</strong> ela se exteriorizará, largará sua imaginação e<br />
<strong>de</strong>senvolverá sua criativida<strong>de</strong>.<br />
Wanda Bedran<br />
Durante os anos 1970, minha mãe, Wanda Martini Bedran, e suas<br />
irmãs e primas, Wilma Martini Brandão, Wandirce Martini Wörhle, Maria <strong>de</strong><br />
Lour<strong>de</strong>s Martini, Maria José Martini Quintas e eu fundamos, ao lado <strong>de</strong> uma<br />
gran<strong>de</strong> parte da família, o Quintal Teatro Infantil, inaugurado em 16 <strong>de</strong><br />
setembro <strong>de</strong> 1973, numa agradável rua do bairro <strong>de</strong> São Francisco, em<br />
Niterói, no estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro. O teatro Quintal, <strong>de</strong> duzentos lugares, foi<br />
erguido literalmente no quintal da casa <strong>de</strong> umas das irmãs, Wandirce, com<br />
projeto arquitetônico <strong>de</strong> Junir Brandão, marido da outra irmã, Wilma. <strong>Quem</strong><br />
passava pela rua General Rondon, 15, voltava sua atenção para uma casa <strong>de</strong><br />
esquina sombreada por enormes amendoeiras com um toque especial no<br />
muro branco: uma gran<strong>de</strong> margarida pintada no lugar no buraco on<strong>de</strong> era a<br />
bilheteria. Participavam do grupo 23 membros da família, pais, mães, irmãos,<br />
avós, primos, tias e tios, que, através da arte, conseguiram a façanha <strong>de</strong><br />
viabilizar a convivência entre as três gerações. A i<strong>de</strong>ia da fundação <strong>de</strong> um<br />
teatro para crianças surgiu com Wanda, Wandirce, Wilma e Maria José, que<br />
quando jovens realizavam apresentações <strong>de</strong> teatro <strong>de</strong> bonecos nos morros.<br />
Com o casamento <strong>de</strong> cada uma <strong>de</strong>las, o trabalho foi interrompido até 1973,<br />
quando <strong>de</strong>sejaram a volta do grupo e mobilizaram toda a família, já na segunda geração.<br />
Ali no nosso Quintal, pu<strong>de</strong>mos experimentar linguagens cênicas diversas sempre buscando falar à infância, e<br />
nos revezávamos nas inúmeras funções pertinentes ao mundo das artes cênicas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a construção do próprio teatro<br />
em formato <strong>de</strong> arena até a confecção <strong>de</strong> figurinos, cenário, bonecos e a<strong>de</strong>reços, criação dos textos, músicas, direção,<br />
produção, iluminação, controle <strong>de</strong> bor<strong>de</strong>raux, organização da cantina (que se chamava A Casa do Sapo Guloso), enfim,<br />
todos os <strong>passo</strong>s que pertencem a uma trupe teatral.<br />
Eu, então com <strong>de</strong>zessete para <strong>de</strong>zoito anos, tratava da direção musical<br />
dos espetáculos, e todos tocávamos instrumentos <strong>de</strong> percussão, violão,<br />
acor<strong>de</strong>om, flautas, e objetos sonoros como bacia com areia para obtermos o som<br />
da água, ou conchas e chaves enredadas por um fio, que produziam um efeito<br />
mágico diante dos olhos encantados das crianças e dos adultos.<br />
Os textos das peças infantis do Quintal eram <strong>de</strong> autoria <strong>de</strong> Maria <strong>de</strong><br />
Lour<strong>de</strong>s Martini (também diretora-geral do grupo), Wanda Martini Bedran,<br />
Maria Mazzeti e Maria Arminda Aguiar. Dotados <strong>de</strong> uma enorme brasilida<strong>de</strong>,<br />
evocavam situações rurais às vezes datadas <strong>de</strong> outras épocas, o que favorecia a<br />
minha pesquisa <strong>de</strong>ntro do cancioneiro do Brasil para que as nossas<br />
interpretações tivessem maior vigor e mostrassem às crianças e a seus pais um<br />
mundo sonoro rico e diferenciado. Já aí se fazia presente aquela memória das<br />
modinhas, cordéis, romances, e das estrofes rimadas e ritmadas cantadas por<br />
minha mãe durante a infância, e toda criação das canções para os espetáculos <strong>de</strong>sabrochava fertilmente, embebida da<br />
água daquela fonte inicial. Também o modo como <strong>de</strong>scobrimos juntos a força das narrativas em contraponto com a<br />
interpretação e a caracterização dos personagens foi fundamental durante todo o processo <strong>de</strong> amadurecimento<br />
profissional do grupo. Nossa pesquisa <strong>de</strong> linguagem, utilizando bonecos e a<strong>de</strong>reços que se mesclavam com nossas<br />
atuações, acontecia atrás e na frente da “tapa<strong>de</strong>ira” ou “empanada”, como era chamado o palco dos bonecos. Eles eram<br />
criados e manipulados com primor pelas nossas mestras: mães, avós e tias. Elas eram verda<strong>de</strong>iras artesãs na criação e<br />
manipulação dos bonecos, que surgiam dos mais variados materiais e adquiriam formas surpreen<strong>de</strong>ntes, nada<br />
convencionais enquanto fantoches, mamulengos ou a<strong>de</strong>reços que se transformavam em personagens. Sua sabedoria<br />
18
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
elas repassavam para nós, que éramos na época a ala jovem do Quintal, a exemplo dos costumes recorrentes na cultura<br />
popular, em que o saber dos mais velhos é transmitido oralmente.<br />
Durante os <strong>de</strong>z anos <strong>de</strong> duração do Quintal Teatro Infantil, a presença do narrador que atuava paralelamente<br />
ao <strong>de</strong>senvolvimento das cenas foi crescente e marcante. Muitas vezes cabiam aos nossos personagens distanciarem-se<br />
dos seus papéis e narrarem o que tinha acabado <strong>de</strong> acontecer, isto é, passávamos da interpretação na primeira pessoa<br />
para a narrativa na terceira pessoa. A partir <strong>de</strong> então, comecei a enten<strong>de</strong>r algumas características do processo narrativo<br />
e seu po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> intercambiar a experiência com seus ouvintes. Em todos os espetáculos montados pelo nosso Quintal<br />
Teatro Infantil, compus a trilha sonora <strong>de</strong> modo que todos pudéssemos integrar nossas vozes, instrumentos artesanais,<br />
o corpo e o movimento à ação cênica. Quando cantávamos, era como se fôssemos o coro grego que conta e <strong>de</strong>screve a<br />
cena que acontecerá ou que acabará <strong>de</strong> acontecer.<br />
Em or<strong>de</strong>m cronológica, o Quintal Teatro Infantil montou os seguintes espetáculos:<br />
O aniversário da Princesinha Papelotes – <strong>de</strong> Maria Mazzeti – 1973.<br />
O planeta maluco – <strong>de</strong> Maria Mazzeti – 1973<br />
O circo <strong>de</strong> dom Pepe, Pepito, Pepom – <strong>de</strong> Wanda Bedran – 1973<br />
O pescador e o gênio – <strong>de</strong> Wanda Bedran – 1974<br />
Os três porquinhos – adaptação <strong>de</strong> Wanda Bedran – 1974<br />
Estela, a estrela que caiu do céu – <strong>de</strong> Wanda Bedran – 1974<br />
A bruxinha do cal<strong>de</strong>irão ver<strong>de</strong> – <strong>de</strong> Wanda Bedran – 1974<br />
Palha seca – <strong>de</strong> Wanda Bedran – 1975<br />
Você tem um caleidoscópio? – criação coletiva – 1975<br />
A estória da moça preguiçosa – <strong>de</strong> Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s Martini – 1975<br />
Azul ou encarnado? – <strong>de</strong> Maria Arminda Aguiar – 1976<br />
Terra ronca – <strong>de</strong> Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s Martini – 1977<br />
Bem te vejo – <strong>de</strong> Wanda Bedran – 1978<br />
O velho mar – <strong>de</strong> Wanda Bedran – 1979 e 1980<br />
O espetáculo “A estória da moça preguiçosa”, com texto e direção <strong>de</strong> Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s Martini (a nossa Tia<br />
Lolita), recebeu o primeiro Prêmio Molière <strong>de</strong> Teatro Infantil, em 1975, num gran<strong>de</strong> reconhecimento por nossa<br />
pesquisa <strong>de</strong> linguagem <strong>de</strong>ntro do teatro infantil brasileiro.<br />
A partir <strong>de</strong> 1977 houve uma dispersão dos elementos mais jovens do grupo pelas escolhas profissionais em<br />
outras áreas, e as temporadas no Teatro Quintal foram interrompidas, sendo o espaço alugado esporadicamente para<br />
outros grupos teatrais. O núcleo, integrado por Wilma Brandão, Wanda Bedran, Wandirce Wörhle e Maria José Quintas,<br />
saiu para <strong>de</strong>senvolver projetos em escolas e praças da cida<strong>de</strong> e do interior. Finalmente elas <strong>de</strong>cidiram reabrir o teatro<br />
para sua última temporada com a peça O velho mar, uma adaptação feita por minha mãe para um dos contos das Mil e<br />
uma noites. Fui convidada para a direção-geral do espetáculo, além <strong>de</strong> criar a trilha sonora, gravada com nossas vozes<br />
fazendo os personagens e tendo como fio condutor o som da água: ondas quebrando, borbulhas, som <strong>de</strong> remadas.<br />
No início dos anos 1980, quando o tempo do Quintal findou e cada um seguiu suas escolhas profissionais e<br />
pessoais, eu já havia me <strong>de</strong>cidido plenamente pelo caminho da criação artística voltada para as crianças e<br />
absolutamente imbricada com a música e a narrativa <strong>de</strong> histórias.<br />
Durante o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento das linguagens cênicas, musicais e narrativas <strong>de</strong>ntro do Teatro<br />
Quintal, encontrei-me, em 1974, com outros dois jovens músicos cariocas que também pesquisavam a música<br />
tradicional brasileira e se interessavam pelo diálogo da linguagem musical com a infância,<br />
Victor Larica e Ricardo Me<strong>de</strong>iros. Juntos, fundamos em 1977 um grupo que se chamou<br />
Bloco da Palhoça, Música para Brincar e Cantar. Nosso grupo fez uma fusão muito<br />
equilibrada da pesquisa do folclore com nossas composições próprias. Fazíamos<br />
espetáculos para adultos e crianças em praças, auditórios, pátios <strong>de</strong> escolas públicas e<br />
particulares, coretos <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s do interior, enfim, íamos <strong>de</strong>scobrindo uma linguagem na<br />
qual o fazer artístico dialogava com a recriação <strong>de</strong> elementos do folclore ou da tradição<br />
oral. Em nossas viagens para o interior dos estados do Rio <strong>de</strong> Janeiro, <strong>de</strong> São Paulo e <strong>de</strong><br />
Minas Gerais, mesclávamos a pesquisa <strong>de</strong> campo com as apresentações profissionais em<br />
que cantávamos e tocávamos gran<strong>de</strong> parte do material recolhido tanto em fontes<br />
bibliográficas quanto o que ouvíamos e aprendíamos nas festas populares (ou folguedos, numa nomenclatura da época)<br />
por on<strong>de</strong> passávamos: Folia <strong>de</strong> Reis, Congada, Folia do Divino, Caxambu, Jongo, Moçambique, Catiras e Rodas <strong>de</strong><br />
Cirandas. Todas essas manifestações culturais mesclavam o espírito religioso com o profano e nos entregavam um<br />
retrato sonoro, rítmico e melódico, visual, coreográfico e histórico do nosso processo <strong>de</strong> mestiçagem, em que se<br />
misturavam elementos das tradições portuguesas, indígenas e africanas.<br />
19
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
Denominávamos <strong>de</strong> “arquivo vivo” nosso processo <strong>de</strong> pesquisa: arquivo por causa dos registros or<strong>de</strong>nados <strong>de</strong><br />
todo o material recolhido, e vivo pelo fato <strong>de</strong> vivenciarmos o referido material. O termo “arquivo vivo” refere-se então à<br />
apreensão <strong>de</strong> diversas formas musicais tradicionais <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada comunida<strong>de</strong> através da troca <strong>de</strong> experiências, do<br />
tocar junto aos cantadores, violeiros, sanfoneiros e percussionistas levando nossos instrumentos e permutando-os com<br />
os <strong>de</strong>les. O resultado <strong>de</strong>sta troca era um arranjo musical espontaneamente criado, acrescido do que nós, enquanto<br />
músicos profissionais, adquirimos com o nosso trabalho e do que aquelas pessoas nos ensinavam pela maneira intuitiva<br />
<strong>de</strong> tocar, dançar, cantar e contar. O intercâmbio <strong>de</strong>stas experiências artísticas nos <strong>de</strong>ixou um legado rico <strong>de</strong> influências<br />
culturais que pu<strong>de</strong>mos transmitir posteriormente em espaços cênicos e também no contexto <strong>de</strong> nossas práticas na área<br />
da educação.<br />
No ano <strong>de</strong> 1974 fui conhecer a Festa do Divino <strong>de</strong> São Luís do<br />
Paraitinga, no interior <strong>de</strong> São Paulo. Era uma gran<strong>de</strong> feira on<strong>de</strong> coexistiam<br />
torneio <strong>de</strong> moda <strong>de</strong> viola, cerâmica <strong>de</strong> Taubaté, jongo, catira, Moçambique,<br />
cavalhada e seus palhaços, missa, procissão, circo, parque <strong>de</strong> diversão...<br />
O Divino <strong>de</strong>sceu do céu<br />
Nesta hora <strong>de</strong> alegria<br />
Para abençoar o povo<br />
Que veio festejar seu dia<br />
Assim dizia um dos inúmeros versos <strong>de</strong> “Toada do Divino”<br />
cantados pela Companhia <strong>de</strong> Seu João, que ecoava pelas ruas da cida<strong>de</strong>. Os<br />
festejos do Divino duravam <strong>de</strong>z dias e mobilizavam toda a população <strong>de</strong><br />
São Luís e arredores, pobres e ricos, usufruindo das ofertas que eram arrecadadas pelos “foliões”. Assim eram<br />
chamados os integrantes da Folia do Divino, que cantavam e arrecadavam <strong>de</strong> casa em casa, a exemplo da Folia <strong>de</strong> Reis,<br />
bois, porcos e galinhas, que <strong>de</strong>pois eram cozidos em enormes tachos <strong>de</strong> cobre e transformados no “afogado”, como é<br />
chamado este prato típico. Ele era servido diariamente para todos, junto com paçoca, macarrão, feijão e arroz. Nesta<br />
ocasião conheci o João Tartaruga, contador <strong>de</strong> histórias e artista do barro que esculpia <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> pequenas cabaças.<br />
Eram miniesculturas que ele vendia após contar a história que nela estava<br />
contida:<br />
Faço arte <strong>de</strong> barro, lindas paisagem <strong>de</strong> verda<strong>de</strong><br />
A minha fama <strong>de</strong> artista está correndo cida<strong>de</strong> em cida<strong>de</strong><br />
E com essa teligência me ajuda a nececida<strong>de</strong><br />
Serviço <strong>de</strong> pega na enchada a muito tempo já fui<br />
Hoje sou cabroco <strong>de</strong> gosto faço pintura na cuia<br />
Quando esto fazendo verço<br />
Quanto mais obra eu faço<br />
Mais dinheiro <strong>de</strong>sluia<br />
(João Tartaruga, 1974, em texto registrado pelo próprio na entrada <strong>de</strong> sua oficina)<br />
Bloco da Palhoça<br />
Em meio às apresentações musicais e teatrais, formei-me em<br />
musicoterapia e licenciatura em educação artística. Tornei-me professora <strong>de</strong> educação musical e fui trabalhar em várias<br />
escolas, procurando conjugar a arte <strong>de</strong> contar com a <strong>de</strong> cantar, tocar e criar para crianças. Com as crianças em sala <strong>de</strong><br />
aula, pu<strong>de</strong> observar o quanto a música e a narrativa se completavam: os processos criativos meus e das crianças<br />
geravam novos poemas, canções, histórias e dramatizações a partir <strong>de</strong> matrizes e exemplos vindos da tradição oral,<br />
como brinca<strong>de</strong>iras, parlendas, trava-línguas, adivinhações, contos populares, literatura <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>l, enfim, todo o material<br />
que já pertencia à pesquisa que eu vinha <strong>de</strong>senvolvendo anteriormente. Observei que as crianças tinham vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
recontar uma história ou canção que haviam acabado <strong>de</strong> ouvir, e eu propunha uma ativida<strong>de</strong> usando uma forma <strong>de</strong><br />
expressão artística semelhante à <strong>de</strong> João Tartaruga, transformando em maquetes o cenário principal da narrativa ou<br />
registrando em <strong>de</strong>senhos e colagem seus principais personagens. Depois, com seu trabalho na mão, as crianças<br />
contavam à sua maneira, acrescida <strong>de</strong> <strong>de</strong>talhes ou fazendo uma síntese <strong>de</strong> sua própria criação.<br />
A pesquisa que realizei pertencendo aos grupos Quintal e Bloco da Palhoça se <strong>de</strong>sdobrou em diversas<br />
abordagens <strong>de</strong>ntro da arte <strong>de</strong> contar e cantar histórias, pois levei esta experiência para a TV, para o rádio, para o teatro<br />
e para a educação. Em todos os formatos e suportes citados lá estavam impressas as marcas da tradição oral, na escolha<br />
do repertório <strong>de</strong> contos e canções, <strong>de</strong> brinca<strong>de</strong>iras e jogos, <strong>de</strong> adivinhações e brinca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> roda e cirandas. São<br />
canções que contam histórias ou histórias que trazem canções. Ouvidas em outros tempos, transmitidas oralmente,<br />
registradas na escrita literária ou musical, e finalmente gravadas a partir da possibilida<strong>de</strong> dos suportes eletrônicos.<br />
Músicas para brincar e cantar. <strong>História</strong>s para ouvir, contar e sonhar.<br />
BEDRAN BIA. A arte <strong>de</strong> cantar e contar histórias – Narrativas orais e processos criativos,<br />
Editora Nova Fronteira.<br />
20
Era uma vez Bia Bedran,<br />
uma menina que nasceu para<br />
fazer as crianças sonharem e hoje<br />
ensina a quem quiser a viver feliz<br />
para sempre.<br />
Foi em Niterói (RJ), no dia<br />
26 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1955, que Bia<br />
Bedran nasceu, ou melhor,<br />
estreou. Isso porque, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
criança, assim bem pequenininha,<br />
a menina, criada em família <strong>de</strong><br />
artistas, começou a escrever<br />
músicas e poemas, coisas que,<br />
geralmente, toda criança que lê e<br />
se diverte com a literatura faz.<br />
“No início, eu não sonhava em ser<br />
artista da infância. Eu era criança e gostava <strong>de</strong> ler.<br />
Gostava <strong>de</strong> contar, fabular o que eu lia. Às vezes,<br />
só para mim mesma, para o meu fazer, gostava <strong>de</strong><br />
me trabalhar artisticamente”, relembra Bia.<br />
Na adolescência, assim já mais mocinha,<br />
seu pai sempre a inscrevia em concursos <strong>de</strong><br />
música e só revelava a ida<strong>de</strong> da<br />
filha <strong>de</strong>pois, para ela não ser<br />
<strong>de</strong>sclassificada. Nessa fase, Bia<br />
fazia sua arte pensando nos<br />
adultos. Fazia sambas, toadas,<br />
músicas políticas e concorria com<br />
adultos em festivais <strong>de</strong> canção.<br />
Tanto que foi muito influenciada<br />
por João <strong>de</strong> Barro, Braguinha,<br />
Lamartine Babo e pelas músicas<br />
da Rádio Nacional. Precoce, não?<br />
Sua carreira começou<br />
para valer em 1973, aos 17 anos<br />
(nem era gente gran<strong>de</strong> ainda a<br />
menina). Na época, sua família<br />
montou um grupo <strong>de</strong> teatro para<br />
crianças. As apresentações<br />
aconteciam no quintal da casa <strong>de</strong><br />
uma tia, daí o nome Quintal<br />
Teatro Infantil. “Eu <strong>de</strong>scobri a minha<br />
vocação quando tive a sorte <strong>de</strong> trabalhar<br />
no grupo que minha família criou. Éramos, ao<br />
todo, 23 entre irmãos e primos da família Martini<br />
Bedran. Minha mãe escrevia peças para crianças e<br />
a família toda trabalhava. Minha avó fazia os<br />
vestidos e meu avô ficava na bilheteria. Eu, com 17<br />
<strong>História</strong> <strong>de</strong> Bia<br />
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
anos, era uma das mais velhas do<br />
grupo. Nesse tempo foi que eu<br />
<strong>de</strong>scobri esse mundo”, diz Bia.<br />
A arte <strong>de</strong> contar estórias<br />
veio naturalmente com o convívio<br />
com as crianças. Foi nessa época<br />
que a jovem atriz entrou no<br />
mundo mágico da contação <strong>de</strong><br />
estórias. “Aí <strong>de</strong>scobri que contar<br />
estória era diferente do que<br />
interpretar. Toda vez que eu<br />
entrava na voz da narradora,<br />
percebia que a criançada prestava<br />
mais atenção. A criança tem uma<br />
paixão pela narração, pelo texto<br />
contado. Quando eu narro,<br />
quando eu falo do personagem, eu sinto uma<br />
atenção maior”, explica.<br />
Hoje, já com 54 anos, Bia Bedran tem sete<br />
livros publicados, oito discos e um DVD. A artista<br />
já compôs mais <strong>de</strong> 300 canções. Dessas, 100<br />
músicas foram gravadas. A atriz também foi<br />
apresentadora <strong>de</strong> televisão. De<br />
1986 até 1993, Bia esteve à<br />
frente do “<strong>Conta</strong> Conto”, na<br />
antiga TV Educativa, atual TV<br />
Brasil. Em 1988 e 1989,<br />
apresentou o programa<br />
ecológico “Baleia Ver<strong>de</strong>”, na<br />
extinta TV Manchete, além <strong>de</strong><br />
“Lá vem <strong>História</strong>”, na TV<br />
Cultura e “Alfabetização no<br />
Canteiro <strong>de</strong> Obras”, pela<br />
Fundação Roberto Marinho.<br />
Os planos <strong>de</strong>ssa eterna<br />
menina, no entanto, não param<br />
por aí. Seu próximo <strong>passo</strong> po<strong>de</strong><br />
ser na telona. “Só falta agora<br />
cinema. Não vou morrer sem<br />
fazer um filme, trabalhar<br />
atuando ou ser uma narradora,<br />
mas é um sonho ainda. Minha<br />
filha acabou <strong>de</strong> se formar em<br />
cinema e a gente tem conversado muito sobre isso<br />
ultimamente”, vibra.<br />
“QUEM CONTA ESTÓRIA FAZ O OUTRO<br />
IMAGINAR”<br />
Ciranda da Palavra 2010<br />
Gravação DVD “Cabeça <strong>de</strong> vento”<br />
SESI Duque <strong>de</strong> Caxias/ 2010<br />
21
Professora concursada<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1985, Bia dava aulas <strong>de</strong><br />
musicalização para as crianças do<br />
CAP (Colégio <strong>de</strong> Aplicação) da Uerj<br />
(Universida<strong>de</strong> do Estado do Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro). No início, ela só ensinava<br />
música. Com o tempo, o hábito <strong>de</strong><br />
ler e contar estórias invadiu suas<br />
aulas. Foi então que <strong>de</strong>scobriu que<br />
bom mesmo era cantar e contar ao<br />
mesmo tempo. “São quase 25 anos<br />
como professora na Uerj. No<br />
<strong>de</strong>correr do tempo, eu já era<br />
contadora <strong>de</strong> estórias na vida<br />
artística e fui incorporando a coisa<br />
do ensinar música para as<br />
crianças, mas ensinar também o fazer, o<br />
contar, música <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma estória, estória com<br />
canções e fui mudando a minha metodologia que<br />
era só <strong>de</strong> ensino musical, para fazer estórias junto<br />
com canções”, explica.<br />
Nessa época, Bia Bedran foi chamada para<br />
dar aulas em uma oficina chamada A Arte <strong>de</strong><br />
Cantar e <strong>Conta</strong>r Estórias,<br />
para professores e<br />
educadores. Seu <strong>de</strong>sejo é<br />
passar para outros essa<br />
nobre arte. “De lá para cá já<br />
se passaram 14 anos, sempre<br />
às segundas e quartas à<br />
noite. Essa oficina eu<br />
trabalho com educadores,<br />
não mais crianças, e ensino<br />
esse ‘making-off’ <strong>de</strong> como é<br />
contar estórias e como<br />
construir pequenos<br />
a<strong>de</strong>reços, entre outras<br />
coisas”, revela.<br />
Segundo Bia, o contar estórias revela uma<br />
troca <strong>de</strong> experiências muito interessante. Naquele<br />
curto espaço <strong>de</strong> tempo, que po<strong>de</strong> durar <strong>de</strong>z, 20<br />
minutos ou até meia hora, o intérprete só tem ali a<br />
sua palavra, a sua voz, a sua mão, os seus olhos, e,<br />
principalmente, a sua expressão. Todo o resto é<br />
imaginado por quem ouve. “Ensinar a contar<br />
estória nem é tanto a coisa do ator, não é ensinar a<br />
interpretar, mas ensinar a amar esse fazer tão<br />
atávico ao homem, que é esse momento que você<br />
senta, conta coisas reais e imaginárias. Às vezes<br />
você conta um fato que realmente aconteceu”.<br />
A educadora se mostra preocupada com a<br />
perda do hábito <strong>de</strong> conversar e acredita que o<br />
Seminário Direitos Humanos<br />
Duque <strong>de</strong> Caxias - 2011<br />
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
mundo hoje precisa pisar no<br />
freio. “As pessoas<br />
hoje, nessa vida muito corrida,<br />
têm pouco tempo<br />
para contar suas histórias<br />
pessoais. Em um tempo mais<br />
antigo, as pessoas tinham esse<br />
hábito naturalmente, não existia<br />
aulas <strong>de</strong> contar estória. Não tinha<br />
televisão, as pessoas faziam uma<br />
roda e o que existia era a troca <strong>de</strong><br />
experiências, o ato <strong>de</strong> contar para<br />
o outro o que você viveu”,<br />
relembra.<br />
Essa falta <strong>de</strong> tempo<br />
também tem prejudicado a<br />
formação das crianças. Bia comenta<br />
que elas precisam ler mais e não somente assistir<br />
televisão ou navegar pela internet. “A criança<br />
também entra num frisson <strong>de</strong> cada vez mais<br />
apren<strong>de</strong>r conteúdo e mais conteúdo. Esse é o<br />
momento em que o professor para e conta uma<br />
estória. É o momento do sonho. A criança viaja<br />
como se fosse uma<br />
parada no tempo, não<br />
uma parada on<strong>de</strong> ela fica<br />
vazia, uma parada ativa.<br />
A alma está em repouso,<br />
mas ela está atenta, está<br />
sentindo”, ensina.<br />
A professora<br />
revela, ainda, dicas para<br />
quem também quer<br />
viver essa experiência.<br />
Seminário O DIA da Educação em<br />
Movimento/Duque <strong>de</strong> Caxias 2012<br />
“<strong>Quem</strong> quer contar e<br />
viver <strong>de</strong> estórias tem<br />
que <strong>de</strong>scobrir o que<br />
quer ser. Quer ser um educador ou contar<br />
profissionalmente em eventos <strong>de</strong> literatura? É<br />
preciso <strong>de</strong>scobrir que sente prazer com isso e<br />
<strong>de</strong>pois focar. Trabalho em hospitais e,<br />
diferentemente <strong>de</strong> atuar em um palco, em todas<br />
essas modalida<strong>de</strong>s tem que amar contar estórias,<br />
tem que gostar da literatura, <strong>de</strong> transformar o<br />
texto lido em um texto coloquialmente falado.<br />
Treinar em casa, montar um repertório e fazer<br />
cursos”, explica mais uma vez a professora que<br />
sabe que, no final <strong>de</strong> toda estória tem que ter um<br />
“e viveram felizes para sempre”. E quem quiser<br />
que conte outra.<br />
Artigo <strong>de</strong> 10 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 2009.<br />
Disponível em: http://www.jornal<strong>de</strong>teatro.com.br<br />
22
LIVROS:<br />
<strong>História</strong>s <strong>de</strong> Bia<br />
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
A sopa <strong>de</strong> pedra<br />
http://ilustracoes<strong>de</strong>thais.blogspot.com.brhttp://ilustracoes<strong>de</strong>thais.blogspot.co<br />
O pescador o anel e o rei<br />
m.br<br />
Cabeça <strong>de</strong> vento<br />
Deus…<br />
Eu e o tempo<br />
O palhaço Biduim<br />
A menina do anel<br />
Uma história sem fim<br />
O sapateiro e os anõezinhos<br />
O menino que foi ao Vento<br />
Norte<br />
CDS:<br />
Fazer um Bem<br />
Brinquedos cantados<br />
Bia Canta E <strong>Conta</strong> 2<br />
Úman<br />
Dona árvore<br />
Coletânea <strong>de</strong> Músicas Infantis<br />
Bia Canta e <strong>Conta</strong><br />
A caixa <strong>de</strong> músicas <strong>de</strong> Bia<br />
Bedran<br />
Acalantos<br />
DVDS:<br />
Cabeça <strong>de</strong> Vento<br />
<strong>História</strong>s <strong>de</strong> um João <strong>de</strong> Barro<br />
Deus. Ilustração Thaís Linhares: http://ilustracoes<strong>de</strong>thais.blogspot.com.br<br />
http://ilustracoes<strong>de</strong>thais.blogspot.com.br<br />
“Perdi meu anel no mar<br />
Não pu<strong>de</strong> mais encontrar<br />
E o mar me trouxe a concha<br />
De presente pra me dar...”<br />
O anel<br />
23
Drummond por ele mesmo (1902-1987)<br />
Confidência do Itabirano<br />
Alguns anos vivi em Itabira.<br />
Principalmente nasci em Itabira.<br />
Por isso sou triste, orgulhoso: <strong>de</strong> ferro.<br />
Noventa por cento <strong>de</strong> ferro nas calçadas.<br />
Oitenta por cento <strong>de</strong> ferro nas almas.<br />
E esse alheamento do que na vida é porosida<strong>de</strong> e<br />
comunicação.<br />
Carlos Drummond <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong><br />
De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:<br />
esta pedra <strong>de</strong> ferro, futuro aço do Brasil,<br />
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;<br />
este couro <strong>de</strong> anta, estendido no sofá da sala <strong>de</strong> visitas;<br />
este orgulho, esta cabeça baixa...<br />
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
A vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> amar, que me paralisa o trabalho,<br />
vem <strong>de</strong> Itabira, <strong>de</strong> suas noites brancas, sem mulheres e<br />
sem horizontes.<br />
E o hábito <strong>de</strong> sofrer, que tanto me diverte,<br />
é doce herança Itabirana.<br />
Tive ouro, tive gado, tive fazendas.<br />
Hoje sou funcionário público.<br />
Itabira é apenas uma fotografia na pare<strong>de</strong>.<br />
Mas como dói!<br />
24
Carlos<br />
Drummond <strong>de</strong><br />
Andra<strong>de</strong> nasceu em<br />
Itabira do Mato<br />
Dentro - MG, em 31<br />
<strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1902.<br />
De uma família <strong>de</strong><br />
fazen<strong>de</strong>iros em<br />
<strong>de</strong>cadência, estudou<br />
na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Belo<br />
Horizonte e com os<br />
jesuítas no Colégio<br />
Anchieta <strong>de</strong> Nova<br />
Friburgo RJ, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> foi expulso por "insubordinação<br />
mental". De novo em Belo Horizonte, começou a<br />
carreira <strong>de</strong> escritor como colaborador do Diário <strong>de</strong><br />
Minas, que aglutinava os a<strong>de</strong>ptos locais do incipiente<br />
movimento mo<strong>de</strong>rnista mineiro.<br />
Ante a insistência familiar para que obtivesse<br />
um diploma, formou-se em farmácia<br />
na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ouro Preto em 1925.<br />
Fundou com outros escritores A<br />
Revista, que, apesar da vida breve,<br />
foi importante veículo <strong>de</strong> afirmação<br />
do mo<strong>de</strong>rnismo em Minas.<br />
Ingressou no serviço público e, em<br />
1934, transferiu-se para o Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro, on<strong>de</strong> foi chefe <strong>de</strong> gabinete<br />
<strong>de</strong> Gustavo Capanema, ministro da<br />
Educação, até 1945. Passou <strong>de</strong>pois a<br />
trabalhar no Serviço do Patrimônio<br />
Histórico e Artístico Nacional e se aposentou em 1962.<br />
Des<strong>de</strong> 1954 colaborou como cronista no Correio da<br />
Manhã e, a partir do início <strong>de</strong> 1969, no Jornal do Brasil.<br />
O mo<strong>de</strong>rnismo não chega a ser dominante nem<br />
mesmo nos primeiros livros <strong>de</strong> Drummond, Alguma<br />
poesia (1930) e Brejo das almas (1934), em que o<br />
poema-piada e a <strong>de</strong>scontração sintática pareceriam<br />
revelar o contrário. A dominante é a individualida<strong>de</strong> do<br />
autor, poeta da or<strong>de</strong>m e da consolidação, ainda que<br />
<strong>História</strong> <strong>de</strong> Drummond<br />
1962<br />
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
sempre, e fecundamente, contraditórias. Torturado<br />
pelo passado, assombrado com o futuro, ele se <strong>de</strong>tém<br />
num presente dilacerado por este e por aquele,<br />
testemunha lúcida <strong>de</strong> si mesmo e do transcurso dos<br />
homens, <strong>de</strong> um ponto <strong>de</strong> vista melancólico e cético.<br />
Mas, enquanto ironiza os costumes e a socieda<strong>de</strong>,<br />
asperamente satírico em seu amargor e <strong>de</strong>sencanto,<br />
entrega-se com empenho e requinte construtivo à<br />
comunicação estética <strong>de</strong>sse modo <strong>de</strong> ser e estar.<br />
Vem daí o rigor, que beira a obsessão. O poeta<br />
trabalha sobretudo com o tempo, em sua cintilação<br />
cotidiana e subjetiva, no que <strong>de</strong>stila do corrosivo. Em<br />
Sentimento do mundo (1940), em José (1942) e<br />
sobretudo em A rosa do povo (1945), Drummond<br />
lançou-se ao encontro da história contemporânea e da<br />
experiência coletiva, participando, solidarizando-se<br />
social e politicamente, <strong>de</strong>scobrindo na luta a<br />
explicitação <strong>de</strong> sua mais íntima apreensão para com a<br />
vida como um todo. A surpreen<strong>de</strong>nte sucessão <strong>de</strong><br />
obras-primas, nesses livros,<br />
indica a plena maturida<strong>de</strong> do<br />
poeta, mantida sempre.<br />
Várias obras do poeta<br />
foram traduzidas para o<br />
espanhol, inglês, francês, italiano,<br />
alemão, sueco, tcheco e outras<br />
línguas. Drummond foi<br />
seguramente, por muitas<br />
décadas, o poeta mais influente<br />
da literatura brasileira em seu<br />
tempo, tendo também publicado<br />
diversos livros em prosa.<br />
Em mão contrária traduziu os seguintes<br />
autores estrangeiros: Balzac (Les Paysans, 1845; Os<br />
camponeses), Cho<strong>de</strong>rlos <strong>de</strong> Laclos (Les Liaisons<br />
dangereuses, 1782; As relações perigosas), Marcel<br />
Proust (La Fugitive, 1925; A fugitiva), García Lorca<br />
(Doña Rosita, la soltera o el lenguaje <strong>de</strong> las flores, 1935;<br />
Dona Rosita, a solteira), François Mauriac (Thérèse<br />
Desqueyroux, 1927; Uma gota <strong>de</strong> veneno) e Molière<br />
(Les Fourberies <strong>de</strong> Scapin, 1677; Artimanhas <strong>de</strong><br />
Scapino).<br />
Alvo <strong>de</strong> admiração irrestrita, tanto pela obra<br />
quanto pelo seu comportamento como escritor, Carlos<br />
Drummond <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> morreu no Rio <strong>de</strong> Janeiro RJ, no<br />
dia 17 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1987, poucos dias após a morte <strong>de</strong><br />
sua filha única, a cronista Maria Julieta Drummond <strong>de</strong><br />
Andra<strong>de</strong>.<br />
Com esposa Dolores e a filha Julieta<br />
Disponível em:<br />
http://www.releituras.com/drummond_bio.asp<br />
25
<strong>História</strong>s <strong>de</strong> Drummond<br />
“Minha vida, nossas vidas<br />
formam um só diamante.<br />
Aprendi novas palavras<br />
e tornei outras mais belas.<br />
Eu preparo uma canção<br />
que faça acordar os homens<br />
e adormecer as crianças.”<br />
POESIA<br />
1930 – Alguma poesia<br />
1934 – Brejo das almas<br />
1940 – Sentimento do mundo<br />
1942 – José<br />
1945 – A rosa do povo<br />
1948 – Novos poemas<br />
1951 – A mesa<br />
1951 – Claro enigma<br />
1952 – Viola <strong>de</strong> bolso<br />
1954 – Fazen<strong>de</strong>iro do ar<br />
1955 – Soneto da buquinagem<br />
1957 – Ciclo<br />
1959 – A vida passada a limpo<br />
1962 – Lição <strong>de</strong> coisas<br />
1964 – Viola <strong>de</strong> bolso II<br />
1967 – Versiprosa<br />
1967 – José & outros<br />
1968 – Boitempo & A falta que ama<br />
1968 – Nu<strong>de</strong>z<br />
1969 – Reunião<br />
1973 – As impurezas do branco<br />
1973 – Menino antigo (Boitempo II)<br />
1977 – A visita<br />
1978 – O marginal Clorindo Gato<br />
1979 – Esquecer para lembrar (Boitempo III)<br />
1980 – A paixão medida<br />
1983 – Nova reunião<br />
1984 – Corpo<br />
1985 – Amar se apren<strong>de</strong> amando<br />
1986 – Tempo vida poesia<br />
1988 – Poesia errante<br />
1996 – Farewell<br />
Canção amiga<br />
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
ANTOLOGIAS POÉTICAS<br />
1956 – 50 poemas escolhidos pelo autor<br />
1962 – Antologia poética<br />
1971 – Seleta em prosa e verso<br />
1975 – Amor, amores<br />
1982 – Carmina Drummondiana<br />
1987 – Boitempo I e Boitempo II<br />
INFANTIS<br />
1983 – O elefante<br />
1985 – <strong>História</strong> <strong>de</strong> dois amores<br />
EDIÇÕES DE POESIA REUNIDA<br />
1942 – Poesias<br />
1948 – Poesia até agora<br />
1954 – Fazen<strong>de</strong>iro do ar & Poesia até agora<br />
1959 – Poemas<br />
1969 – Reunião<br />
1983 – Nova reunião<br />
1997 – Coleção Verso na Prosa Prosa no Verso<br />
1997 – Coleção Mineiramente Drummond – A<br />
palavra mágica<br />
“Eu te amo porque não amo<br />
bastante ou <strong>de</strong>mais a mim.<br />
Porque amor não se troca,<br />
não se conjuga nem se ama.<br />
Porque amor é amor a nada,<br />
feliz e forte em si mesmo...”<br />
As sem-razões do amor<br />
26
PROSA<br />
1944 – Confissões <strong>de</strong> Minas<br />
1945 – O gerente<br />
1951 – Contos <strong>de</strong> aprendiz<br />
1952 – Passeios na ilha<br />
1957 – Fala, amendoeira<br />
1962 – A bolsa & a vida<br />
1966 – Ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> balanço<br />
1970 – Caminhos <strong>de</strong> João Brandão<br />
1972 – O po<strong>de</strong>r ultrajovem e mais 79 textos em prosa e verso<br />
1974 – De notícias & não-notícias faz-se a crônica<br />
1977 – Os dias lindos<br />
1978 – 70 historinhas<br />
1981 – Contos plausíveis<br />
1984 – Boca <strong>de</strong> luar<br />
1985 – O observador no escritório<br />
1987 – Moça <strong>de</strong>itada na grama<br />
1988 – O avesso das coisas<br />
1989 – Autorretrato e outras crônicas<br />
CONJUNTO DE OBRA<br />
1964 – Obra completa<br />
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
ANTOLOGIAS DIVERSAS<br />
1962 – Quadrante<br />
1963 – Quadrante II<br />
1965 – Vozes da cida<strong>de</strong><br />
1965 – Rio <strong>de</strong> Janeiro em prosa & verso (em colaboração com Manuel Ban<strong>de</strong>ira)<br />
1966 – Andorinha, andorinha, <strong>de</strong> Manuel Ban<strong>de</strong>ira<br />
1967 – Uma pedra no meio do caminho (Biografia <strong>de</strong> um poema. Com estudo <strong>de</strong> Arnaldo Saraiva)<br />
1967 – Minas Gerais<br />
1971 – Elenco <strong>de</strong> cronistas mo<strong>de</strong>rnos<br />
1972 – Don Quixote<br />
1977 – Para gostar <strong>de</strong> ler<br />
1979 – O melhor da poesia brasileira I<br />
1981 – O pipoqueiro da esquina<br />
1982 – A lição do amigo<br />
1984 – Quatro vozes<br />
1984 – Mata Atlântica<br />
Disponível em: http://drummond.memoriaviva.com.br/mais-um-pouco/tudo/<br />
27
Elias por ele mesmo (1936-2008)<br />
Elias José<br />
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
Sempre gostei <strong>de</strong> ler e escrever, sem <strong>de</strong>sejar ser um escritor.<br />
Comecei fazendo jornal <strong>de</strong> escola. Com as primeiras namoradas (reais<br />
ou i<strong>de</strong>alizadas), nasceram os primeiros poemas <strong>de</strong> amor. Depois, foi a<br />
fase <strong>de</strong> escrever crônicas para jornais do interior. Um dia, li que a<br />
revista Vida Doméstica estava patrocinando um concurso <strong>de</strong> contos<br />
sobre o tema “mar”. Escrevi e reescrevi o meu primeiro conto e ganhei<br />
o prêmio, todo feliz com a “grana” e com a publicação bem-cuidada,<br />
com ilustrações e papel <strong>de</strong> primeira. Aí não parei mais <strong>de</strong> escrever<br />
contos, publicando-os nos suplementos literários <strong>de</strong> Minas, São Paulo e<br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro. Fui ganhando concursos e acumulando mais <strong>de</strong><br />
cinquenta histórias, até que pu<strong>de</strong>, em 1970, reuni-las no livro <strong>de</strong><br />
estreia: a mal-amada.<br />
Hoje, tenho mais <strong>de</strong> quarenta livros publicados, para crianças,<br />
jovens e adultos. Muitos <strong>de</strong>les ganharam prêmios importantes nacionalmente, como: “Jabuti”, “Governador do<br />
Distrito Fe<strong>de</strong>ral” e “Governo do Paraná”, para contos; dois do APCA (1982 e 1987); o “Odylo Costa, filho” e<br />
“Altamente Recomendado para Crianças”, da FNLIJ, para poesia infantil; e outros. Vários contos foram<br />
traduzidos e publicados no México, Argentina, Polônia, Estados Unidos e Nicarágua.<br />
Como vou muito às escolas para conversar com meus leitores, sempre me perguntam se é mais prazeroso<br />
escrever para crianças, para jovens e adultos. Confesso que me sinto outra pessoa, mais livre, mais feliz e meio<br />
menino quando escrevo poesias para crianças e jovens. A poesia<br />
nos dá a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> jogar com as palavras <strong>de</strong> forma mais<br />
criativa e musical. É um prazer buscar uma imagem poética,<br />
explorando o que as palavras têm <strong>de</strong> essencial e <strong>de</strong> sugestivo.<br />
Saber que tenho que contar uma história, ou explorar um instante<br />
<strong>de</strong> emoção, em um mínimo <strong>de</strong> palavras, é um <strong>de</strong>safio. É gostoso<br />
buscar palavras <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma palavra, arrumar e <strong>de</strong>sarrumar a<br />
distribuição em versos e estrofes, <strong>de</strong>slocar ou cortar o que não<br />
está bem. Acho que foi o poeta Décio Pignatari quem disse,<br />
acertadamente, que o poema “é uma aventura planificada”. E essa<br />
aventura não vale só para poeta, o criador do jogo. Se o leitor é<br />
sensível, se aceita a aventura, se resolve cantar junto, vibrar junto,<br />
haverá na leitura uma viagem gostosa ao país da fantasia. Mesmo<br />
que o leitor não se interesse pela planificação (é preferível que nem perceba as dificulda<strong>de</strong>s que apareceram na<br />
construção), ele tem que viver a aventura. Cada poema é uma <strong>de</strong>scoberta, uma novida<strong>de</strong> e, ao mesmo tempo, um<br />
diálogo com outros poemas que já foram feitos. Gosto <strong>de</strong> dialogar com os poemas folclóricos, <strong>de</strong> recriar cantigas<br />
para que elas voltem a ser cantadas. Além do prazer <strong>de</strong> criar, gosto <strong>de</strong> apresentar meus poemas em escolas. Leio<br />
em coro ou individualmente com os estudantes, fazemos variações temáticas, buscamos novas entonações,<br />
novos ritmos e sentidos. Muitas vezes, na hora, “pinta” um novo poema, feito por muitas vozes. Não é isso uma<br />
viagem, uma festa, uma aventura no mundo das palavras? Experimente, caro leitor, transformar meus poemas,<br />
musicá-los. Eles não são mais meus; <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> publicados, são <strong>de</strong> todos. Antes <strong>de</strong> entrar no jogo, porém, crie<br />
asas, solte as emoções, ligue seus sentidos – poesia é isso!<br />
JOSÉ, ELIAS. Segredinhos <strong>de</strong> amor. São Paulo: Mo<strong>de</strong>rna, 1991.<br />
28
<strong>História</strong> <strong>de</strong> Elias<br />
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
Elias José nasceu em Santa Cruz da Prata, distrito do<br />
município <strong>de</strong> Guaranésia, Minas Gerais, em 25 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong><br />
1936. Além <strong>de</strong> escritor, Elias José é professor aposentado<br />
<strong>de</strong> Literatura Brasileira e <strong>de</strong> Teoria da Literatura na<br />
Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia <strong>de</strong> Guaxupé (FAFIG), tendo atuado<br />
também como vice-diretor, diretor e coor<strong>de</strong>nador do<br />
Departamento <strong>de</strong> Letras e como professor <strong>de</strong> Língua<br />
Portuguesa e Literatura Brasileira na Escola Estadual Dr.<br />
Benedito Leite Ribeiro.<br />
Elias José estreou em livro com “A Mal-Amada”, em<br />
1970, com apoio <strong>de</strong> Murilo Rubião, que reunia contos<br />
publicados em suplementos literários do Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />
São Paulo, Minas Gerais e Portugal. Antes disso, já tinha<br />
conquistado o segundo lugar no Concurso José Lins do<br />
Rego da Livraria José Olympio Editora, em 1968.<br />
Em 1971, publicou “O Tempo”, “Camila”, “Minicontos”. Em 1974, “Inquieta Viagem no Fundo<br />
do Poço” e “Contos”, ambos na Imprensa Oficial, sendo que este último ganhou o Prêmio Jabuti da<br />
Câmara Brasileira do Livro (CBL) como Melhor Livro <strong>de</strong> Contos <strong>de</strong> 1974 e o prêmio Governador do<br />
Distrito Fe<strong>de</strong>ral como Melhor Livro <strong>de</strong> Ficção <strong>de</strong> 1974.<br />
Elias José tem contos e poemas traduzidos e publicados em revistas literárias e antologias <strong>de</strong><br />
autores brasileiros no México, Argentina, Estados Unidos, Itália, Polônia, Nicarágua e Canadá. Já foi<br />
várias vezes selecionado pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) para<br />
representar o Brasil em feiras <strong>de</strong> livros internacionais. Jurado <strong>de</strong> vários concursos literários,<br />
ministrava cursos, oficinas e palestras, tendo participado <strong>de</strong> vários congressos <strong>de</strong> educação,<br />
linguística e literatura.<br />
Disponível em: http://www.educared.org<br />
“Ao pé das fogueiras acesas,<br />
Crianças, jovens, adultos,<br />
Até os já passados dos noventa,<br />
Teciam calorosos cantos e contos<br />
Grupais, envolventes e encantados.<br />
Hoje, em tempos <strong>de</strong> fogueiras apagadas,<br />
Precisamos fuçar na memória<br />
E catar os cacos dos sonhos<br />
Para engran<strong>de</strong>cer a vida<br />
E não sufocar o mito e a poesia.”<br />
Ao pé das fogueiras acesas<br />
29
<strong>História</strong>s <strong>de</strong> Elias<br />
INFANTIL E JUVENIL<br />
As Curtições <strong>de</strong> Pitu - 1976<br />
O Fantasma no Porão - 1979<br />
Jogo Duro - 1979<br />
Os que Po<strong>de</strong>m Voar - 1981<br />
Saudoso, O Burrinho Manhoso - 1981<br />
Dança das Descobertas - 1982<br />
Pouco <strong>de</strong> Tudo, <strong>de</strong> Bichos, <strong>de</strong> Gente, <strong>de</strong><br />
Flores - 1982<br />
A Dança das Descobertas - 1982<br />
Passageiros em Trânsito - 1983<br />
De Repente Toda <strong>História</strong> Novamente -<br />
1983<br />
Cida<strong>de</strong> da Pá Virada - 1983<br />
Gente louca, maré solta! - 1983<br />
Caixa Mágica <strong>de</strong> Surpresas - 1984<br />
O Historiador <strong>de</strong> Catitó - 1984<br />
O Herói Abatido - 1984<br />
Vaida<strong>de</strong> no Terreiro - 1984<br />
Com as Asas na Cabeça - 1985<br />
Um Rei e seu Cavalo <strong>de</strong> Pau – 1986<br />
Um Casório Bem Finório - 1987<br />
Fabulosos Macacos Cientistas - 1987<br />
Namorinho <strong>de</strong> Portão - 1987<br />
Lua no Brejo - 1987<br />
Machado <strong>de</strong> Assis - 1988<br />
Os Primeiros Voos do Menino - 1988<br />
Sorvete Sabor Sauda<strong>de</strong> - 1988<br />
Amor, Mágica e Magia - 1988<br />
Só um Cara Viu - 1989<br />
Mamãezinha - 2007<br />
Primeiras Lições <strong>de</strong> Amor - 1989<br />
Furta-Sonos e Outras <strong>História</strong>s - 1989<br />
O Jogo da Fantasia - 1989<br />
Luta Tamanha, <strong>Quem</strong> Ganha? - 1990<br />
Os Vários Voos da Vaca Vivi - 1990<br />
Um Curioso Aluado - 1990<br />
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
Vó Melinha, Rainha e Cigana - 1990<br />
Setecontos Setencantos - 1991<br />
Segredinhos <strong>de</strong> Amor - 1991<br />
Lua no Brejo - 1991<br />
Sem Pé nem Cabeça - 1992<br />
Bolo pra Festa no Céu - 1992<br />
Cantigas <strong>de</strong> Adolescer - 1992<br />
A Toada do Tatu - 1992<br />
Sem Pé nem Cabeça - 1992<br />
<strong>Quem</strong> Lê com Pressa Tropeça - 1992<br />
Uma Escola Assim, Eu Quero para Mim -<br />
1993<br />
De Amora e Amor - 1993<br />
Vaida<strong>de</strong> no Terreiro - 1994<br />
Mundo Criado, Trabalho Dobrado - 1996<br />
Noites <strong>de</strong> Lua Cheia - 1996<br />
Toda Sorte <strong>de</strong> Magia - 1996<br />
No Balancê do Abecê - 1996<br />
O que <strong>Conta</strong> o Faz <strong>de</strong> <strong>Conta</strong> - 1996<br />
Bicho <strong>de</strong> pé é chulé na mulher - 2001<br />
Lições <strong>de</strong> Telhado - 1996<br />
Félix e seu Fole Fe<strong>de</strong>m - 1996<br />
O Mundo Todo Revirado - 1996<br />
O Jogo das Palavras Mágicas - 1996<br />
Cantos <strong>de</strong> Encantamento - 1996<br />
Solos <strong>de</strong> Violões e Sonhos - 1997<br />
O Incrível Bicho-Homem - 1997<br />
O Baú <strong>de</strong> Sonhos - 1997<br />
Vera Lúcia, Verda<strong>de</strong> e Luz - 1997<br />
(Re)Fabulando (sete volumes) -<br />
1998/2005<br />
A Cida<strong>de</strong> que Per<strong>de</strong>u o seu Mar - 1998<br />
O Macaco e a Morte - 1998<br />
A Gula da Avó e da Onça - 1998<br />
As Virações da Formiga - 1998<br />
O Macaco e sua Viola - 1998<br />
De como o Macaco Venceu a Onça - 1998<br />
30
O Macaco e o seu Rabo - 1998<br />
Viagem Criada, Emoção Dobrada - 1999<br />
A Vida em Pequenas Doses - 2000<br />
Ri Bem Melhor <strong>Quem</strong> Junto Ri - 2000<br />
O Amigão <strong>de</strong> Todo Mundo - 2001<br />
O Desenhista - 2001<br />
O que Tem nesta Venda - 2001<br />
O Que Você Lê Ali - 2001<br />
Visitas à Casa da Vovó - 2001<br />
Querido professor - 1999<br />
Gente e mais Gente - 2001<br />
Birutices - 2002<br />
Um Jeito Bom <strong>de</strong> Brincar - 2002<br />
Vidrado em Bicho - 2002<br />
Eu Sou Mais Eu - 2002<br />
As <strong>História</strong>s e os Lugares - 2002<br />
O <strong>Conta</strong>dor <strong>de</strong> Vantagens - 2002<br />
Bicho <strong>de</strong> Pena Provoca Amor e Pena -<br />
2002<br />
Se Tudo Isso Acontecesse - 2002<br />
Saudando <strong>Quem</strong> Chega - 2002<br />
É Hora <strong>de</strong> Jogar Conversa Fora - 2002<br />
De Olho nos Bichos - 2003<br />
Poesia Pe<strong>de</strong> Passagem - 2003<br />
<strong>História</strong> Sorri<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Unhas e Dentes -<br />
2003<br />
Que Confusão, Seu Adão! - 2003<br />
Aquarelas do Brasil - 2003<br />
O que se Lê no Abecê - 2003<br />
O Dono da Bola - 2004<br />
Dias <strong>de</strong> sucesso - 2009<br />
Dias <strong>de</strong> Susto - 2005<br />
Mínimas Descobertas - 2005<br />
<strong>Quem</strong> <strong>Conta</strong> um Conto Aumenta um Ponto<br />
- 2005<br />
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
O Rei do Espetáculo - 2005<br />
A Festa da Princesa, que Beleza! - 2006<br />
Dois Gigantes Diferentes - 2006<br />
Forrobodó no Forró - 2006<br />
Mágica Terra Brasileira - 2006<br />
Cantigas <strong>de</strong> Amor - 2006<br />
Fantasia do Olhar - 2006 - Minicontos<br />
inspirados nas obras <strong>de</strong> Al<strong>de</strong>mir Martins<br />
Está chovendo animais famintos - 1998<br />
Pequeno Dicionário Poético-Humorístico<br />
Ilustrado - 2006<br />
Ao Pé das Fogueiras Acesas - 2008<br />
Ciranda Brasileira - 2006<br />
Cantigas para Enten<strong>de</strong>r o Tempo – 2007<br />
FORMAÇÃO<br />
Literatura infantil: Ler, <strong>Conta</strong>r e Encantar<br />
Crianças - 2007<br />
ROMANCE<br />
Inventário do Inútil - 1978<br />
Armadilhas da Solidão - 1994<br />
CRÔNICA<br />
Olho por Olho, Dente por Dente - 1982<br />
POESIA<br />
A Dança das Descobertas – 1982<br />
Amor Adolescente - 1999 (Atual Editora)<br />
CONTO<br />
A Mal-Amada – 1970<br />
O Tempo, Camila – 1971<br />
Inquieta Viagem ao Fundo do Poço – 1974<br />
Um Pássaro em Pânico – 1977<br />
Passageiros em Trânsito – 1983<br />
O Grito dos Torturados - 1986<br />
Disponível em: http://pt.wikipedia.org<br />
31
Jorge Amado<br />
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
Jorge por ele mesmo (1912-2001) - Nem a rosa, nem o cravo...<br />
As frases per<strong>de</strong>m seu sentido, as palavras per<strong>de</strong>m sua significação<br />
costumeira, como dizer das árvores e das flores, dos teus olhos e do mar,<br />
das canoas e do cais, das borboletas nas árvores, quando as crianças são<br />
assassinadas friamente pelos nazistas? Como falar da gratuita beleza dos<br />
campos e das cida<strong>de</strong>s, quando as bestas soltas no mundo ainda <strong>de</strong>stroem os<br />
campos e as cida<strong>de</strong>s?<br />
Já viste um loiro trigal balançando ao vento? É das coisas mais<br />
belas do mundo, mas os hitleristas e seus cães danados <strong>de</strong>struíram os<br />
trigais e os povos morrem <strong>de</strong> fome. Como falar, então, da beleza, <strong>de</strong>ssa<br />
beleza simples e pura da farinha e do pão, da água da fonte, do céu azul, do<br />
teu rosto na tar<strong>de</strong>? Não posso falar <strong>de</strong>ssas coisas <strong>de</strong> todos os dias, <strong>de</strong>ssas<br />
alegrias <strong>de</strong> todos os instantes. Porque elas estão perigando, todas elas, os<br />
trigais e o pão, a farinha e a água, o céu, o mar e teu rosto. Contra tudo que é<br />
a beleza cotidiana do homem, o nazifascismo se levantou, monstro medieval<br />
<strong>de</strong> torpe visão, <strong>de</strong> ávido apetite assassino. Outros que falem, se quiserem,<br />
das árvores nas tar<strong>de</strong>s agrestes, das rosas em coloridos variados, das flores simples e dos versos mais belos e mais<br />
tristes. Outros que falem as gran<strong>de</strong>s palavras <strong>de</strong> amor para a bem-amada, outros que digam dos crepúsculos e das<br />
noites <strong>de</strong> estrelas. Não tenho palavras, não tenho frases, vejo as árvores, os pássaros e a tar<strong>de</strong>, vejo teus olhos, vejo o<br />
crepúsculo bordando a cida<strong>de</strong>. Mas sobre todos esses quadros boiam cadáveres <strong>de</strong> crianças que os nazis mataram, ao<br />
canto dos pássaros se mesclam os gritos dos velhos torturados nos campos <strong>de</strong> concentração, nos crepúsculos se fun<strong>de</strong>m<br />
madrugadas <strong>de</strong> reféns fuzilados. E, quando a paisagem lembra o campo, o que eu vejo são os trigais <strong>de</strong>struídos ao <strong>passo</strong><br />
das bestas hitleristas, os trigais que alimentavam antes as populações livres. Sobre toda a beleza paira a sombra da<br />
escravidão. É como uma nuvem inesperada num céu azul e límpido. Como então encontrar palavras inocentes, doces<br />
palavras cariciosas, versos suaves e tristes? Perdi o sentido <strong>de</strong>stas palavras, <strong>de</strong>stas frases, elas me soam como uma<br />
traição neste momento.<br />
Mas sei todas as palavras <strong>de</strong> ódio, do ódio mais profundo e mais mortal. Eles matam crianças e essa é a sua<br />
maneira <strong>de</strong> brincar o mais inocente dos brinquedos. Eles <strong>de</strong>sonram a beleza das mulheres nos leitos imundos e essa é a<br />
sua maneira mais romântica <strong>de</strong> amar. Eles torturam os homens nos campos <strong>de</strong> concentração e essa é a sua maneira<br />
mais simples <strong>de</strong> construir o mundo. Eles invadiram as pátrias, escravizaram os povos, e esse é o i<strong>de</strong>al que levam no<br />
coração <strong>de</strong> lama. Como então ficar <strong>de</strong> olhos fechados para tudo isto e falar, com as palavras <strong>de</strong> sempre, com as frases <strong>de</strong><br />
ontem, sobre a paisagem e os pássaros, a tar<strong>de</strong> e os teus olhos? É impossível porque os monstros estão sobre o mundo<br />
soltos e vorazes, a boca escorrendo sangue, os olhos amarelos, na ambição <strong>de</strong> escravizar. Os monstros pardos, os<br />
monstros negros e os monstros ver<strong>de</strong>s.<br />
Mas eu sei todas as palavras <strong>de</strong> ódio e essas, sim, têm um significado neste momento. Houve um dia em que eu<br />
falei do amor e encontrei para ele os mais doces vocábulos, as frases mais trabalhadas. Hoje só o ódio po<strong>de</strong> fazer com<br />
que o amor perdure sobre o mundo. Só o ódio ao fascismo, mas um ódio mortal, um ódio sem perdão, um ódio que<br />
venha do coração e que nos tome todo, que se faça dono <strong>de</strong> todas as nossas palavras, que nos impeça <strong>de</strong> ver qualquer<br />
espetáculo - <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o crepúsculo aos olhos da amada - sem que junto a ele vejamos o perigo que os cerca.<br />
Jamais as tar<strong>de</strong>s seriam doces e jamais as madrugadas seriam <strong>de</strong> esperança. Jamais os livros diriam coisas belas, nunca<br />
mais seria escrito um verso <strong>de</strong> amor. Sobre toda a beleza do mundo, sobre a farinha e o pão, sobre a pura água da fonte<br />
e sobre o mar, sobre teus olhos também, se <strong>de</strong>bruçaria a <strong>de</strong>sonra que é o nazifascismo, se eles tivessem conseguido<br />
dominar o mundo. Não restaria nenhuma parcela <strong>de</strong> beleza, a mais mínima. Amanhã saberei <strong>de</strong> novo palavras doces e<br />
frases cariciosas. Hoje só sei palavras <strong>de</strong> ódio, palavras <strong>de</strong> morte. Não encontrarás um cravo ou uma rosa, uma flor na<br />
minha literatura. Mas encontrarás um punhal ou um fuzil, encontrarás uma arma contra os inimigos da beleza, contra<br />
aqueles que amam as trevas e a <strong>de</strong>sgraça, a lama e os esgotos, contra esses restos <strong>de</strong> podridão que sonharam esmagar a<br />
poesia, o amor e a liberda<strong>de</strong>!<br />
O texto acima foi publicado no jornal "Folha da Manhã", edição <strong>de</strong> 22/04/1945, e consta do livro "Figuras do<br />
Brasil: 80 autores em 80 anos <strong>de</strong> Folha", PubliFolha - São Paulo, 2001, pág. 79, organização <strong>de</strong> Arthur Nestrovski.<br />
Disponível em: http://www.releituras.com/jorgeamado_menu.asp<br />
32
1 ano<br />
<strong>História</strong> <strong>de</strong> Jorge<br />
Jorge Amado<br />
nasceu a 10 <strong>de</strong> agosto<br />
<strong>de</strong> 1912, na fazenda<br />
Auricídia, no distrito<br />
<strong>de</strong> Ferradas,<br />
município <strong>de</strong> Itabuna,<br />
sul do Estado da<br />
Bahia. Filho do<br />
fazen<strong>de</strong>iro <strong>de</strong> cacau<br />
João Amado <strong>de</strong> Faria e<br />
<strong>de</strong> Eulália Leal Amado.<br />
Com um ano <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, foi<br />
para Ilhéus, on<strong>de</strong> <strong>passo</strong>u a infância.<br />
Fez os estudos secundários no<br />
Colégio Antônio Vieira e no Ginásio<br />
Ipiranga, em Salvador. Neste<br />
período, começou a trabalhar em<br />
jornais e a participar da vida<br />
literária, sendo um dos fundadores<br />
da Aca<strong>de</strong>mia dos Rebel<strong>de</strong>s.<br />
Publicou seu primeiro<br />
romance, O país do carnaval, em<br />
1931. Casou-se em 1933, com<br />
Matil<strong>de</strong> Garcia Rosa, com quem<br />
teve uma filha, Lila. Nesse ano<br />
publicou seu segundo romance,<br />
Cacau.<br />
Formou-se pela Faculda<strong>de</strong><br />
Nacional <strong>de</strong> Direito, no Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro, em 1935. Militante<br />
comunista, foi obrigado a exilar-se na Argentina e no<br />
Uruguai entre 1941 e 1942, período em que fez longa<br />
viagem pela América Latina. Ao voltar, em 1944,<br />
separou-se <strong>de</strong> Matil<strong>de</strong> Garcia Rosa.<br />
Em 1945, foi eleito membro da Assembleia<br />
Nacional Constituinte, na legenda do Partido Comunista<br />
Brasileiro (PCB), tendo sido o <strong>de</strong>putado fe<strong>de</strong>ral mais<br />
votado do Estado <strong>de</strong> São Paulo.<br />
Jorge Amado foi o autor da lei,<br />
ainda hoje em vigor, que<br />
assegura o direito à liberda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> culto religioso. Nesse<br />
mesmo ano, casou-se com Zélia<br />
Gattai.<br />
Em 1947, ano do<br />
nascimento <strong>de</strong> João Jorge,<br />
primeiro filho do casal, o PCB foi<br />
<strong>de</strong>clarado ilegal e seus membros<br />
perseguidos e presos. Jorge<br />
Amado teve que se exilar com a<br />
família na França, on<strong>de</strong> ficou até<br />
Jorge e Zélia, grávida <strong>de</strong> João Jorge,<br />
em São João <strong>de</strong> Meriti. 1947<br />
Cerimônia <strong>de</strong> posse na<br />
Aca<strong>de</strong>mia Brasileira <strong>de</strong> Letras<br />
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
1950, quando foi expulso. Em 1949, morreu no Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro sua filha Lila. Entre 1950 e 1952, viveu em<br />
Praga, on<strong>de</strong> nasceu sua filha Paloma.<br />
De volta ao Brasil, Jorge Amado afastou-se, em<br />
1955, da militância política, sem, no entanto, <strong>de</strong>ixar os<br />
quadros do Partido Comunista. Dedicou-se, a partir <strong>de</strong><br />
então, inteiramente à literatura. Foi eleito, em 6 <strong>de</strong><br />
abril <strong>de</strong> 1961, para a ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> número 23, da<br />
Aca<strong>de</strong>mia Brasileira <strong>de</strong> Letras, que tem por patrono<br />
José <strong>de</strong> Alencar e por primeiro ocupante Machado <strong>de</strong><br />
Assis.<br />
A obra literária <strong>de</strong> Jorge<br />
Amado conheceu inúmeras adaptações<br />
para cinema, teatro e televisão, além <strong>de</strong><br />
ter sido tema <strong>de</strong> escolas <strong>de</strong> samba em<br />
várias partes do Brasil. Seus livros<br />
foram traduzidos para 49 idiomas,<br />
existindo também exemplares em<br />
braile e em formato <strong>de</strong> audiolivro.<br />
Jorge Amado morreu em<br />
Salvador, no dia 6 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2001.<br />
Foi cremado conforme seu <strong>de</strong>sejo, e<br />
suas cinzas foram enterradas no jardim<br />
<strong>de</strong> sua residência na Rua Alagoinhas,<br />
no dia em que completaria 89 anos.<br />
A obra <strong>de</strong> Jorge Amado<br />
mereceu diversos prêmios nacionais e<br />
internacionais, entre os quais<br />
<strong>de</strong>stacam-se: Stalin da Paz (União<br />
Soviética, 1951), Latinida<strong>de</strong> (França,<br />
1971), Nonino (Itália, 1982), Dimitrov<br />
(Bulgária, 1989), Pablo Neruda (Rússia, 1989), Etruria<br />
<strong>de</strong> Literatura (Itália, 1989), Cino Del Duca (França,<br />
1990), Mediterrâneo (Itália, 1990), Vitaliano Brancatti<br />
(Itália, 1995), Luis <strong>de</strong> Camões (Brasil, Portugal, 1995),<br />
Jabuti (Brasil, 1959, 1995) e Ministério da Cultura<br />
(Brasil, 1997).<br />
Recebeu títulos <strong>de</strong> Comendador e <strong>de</strong> Gran<strong>de</strong><br />
Oficial, nas or<strong>de</strong>ns da Venezuela, França, Espanha,<br />
Portugal, Chile e Argentina; além <strong>de</strong> ter sido feito<br />
Doutor Honoris Causa em 10 universida<strong>de</strong>s, no<br />
Brasil, na Itália, na França, em Portugal e em Israel.<br />
O título <strong>de</strong> Doutor pela Sorbonne, na França, foi o<br />
último que recebeu pessoalmente, em 1998, em sua<br />
última viagem a Paris, quando já estava doente.<br />
Jorge Amado orgulhava-se do título <strong>de</strong><br />
Obá, posto civil que exercia no Ilê Axé Opô Afonjá,<br />
na Bahia.<br />
Disponível em:<br />
http://www.jorgeamado.org.br/?page_id=75<br />
33
<strong>História</strong>s <strong>de</strong> Jorge<br />
ROMANCES:<br />
- O País do Carnaval, 1931<br />
- Cacau, 1933<br />
- Suor, 1934<br />
- Jubiabá, 1935<br />
- Mar Morto, 1936<br />
- Capitães da Areia, 1936<br />
- Terras do Sem Fim, 1943<br />
- São Jorge dos Ilhéus, 1944<br />
- Seara Vermelha, 1946<br />
- Os Subterrâneos da Liberda<strong>de</strong> (3v), 1954<br />
- Gabriela, Cravo e Canela, 1958<br />
- Os Pastores da Noite, 1964<br />
- Dona Flor e Seus Dois Maridos,1966<br />
- Tenda dos Milagres, 1969<br />
- Teresa Batista Cansada da Guerra, 1972<br />
- Tieta do Agreste, 1977<br />
- Farda Fardão Camisola <strong>de</strong> Dormir, 1979<br />
- Tocaia Gran<strong>de</strong>: a face obscura, 1984<br />
- O Sumiço da Santa: uma história <strong>de</strong> feitiçaria, 1988<br />
- A Descoberta da América pelos Turcos, 1994<br />
- O Compadre <strong>de</strong> Ogum, 1995<br />
NOVELAS<br />
- A Morte e a Morte <strong>de</strong> Quincas Berro D’água, 1959<br />
- Os Velhos Marinheiros, 1976<br />
LITERATURA INFANTO-JUVENIL:<br />
- O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá: uma história <strong>de</strong> amor, 1976<br />
- A Bola e o Goleiro, 1984<br />
- O Capeta Carybé, 1986<br />
POESIA:<br />
- A Estrada do Mar, 1938<br />
TEATRO:<br />
- O Amor do Soldado, 1947 (ainda com o título O Amor <strong>de</strong> Castro Alves), 1958<br />
CONTOS:<br />
- Sentimentalismo, 1931<br />
- O homem da mulher e a mulher do homem, 1931<br />
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
34
- <strong>História</strong> do carnaval, 1945<br />
- As mortes e o triunfo <strong>de</strong> Rosalinda, 1965<br />
- Do recente milagre dos pássaros, 1979<br />
- O episódio <strong>de</strong> Siroca, 1982<br />
- De como o mulato Porciúncula <strong>de</strong>scarregou o seu <strong>de</strong>funto, 1989<br />
RELATOS AUTOBIOGRÁFICOS:<br />
- O menino grapiúna, 1981<br />
- Navegação <strong>de</strong> cabotagem: apontamentos para um livro <strong>de</strong> memórias que jamais escreverei, 1992<br />
TEXTOS AUTOBIOGRÁFICOS:<br />
- ABC <strong>de</strong> Castro Alves, 1941<br />
- O cavaleiro da esperança, 1945<br />
GUIA/VIAGENS:<br />
- Bahia <strong>de</strong> Todos os Santos: guia <strong>de</strong> ruas e <strong>de</strong> mistérios, 1945<br />
- O mundo da paz (viagens), 1951<br />
- Bahia Boa Terra Bahia, 1967<br />
- Bahia, 1970<br />
- Terra Mágica da Bahia, 1984.<br />
DOCUMENTO POLÍTICO/ORATÓRIA:<br />
- Homens e coisas do Partido Comunista, 1946<br />
- Discursos, 1993<br />
LIVRO TRADUZIDO:<br />
- Dona Bárbara (Doña Barbara), romance do venezuelano Rómulo Gallegos, 1934<br />
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
EM PARCERIA:<br />
- Lenita (novela), com Edison Carneiro e Dias da Costa, 1929<br />
- Descoberta do mundo (literatura infantil), com Matil<strong>de</strong> Garcia Rosa, 1933<br />
- Brandão entre o mar e o amor, com José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Aníbal Machado e Rachel <strong>de</strong> Queiroz, 1942<br />
- O mistério <strong>de</strong> MMM, com Viriato Corrêa, Dinah Silveira <strong>de</strong> Queiroz, Lúcio Cardoso, Herberto Sales, Rachel <strong>de</strong> Queiroz,<br />
José Condé, Guimarães Rosa, Antônio Callado e Orígines Lessa, 1962<br />
PUBLICAÇÕES NO EXTERIOR:<br />
Segundo a Fundação Casa <strong>de</strong> Jorge Amado, existem registros oficiais <strong>de</strong> traduções<br />
<strong>de</strong> obras do escritor para os seguintes idiomas: azerbaidjano, albanês, alemão,<br />
árabe, armênio, búlgaro, catalão, chinês, coreano, croata, dinamarquês, eslovaco,<br />
esloveno, espanhol, esperanto, estoniano, finlandês, francês, galego, georgiano,<br />
grego, guarani, hebraico, holandês, húngaro, iídiche, inglês, islandês, italiano,<br />
japonês, letão, lituano, macedônio, moldávio, mongol, norueguês, persa, polonês,<br />
romeno, russo, sérvio, sueco, tailandês, tcheco, turco, turcumênio, ucraniano e<br />
vietnamita (48 no total). Essas traduções foram publicadas no mínimo nos<br />
seguintes países: Albânia, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Armênia, Áustria,<br />
Azerbaidjão, Bulgária, Canadá, Chile, China, Colômbia, Coréia do Norte, Coréia do<br />
Sul, Cuba, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, Eslováquia, Estônia, Finlândia,<br />
França, Geórgia, Grécia, Holanda, Hungria, Inglaterra, Irã, Islândia, Israel, Itália,<br />
Iugoslávia, Japão, Letônia, Lituânia, México, Mongólia, Noruega, Paraguai, Polônia,<br />
Portugal, República Tcheca, Romênia, Rússia, Suécia, Tailândia, Turquia, Ucrânia,<br />
Uruguai, Venezuela e Vietnã; o Brasil também <strong>de</strong>ve ser computado em função da<br />
edição nacional em esperanto, totalizando 52 nações.<br />
Dados extraídos <strong>de</strong> livros do autor, portais da Internet, outros livros e revistas e,<br />
em especial, dos Ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> Literatura Brasileira publicados pelo Instituto<br />
Moreira Salles.<br />
Disponível em: http://www.releituras.com/jorgeamado_bio.asp<br />
35
Lygia Bojunga<br />
Lygia por ela mesma – Livro: a troca<br />
Pra mim, livro é vida; <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que eu era muito pequena<br />
os livros me <strong>de</strong>ram casa e comida.<br />
Foi assim: eu brincava <strong>de</strong> construtora, livro era tijolo;<br />
em pé, fazia pare<strong>de</strong>; <strong>de</strong>itado, fazia <strong>de</strong>grau <strong>de</strong> escada;<br />
inclinado, encostava no outro e fazia telhado.<br />
E quando a casinha ficava pronta eu me espremia lá <strong>de</strong>ntro<br />
pra brincar <strong>de</strong> morar em livro.<br />
De casa em casa, eu fui <strong>de</strong>scobrindo o mundo<br />
(<strong>de</strong> tanto olhar pras pare<strong>de</strong>s).<br />
Primeiro, olhando <strong>de</strong>senhos; <strong>de</strong>pois, <strong>de</strong>cifrando palavras.<br />
Fui crescendo; e <strong>de</strong>rrubei telhados com a cabeça.<br />
Mas fui pegando intimida<strong>de</strong> com as palavras.<br />
E quanto mais íntimos a gente ficava, menos eu ia me lembrando<br />
<strong>de</strong> consertar o telhado ou <strong>de</strong> construir novas casas.<br />
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
Só por causa <strong>de</strong> uma razão: o livro agora alimentava<br />
minha imaginação.<br />
Todo dia a minha imaginação comia, comia e comia;<br />
e <strong>de</strong> barriga assim toda cheia, me leva pra morar<br />
no mundo inteiro:<br />
iglu, cabana, palácio, arranha-céu, era só escolher e pronto,<br />
o livro me dava.<br />
Foi assim que, <strong>de</strong>vagarinho, me habituei com essa troca tão<br />
gostosa que – no meu jeito <strong>de</strong> ver as coisas –<br />
é a troca da própria vida;<br />
quanto mais eu buscava no livro, mais ele me dava.<br />
Mas como a gente tem mania <strong>de</strong> sempre querer mais,<br />
eu cismei um dia <strong>de</strong> alargar a troca:<br />
comecei a fabricar tijolo pra – em algum lugar –<br />
uma criança juntar com outros e levantar<br />
a casa on<strong>de</strong> vai morar.<br />
Mensagem <strong>de</strong> Lygia Bojunga para o Dia Internacional do Livro Infantil e Juvenil, traduzida e<br />
divulgada nos 64 países membros do IBBY<br />
Disponível em: http://www.casalygiabojunga.com.br/frames/livroatroca.htm<br />
36
1 ano<br />
Escritora<br />
brasileira, escreveu<br />
inicialmente os seus<br />
livros sob o nome<br />
Lygia Bojunga Nunes.<br />
Nasceu em Pelotas no<br />
dia 26 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong><br />
1932 e cresceu numa<br />
fazenda. Aos oito anos<br />
<strong>de</strong> ida<strong>de</strong> foi para o Rio<br />
<strong>de</strong> Janeiro on<strong>de</strong> em<br />
1951 se tornou atriz<br />
numa companhia <strong>de</strong><br />
teatro que viajava pelo interior do Brasil. A<br />
predominância do analfabetismo que presenciou<br />
nessas viagens levou-a a fundar uma escola para<br />
crianças pobres do interior, que dirigiu durante<br />
cinco anos. Trabalhou durante muito tempo para<br />
o rádio e a televisão, antes <strong>de</strong> <strong>de</strong>butar como<br />
escritora <strong>de</strong> livros infantis em 1972.<br />
Num continente que se tornou conhecido<br />
por seu realismo mágico e contos fantásticos, a<br />
literatura infantil brasileira caracteriza-se por<br />
uma acentuada transgressão dos limites entre a<br />
fantasia e a realida<strong>de</strong>. Lygia Bojunga é uma<br />
escritora que perpetuou esta tradição e a tornou<br />
perfeita. Para ela, o quotidiano está repleto <strong>de</strong><br />
magia: on<strong>de</strong> brotam os <strong>de</strong>sejos tão pesados que<br />
literalmente não é possível erguê-los, on<strong>de</strong><br />
alfinetes e guarda-chuvas conversam tão<br />
obviamente como os peões e as bolas, on<strong>de</strong><br />
animais vivem vidas tão<br />
variadas e vulneráveis<br />
como as pessoas.<br />
Imperceptivelmente, o<br />
concreto da realida<strong>de</strong><br />
transforma-se noutra<br />
coisa, não num outro<br />
mundo, mas num<br />
mundo <strong>de</strong>ntro do<br />
mundo dos sentidos,<br />
Aos 19 anos tomada <strong>de</strong><br />
paixão pelo teatro<br />
on<strong>de</strong> a linha entre o<br />
possível é tão difusa<br />
como fácil <strong>de</strong><br />
ultrapassar. A tristeza vive com Bojunga<br />
juntamente com o conforto, a calma alegria com a<br />
estonteante aventura e no centro da fantasia da<br />
escrita está a criança, muitas vezes sozinha e<br />
abandonada, sempre sensível, sempre cheia <strong>de</strong><br />
<strong>História</strong> <strong>de</strong> Lygia<br />
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
fantasias. A morte não é tabu, a <strong>de</strong>silusão também<br />
não, mas além da próxima esquina, espera a cura.<br />
Numa prosa lírica e marcante, pinta as suas<br />
imagens e não importa se a solidão é muito<br />
amarga, há sempre um sorriso que expressa uma<br />
compaixão com os mais pequenos, que nunca se<br />
torna sentimental.<br />
"... naquele tempo escrever/criar<br />
personagens era, pra mim, uma forma <strong>de</strong><br />
sobreviver e <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r construir a casa que<br />
eu queria pra morar (a Boa Liga); só <strong>de</strong>pois,<br />
quando eu abracei a literatura, é que eu me<br />
<strong>de</strong>i conta que escrever/criar personagens<br />
era muito mais que um jeito <strong>de</strong> sobreviver:<br />
era – e agora sim! – o jeito <strong>de</strong> viver que eu,<br />
realmente, queria pra mim."<br />
Após abandonar sua carreira <strong>de</strong> atriz<br />
Os textos <strong>de</strong> Bojunga baseiam-se<br />
fortemente na perspectiva da criança. Ela observa<br />
o mundo através dos olhos brincalhões da criança.<br />
Aqui é tudo possível: os seus personagens po<strong>de</strong>m<br />
fantasiar um cavalo no qual cavalgam a galope ou<br />
<strong>de</strong>senhar uma porta numa pare<strong>de</strong>, que<br />
atravessam no momento seguinte. As fantasias<br />
servem geralmente para ultrapassar experiências<br />
pessoais difíceis: quando a personagem principal<br />
em Corda Bamba, 1979 usa uma corda para entrar<br />
em uma casa estranha com muitas portas<br />
fechadas, do outro lado da rua, é na prática uma<br />
forma <strong>de</strong> curar a tristeza <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter perdido os<br />
seus pais numa morte inesperada. Em A Casa da<br />
Madrinha, 1987 percebemos <strong>de</strong>pressa que as<br />
experiências fantásticas <strong>de</strong> Alexandre durante a<br />
sua busca pela casa longínqua <strong>de</strong> sua madrinha<br />
são na realida<strong>de</strong> a concretização das fantasias <strong>de</strong><br />
felicida<strong>de</strong> e amparo <strong>de</strong> um menino da rua<br />
abandonado. É uma história que se aproxima do<br />
conto <strong>de</strong> Astrid Lindgren Sunnanäng. A fantasia<br />
psicológica <strong>de</strong> Bojunga emerge novamente nos<br />
contos com animais: quando o tatuzinho Vítor em<br />
O Sofá Estampado, 1980 se sente nervoso, começa<br />
37
a tossir e arranhar o sofá – até entrar um<br />
momento mais tar<strong>de</strong> nos seus tempos <strong>de</strong> infância.<br />
O realismo mágico e perspicácia<br />
psicológica reúnem-se a uma paixão pelo social e<br />
pela <strong>de</strong>mocracia. Bojunga, que<br />
começou a escrever quando<br />
ainda dominava a ditadura no<br />
Brasil, dirigia ativida<strong>de</strong>s<br />
subversivas. Isto torna-se mais<br />
fácil em literatura infantil porque<br />
– nas palavras <strong>de</strong> Bojunga – os<br />
generais não leem livros<br />
<strong>de</strong>stinados às crianças. Nestes<br />
livros, encontram-se galos <strong>de</strong><br />
briga com o cérebro costurado<br />
com arame e pavões com filtros <strong>de</strong><br />
pensamento que se removem com um sacarolhas.<br />
Os ventos da liberda<strong>de</strong> são fortes nos<br />
livros <strong>de</strong> Bojunga, on<strong>de</strong> a crítica contra a falta <strong>de</strong><br />
igualda<strong>de</strong> entre os sexos é um tema recorrente.<br />
Mas Bojunga nunca dá sermões, o sério é sempre<br />
equilibrado pela brinca<strong>de</strong>ira e o humor absurdo.<br />
Os sonhos inflados <strong>de</strong> Raquel em A Bolsa Amarela,<br />
1976, são literalmente perfurados por um alfinete,<br />
e transformados em pipas <strong>de</strong><br />
papel que voam para bem<br />
distante à mercê dos ventos.<br />
Bojunga (que costuma<br />
apresentar-se em público com<br />
monólogos dramáticos) tem o<br />
dom da narrativa oral que<br />
pren<strong>de</strong> o leitor logo na<br />
primeira<br />
página. Também escreveu<br />
peças teatrais e gosta <strong>de</strong> usar<br />
<strong>de</strong>scrições cênicas. Num dos<br />
seus livros, Angélica, 1975, incluiu<br />
uma peça <strong>de</strong> teatro completa. Não é<br />
sempre a história em si que é o mais<br />
importante nos seus livros, por<br />
vezes une-se um acontecimento ao<br />
outro em longas ca<strong>de</strong>ias (como nas<br />
narrativas orais), on<strong>de</strong> o personagem principal<br />
po<strong>de</strong>rá por vezes <strong>de</strong>saparecer do centro <strong>de</strong><br />
atenção. A tônica está na própria narrativa, com os<br />
seus tons humorísticos e poéticos, e na sensação<br />
estranha <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> que brota quando tudo é<br />
possível. A forma refinada como Bojunga <strong>de</strong>ixa<br />
cores expressarem emoções contribui<br />
fortemente para a extraordinária beleza dos seus<br />
livros. Esta expressão é talvez mais marcante em<br />
O Meu Amigo Pintor, 1978 (também transformado<br />
em peça teatral), que <strong>de</strong>screve como um<br />
personagem, um menino, tenta curar a sua tristeza<br />
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
pela morte <strong>de</strong> um pintor com a ajuda das cores.<br />
Um relógio é amarelo ao tocar as horas, para<br />
voltar a ser branco quando para. Amarelo é a cor<br />
preferida <strong>de</strong> Bojunga, ligada à alegria da vida,<br />
tornou-se o tema predileto<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o seu primeiro livro Os<br />
Colegas, 1972.<br />
Por vezes, Bojunga<br />
prefere ficar na realida<strong>de</strong> e<br />
mostrar então o seu olhar<br />
psicológico penetrante: Seis<br />
Vezes Lucas, 1995, <strong>de</strong>screve,<br />
como na obra anterior, Tchau,<br />
1984, a infi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong>, conflitos<br />
matrimoniais e divórcio do<br />
ponto <strong>de</strong> vista impotente – mas<br />
esperançoso – da criança.<br />
Bojunga entra sem medo no domínio dos adultos,<br />
na sua escolha <strong>de</strong> justificativas encostando-se com<br />
todo o direito à sua enorme capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
concretizar e personificar as sombras interiores<br />
em histórias fáceis <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r.<br />
Como Hans Christian An<strong>de</strong>rsen, com quem<br />
se aparenta claramente, Bojunga equilibra-se com<br />
perícia na linha entre o humor e o<br />
sério. No seu mais recente livro,<br />
Retratos <strong>de</strong> Carolina, 2002,<br />
domina o sério. Esta escritora<br />
fascinada pelo experimento tenta<br />
aqui novos caminhos. Em uma<br />
narrativa que se aproxima da<br />
forma do meta-romance, permite<br />
que o leitor siga o personagem<br />
principal <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a infância até à<br />
vida adulta. Deste modo, Bojunga<br />
Recebeu da Princesa Victoria,<br />
da Suécia, o prêmio ALMA, 2004<br />
Quando a Casa Lygia Bojuga iniciou a<br />
produção <strong>de</strong> Retratos <strong>de</strong> Carolina, a<br />
câmera <strong>de</strong> Peter registrou Lygia junto ao<br />
mar – exatamente no local on<strong>de</strong>, no livro,<br />
Lygia se <strong>de</strong>spe<strong>de</strong> <strong>de</strong> Carolina.<br />
rompe as fronteiras da<br />
literatura infanto-juvenil e<br />
preenche assim as ambições<br />
que enuncia no texto final e<br />
no prefácio do livro: dar lugar<br />
a si própria e às personagens<br />
que criou <strong>de</strong>ntro duma só<br />
casa, “uma casa que eu inventei”.<br />
As obras <strong>de</strong> Bojunga estão traduzidas para<br />
várias línguas, entre as quais francês, alemão,<br />
espanhol, norueguês, sueco, hebraico, italiano,<br />
búlgaro, checo e islandês. Recebeu vários prêmios,<br />
entre eles, o Prêmio Jabuti (1973), o prestigiado<br />
Prêmio Hans Christian An<strong>de</strong>rsen (1982) e o<br />
Prêmio da Literatura Rattenfänger (1986).<br />
Disponível:<br />
http://www.alma.se/upload/alma/pristagare/20<br />
04/biobibliography_portugese.pdf<br />
38
<strong>História</strong>s <strong>de</strong> Lygia<br />
“A literatura funciona para nós como um<br />
espelho. Quanto mais nos olhamos nele, mais<br />
vamos captando revelações sobre nós mesmos<br />
e, consequentemente, sobre nossa postura face<br />
ao mundo.”<br />
http://educarparacrescer.abril.com.br<br />
Os colegas , 1972<br />
Angélica, 1975<br />
A bolsa amarela, 1976<br />
A casa da madrinha, 1978<br />
Corda bamba, 1979<br />
O sofá estampado, 1980<br />
Tchau, 1984<br />
O meu amigo pintor, 1987<br />
Nós três, 1987<br />
Livro, um encontro, 1988<br />
Fazendo Ana Paz, 1991<br />
Paisagem, 1992<br />
6 vezes Lucas, 1995<br />
O abraço, 1995<br />
Feito à mão, 1996<br />
A cama, 1999<br />
O Rio e eu, 1999<br />
Retratos <strong>de</strong> Carolina, 2002<br />
Aula <strong>de</strong> inglês, 2006<br />
Sapato <strong>de</strong> salto, 2006<br />
Dos vinte 1, 2007<br />
Querida, 2009<br />
http://www.casalygiabojunga.com.br<br />
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
39
Manuel Ban<strong>de</strong>ira<br />
Manuel por ele mesmo (1886–1968) - Autorretrato<br />
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
Provinciano que nunca soube<br />
Escolher bem uma gravata;<br />
Pernambucano a quem repugna<br />
A faca do pernambucano;<br />
Poeta ruim que na arte da prosa<br />
Envelheceu na infância da arte,<br />
E até mesmo escrevendo crônicas<br />
Ficou cronista <strong>de</strong> província;<br />
Arquiteto falhado, músico<br />
Falhado (engoliu um dia<br />
Um piano, mas o teclado<br />
Ficou <strong>de</strong> fora); sem família,<br />
Religião ou filosofia;<br />
Mal tendo a inquietação <strong>de</strong> espírito<br />
Disponível em:<br />
http://www.revista.agulha.nom.br<br />
Que vem do sobrenatural,<br />
E em matéria <strong>de</strong> profissão<br />
Um tísico profissional.<br />
40
Terceiro ocupante da Ca<strong>de</strong>ira 24, eleito<br />
em 29 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1940, na sucessão <strong>de</strong> Luís<br />
Guimarães e recebido pelo<br />
Acadêmico Ribeiro Couto em 30<br />
<strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1940. Recebeu<br />
os Acadêmicos Peregrino Júnior<br />
e Afonso Arinos <strong>de</strong> Melo Franco.<br />
Manuel Ban<strong>de</strong>ira (M.<br />
Carneiro <strong>de</strong> Sousa B. Filho),<br />
professor, poeta, cronista,<br />
crítico e historiador literário,<br />
nasceu em Recife, PE, em 19 <strong>de</strong><br />
abril <strong>de</strong> 1886, e faleceu no Rio<br />
<strong>de</strong> Janeiro, RJ, em 13 <strong>de</strong> outubro<br />
<strong>de</strong> 1968.<br />
Filho do engenheiro civil<br />
Manuel Carneiro <strong>de</strong> Sousa Ban<strong>de</strong>ira<br />
e <strong>de</strong> Francelina Ribeiro <strong>de</strong> Sousa Ban<strong>de</strong>ira.<br />
Transferiu-se aos 10 anos para o Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro, on<strong>de</strong> cursou o secundário no<br />
Externato do Ginásio Nacional, hoje Colégio<br />
Pedro II, <strong>de</strong> 1897 a 1902, bacharelando-se em<br />
letras. Em 1903 matriculou-se na Escola<br />
Politécnica <strong>de</strong> São Paulo para fazer o curso <strong>de</strong><br />
engenheiro-arquiteto. No ano seguinte<br />
abandonou os estudos por motivo <strong>de</strong> doença e<br />
fez estações <strong>de</strong> cura em Campanha, MG,<br />
Teresópolis e Petrópolis, RJ, e por fim<br />
Clava<strong>de</strong>l, Suíça, on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>morou <strong>de</strong> junho <strong>de</strong><br />
1913 a outubro <strong>de</strong> 1914. Ali teve como<br />
companheiro <strong>de</strong> sanatório o poeta Paul<br />
Eluard. Sua vida po<strong>de</strong>ria ter sido breve, face à<br />
doença. Viveu até os 82 anos, construindo<br />
<strong>História</strong> <strong>de</strong> Manuel<br />
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
uma das maiores obras poéticas da mo<strong>de</strong>rna<br />
literatura brasileira.<br />
De volta ao Brasil, Manuel Ban<strong>de</strong>ira<br />
iniciou a sua produção literária em periódicos.<br />
Em 1917, publicou A cinza das horas, on<strong>de</strong><br />
reuniu poemas compostos durante a doença.<br />
Em 1919 publicou o segundo livro <strong>de</strong> poemas,<br />
Carnaval. Enquanto o anterior evi<strong>de</strong>nciava as<br />
raízes tradicionais <strong>de</strong> sua cultura e,<br />
formalmente, sugeria uma busca da<br />
simplicida<strong>de</strong>, esse segundo livro<br />
caracterizava-se por uma <strong>de</strong>liberada<br />
liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> composição<br />
rítmica. Ao lado <strong>de</strong> "sonetos<br />
que não passam <strong>de</strong> pastiches<br />
parnasianos", segundo o<br />
próprio Ban<strong>de</strong>ira, nele figura o<br />
famoso poema "Os sapos",<br />
sátira ao Parnasianismo, que<br />
veio a ser <strong>de</strong>clamado, três anos<br />
<strong>de</strong>pois, durante a Semana <strong>de</strong><br />
Arte Mo<strong>de</strong>rna, por Ronald <strong>de</strong><br />
Carvalho. Antecipador <strong>de</strong> um<br />
novo espírito na poesia<br />
brasileira, Ban<strong>de</strong>ira foi<br />
cognominado, por Mário <strong>de</strong><br />
Andra<strong>de</strong>, <strong>de</strong> "São João<br />
Ban<strong>de</strong>ira por Candido Portinari<br />
41
Batista do Mo<strong>de</strong>rnismo".<br />
Por intermédio do amigo Ribeiro<br />
Couto, Manuel Ban<strong>de</strong>ira conheceu os<br />
escritores paulistas que, em 1922, lançaram o<br />
movimento mo<strong>de</strong>rnista. Não participou<br />
diretamente da Semana,<br />
mas colaborou na revista<br />
Klaxon e também na<br />
Revista Antropofagia,<br />
Lanterna Ver<strong>de</strong>, Terra Roxa<br />
e A Revista.<br />
Em 1927, viajou ao<br />
Norte do Brasil, até Belém,<br />
parando em Salvador,<br />
Recife, Paraíba, Natal,<br />
Fortaleza e São Luís do<br />
Maranhão. De 1928 a<br />
1929 permaneceu no<br />
Recife como fiscal <strong>de</strong><br />
bancas examinadoras <strong>de</strong> preparatórios. Em<br />
1935, foi nomeado inspetor <strong>de</strong> ensino<br />
secundário; em 1938, professor <strong>de</strong> Literatura<br />
Poetas: Drummond, Vinicius, Ban<strong>de</strong>ira,<br />
Quintana, Paulo Men<strong>de</strong>s Campos<br />
Universal no Externato do Colégio Pedro II;<br />
em 1942, professor <strong>de</strong> Literaturas Hispano-<br />
Americanas na Faculda<strong>de</strong> Nacional <strong>de</strong><br />
Filosofia, sendo aposentado por lei especial do<br />
Congresso em 1956. Des<strong>de</strong> 1938, era membro<br />
do Conselho Consultivo do Departamento do<br />
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.<br />
Recebeu o prêmio da Socieda<strong>de</strong> Felipe<br />
d’Oliveira por conjunto <strong>de</strong> obra (1937) e o<br />
prêmio <strong>de</strong> poesia do Instituto Brasileiro <strong>de</strong><br />
Educação e Cultura, também por conjunto <strong>de</strong><br />
obra (1946).<br />
Durante toda a vida, fez crítica <strong>de</strong> artes<br />
plásticas, crítica literária e musical para vários<br />
jornais e revistas. Em 1925, colaborou na<br />
Andorinha lá fora está dizendo:<br />
- "Passei o dia à toa, à toa!"<br />
Andorinha, andorinha, minha<br />
cantiga é mais triste!<br />
Passei a vida à toa, à toa...<br />
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Junho <strong>de</strong> 2012<br />
seção "Mês mo<strong>de</strong>rnista" do jornal A Noite, na<br />
revista A I<strong>de</strong>ia Ilustrada e na revista musical<br />
para o Diário Nacional, <strong>de</strong> São Paulo; em<br />
1930-31, escreveu crítica <strong>de</strong> cinema para o<br />
Diário da Noite, do Rio <strong>de</strong> Janeiro, e para A<br />
Andorinha<br />
Província, do Recife; em<br />
1941, fez crítica <strong>de</strong> artes<br />
plásticas em A Manhã, do<br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro; em 1954,<br />
publicou De poetas e <strong>de</strong><br />
poesia (reunião <strong>de</strong> textos<br />
<strong>de</strong> crítica); em 1955,<br />
começou a escrever<br />
crônicas para o Jornal do<br />
Brasil; <strong>de</strong> 1961 a 1963,<br />
escreveu crônicas semanais para o programa<br />
"Quadrante", da Rádio Ministério da<br />
Educação; <strong>de</strong> 1963 a 1964, para os programas<br />
"Vozes da Cida<strong>de</strong>" e "Gran<strong>de</strong>s poetas do<br />
Brasil", da Rádio Roquette-Pinto.<br />
Como crítico <strong>de</strong> arte, Manuel Ban<strong>de</strong>ira<br />
revelou particular afeição pelas velhas igrejas<br />
coloniais da Bahia e barrocas <strong>de</strong> Minas Gerais,<br />
pela arte arquitetônica dos conventos e dos<br />
velhos casarões portugueses da Bahia e do Rio<br />
<strong>de</strong> Janeiro, e pelas formas singelas das mais<br />
humil<strong>de</strong>s igrejas do interior.<br />
Como crítico <strong>de</strong> literatura e historiador<br />
literário, revelou-se sempre um humanista.<br />
Consagrou-se pelo estudo sobre as Cartas<br />
chilenas, <strong>de</strong> Tomás Antônio Gonzaga, pelo<br />
esboço biográfico Gonçalves Dias, além <strong>de</strong> ter<br />
organizado várias antologias <strong>de</strong> poetas<br />
brasileiros e publicado o estudo Apresentação<br />
da poesia brasileira (1946). Em 1954,<br />
publicou o livro <strong>de</strong> memórias “Itinerário <strong>de</strong><br />
Pasárgada”, on<strong>de</strong>, além <strong>de</strong> suas memórias,<br />
expõe todo o seu conhecimento sobre formas<br />
e técnicas <strong>de</strong> poesia, o processo da sua<br />
aprendizagem literária e as sutilezas da<br />
criação poética. Sua obra foi reunida nos<br />
volumes Poesia e Prosa, Aguilar (1958),<br />
contendo numerosos estudos críticos e<br />
biográficos.<br />
Disponível em:<br />
http://www.aca<strong>de</strong>mia.org.br<br />
42
POESIA:<br />
<strong>História</strong>s <strong>de</strong> Manuel<br />
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Junho <strong>de</strong> 2012<br />
Poesias, reunindo A cinza das horas, Carnaval, O ritmo dissoluto (1924); Libertinagem (1930);<br />
Estrela da manhã (1936); Poesias escolhidas (1937); Poesias completas, reunindo as obras anteriores e mais<br />
Lira dos cinquet'anos (1940); Poesias completas, 4a edição, acrescida <strong>de</strong> Belo belo (1948); Poesias<br />
completas, 6a edição, acrescida <strong>de</strong> Opus 10 (1954); Poemas traduzidos (1945); Mafuá do malungo, versos <strong>de</strong><br />
circunstância (1948); Obras poéticas (1956); 50 Poemas escolhidos pelo autor (1955); Alumbramentos<br />
(1960); Estrela da tar<strong>de</strong> (1960).<br />
PROSA:<br />
Crônicas da província do Brasil (1936); Guia <strong>de</strong> Ouro Preto<br />
(1938); Noções <strong>de</strong> história das literaturas (1940); Autoria das Cartas<br />
chilenas, separata da Revista do Brasil (1940); Apresentação da poesia<br />
brasileira (1946); Literatura hispano-americana (1949); Gonçalves<br />
Dias, biografia (1952); Itinerário <strong>de</strong> Pasárgada (1954); De poetas e <strong>de</strong><br />
poesia (1954); A flauta <strong>de</strong> papel (1957); Prosa, reunindo obras<br />
anteriores e mais Ensaios literários, Crítica <strong>de</strong> Artes e Epistolário<br />
(1958); Andorinha, andorinha, crônicas (1966); Os reis vagabundos e<br />
mais 50 crônicas (1966); Colóquio unilateralmente sentimental, crônica<br />
(1968).<br />
ANTOLOGIAS:<br />
Antologia dos poetas brasileiros da fase romântica (1937); Antologia dos poetas brasileiros da fase<br />
parnasiana (1938); Antologia dos poetas brasileiros bissextos contemporâneos (1946). Organizou os<br />
Sonetos completos e Poemas escolhidos <strong>de</strong> Antero <strong>de</strong> Quental; as Obras poéticas <strong>de</strong> Gonçalves Dias (1944);<br />
as Rimas <strong>de</strong> José Albano (1948) e, <strong>de</strong> Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, Cartas a Manuel Ban<strong>de</strong>ira (1958).<br />
Disponível em: http://www.aca<strong>de</strong>mia.org.br<br />
43
Manoel por ele mesmo<br />
Manoel por Manoel<br />
Manoel <strong>de</strong> Barros<br />
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Junho <strong>de</strong> 2012<br />
Eu tenho um ermo enorme <strong>de</strong>ntro do olho. Por um motivo<br />
do ermo não fui um menino peralta. Agora tenho sauda<strong>de</strong> do que<br />
não fui. Acho que o que faço agora é o que não pu<strong>de</strong> fazer na<br />
infância. Faço outro tipo <strong>de</strong> peraltagem. Quando era criança eu<br />
<strong>de</strong>veria pular muro do vizinho para catar goiaba. Mas não havia<br />
vizinho. Em vez <strong>de</strong> peraltagem eu fazia solidão. Brincava <strong>de</strong> fingir<br />
que pedra era lagarto. Que lata era navio. Que sabugo era um<br />
serzinho mal resolvido e igual a um filhote <strong>de</strong> gafanhoto.<br />
Cresci brincando no chão, entre formigas. De uma infância<br />
livre e sem comparamentos. Eu tinha mais comunhão com as<br />
coisas do que comparação.<br />
Porque se a gente fala a partir <strong>de</strong> criança, a gente faz<br />
comunhão: <strong>de</strong> um orvalho e sua aranha, <strong>de</strong> uma tar<strong>de</strong> e suas<br />
garças, <strong>de</strong> um pássaro e sua árvore. Então eu trago das minhas<br />
raízes crianceiras a visão comungante e oblíqua das coisas. Eu sei dizer sem pudor que o escuro me ilumina.<br />
É um paradoxo que ajuda a poesia e que eu falo sem pudor. Eu tenho que essa visão oblíqua vem <strong>de</strong> eu ter<br />
sido criança em algum lugar perdido on<strong>de</strong> havia transfusão da natureza e comunhão com ela. Era o menino e<br />
os bichinhos. Era o menino e o sol. O menino e o rio. Era o menino e as árvores.<br />
Fraseador<br />
Hoje eu completei oitenta e cinco anos. O poeta nasceu<br />
<strong>de</strong> treze. Naquela ocasião escrevi uma carta aos meus pais, que<br />
moravam na fazenda, contando que eu <strong>de</strong>cidira o que queria<br />
ser no futuro. Que eu não queria ser doutor. Nem doutor que<br />
cura nem doutor <strong>de</strong> fazer casa nem doutor <strong>de</strong> medir terras.<br />
Que eu queria era ser fraseador. Meu pai ficou meio vago<br />
<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ler a carta. Minha mãe inclinou a cabeça. Eu queria<br />
ser fraseador e não doutor. Então, o meu irmão mais velho<br />
perguntou: Mas esse tal <strong>de</strong> fraseador bota mantimento em<br />
casa? Eu não queria ser doutor, eu só queria ser fraseador. Meu<br />
irmão insistiu: Mas se fraseador não bota mantimento em casa,<br />
nós temos que botar uma enxada na mão <strong>de</strong>sse menino pra ele<br />
<strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> variar. A mãe baixou a cabeça um pouco mais. O pai<br />
continuou meio vago. Mas não botou enxada.<br />
BARROS, MANOEL. Memórias inventadas. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2006.<br />
44
O poeta Manoel <strong>de</strong> Barros, patrono da<br />
Fundação Manoel <strong>de</strong> Barros (FMB)<br />
Manoel <strong>de</strong> Barros nasceu no Beco da Marinha,<br />
beira do Rio Cuiabá em 1916. Mudou-se para<br />
Corumbá, on<strong>de</strong> se fixou <strong>de</strong> tal forma que chegou a<br />
ser consi<strong>de</strong>rado corumbaense. Atualmente mora<br />
em Campo Gran<strong>de</strong>. É advogado, fazen<strong>de</strong>iro e<br />
poeta. Escreveu seu primeiro poema aos 19 anos,<br />
mas sua revelação poética ocorreu aos 13 anos <strong>de</strong><br />
ida<strong>de</strong> quando ainda estudava no Colégio São José<br />
dos Irmãos Maristas, Rio <strong>de</strong> Janeiro. Autor <strong>de</strong><br />
“O tema do poeta é sempre ele<br />
mesmo. Ele é um narcisista: expõe o<br />
mundo através <strong>de</strong>le mesmo. Ele quer<br />
ser o mundo, e pelas inquietações<br />
<strong>de</strong>le, <strong>de</strong>sejos, esperanças, o mundo<br />
aparece. Através <strong>de</strong> sua essência, a<br />
essência do mundo consegue<br />
aparecer. O tema da minha poesia<br />
sou eu mesmo e eu sou pantaneiro.”<br />
WWW.poemas<strong>de</strong>adrianoespindola.blogspot.com.br<br />
<strong>História</strong> <strong>de</strong> Manoel<br />
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Junho <strong>de</strong> 2012<br />
várias obras pelas quais recebeu prêmios como o<br />
“Prêmio Orlando Dantas” em 1960, conferido pela<br />
Aca<strong>de</strong>mia Brasileira <strong>de</strong> Letras ao livro<br />
“Compêndio para Uso dos Pássaros”. Em 1969<br />
recebeu o Prêmio da Fundação Cultural do<br />
Distrito Fe<strong>de</strong>ral pela obra “Gramática Expositiva<br />
do Chão” e, em 1997 o livro “Sobre Nada” recebeu<br />
um prêmio <strong>de</strong> âmbito nacional.<br />
Perfil<br />
(Praça Pantaneira)<br />
Campo Gran<strong>de</strong> /Mato Grosso do Sul<br />
Cronologicamente pertence à geração <strong>de</strong><br />
45.<br />
Poeta mo<strong>de</strong>rno no que se refere ao trato<br />
com a linguagem.<br />
Avesso à repetição <strong>de</strong> formas e ao uso <strong>de</strong><br />
expressões surradas, ao lugar comum e ao chavão.<br />
Mutilador da realida<strong>de</strong> e pesquisador <strong>de</strong><br />
expressões e significados verbais.<br />
Temática regionalista indo além do valor<br />
documental para fixar-se no mundo mágico das<br />
coisas banais retiradas do cotidiano.<br />
Inventa a natureza através <strong>de</strong> sua<br />
linguagem, transfigurando o mundo que o cerca.<br />
Alma e coração abertos a dor universal.<br />
Tematiza o Pantanal, universalizando-o.<br />
A natureza é sua maior inspiração, o<br />
Pantanal é o <strong>de</strong> sua poesia.<br />
Disponível em: http://www.fmb.org.br<br />
45
<strong>História</strong>s <strong>de</strong> Manuel<br />
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“Quero a palavra que sirva na boca dos passarinhos.”<br />
• Poemas concebidos sem pecado – 1937.<br />
• Face imóvel – 1942.<br />
• Poesias – 1956.<br />
• Compêndio para uso dos pássaros – 1960.<br />
• Gramática expositiva do chão – 1966.<br />
• Matéria <strong>de</strong> poesia – 1970.<br />
• Arranjos para assobio – 1980.<br />
• Livro <strong>de</strong> pré-coisas – 1985.<br />
• O guardador <strong>de</strong> águas – 1989.<br />
• Gramática expositiva do chão - poesia quase toda – 1990.<br />
• Concerto a céu aberto para solo <strong>de</strong> aves – 1993.<br />
• Livro <strong>de</strong> ignorãças – 1993.<br />
• Livro sobre nada -1996.<br />
• Ensaios fotográficos – 2000.<br />
• Exercícios <strong>de</strong> ser criança – 2000.<br />
• O fazedor <strong>de</strong> amanhecer – 2001.<br />
• Tratado geral das gran<strong>de</strong>zas do ínfimo – 2001.<br />
• Para encontrar o azul eu uso pássaros – 2003.<br />
• Memórias Inventadas - Infância – 2003.<br />
• Cantigas por um passarinho à toa – 2003.<br />
• Encantador <strong>de</strong> palavras- Edição <strong>de</strong> portuguesa – 2000.<br />
• Les paroles sans limite - Edição francesa – 2003.<br />
• Todo lo que no invento es falso - Antologia na Espanha – 2003.<br />
• Águas – 2001.<br />
• Das Buch <strong>de</strong>r Unwissenheiten - Edição da revista alemã Alkzent – 1996.<br />
• Poemas rupestres – 2004.<br />
• Memórias inventadas I – 2005.<br />
• Memórias inventadas II – 2006.<br />
LIVROS PREMIADOS<br />
1.“Compêndio para uso dos pássaros”. Prêmio Orlando Dantas - Diário <strong>de</strong> notícias, 08 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1960 - Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />
2.“Gramática expositiva do chão”. Prêmio Nacional <strong>de</strong> poesias – 1966. Governo Costa e Silva - Brasília<br />
3.“O guardador <strong>de</strong> águas”. Prêmio Jabuti <strong>de</strong> poesias - 1989 - São Paulo<br />
4.“Livro sobre nada”. Prêmio Nestlé <strong>de</strong> Poesia - 1996<br />
5.“Livro das Ignorãnças”. Prêmio Alfonso Guimarães da Biblioteca Nacional. Rio <strong>de</strong> Janeiro - 1996<br />
6.Conjunto <strong>de</strong> obras. Prêmio Nacional <strong>de</strong> Literatura do Ministério da Cultura, 05 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1998<br />
7.Secretaria <strong>de</strong> Cultura <strong>de</strong> Mato Grosso do Sul como melhor escritor do ano 1990. “Prêmio Jacaré <strong>de</strong> Prata”<br />
8.Livro “Exercício <strong>de</strong> ser criança”. Prêmio Odilo Costa Filho - Fundação do Livro Infanto Juvenil - 2000<br />
9.Livro “Exercício <strong>de</strong> ser criança” – 2000. Prêmio Aca<strong>de</strong>mia Brasileira <strong>de</strong> Letras<br />
10.Pen Clube do Brasil- data não anotada<br />
11.“O fazedor <strong>de</strong> amanhecer (Salamandra) - livro <strong>de</strong> ficção do ano. Prêmio Jabuti- 2002<br />
12.“Poemas Rupestres” - Prêmio APCA 2004 <strong>de</strong> melhor poesia- 29 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2005<br />
13.“Poemas Rupestres” - Prêmio Nestlé - 2006<br />
46
Monteiro Lobato<br />
Lobato por ele mesmo (1882-1948)<br />
Nasceu em Taubaté, aos 18 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong>... 1884 (na verda<strong>de</strong><br />
1882). Mamou até 87. Falou tar<strong>de</strong>, e ouviu pela primeira vez, aos 5<br />
anos, um célebre ditado: "Cavalo pangaré/Mulher que ... em pé/Gente<br />
<strong>de</strong> Taubaté/ Dominus libera mé".<br />
Concordou.<br />
Depois, teve caxumba aos 9 anos. Sarampo aos 10. Tosse<br />
comprida aos 11. Primeiras espinhas aos 15.<br />
Gostava <strong>de</strong> livros. Leu o Carlos Magno e os doze pares <strong>de</strong><br />
França, o Robinson Crusoé, e todo o Júlio Verne.<br />
Metido em colégio, foi um aluno nem bom nem mau -<br />
apagado. Tomou bomba em exame <strong>de</strong> português, dada pelo Freire.<br />
Insistiu. Formou-se em Direito, com um simplesmente no 4º ano -<br />
merecidíssimo. Foi promotor em Areias, mas não promover coisa<br />
nenhuma. Não tinha jeito para a chicana e abandonou o anel <strong>de</strong> rubi<br />
(que nunca usou no <strong>de</strong>do, aliás).<br />
Fez-se fazen<strong>de</strong>iro. Gramou café a 4,200 a arroba e feijão a<br />
4.000 o alqueire.<br />
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Junho <strong>de</strong> 2012<br />
Convenceu-se a tempo que isso <strong>de</strong> ser produtor é sinônimo <strong>de</strong><br />
ser imbecil e mudou <strong>de</strong> classe. Passou ao paraíso dos intermediários.<br />
Fez-se negociante, matriculadíssimo. Começou editando a si próprio e acabou editando aos outros.<br />
Escreveu umas tantas lorotas que se ven<strong>de</strong>m - Urupês, gênero <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> saída, Cida<strong>de</strong>s mortas,<br />
I<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> Jeca Tatu, subprodutos, Problema vital, Negrinha, Narizinho. Preten<strong>de</strong> publicar ainda um romance<br />
sensacional que começa por um tiro:<br />
- Pum! E o infame cai redondamente morto...<br />
Nesse romance introduzirá uma novida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> alcance, qual seja, a <strong>de</strong> suprimir todos os<br />
pedaços que o leitor pula.<br />
Particularida<strong>de</strong>s: não faz nem enten<strong>de</strong> <strong>de</strong> versos, nem tentou o raid a Buenos Aires.<br />
Físico: lindo!<br />
Monteiro Lobato Autobiografia<br />
A Novela Semanal, São Paulo, nº 1, 2 <strong>de</strong> maio 1921.<br />
Disponível em: http://www.projetomemoria.art.br<br />
47
José Bento Monteiro Lobato estreou<br />
no mundo das letras com pequenos contos<br />
para os jornais estudantis dos colégios<br />
Kennedy e Paulista, que frequentou em<br />
Taubaté, cida<strong>de</strong> do Vale do Paraíba on<strong>de</strong><br />
nasceu, em 18 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1882.<br />
No curso <strong>de</strong> Direito da Faculda<strong>de</strong> do<br />
Largo São Francisco, em São Paulo, dividiu-se<br />
entre suas principais paixões: escrever e<br />
<strong>de</strong>senhar. Colaborou em publicações dos<br />
alunos, vencendo um concurso literário promovido em<br />
1904 pelo Centro Acadêmico XI <strong>de</strong> Agosto. Morou na<br />
república estudantil do Minarete, li<strong>de</strong>rou o grupo <strong>de</strong><br />
colegas que formou o Cenáculo e mandou artigos para um<br />
jornalzinho <strong>de</strong> Pindamonhangaba, que tinha como título o<br />
mesmo nome daquela moradia <strong>de</strong> estudantes. Nessa fase<br />
<strong>de</strong> sua formação, Lobato realizou as leituras básicas e<br />
entrou em contato com a obra do filósofo<br />
alemão Nietzsche, cujo pensamento o guiaria<br />
vida afora.<br />
Diploma nas mãos, Lobato voltou a<br />
Taubaté. E <strong>de</strong> lá prosseguiu enviando artigos<br />
para um jornal <strong>de</strong> Caçapava, O Combatente.<br />
Nomeado promotor público, mudou-se para<br />
Areias, casou-se com Purezinha e começou a<br />
traduzir artigos do Weekly Times para O Estado<br />
<strong>de</strong> S. Paulo. Fez ilustrações e caricaturas para a<br />
revista carioca Fon-Fon! e colaborou no jornal<br />
Gazeta <strong>de</strong> Notícias, também do Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />
assim como na Tribuna <strong>de</strong> Santos.<br />
A morte súbita do avô <strong>de</strong>terminou uma<br />
reviravolta na vida <strong>de</strong> Monteiro Lobato, que herdou a<br />
Fazenda do Buquira, para a qual se transferiu com a<br />
família. Localizada na Serra da Mantiqueira, já estava com<br />
as terras esgotadas pela lavoura do café. Assim mesmo, ele<br />
tentou transformá-la num negócio rendoso, investindo em<br />
projetos agrícolas audaciosos.<br />
Mas não se afastou da literatura. Observando com<br />
interesse o mundo da roça, logo escreveu artigo, para O<br />
Estado <strong>de</strong> S. Paulo, <strong>de</strong>nunciando as queimadas no Vale do<br />
Paraíba. Intitulado “Uma velha praga”, teve gran<strong>de</strong><br />
repercussão quando saiu, em novembro <strong>de</strong> 1914.<br />
Um mês <strong>de</strong>pois, redigiu Urupês, no mesmo jornal,<br />
criando o Jeca Tatu, seu personagem-símbolo.<br />
Preguiçoso e a<strong>de</strong>pto da "lei do menor esforço",<br />
Jeca era completamente diferente dos caipiras e<br />
indígenas i<strong>de</strong>alizados pelos romancistas como,<br />
por exemplo, José <strong>de</strong> Alencar. Esses dois artigos<br />
seriam reproduzidos em diversos jornais,<br />
gerando polêmica <strong>de</strong> norte a sul do país. Não<br />
<strong>de</strong>morou muito e Lobato, cansado da monotonia<br />
do campo, acabou ven<strong>de</strong>ndo a fazenda e<br />
instalando-se na capital paulista.<br />
Com o dinheiro da venda da fazenda, Lobato<br />
virou <strong>de</strong>finitivamente um escritor-jornalista. Colaborou,<br />
nesse período, em publicações como Vida Mo<strong>de</strong>rna, O<br />
Queixoso, Parafuso, A Cigarra, O Pirralho e continuou em<br />
<strong>História</strong> <strong>de</strong> Lobato<br />
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
O Estado <strong>de</strong> S. Paulo. Mas foi a linha nacionalista<br />
da Revista do Brasil, lançada em janeiro <strong>de</strong><br />
1916, que o empolgou. Não teve dúvida:<br />
comprou-a em junho <strong>de</strong> 1918 com o que<br />
recebera pela Buquira. E <strong>de</strong>u vez e voz para<br />
novos talentos, que apareciam em suas páginas<br />
ao lado <strong>de</strong> gente famosa.<br />
A revista prosperou e ele formou uma<br />
empresa editorial que continuou aberta aos<br />
novatos. Lançou, inclusive, obras <strong>de</strong> artistas<br />
mo<strong>de</strong>rnistas, como O homem e a morte, <strong>de</strong> Menotti <strong>de</strong>l<br />
Picchia, e Os Con<strong>de</strong>nados, <strong>de</strong> Oswald <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>. Os dois<br />
com capa <strong>de</strong> Anita Malfatti, que seria pivô <strong>de</strong> uma séria<br />
polêmica entre Lobato e o grupo da Semana <strong>de</strong> 22: Lobato<br />
criticou a exposição da pintora no artigo “Paranoia ou<br />
mistificação?”, <strong>de</strong> 1917. “Livro é sobremesa: tem que ser<br />
posto <strong>de</strong>baixo do nariz do freguês", dizia Lobato, que, para<br />
provocar a gulodice do leitor, tratava o livro como<br />
um produto <strong>de</strong> consumo como outro qualquer,<br />
cuidando <strong>de</strong> sua qualida<strong>de</strong> gráfica e adotando<br />
capas coloridas e atraentes. O empreendimento<br />
cresceu e foi seguidamente reestruturado para<br />
acompanhar a velocida<strong>de</strong> dos negócios,<br />
impulsionada ainda mais por uma agressiva<br />
política <strong>de</strong> distribuição que contava com<br />
ven<strong>de</strong>dores autônomos e com vasta re<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
distribuidores espalhados pelo país. Novida<strong>de</strong> e<br />
tanto para a época, e que resultou em altas<br />
tiragens. Lobato acabaria entregando a direção da<br />
Revista do Brasil a Paulo Prado e Sérgio Milliet, para<br />
<strong>de</strong>dicar-se à editora em tempo integral. E, para po<strong>de</strong>r<br />
aten<strong>de</strong>r às crescentes <strong>de</strong>mandas, importou mais máquinas<br />
dos Estados Unidos e da Europa, que iriam incrementar<br />
seu parque gráfico. Mergulhado em livros e mais livros,<br />
Lobato não conseguia parar.<br />
Escreveu, nesse período, sua primeira história<br />
infantil, A menina do narizinho arrebitado. Com capa e<br />
<strong>de</strong>senhos <strong>de</strong> Voltolino, famoso ilustrador da época, o<br />
livrinho, lançado no Natal <strong>de</strong> 1920, fez o maior sucesso.<br />
Dali nasceram outros episódios, tendo sempre como<br />
personagens Dona Benta, Pedrinho, Narizinho, Tia<br />
Nastácia e, é claro, Emília, a boneca mais esperta do<br />
planeta. Insatisfeito com as traduções <strong>de</strong> livros<br />
europeus para crianças, ele criou aventuras com<br />
figuras bem brasileiras, recuperando costumes da<br />
roça e lendas do folclore nacional. E fez mais:<br />
misturou todos eles com elementos da literatura<br />
universal, da mitologia grega, dos quadrinhos e do<br />
cinema. No Sítio do Picapau Amarelo, Peter Pan<br />
brinca com o Gato Félix, enquanto o saci ensina<br />
truques a Chapeuzinho Vermelho no país das<br />
maravilhas <strong>de</strong> Alice. Mas Monteiro Lobato também<br />
fez questão <strong>de</strong> transmitir conhecimento e i<strong>de</strong>ias em<br />
livros que falam <strong>de</strong> história, geografia e matemática,<br />
tornando-se pioneiro na literatura paradidática - aquela<br />
em que se apren<strong>de</strong> brincando.<br />
48
Trabalhando a todo vapor, Lobato teve que<br />
enfrentar uma série <strong>de</strong> obstáculos. Primeiro, foi a<br />
Revolução dos Tenentes que, em julho <strong>de</strong> 1924, paralisou<br />
as ativida<strong>de</strong>s da sua empresa durante dois meses,<br />
causando gran<strong>de</strong> prejuízo. Seguiu-se uma<br />
inesperada seca, que <strong>de</strong>correu em um corte no<br />
fornecimento <strong>de</strong> energia. O<br />
maquinário gráfico só podia<br />
funcionar dois dias por semana. E<br />
numa brusca mudança na política<br />
econômica, Arthur Bernar<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong>svalorizou a moeda e suspen<strong>de</strong>u o<br />
re<strong>de</strong>sconto <strong>de</strong> títulos pelo Banco do<br />
Brasil. A consequência foi um enorme<br />
rombo financeiro e muitas dívidas. Só<br />
restou uma alternativa a Lobato:<br />
pedir a autofalência, apresentada em<br />
julho <strong>de</strong> 1925. O que não significou o<br />
fim <strong>de</strong> seu ambicioso projeto<br />
editorial, pois ele já se preparava<br />
para criar outra empresa. Assim surgiu a Companhia<br />
Editora Nacional. Sua produção incluía livros <strong>de</strong> todos os<br />
gêneros, entre eles traduções <strong>de</strong> Hans Sta<strong>de</strong>n e Jean <strong>de</strong><br />
Léry, viajantes europeus que andaram pelo Brasil no<br />
século XVI. Lobato recobrou o antigo prestígio,<br />
reimprimindo nela sua marca inconfundível: fazer livros<br />
bem impressos, com projetos gráficos apurados e enorme<br />
sucesso <strong>de</strong> público.<br />
Decretada a falência da Companhia Gráfico-<br />
Editora Monteiro Lobato, o escritor mudou-se com a<br />
família para o Rio <strong>de</strong> Janeiro, on<strong>de</strong> permaneceu por dois<br />
anos, até 1927. Já um fã <strong>de</strong>clarado <strong>de</strong> Henry Ford,<br />
publicou sobre ele uma série <strong>de</strong> matérias<br />
entusiasmadas em O Jornal. Depois <strong>passo</strong>u<br />
para A Manhã, <strong>de</strong> Mario Rodrigues. Além <strong>de</strong><br />
escrever sobre variados assuntos, em A<br />
Manhã lançou O Choque das Raças, folhetim<br />
que causou furor na imprensa carioca, logo<br />
<strong>de</strong>pois transformado em livro. Do Rio Lobato<br />
colaborou também com jornais <strong>de</strong> outros<br />
estados, como o Diário <strong>de</strong> São Paulo, para o<br />
qual em 20 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1926 enviou "O<br />
nosso dualismo", analisando com<br />
distanciamento crítico o movimento<br />
mo<strong>de</strong>rnista inaugurado com a Semana <strong>de</strong> 22. O artigo foi<br />
refutado por Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> com o texto "Post-<br />
Scriptum Pachola", no qual anunciava sua morte.<br />
Em 1927, Lobato assumiu o posto <strong>de</strong> adido<br />
comercial em Nova Iorque e partiu para os Estados<br />
Unidos, <strong>de</strong>ixando a Companhia Editora Nacional sob o<br />
comando <strong>de</strong> seu sócio, Octalles Marcon<strong>de</strong>s Ferreira.<br />
Durante quatro anos, acompanhou <strong>de</strong> perto as inovações<br />
tecnológicas da nação mais <strong>de</strong>senvolvida do planeta e fez<br />
<strong>de</strong> tudo para, <strong>de</strong> lá, tentar alavancar o progresso da sua<br />
terra. Trabalhou para o estreitamento das relações<br />
comerciais entre as duas economias. Expediu longos e<br />
<strong>de</strong>talhados relatórios que apontavam caminhos e<br />
apresentavam soluções para nossos problemas crônicos.<br />
Falou sobre borracha, chiclete e ecologia. Não mediu<br />
esforços para transformar o Brasil num país tão mo<strong>de</strong>rno<br />
e próspero como a América em que vivia.<br />
Personalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> múltiplos interesses, Lobato<br />
esteve presente nos momentos marcantes da história do<br />
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
Brasil. Empenhou seu prestígio e participou <strong>de</strong> campanhas<br />
para colocar o país nos trilhos da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>. Por causa<br />
da Revolução <strong>de</strong> 30, que exonerou funcionários do<br />
governo Washington Luís, ele estava <strong>de</strong> volta a São Paulo<br />
com gran<strong>de</strong>s projetos na cabeça. O que<br />
faltava para o Brasil dar o salto para o<br />
futuro? Ferro, petróleo e estradas<br />
para escoar os produtos. Esse era,<br />
para ele, o tripé do progresso.<br />
Mas as i<strong>de</strong>ias e os<br />
empreendimentos <strong>de</strong> Lobato<br />
acabaram por ferir altos interesses,<br />
especialmente <strong>de</strong> empresas<br />
estrangeiras. Como ele não tinha<br />
medo <strong>de</strong> enfrentar adversários<br />
po<strong>de</strong>rosos, acabaria na ca<strong>de</strong>ia. Sua<br />
prisão foi <strong>de</strong>cretada em março <strong>de</strong><br />
1941, pelo Tribunal <strong>de</strong> Segurança<br />
Nacional (TSN). Mas nem assim<br />
Lobato se emendou. Prosseguiu a<br />
cruzada pelo petróleo e ainda <strong>de</strong>nunciou as torturas e<br />
maus-tratos praticados pela polícia do Estado Novo. Do<br />
lado <strong>de</strong> fora, uma campanha <strong>de</strong> intelectuais e amigos<br />
conseguiu que Getúlio Vargas o libertasse, por indulto,<br />
após três meses em cárcere. A perseguição, no entanto<br />
continuou. Se não podiam <strong>de</strong>ixá-lo na ca<strong>de</strong>ia, cerceariam<br />
suas i<strong>de</strong>ias. Em junho <strong>de</strong> 1941, um ofício do TSN pediu ao<br />
chefe <strong>de</strong> polícia <strong>de</strong> São Paulo a imediata apreensão e<br />
<strong>de</strong>struição <strong>de</strong> todos os exemplares <strong>de</strong> Peter Pan, adaptado<br />
por Lobato, à venda no Estado. Centenas <strong>de</strong> volumes<br />
foram recolhidos em diversas livrarias, e muitos <strong>de</strong>les<br />
chegaram a ser queimados.<br />
Lobato estava em liberda<strong>de</strong>, mas<br />
enfrentava uma das fases mais difíceis <strong>de</strong><br />
sua vida. Per<strong>de</strong>u Edgar, o filho mais velho,<br />
presenciou o processo <strong>de</strong> liquidação das<br />
companhias que fundou e, o que foi pior,<br />
sofreu com a censura e atmosfera asfixiante<br />
da ditadura <strong>de</strong> Getúlio Vargas. Aproximouse<br />
dos comunistas e saudou seu lí<strong>de</strong>r, Luís<br />
Carlos Prestes, em gran<strong>de</strong> comício realizado<br />
no Estádio do Pacaembu em julho <strong>de</strong> 1945.<br />
Partiu para a Argentina, após associar-se à<br />
editora Brasiliense e lançar suas Obras<br />
Completas, com mais <strong>de</strong> 10 mil páginas em trinta volumes<br />
das séries adulta e infantil. Regressou <strong>de</strong> Buenos Aires em<br />
maio <strong>de</strong> 1947, para encontrar o país às voltas com os<br />
<strong>de</strong>smandos do governo Dutra. Indignado, escreveu Zé<br />
Brasil. Nele, o velho Jeca Tatu, preguiçoso incorrigível, que<br />
Lobato <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>scobriu vítima da miséria, vira um<br />
trabalhador rural sem terra. Se antes o caipira lobatiano<br />
lutava contra doenças endêmicas, agora tinha no<br />
latifúndio e na distribuição injusta da proprieda<strong>de</strong> rural<br />
seu pior inimigo. Os personagens prosseguiam na luta,<br />
mas seu criador já estava cansado <strong>de</strong> tantas batalhas.<br />
Monteiro Lobato sofreu dois espasmos cerebrais e, no dia<br />
4 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1948, virou “gás inteligente” - o modo como<br />
costumava <strong>de</strong>finir a morte. Foi-se aos 66 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>,<br />
<strong>de</strong>ixando imensa obra para crianças, jovens e adultos, e o<br />
exemplo <strong>de</strong> quem <strong>passo</strong>u a existência sob a marca do<br />
inconformismo.<br />
Aquarela <strong>de</strong>dicada a Purezinha<br />
Monteiro Lobato<br />
Disponível em: http://lobato.globo.com<br />
49
<strong>História</strong>s <strong>de</strong> Lobato<br />
LITERATURA INFANTO-JUVENIL<br />
1 – Reinações <strong>de</strong> Narizinho<br />
2 – Viagem ao céu e O Saci<br />
3 – Caçadas <strong>de</strong> Pedrinho e Hans Sta<strong>de</strong>n<br />
4 – <strong>História</strong> do mundo para as crianças<br />
5 – Memórias da Emília e Peter Pan<br />
6 –Emília no país da gramática e Aritmética da<br />
Emília<br />
7 – Geografia <strong>de</strong> Dona Benta<br />
8 – Serões <strong>de</strong> Dona Benta e <strong>História</strong> das invenções<br />
9 – D. Quixote das crianças<br />
10 – O poço do Viscon<strong>de</strong><br />
11 – <strong>História</strong>s <strong>de</strong> tia Nastácia<br />
12 – O Picapau Amarelo e A reforma da natureza<br />
13 – O Minotauro<br />
14 – A chave do tamanho<br />
15 – Fábulas<br />
16 – Os doze trabalhos <strong>de</strong> Hércules (1º tomo)<br />
17 – Os doze trabalhos <strong>de</strong> Hércules (2º tomo)<br />
LITERATURA GERAL<br />
v. 1 – Urupês<br />
v. 2 – Cida<strong>de</strong>s mortas<br />
v. 3 – Negrinha<br />
v. 4 – I<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> Jeca Tatu<br />
v. 5 – A onda ver<strong>de</strong> e O presi<strong>de</strong>nte negro<br />
v. 6 – Na antevéspera<br />
v. 7 – O escândalo do petróleo e Ferro<br />
v. 8 – Mr. Slang e o Brasil e Problema vital<br />
v. 9 – América<br />
v. 10 – Mundo da lua e Miscelânea<br />
http://topicos.estadao.com.br<br />
v. 11 – A barca <strong>de</strong> Gleyre (1º tomo)<br />
v. 12 – A barca <strong>de</strong> Gleyre (2º tomo)<br />
v. 13 – Prefácios e entrevistas<br />
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
Lançamento posteriores da obra adulta pela<br />
Editora Brasiliense<br />
v. 14 – Literatura do Minarete<br />
v. 15 – Conferências, artigos e crônicas<br />
v. 16 – Cartas escolhidas (1º tomo)<br />
v. 17 – Cartas escolhidas (2º tomo)<br />
v. 18 – Críticas e outras notas<br />
v. s/n - Cartas <strong>de</strong> amor<br />
OUTROS TÍTULOS<br />
O Saci-Pererê: resultado <strong>de</strong> um inquérito(sem<br />
indicação <strong>de</strong> autor). São Paulo, Seção <strong>de</strong> Obras <strong>de</strong> O<br />
Estado <strong>de</strong> S. Paulo, 1918.<br />
A menina do narizinho arrebitado. (1920) Edição<br />
fac-similar. São Paulo, Metal Leve, 1982.<br />
La nueva Argentina (sob pseudônimo <strong>de</strong> Miguel P.<br />
Garcia). Buenos Aires, Editorial Acteon, 1947.<br />
Zé Brasil. s.l., Ed. Vitória, 1947; Calvino Filho,<br />
ilustrado por Portinari, 1948.<br />
Georgismo e comunismo – O imposto único. São<br />
Paulo, Brasiliense, 1948.<br />
Disponível em:<br />
http://lobato.globo.com<br />
50
Nelson Rodrigues<br />
Nelson por ele mesmo (1912-1980)<br />
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
“Todos nós temos histórias que encheriam uma biblioteca; qualquer um po<strong>de</strong> fazer três mil volumes sobre si mesmo.”<br />
Nelson Rodrigues<br />
Eu tinha quatro anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> quando saí do Recife. Meu pai<br />
estava na miséria e resolveu vir arranjar emprego no Rio. Veio sozinho<br />
dizendo à minha mãe que a chamaria logo que conseguisse emprego. Sua<br />
intenção era ir para o Correio da Manhã. Mas o tempo passava e ele não<br />
arranjava o emprego. Minha mãe se impacientou, ven<strong>de</strong>u todas as joias –<br />
era uma grã-fina <strong>de</strong> Pernambuco – e veio <strong>de</strong> navio com os filhos. Ela<br />
telegrafou a meu pai: “Vou com as crianças.”<br />
Pegamos um vapor. Por esse gesto <strong>de</strong> minha mãe, eu me tornei<br />
carioca.<br />
Meu pai caiu no maior pânico <strong>de</strong> mundo, mas aguentou firme. No<br />
dia da chegada, lá estavam ele e o Olegário Mariano no cais do porto<br />
esperando. Meu pai, assombrado, estupefato, caiu nos braços <strong>de</strong> minha<br />
mãe (...)<br />
Fomos todos então para a casa <strong>de</strong> Olegário Mariano. O qual, aliás,<br />
teve uma tremenda briga comigo tempos <strong>de</strong>pois. Ele me dizia aos berros<br />
pelo telefone: “Eu te matei a fome, <strong>de</strong>sgraçado!” Foi uma discussão<br />
terrível, na base do “canalha”, “quebro-te a cara”.<br />
Éramos seis filhos nesta ocasião, conforme o romance da senhora Leandro Dupré, Éramos seis. E aí<br />
chegou aquele batalhão imenso, meu pai num pânico profundo, sem um níquel no bolso, sem emprego, sem<br />
nada; nós tivemos que passar um mês na casa do Olegário Mariano e ele realmente me matou a fome.<br />
O José Mariano, irmão do Olegário, era amigo do Edmundo Bittencourt e conseguiu arranjar emprego<br />
para meu pai no Correio da Manhã.<br />
No dia seguinte à minha chegada no Rio <strong>de</strong> Janeiro – nunca me<br />
esqueço disso – num vizinho o gramofone tocava a “Valsa do Con<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Luxemburgo”. Até hoje, quando ouço essa valsa, sinto um vento <strong>de</strong> nostalgia.<br />
Toda aquela atmosfera <strong>de</strong> repente <strong>de</strong>saba sobre mim novamente e fico assim<br />
meio <strong>de</strong>slumbrado. Desenca<strong>de</strong>ia em mim todo um processo <strong>de</strong> volta, <strong>de</strong><br />
busca, <strong>de</strong> <strong>de</strong>scoberta. Isso era na Rua Alegre, em Al<strong>de</strong>ia Campista.<br />
Bom, aí, aos seis anos, fui para uma escola da Rua Alegre, que mudou<br />
<strong>de</strong> nome, tanto a rua como a escola, mas a escola conserva exatamente a<br />
mesma coisa. D. Rosa se chamava a minha professora, uma senhora <strong>de</strong><br />
narinas apertadas, tinha, no primeiro dia, um vestido <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho todo<br />
florido, mas era um trocadilho com o nome.<br />
Eu comecei a estudar, e aí que ocorreu aquele negócio da merenda...<br />
Eu era pobre, menino pobre, e levava uma banana, e estava muito orgulhoso olhando a banana, mas quando<br />
cheguei no recreio com a minha banana, muito maior que o momento da aula, quando puxei minha banana,<br />
outro garoto, simultaneamente, olhando para mim e baixando os olhos e olhando para mim outra vez,<br />
<strong>de</strong>sembrulhava um sanduíche <strong>de</strong> ovo que humilhou e liquidou a minha banana. O ovo ainda estava úmido, <strong>de</strong><br />
51
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
forma que escorria gema pela boca como uma papa amarela, e o garoto olhando pra mim, e eu não sabia o<br />
que fazer com a banana.<br />
Aliás, essa cena iria se repetir por todo o meu curso, porque meu pai era pobre. Pão e manteiga, isso<br />
pra mim era coisa oriental das Mil e uma noites (...)<br />
O bairro da minha infância me marcou profundamente. Tanto que nas minhas memórias – sou muito<br />
memorialista e quando não faço memórias tenho sempre lembranças para intercalar – falo da paisagem <strong>de</strong><br />
Al<strong>de</strong>ia Campista e das batalhas <strong>de</strong> confete da Rua Dona Zulmira. Eram fantásticas e tinham uma fama<br />
incrível. Não sei a razão, pois naquele tempo não havia as<br />
coberturas <strong>de</strong> televisão.<br />
A Tijuca teve uma coisa que me marcou: a Escola<br />
Pru<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Moraes, on<strong>de</strong> fiz a minha primeira “A vida como<br />
ela é...”. Houve um concurso <strong>de</strong> composição na aula. Era, se não<br />
me engano, o 4º ano primário, e ganhamos o concurso, eu e o<br />
outro garoto.<br />
O outro garoto escreveu sobre um rajá que passeava<br />
montado num elefante e eu escrevi a história <strong>de</strong> um adultério<br />
E.M. Pru<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Moraes<br />
que terminou com o marido esfaqueando a adúltera. Creio que a<br />
professora dividiu o prêmio com o outro garoto como concessão à moral vigente, porque ela ficou meio<br />
apavorada, em pânico, com a violência da minha “A vida como ela é...”. Eu, quando soube que o garoto tinha<br />
ganho também e ouvi a história <strong>de</strong>le, a <strong>de</strong>le foi lida em voz alta, a minha não, fiz uma restrição que revela<br />
todo o meu <strong>de</strong>speito profundo, a minha competição feroz. É que eu<br />
teria posto na testa do rajá um diamante. Ele não tinha posto, e isso foi<br />
minha compensação.<br />
Foi aí que eu fiz o meu primeiro plágio, começando a história<br />
assim: “A madrugada raiava sanguínea e fresca.”<br />
Quando a professora começou a ler, fiquei em pânico que ela<br />
manjasse a história. Foi um plágio cínico, em plena consciência, não foi<br />
coincidência nem nada.<br />
Foi já com esta “A vida como ela é...” que me senti escritor,<br />
porque eu me entreguei a isso com um élan fabuloso. Desan<strong>de</strong>i a<br />
escrever o troço...<br />
Continuei escrevendo e comecei a ser marcado na aula talvez<br />
como um gênio. Era olhado pelas professoras como uma promessa <strong>de</strong><br />
tarado. (...)<br />
Mudar para Copacabana foi realmente uma aventura fabulosa, por causa do mar. O mar significava<br />
Olinda, a minha infância profunda. Portanto o mar significava a minha pátria, minha paisagem.<br />
“Voltei” para Olinda, em Copacabana. Fui morar na Rua Inhangá, numa casa que eu achava um<br />
palácio, porque até a Tijuca nós tínhamos morado mo<strong>de</strong>stamente. Na Rua Inhangá a casa era <strong>de</strong> altos e<br />
baixos, tinha um sótão. Foi aí que eu <strong>de</strong>scobri o sótão, isso é uma curiosida<strong>de</strong> porque eu usei o sótão no<br />
Vestido <strong>de</strong> noiva. Então, eu subia para o sótão e o achava uma coisa maravilhosa.<br />
Meu pai já estava no Correio da Manhã e foi aí, logo <strong>de</strong>pois, que ele se tornou diretor do jornal.<br />
Des<strong>de</strong> cedo eu lia meu pai, não entendia muita coisa que ele escrevia, os termos que ele usava, mas<br />
ficava <strong>de</strong>slumbrado quando não entendia. O que é uma reação normal: até hoje, quando não enten<strong>de</strong>mos<br />
ficamos <strong>de</strong>slumbrados. E isso antecipou minha vocação, me <strong>de</strong>u uma pressa literária.<br />
RODRIGUES, SONIA (org.). Nelson Rodrigues por ele mesmo. Editora Nova Fronteira.<br />
52
Nelson Falcão Rodrigues nasceu no Recife,<br />
em 1912. Aos 5 anos, mudou-se com a família para<br />
o Rio <strong>de</strong> Janeiro, indo morar na Rua Alegre, em<br />
Al<strong>de</strong>ia Campista, bairro que <strong>de</strong>pois seria<br />
absorvido pelos vizinhos Andaraí, Maracanã,<br />
Tijuca e Vila Isabel. Em contato com a imaginação<br />
fértil do futuro escritor, a realida<strong>de</strong> da Zona Norte<br />
carioca, com suas tensões morais e sociais, serviu<br />
como fonte <strong>de</strong> inspiração para Nelson construir<br />
personagens memoráveis e histórias carregadas<br />
<strong>de</strong> lirismo trágico.<br />
Aos 13 anos, ingressa na carreira <strong>de</strong><br />
jornalista, trabalhando como repórter policial em<br />
A Manhã, um dos jornais fundados por seu pai,<br />
Mário Rodrigues, que marcaram época – o<br />
segundo foi Crítica, palco <strong>de</strong> uma tragédia que<br />
abalaria o dramaturgo profundamente: o<br />
assassinato <strong>de</strong> seu irmão, o ilustrador e pintor<br />
Roberto Rodrigues, em 1929.<br />
<strong>História</strong> <strong>de</strong> Nelson<br />
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
Lado a lado com o teatro, o jornalismo foi<br />
para ele um ambiente privilegiado <strong>de</strong> expressão.<br />
Dentre seus textos propriamente jornalísticos,<br />
<strong>de</strong>stacam-se aqueles <strong>de</strong>dicados ao futebol, em que<br />
empregou toda sua veia dramática, transformando<br />
partidas em batalhas épicas e jogadores em<br />
heróis. Trabalhou nos mais diversos jornais e<br />
revistas, assinando artigos e crônicas, como a<br />
popular e discutida coluna “A Vida Como Ela É…”.<br />
Em 1943, a consagração no Teatro<br />
Municipal do Rio <strong>de</strong> Janeiro: sua segunda peça,<br />
Vestido <strong>de</strong> Noiva, montada por um grupo amador,<br />
Os Comediantes, dirigida pelo polonês recémimigrado<br />
Ziembinski e com cenários <strong>de</strong> Tomás<br />
Santa Rosa, revolucionava a maneira <strong>de</strong> se fazer<br />
teatro no Brasil. Sua peça seguinte, Álbum <strong>de</strong><br />
Família, <strong>de</strong> 1946, que trata <strong>de</strong> incesto, foi<br />
censurada, sendo liberada apenas duas décadas<br />
<strong>de</strong>pois. Dali em diante, sua obra <strong>de</strong>spertaria as<br />
mais variadas reações, nunca a indiferença.<br />
O prestígio alcançado pelo<br />
reconhecimento <strong>de</strong> seu talento não livrou-o <strong>de</strong><br />
contestações ou perseguições. Classificado pelo<br />
próprio Nelson Rodrigues como “<strong>de</strong>sagradável”,<br />
seu teatro chocou plateias, provocando não<br />
apenas admiração, mas também repugnância e<br />
ódio, sentimentos muitas vezes alimentados por<br />
seu temperamento inclinado à polêmica e à<br />
autopromoção.<br />
Nelson Rodrigues morreu no Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro, em 1980, aos 68 anos. Além dos<br />
romances, contos e crônicas, <strong>de</strong>ixou como legado<br />
17 peças que, vistas em conjunto, colocam-no<br />
entre os gran<strong>de</strong>s nomes do teatro brasileiro e<br />
universal.<br />
Disponível em: http://www.funarte.gov.br<br />
53
<strong>História</strong>s <strong>de</strong> Nelson<br />
ROMANCE<br />
Meu Destino É Pecar - 1944 - com o pseudônimo <strong>de</strong> Suzana Flag<br />
Escravas do Amor - 1946 - com o pseudônimo <strong>de</strong> Suzana Flag<br />
Minha Vida - 1946 - com o pseudônimo <strong>de</strong> Suzana Flag<br />
Asfalto Selvagem (2 volumes) - 1960<br />
O Casamento - 1966<br />
O Homem Proibido* - 1981 - com o pseudônimo <strong>de</strong> Suzana Flag<br />
Núpcias <strong>de</strong> Fogo* - 1997 - com o pseudônimo <strong>de</strong> Suzana Flag<br />
A Mentira* - 2002 - com o pseudônimo <strong>de</strong> Suzana Flag<br />
A Mulher que Amou Demais* - 2003 - com o pseudônimo <strong>de</strong> Myrna<br />
CONTO<br />
Cem Contos Escolhidos: A Vida como Ela É... (2 volumes) - 1961<br />
Elas Gostam <strong>de</strong> Apanhar - 1974<br />
Pouco Amor Não É Amor* - 2002<br />
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
CRÔNICA<br />
Memórias <strong>de</strong> Nelson Rodrigues - 1967<br />
A Menina sem Estrela - 1967<br />
O Óbvio Ululante - 1968<br />
A Cabra Vadia - 1970<br />
O Reacionário - 1977<br />
À Sombra das Chuteiras Imortais* - 1993<br />
A Pátria em Chuteiras* - 1994<br />
O Remador <strong>de</strong> Ben-Hur: Confissões Culturais* - 1996<br />
Não Se Po<strong>de</strong> Amar e Ser Feliz ao Mesmo Tempo: O Consultório Sentimental <strong>de</strong> Nelson Rodrigues* - 2002 - com o pseudônimo <strong>de</strong> Myrna<br />
O Profeta Tricolor: Cem Anos <strong>de</strong> Fluminense* - 2002<br />
ENSAIO<br />
O Baú <strong>de</strong> Nelson Rodrigues: Os Primeiros Anos <strong>de</strong> Crítica e Reportagem* - 2004<br />
TEATRO<br />
Vestido <strong>de</strong> Noiva, A Mulher sem Pecado - 1944<br />
Álbum <strong>de</strong> Família - 1946<br />
Anjo Negro, Vestido <strong>de</strong> Noiva, A Mulher sem Pecado - 1948<br />
Senhora dos Afogados, A Falecida - 1956<br />
Teatro - 1959<br />
Otto Lara Resen<strong>de</strong> ou Bonitinha, mas Ordinária - 1965<br />
Teatro Quase Completo (com obras inéditas) - 1965<br />
A Serpente - 1980<br />
Os Sete Gatinhos - 1980<br />
Teatro Completo - 1981 - 1989* - quatro volumes; com obras inéditas<br />
*Publicação póstuma<br />
Disponível em: http://www.itaucultural.org.br<br />
54
Roseana por ela mesma<br />
Tenho muitos livros publicados e leitores <strong>de</strong><br />
todas as ida<strong>de</strong>s, aliás, não acredito em ida<strong>de</strong>, mas sim<br />
em experiências vividas. Fico muito feliz quando penso<br />
que um poema que escrevi aqui na minha mesa, sozinha,<br />
chega a lugares tão distantes e emociona tanta gente.<br />
E falando em livros, são os livros que mandam<br />
em mim. Com eles viajo pelo Brasil, encontro pessoas,<br />
faço novos amigos. Minha vida gira em torno <strong>de</strong>les.<br />
Escrever é minha gran<strong>de</strong> paixão. Estou sempre<br />
escrevendo alguma coisa, um verso, um poema, uma<br />
carta. Gosto que as pessoas gostem do que escrevo. Não<br />
tem nada que me <strong>de</strong>ixe mais feliz. E corajosa.<br />
Roseana Murray<br />
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
Digo como Neruda, poeta que amo: para nascer nasci. Para<br />
fazer poesia, amar, cozinhar para os amigos, para ter as portas da<br />
casa e do coração sempre abertas. Nasci num dia quente <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>zembro, em 1950, dois meses antes do previsto, numa clínica em<br />
Botafogo. Sou filha <strong>de</strong> imigrantes poloneses, Lejbus Kligerman e<br />
Bertha Gutman Kligerman, que vieram para o Brasil antes da<br />
Segunda Guerra fugindo do antissemitismo. Passei a infância no<br />
bairro do Grajaú, no Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />
Gosto <strong>de</strong> mato e silêncio, não sou nada urbana. Durante<br />
muitos anos vivi em Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Mauá, mas troquei Mauá por<br />
Saquarema em 2002, já que uma cirurgia na coluna tornou a<br />
montanha quase intransponível. Mas o meu filho André Murray<br />
continua lá tocando as suas árvores e panelas no Restaurante Babel:<br />
ele é Chef <strong>de</strong> Cozinha. Meu outro filho é músico, o Guga. Ele vive em<br />
Granada, na Espanha e tem um trio no Brasil, o Um Trio Vira-Lata.<br />
Eles são filhos do meu primeiro casamento. Des<strong>de</strong> 1997 estou<br />
casada com o Juan Arias, jornalista e escritor.<br />
“Tantos medos e outras coragens”, Roseana Murray e<br />
http://www.roseanamurray.com<br />
55
Nasceu no Rio <strong>de</strong> Janeiro em 1950.<br />
Graduou-se em Literatura e Língua Francesa<br />
em 1973 (Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Nancy/ Aliança<br />
Francesa).<br />
Publicou seu primeiro livro infantil em<br />
1980 (Fardo <strong>de</strong> Carinho, ed. Murinho, R.J).<br />
Tem mais <strong>de</strong> 60 livros publicados. Tem dois<br />
livros traduzidos no México (Casas, ed.<br />
Formato e Três Velhinhas tão velhinhas, ed.<br />
Miguilim/ IBEP). Seus poemas estão em<br />
antologias na Espanha. Tem poemas<br />
traduzidos em seis linguas ( in Um Deus para<br />
2000, Juan Arias, ed. Desclée e Maria, esta<br />
gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sconhecida, Juan Arias, ed. Maeva.).<br />
Recebeu o Prêmio O Melhor <strong>de</strong> Poesia<br />
da FNLIJ nos anos 1986 (Fruta no Ponto, ed.<br />
FTD), 1994 (Tantos Medos e Outras Coragens,<br />
ed. FTD) e 1997 (Receitas <strong>de</strong> Olhar, ed. FTD).<br />
Recebeu o Prêmio Associação Paulista<br />
<strong>de</strong> Críticos <strong>de</strong> Arte em 1990 para o livro Artes<br />
e Ofícios, ed. FTD, S.P.<br />
Entrou para a Lista <strong>de</strong> Honra do I.B.B.Y<br />
em 1994 com o livro Tantos Medos e Outras<br />
Coragens tendo recebido seu diploma em<br />
Sevilha, Espanha.<br />
<strong>História</strong> <strong>de</strong> Roseana<br />
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
Recebeu o Prêmio Aca<strong>de</strong>mia Brasileira<br />
<strong>de</strong> Letras em 2002 para o livro Jardins ed.<br />
Manati, R.J como o melhor livro infantil do<br />
ano.<br />
Participou ao longo <strong>de</strong>stes anos <strong>de</strong><br />
vários projetos <strong>de</strong> leitura. Implantou em<br />
Saquarema, em 2003, junto com a Secretaria<br />
Municipal <strong>de</strong> Educação, o Projeto Saquarema,<br />
Uma Onda <strong>de</strong> Leitura.<br />
Disponível em:<br />
http://www.roseanamurray.com/biografia<br />
E. M. Pedro Paulo da Silva, em Santa Cruz da<br />
Serra, inauguração da Sala <strong>de</strong> Leitura<br />
Roseana Murray, 2010<br />
56
<strong>História</strong>s <strong>de</strong> Roseana<br />
O LIVRO É A CASA<br />
ONDE SE DESCANSA<br />
DO MUNDO<br />
O LIVRO É A CASA<br />
DO TEMPO<br />
É A CASA DE TUDO<br />
POESIA PARA CRIANÇAS E JOVENS<br />
MAR E RIO<br />
NO MESMO FIO<br />
ÁGUA DOCE E SALGADA<br />
O LIVRO É ONDE<br />
A GENTE SE ESCONDE<br />
EM GRUTA ENCANTADA<br />
Falando <strong>de</strong> livros<br />
Lá vem o Luis, Ed. Leya, 2011, ilustrações <strong>de</strong> Oriol San Julián<br />
Luna, Merlin e Outros Habitantes, Ed. Miguilim, reedição 2011, ilustrações <strong>de</strong> Caó Cruz<br />
Alves<br />
No Mundo da Lua, Ed. Paulus, reedição 2011, ilustrações <strong>de</strong> Maria Ines Piekas.<br />
Roseana Murray, Poemas para Ler na Escola, ed. Objetiva, 2011, seleção <strong>de</strong> Hebe<br />
Coimbra<br />
O Circo, ed. Paulus, 2011, ilustrações Caó Cruz Alves (reedição)<br />
O Mar e os Sonhos, ed. Lê, reedição, 2011, ilustrações Elvira Vigna<br />
Uma Gata no Coração, Ed. Amarilys, 2011.<br />
Classificados Poéticos, Reedição Ed. Mo<strong>de</strong>rna, 2010.<br />
Carteira <strong>de</strong> I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, ed. Lê, B.H, 2010 (Catálogo <strong>de</strong> Bolonha 2011)<br />
Fardo <strong>de</strong> Carinho, ed. Lê, 2009.<br />
Poemas <strong>de</strong> Céu, ed. Paulinas, 2009.<br />
Kira, ed. Lê, 2009.<br />
Arabescos no Vento, ed. Prumo, 2009.<br />
Fábrica <strong>de</strong> Poesia, ed. Scipionne, 2008.<br />
Poemas e Comidinhas, com o Chef André Murray, ed. Paulus, S.P, 2008<br />
Residência no Ar, ed. Paulus, 2007.<br />
No Cais do primeiro Amor, ed. Larousse, 2007.<br />
Desertos, ed. Objetiva, 2006. ( Finalista do Prêmio Jabuti ) - Altamente Recomendável<br />
FNLIJ, 2006<br />
O traço e a traça ed. Scpionne, 2006.<br />
O xale azul da sereia, ed. Larrousse, 2006.<br />
O que cabe no bolso? ed. DCL, 2006.<br />
Paisagens, ed. Lê, 2006.<br />
Pêra, uva ou maçã ed. Scipione, 2005. (Catálogo <strong>de</strong> Bolonha 2006 e Acervo Básico,<br />
F.N.L.I.J).<br />
Rios da Alegria, ed. Mo<strong>de</strong>rna, 2005. (Altamente Recomendável, F.N.L.I.J).<br />
Poemas <strong>de</strong> Céu ed. Miguilim, 2005. (Antigo "Lições <strong>de</strong> Astronomia").<br />
Maria Fumaça Cheia <strong>de</strong> Graça, ed. Larousse, 2005.<br />
Duas Amigas, ed. Paulus, 2005 (reedição).<br />
Lua Cheia Amarela, ed. Dimensão 2004.<br />
Caixinha <strong>de</strong> Música, ed. Manati, 2004. (Catálogo <strong>de</strong> Bolonha 2005)<br />
Um Gato Marinheiro, ed. DCL, 2004.<br />
Todas as Cores Dentro do Branco, ed. Nova Fronteira, 2004.<br />
Recados do Corpo e da Alma, ed. FTD, 2003. (Altamente Recomendável F.N.L.I.J)<br />
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
57
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
Luna, Merlin e Outros Habitantes, ed. Miguilim/ Ibeppe, 2002. (Altamente Recomendável, F.N.L.I.J.)<br />
Jardins, ed. Manati, 2001. (Prêmio Aca<strong>de</strong>mia Brasileira <strong>de</strong> Letras <strong>de</strong> Literatura Infantil 2002)<br />
Caminhos da Magia, ed. DCL, 2001.<br />
Manual da Delica<strong>de</strong>za, ed. FTD, 2001.<br />
O Silêncio dos Descobrimentos, com Elvira Vigna, ed. Paulus, 2000.<br />
Receitas <strong>de</strong> Olhar, ed. F.T.D, 1997, ( Prêmio O Melhor <strong>de</strong> Poesia, F.N.L.I.J. )<br />
Carona no Jipe, ed. Memórias Futuras, 1994 e ed. Salamandra, 2006.<br />
No final do Arco-Íris, ed. José Olímpio, 1994.<br />
O Mar e os Sonhos, ed. Miguilim,1996, (Altamente Recomendável para a Criança, F.N.L.I.J. )<br />
Paisagens, ed. Lê, 1996.<br />
Felicida<strong>de</strong>, ed. F.T.D, 1995, (Altamente Recomendável para a Criança, F.N.L.I.J. )<br />
De que riem os palhaços ed. Memórias Futuras, 1995. Esgotado<br />
Tantos Medos e Outras Coragens, ed. F.T.D, 1994 ( Prêmio O Melhor <strong>de</strong> Poesia F.N.L.I.J e Lista <strong>de</strong> Honra do I.B.B.Y. )<br />
Reedição com novas ilustrações em 2007.<br />
Qual a Palavra? ed. Nova Fronteira, 1994.<br />
Casas, ed. Formato, 1994. Editado no México, ed. Alfaguara<br />
Dia e Noite, ed. Memórias Futuras, 1994. Esgotado<br />
Artes e Ofícios, ed. F.T.D, 1990, (Prêmio A.P.C.A. e Altamente Recomendável para a Criança, F.N.L.I.J. ) Reedição com<br />
novas ilustrações em 2007.<br />
Falando <strong>de</strong> Pássaros e Gatos, editora Paulus, 1987.<br />
Fruta no Ponto, ed. F.T.D, 1986. (Prêmio O Melhor <strong>de</strong> Poesia. F.N.L.I.J.)<br />
Fardo <strong>de</strong> Carinho, ed. Murinho, 1980 e ed. Lê, 1985.<br />
O Circo, ed. Miguilim/ Ibeppe, 1985.<br />
Lições <strong>de</strong> Astronomia, ed. Memórias Futuras, 1985. Esgotado<br />
Classificados Poéticos, ed. Miguilim/ Ibeppe, 1984, (Altamente Recomendável<br />
para a Criança, F.N.L.I.J, e finalista do Prêmio Bienal. )<br />
No Mundo da Lua, ed. Miguilim/ Ibeppe, 1983.<br />
CONTOS PARA CRIANÇAS E JOVENS<br />
Vento Distante, Ed. Escrita Fina, 2010 (Catálogo <strong>de</strong> Bolonha 2011)<br />
Território <strong>de</strong> Sonhos, ed. Rocco, Altamente Recomendável FNLIJ, 2006.<br />
Sete Sonhos e um Amigo, ed. FTD, 2004.<br />
Pequenos Contos <strong>de</strong> Leves Assombros, ed. Quinteto, 2003.<br />
Um Avô e seu Neto, ed. Mo<strong>de</strong>rna, 2000.<br />
Terremoto Furacão ed. Paulus, 2000.<br />
Um cachorro para Maya, ed Salamandra, 2000.<br />
Uma <strong>História</strong> <strong>de</strong> Fadas e Elfos, ed. Miguilim / Ibeppe, 1998, (Acervo Básico da F.N.L.I.J - criança).<br />
Três Velhinhas tão velhinhas, ed. Miguilim / Ibeppe, 1996.<br />
O Fio da Meada, ed. Memórias Futuras, 1994. Ed. Paulus, 2002.<br />
Retratos, ed. Miguilim/ Ibeppe, 1990, Altamente Recomendável para a Criança, F.N.L.I.J. )<br />
O Buraco no Céu ed. Memórias Futuras, 1989.<br />
POESIA<br />
Variações sobre Silêncio e Cordas, com <strong>de</strong>senhos <strong>de</strong> Elvira Vigna. E-BOOK, edição artesanal Maurício Rosa, Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Mauá, maio <strong>de</strong> 2008.<br />
Poesia essencial, ed. Manati, 2002.<br />
15 poemas no livro Um Deus para Dois Mil, <strong>de</strong> Juan Arias, ed. Vozes (em seis línguas) 1999.<br />
Caravana, inédito, vencedor do Concurso Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Belo Horizonte, 1994.<br />
Pássaros do Absurdo, ed. Tchê ,1990, vencedor do Concurso da Associação Gaúcha <strong>de</strong> Escritores.<br />
Pare<strong>de</strong>s Vazadas, ed. Memórias Futuras, 1988. Esgotado<br />
Viagens, ed. memórias Futuras, 1984.<br />
Revista Poesia Sempre.<br />
Revista Microfisuras, Espanha<br />
Correspondência<br />
Porta a porta, com Suzana Vargas, ed. Saraiva, 1998. (Acervo Básico da F.N.L.I.J - jovem).<br />
Disponível em: http://www.roseanamurray.com/bibliografia<br />
58
Ruth Rocha<br />
Ruth por ela mesma – Entrevista com Ruth Rocha<br />
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
Como o Marcelo, a senhora também criava palavras quando<br />
era criança?<br />
RUTH ROCHA: Na minha família, a gente brincava muito com<br />
palavras. Meu pai dava corda. Sempre contava as histórias do<br />
poeta Emílio <strong>de</strong> Menezes, um trocadilhista. Uma atriz sentava na<br />
frente <strong>de</strong>le no teatro, aí o Emílio levantava e apontava as ca<strong>de</strong>iras<br />
vazias: “Atrás há três, atriz atroz!” Mas era meu avô o contador <strong>de</strong><br />
histórias da família. Analisando hoje, sei que ele contava An<strong>de</strong>rsen,<br />
Perrault, Grimm, As Mil e Uma Noites, histórias folclóricas. Essa<br />
fabulação toda ficou em mim. Ele era primo <strong>de</strong> 2º ou 3º grau do<br />
Castro Alves, e <strong>de</strong>clamava a obra inteira <strong>de</strong>le. Meu pai, minha mãe<br />
e avó gostavam <strong>de</strong> cantar versos. Era uma família muito fala<strong>de</strong>ira.<br />
Todo mundo diz que meu estilo é oral. Deve ser por ter ouvido<br />
muitas histórias.<br />
Qual é o segredo, afinal, do sucesso do “Marcelo, Marmelo,<br />
Martelo”?<br />
RUTH ROCHA: Se eu soubesse, faria todos como ele! O que sei é<br />
que um bom livro precisa ter verda<strong>de</strong>, propor novas questões e<br />
fazer o leitor pensar. Nunca escrevo porque tal assunto po<strong>de</strong><br />
agradar ao público infantil, mas sempre preocupada em contar<br />
uma boa história e ser fiel aos meus valores.<br />
Como foi seu primeiro contato com a literatura, Ruth? Como a senhora <strong>de</strong>cidiu ser escritora?<br />
RUTH ROCHA: Meu contato com a literatura se <strong>de</strong>u através <strong>de</strong> Monteiro Lobato, sem dúvida. Mas <strong>de</strong>pois, quando eu<br />
tinha uns 13 anos e andava lendo uma porção <strong>de</strong> livros medíocres, um professor, A<strong>de</strong>raldo Castelo, pediu na escola que<br />
fizéssemos um trabalho sobre “A cida<strong>de</strong> e as serras”, <strong>de</strong> Eça <strong>de</strong> Queirós. Esse livro foi para mim, não um encontro com a<br />
literatura, mas uma verda<strong>de</strong>ira trombada! Até hoje eu ainda leio esse livro <strong>de</strong> vez em quando. A minha <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> ser<br />
escritora se <strong>de</strong>u quando comecei a escrever para a revista Recreio. Depois <strong>de</strong> vinte ou trinta histórias percebi que era o<br />
que eu queria realmente fazer.<br />
Como a senhora avalia os livros infantis produzidos atualmente, por autores novos?<br />
RUTH ROCHA: Leio pouco. Mas os que li têm problemas éticos, estéticos, <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconhecimento da criança. <strong>História</strong>s<br />
indicadas para criança muito pequena, mas que parecem escritas para criança gran<strong>de</strong>. Com referência a problemas que<br />
não são <strong>de</strong> criança. Por exemplo, história <strong>de</strong> amor entre crianças. Bobagem. Os adultos é que inventam isso. A criança<br />
até a puberda<strong>de</strong> não pensa nisso. A Luluzinha é perfeita, o<strong>de</strong>ia meninos, tem o clube do Bolinha. Há também muita<br />
história com bom-mocismo e moral no final. Ou melhor, as histórias sempre terminam com um “então, você não <strong>de</strong>ve<br />
<strong>de</strong>sobe<strong>de</strong>cer à mamãe, nem ao papai, pois Deus castiga.”<br />
Seria possível dizer se os jovens <strong>de</strong> hoje gostam <strong>de</strong> ler?<br />
RUTH ROCHA: Em todos os tempos houve jovens que gostavam <strong>de</strong> ler e outros que não tinham gran<strong>de</strong> interesse. O<br />
escritor sempre espera conquistar esse grupo.<br />
Já aconteceu à senhora <strong>de</strong> jogar fora um livro que escreveu por não consi<strong>de</strong>rar que ele estivesse satisfatório?<br />
RUTH ROCHA: Já aconteceu, sim. Segundo Ana Maria Machado, um escritor <strong>de</strong>ve ter uma gaveta pequena, para guardar<br />
originais, e uma cesta <strong>de</strong> lixo gran<strong>de</strong>, para jogar fora o que não fica bom.<br />
Fontes <strong>de</strong> pesquisa:<br />
* http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/pratica-pedagogica/leitura-nao-po<strong>de</strong>-ser-so-folia-423575.shtml<br />
* Revista Língua Portuguesa, Ano III, Nº 32, junho <strong>de</strong> 2008.<br />
59
Ruth Rocha nasceu em<br />
1931 na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo.<br />
Filha dos cariocas Álvaro <strong>de</strong><br />
Faria Machado, médico, e<br />
Esther <strong>de</strong> Sampaio Machado,<br />
tem quatro irmãos, Rilda,<br />
Álvaro, Eliana e Alexandre.<br />
Teve uma infância alegre e<br />
repleta <strong>de</strong> livros e gibis. O<br />
bairro <strong>de</strong> Vila Mariana, on<strong>de</strong><br />
morava, tinha nessa época<br />
muitas chácaras por on<strong>de</strong> Ruth<br />
passava, a caminho da escola -<br />
estudava no Colégio Ban<strong>de</strong>irantes. Mais tar<strong>de</strong>,<br />
terminou o Ensino Médio no Colégio Rio Branco.<br />
É graduada em Sociologia e Política pela<br />
Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo e pós-graduada em<br />
Orientação Educacional pela Pontifícia Universida<strong>de</strong><br />
Católica <strong>de</strong> São Paulo. Casada com Eduardo Rocha, tem<br />
uma filha, Mariana e dois netos, Miguel e Pedro.<br />
Durante 15 anos (<strong>de</strong> 1956 a 1972) foi<br />
orientadora educacional do<br />
Colégio Rio Branco, on<strong>de</strong> pô<strong>de</strong><br />
conviver com os conflitos e as<br />
difíceis vivências infantis e com as<br />
mudanças do seu tempo. A<br />
liberação da mulher, as questões<br />
afetivas e <strong>de</strong> autoestima foram<br />
sedimentando-se em sua<br />
formação.<br />
Começou a escrever em<br />
1967, para a revista Claudia,<br />
artigos sobre educação. Participou<br />
da criação da revista Recreio, da<br />
Editora Abril, on<strong>de</strong> teve suas<br />
primeiras histórias publicadas a partir <strong>de</strong> 1969.<br />
“Romeu e Julieta”, “Meu Amigo Ventinho”, “Catapimba e<br />
Sua Turma”, “O Dono da Bola”, “Teresinha e Gabriela”<br />
estão entre seus primeiros textos <strong>de</strong> ficção. Ainda na<br />
Abril, foi editora, redatora e diretora da Divisão <strong>de</strong><br />
Infanto-Juvenis.<br />
Publicou seu primeiro<br />
livro, “Palavras Muitas<br />
Palavras”, em 1976, e <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
então já teve mais <strong>de</strong> 130 títulos<br />
publicados, entre livros <strong>de</strong><br />
ficção, didáticos, paradidáticos e<br />
um dicionário. As histórias <strong>de</strong><br />
Ruth Rocha estão espalhadas<br />
pelo mundo, traduzidas em<br />
mais <strong>de</strong> 25 idiomas.<br />
<strong>História</strong> <strong>de</strong> Ruth<br />
4 anos vestida <strong>de</strong> anjinho<br />
Lendo para a filha Mariana e seus primos<br />
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
Monteiro Lobato foi sua<br />
gran<strong>de</strong> influência. Em sua obra,<br />
essa influência se traduz pelo seu<br />
interesse nos problemas sociais e<br />
políticos, na sua tendência ao<br />
humor e nas suas posições<br />
feministas.<br />
Seu livro <strong>de</strong> forte<br />
conteúdo crítico, “Uma <strong>História</strong> <strong>de</strong><br />
Rabos Presos”, foi lançado em<br />
1989 no Congresso Nacional em<br />
Brasília, com a presença <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />
número <strong>de</strong> parlamentares. Em<br />
1988 e 1990 lançou na se<strong>de</strong> da Organização das Nações<br />
Unidas em Nova York seus livros “Declaração Universal<br />
dos Direitos Humanos” para crianças e “Azul e Lindo:<br />
Planeta Terra, Nossa Casa”.<br />
Participou durante seis anos do programa <strong>de</strong><br />
televisão Gazeta Meio-Dia como membro fixo da mesa<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>bates.<br />
Em 1998 foi con<strong>de</strong>corada pelo presi<strong>de</strong>nte<br />
Fernando Henrique Cardoso com<br />
a Comenda da Or<strong>de</strong>m do Mérito<br />
Cultural do Ministério da Cultura.<br />
Ganhou os mais<br />
importantes prêmios brasileiros<br />
<strong>de</strong>stinados à literatura infantil da<br />
Fundação Nacional do Livro<br />
Infantil e Juvenil, da Câmara<br />
Brasileira do Livro, cinco Prêmios<br />
“Jabuti”, da Associação Paulista <strong>de</strong><br />
Críticos <strong>de</strong> Arte e da Aca<strong>de</strong>mia<br />
Brasileira <strong>de</strong> Letras, Prêmio João<br />
<strong>de</strong> Barro, da Prefeitura <strong>de</strong> Belo<br />
Horizonte, entre outros.<br />
Seu livro mais conhecido é “Marcelo, Marmelo,<br />
Martelo”, que já ven<strong>de</strong>u mais <strong>de</strong> 1 milhão <strong>de</strong> cópias.<br />
Em 2002 ganhou o prêmio Moinho Santista <strong>de</strong><br />
Literatura Infantil, da Fundação Bunge. Também nesse<br />
ano foi escolhida como membro do PEN CLUB –<br />
Associação Mundial <strong>de</strong> Escritores<br />
no Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />
Atualmente é membro do<br />
Conselho Curador da Fundação<br />
Padre Anchieta.<br />
Com seus pais e irmãos<br />
Disponível em:<br />
http://www2.uol.com.br/ruthroch<br />
a/historiadaruth<br />
60
<strong>História</strong>s <strong>de</strong> Ruth<br />
A arca <strong>de</strong> Noé , Salamandra<br />
A árvore do Beto, FTD<br />
A Cin<strong>de</strong>rela das bonecas, FTD<br />
A coisa, FTD<br />
A <strong>de</strong>cisão do campeonato, FTD<br />
A escola do Marcelo, Salamandra<br />
A escolinha do mar, Salamandra<br />
A família do Marcelo, Salamandra<br />
A fantástica máquina dos bichos, Ática<br />
A flauta mágica, Callis Ed.<br />
A história do livro, Melhoramentos<br />
A Ilíada, Cia. das Letrinhas<br />
A máquina maluca, FTD<br />
A menina que apren<strong>de</strong>u a voar, Salamandra<br />
A menina que não era maluquinha e outras<br />
histórias, Melhoramentos<br />
A primavera da lagarta, Formato<br />
A rua do Marcelo, Salamandra<br />
Almanaque Ruth Rocha, Ática<br />
Alvinho e os presentes <strong>de</strong> natal, FTD<br />
Alvinho, a apresentadora <strong>de</strong> TV e o campeão,<br />
FTD<br />
Alvinho, o Edifício City Of, FTD<br />
Armandinho, o juiz, FTD<br />
As coisas que a gente fala, Salamandra<br />
As coisas que eu gosto, Ática<br />
As férias <strong>de</strong> Miguel e Pedro, Melhoramentos<br />
Atrás da porta, Salamandra<br />
Azul e lindo: planeta terra, nossa casa,<br />
Salamandra<br />
Boi, boiada, boia<strong>de</strong>iro, Quinteto Editorial<br />
Bom-Dia, todas as cores!, FTD<br />
Borba, o gato, Ática<br />
Carmem, Callis.<br />
Como se fosse dinheiro, FTD<br />
Contos <strong>de</strong> Perrault, FTD<br />
Contos para ri e sonhar, Salamandra<br />
Davi ataca outra vez, Ática<br />
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
Declaração universal dos direitos humanos,<br />
Salamandra<br />
De hora em hora..., Quinteto Editorial<br />
De repente dá certo, Salamandra<br />
Dois idiotas sentados cada qual no seu barril...,<br />
Ática<br />
Elefante?, Formato<br />
Enquanto o mundo pega fogo, Ática<br />
Escrever e criar...É só começar! (8 Volumes),<br />
FTD<br />
Este admirável mundo louco, Salamandra<br />
Eu gosto muito, Ática<br />
Eugênio, o gênio, Salamandra<br />
Fábula <strong>de</strong> Esopo, FTD<br />
Faca sem ponta, galinha sem pé..., Nova<br />
Fronteira<br />
Fantasma existe?, Ática<br />
Faz muito tempo, Ática<br />
Flauta mágica, Callis.<br />
Gabriela e a titia, Salamandra<br />
<strong>História</strong>s das mil e uma noites, FTD<br />
Historinhas malcriadas, Salamandra<br />
Joãozinho e Maria, FTD<br />
Joãozinho e o pé <strong>de</strong> feijão, FTD<br />
Lá vem o ano novo, Salamandra<br />
Leila menina, Nova Fronteira<br />
Livro <strong>de</strong> números do Marcelo, Quinteto<br />
Editorial<br />
Macacote e Porco Pança, Salamandra<br />
Marcelo, marmelo, martelo, Salamandra<br />
Marília Bela, Nova Fronteira<br />
Meu amigo dinossauro, Melhoramentos<br />
Meu irmãozinho me atrapalha, Melhoramentos<br />
Meus lápis <strong>de</strong> cor são só meus, Melhoramentos<br />
Microdicionário Ruth Rocha, Scipione<br />
Mil pássaros, Melhoramentos<br />
Mil pássaros pelos céus, Ática<br />
61
Minidicionário Ruth Rocha, Scipione<br />
Mulheres <strong>de</strong> coragem, FTD<br />
Nicolau tinha uma i<strong>de</strong>ia, Quinteto Editorial<br />
Ninguém gosta <strong>de</strong> mim?, Ática<br />
No caminho <strong>de</strong> Alvinho tinha uma pedra, FTD<br />
No tempo em que a televisão mandava no<br />
Carlinhos, FTD<br />
Nosso amigo ventinho, Salamandra<br />
O amigo do rei, Salamandra<br />
O bairro do Marcelo, Salamandra<br />
O Barba Azul, FTD<br />
O barbeiro <strong>de</strong> Sevilha, Callis<br />
O coelhinho que não era <strong>de</strong> páscoa, Ática<br />
O dia em que Miguel estava muito triste,<br />
Melhoramentos<br />
O Guarani, Callis<br />
O jacaré preguiçoso, Salamandra<br />
O livro da escrita, Melhoramentos<br />
O livro das letras, Melhoramentos<br />
O livro das línguas, Melhoramentos<br />
O livro das tintas, Melhoramentos<br />
O livro <strong>de</strong> números do Marcelo, Quinteto<br />
Editorial<br />
O livro do lápis, Melhoramentos<br />
O livro do papel, Melhoramentos<br />
O livro dos gestos e dos símbolos,<br />
Melhoramentos<br />
O macaco bombeiro, Salamandra<br />
O menino quase virou cachorro,<br />
Melhoramentos<br />
O menino que apren<strong>de</strong>u a ver, Quinteto<br />
Editorial<br />
O menino que quase morreu afogado no lixo,<br />
Quinteto Editorial<br />
O mistério do ca<strong>de</strong>rninho preto, Ática<br />
O monstro do quarto do Pedro,<br />
Melhoramentos<br />
O patinho feio, FTD<br />
O pequeno Mozart, Noovha América<br />
O piquenique do Catapimba, FTD<br />
O que é, o que é? (3 Volumes), Quinteto<br />
Editorial<br />
O que os olhos não veem, Salamandra<br />
O rato do campo e o rato da cida<strong>de</strong>, FTD<br />
O rei que não sabia <strong>de</strong> nada, Salamandra<br />
O reizinho mandão, Quinteto Editorial<br />
O trenzinho do Nicolau, Salamandra<br />
O último golpe <strong>de</strong> Alvinho, FTD<br />
O velho, o menino e o burro e outras histórias<br />
caipiras, FTD<br />
Os direitos das crianças segundo Ruth Rocha,<br />
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
Cia. das Letrinhas<br />
Os amigos <strong>de</strong> Pedrinho, Melhoramentos<br />
Os músicos <strong>de</strong> Bremen, FTD<br />
Palavras, muitas palavras..., Quinteto Editorial<br />
Pedrinho Pintor, Salamandra<br />
Pedro e o menino valentão, Melhoramentos<br />
Pesquisar e apren<strong>de</strong>r, Scipione<br />
A fantástica fábrica dos bichos<br />
Pra que serve?, Salamandra<br />
Pra vencer certas pessoas, Ática<br />
Procurando firme, Nova Fronteira<br />
...que eu vou para Angola..., José Olympio<br />
Quando eu comecei a crescer, Nova Fronteira<br />
Quando eu for gente gran<strong>de</strong>, FTD<br />
Quando o Miguel entrou na escola,<br />
Melhoramentos.<br />
<strong>Quem</strong> tem medo <strong>de</strong> cachorro?, Global<br />
<strong>Quem</strong> tem medo <strong>de</strong> dizer não?, Global<br />
<strong>Quem</strong> tem medo <strong>de</strong> monstro?, Global<br />
<strong>Quem</strong> tem medo <strong>de</strong> quê?, Global<br />
<strong>Quem</strong> tem medo <strong>de</strong> ridículo?, Global<br />
<strong>Quem</strong> vai salvar a vida?, I. M. Salles<br />
Romeu e Julieta, Ática<br />
Ruth Rocha conta a Odisseia, Cia. das Letrinhas<br />
Sabe do que eu gosto?, Ática<br />
Sapo vira rei vira sapo: a volta do reizinho<br />
mandão, Salamandra<br />
Será que vai doer?, Ática<br />
Tem uma coisa que eu gosto, Ática<br />
Tenho medo mas dou um jeito, Ática<br />
Tom Sawyer, Objetiva<br />
Um cantinho só pra mim, Melhoramentos<br />
Um macaco pra frente, Salamandra<br />
Uma história com mil macacos, Ática<br />
Uma história <strong>de</strong> rabos presos, Salamandra<br />
Você é capaz <strong>de</strong> fazer isso?, FTD<br />
62
Sylvia Orthof<br />
Sylvia por ela mesma (1932–1997) - Autobiografia<br />
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
Escrevo errado, não sei gramática, respingo vírgulas<br />
e peco Literatura. Mea culpa!<br />
Nasci no Rio, no Hospital dos Estrangeiros,<br />
sou carioca, filha <strong>de</strong> austríacos.<br />
Sou bagunceira, atrapalhei os sete pecados, escrevi oito<br />
pecados capitais para esta coleção*. Motivo?<br />
Distraí, fiz um conto sobre a soberba e outro sobre o orgulho<br />
e nem reparei que era a mesma coisa, gente !<br />
Sou mãe da Cláudia, Gê e Pedro, filhos queridíssimos.<br />
Tenho quatro netos: Mariana, Francisco, Nina e Olívia.<br />
Gracinhas <strong>de</strong> netos!<br />
Moro em Petrópolis, sou casada com o Tato,<br />
ilustrador <strong>de</strong> muitos dos meus livros .<br />
Vim do teatro e dirijo o grupo: Teatro do Livro Aberto.<br />
Acho que escrever é como <strong>de</strong>sfilar numa escola <strong>de</strong> samba:<br />
tem enredo, alegorias, fantasias, ritmo.<br />
Torço sempre pela Estação Primeira <strong>de</strong> Mangueira.<br />
Adoro mangas rosadas, sou gulosamente gorducha. Será que<br />
a gula é mesmo um pecado tão capital quanto a inveja?<br />
Outro pecado que é capitalíssimo é a avareza,<br />
sobretudo no capitalismo.<br />
A luxúria tem seus encantos.<br />
A ira tem seus momentos.<br />
A preguiça <strong>de</strong>u em mim... fim.<br />
*Extraída da obra “A gula”, Coleção Eles são Sete<br />
63
Sylvia Orthof nasceu no Rio <strong>de</strong> Janeiro, em<br />
1932, filha <strong>de</strong> um casal <strong>de</strong> ju<strong>de</strong>us austríacos que<br />
<strong>de</strong>ixou Viena entre as duas guerras, para buscar<br />
paz e trabalho. Filha única <strong>de</strong> imigrantes pobres,<br />
teve uma infância difícil. Apren<strong>de</strong>u a falar<br />
primeiro alemão e falava português com sotaque e<br />
errado até a ida<strong>de</strong> escolar. Aos 18 anos, foi<br />
estudar teatro em Paris. Um ano <strong>de</strong>pois, voltou ao<br />
Brasil e trabalhou como atriz no Teatro Brasileiro<br />
<strong>de</strong> Comédias, em São Paulo (o TBC), e, no Rio,<br />
atuou com gran<strong>de</strong>s nomes do teatro e da TV.<br />
Escritora muito amada, com a sua irreverência<br />
poética inesquecível, publicou mais <strong>de</strong> 100 livros<br />
para crianças e jovens e teve 13 títulos premiados<br />
pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil<br />
com o selo Altamente Recomendável para<br />
Crianças. Sylvia morreu em 1997, mas até hoje<br />
exerce gran<strong>de</strong> influência sobre um gran<strong>de</strong> número<br />
<strong>de</strong> autores infantis.<br />
Entrar numa história <strong>de</strong> Sylvia Orthof é<br />
encher os olhos <strong>de</strong> susto, mas não um susto <strong>de</strong><br />
tremer perna ou bater queixo. O susto que as<br />
histórias <strong>de</strong> Sylvia dão na gente são carregados <strong>de</strong><br />
perplexida<strong>de</strong>, arregalam a gente por <strong>de</strong>ntro, dão<br />
largura no pensamento.<br />
Ganhadora do Prêmio Jabuti, por A Vaca<br />
Mimosa e a Mosca Zenilda (1997), Sylvia teve<br />
vários trabalhos adaptados para o teatro e<br />
quebrou tudo quanto é estereótipo na literatura<br />
infantil brasileira, com o seu texto <strong>de</strong>sobediente,<br />
esmerado, abusado, feito <strong>de</strong> riso, provocação e<br />
<strong>História</strong> <strong>de</strong> Sylvia<br />
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
arrepio. Afinal, a criativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Sylvia Orthof<br />
jamais coube em rótulos. Como ela mesma já<br />
disse, as histórias clássicas da literatura infantil<br />
sempre tiveram um ponto <strong>de</strong> vista muito<br />
machista. “Ninguém pergunta à Cin<strong>de</strong>rela se ela<br />
quer casar com o príncipe. Cin<strong>de</strong>rela casa com o<br />
príncipe porque ele tem dinheiro e po<strong>de</strong>r. Ela se<br />
prostitui”, disse a autora. Mas, ao mesmo tempo, a<br />
autora <strong>de</strong>fendia a leitura dos contos tradicionais,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que houvesse uma reflexão. “Se<br />
Chapeuzinho Vermelho tem tanta força até hoje, é<br />
porque tem o seu valor. Só precisamos tomar<br />
cuidado para não apresentarmos essas histórias<br />
com uma mensagem moralista. Vamos discutir um<br />
pouco. Por que não po<strong>de</strong>mos sair do caminho e<br />
procurar um atalho na vida? Será que em todo<br />
lugar há um lobo? E será que <strong>de</strong>vemos ter tanto<br />
medo dos lobos?”, questionava.<br />
Além <strong>de</strong> questionar velhos conceitos,<br />
Sylvia Orthof sempre vivia do modo como<br />
escrevia: espalhando encantamento por on<strong>de</strong><br />
passava. Autora <strong>de</strong> um dos maiores clássicos da<br />
literatura infantil brasileira, Uxa, Ora Fada, Ora<br />
Bruxa (1985), que mostra, com estilo único, os<br />
dois lados <strong>de</strong> todos nós, Sylvia era apaixonada por<br />
jardins e flores. Aliás, a sua favorita era a Maria<br />
sem Vergonha. “Gosto muito <strong>de</strong>ssa flor. Lá em<br />
casa, temos uma escada, no jardim. E as flores não<br />
quiseram nascer no canteiro. Não foram<br />
exatamente as Marias, mas também são sem<br />
vergonha. Elas nasceram por entre as pedras do<br />
muro. Sempre assim. Nascem nos lugares mais<br />
impossíveis. Aí um rapaz queria cortá-las das<br />
pedras, mas eu reagi: - Não faça isso. Elas lutaram<br />
tanto por esse lugar”, disse Sylvia, numa<br />
entrevista. E acrescentou: “O jardim é uma coisa<br />
que precisa <strong>de</strong> atenção, como os livros. Mas não<br />
gosto daqueles jardins muito cuidados. Podados<br />
<strong>de</strong>mais. As plantas, como as histórias, têm direito<br />
<strong>de</strong> espreguiçar on<strong>de</strong> quiserem”. E as histórias da<br />
Sylvia continuam espreguiçando, ou melhor,<br />
continuam <strong>de</strong>spertando leitores <strong>de</strong> toda ida<strong>de</strong>.<br />
Disponível em:<br />
http://www.agenciariff.com.br<br />
64
<strong>História</strong>s <strong>de</strong> Sylvia<br />
ÁTICA<br />
Tumebune, o Vaga-lume – 1995<br />
Fada Cisco Quase Nada – 1997<br />
Avoada, a Sereia Voadora – 1997<br />
Pomba Colomba – 1998<br />
Maria-Vai-com-as-Outras – 1998<br />
A Limpeza <strong>de</strong> Teresa – 1998<br />
A Fraca Fracola, Galinha-D’Angola – 1998<br />
As Visitas <strong>de</strong> Dona Zefa – 1998<br />
João Feijão – 1999<br />
Que Saracotico! (Série: Para Gostar <strong>de</strong> Ler Júnior) –<br />
2009<br />
A Vaca Mimosa e a Mosca Zenilda – 2010<br />
ATUAL<br />
A Poesia é uma Pulga – 1991<br />
Livro Aberto – 1996<br />
Guardachuvando Doi<strong>de</strong>iras – 2005<br />
<strong>Quem</strong> Roubou Meu Futuro? – 2004, 2009<br />
FTD<br />
Uma Velha e Três Chapéus – 1986<br />
Jogando Conversa Fora – 1986<br />
A Gema do Ovo da Ema – 1988<br />
O Cavalo Transparente – 1998<br />
O Sapato que Miava – 1998<br />
A Fada Sempre-viva e a Galinha-fada – 2000<br />
Felipe do Abagunçado – 2009 - 53 págs.<br />
A Rainha Rabiscada – 2009 - 23 págs.<br />
Ponto <strong>de</strong> Tecer Poesia – 2010 - 40 págs.<br />
FORMATO<br />
Foi o Ovo? Uma Ova! – 1990<br />
Galo Galo Não Me Calo – 1992<br />
Ovos Nevados – 1997<br />
GLOBAL<br />
<strong>História</strong>s Curtas e Birutas – 1997<br />
Ciranda <strong>de</strong> Anel e Céu – 1997<br />
A Décima Terceira Mordida – 1997<br />
O Rei Preto <strong>de</strong> Ouro Preto – 2003<br />
Rabiscos ou Rabanetes – 2005<br />
Um Pipi Choveu Aqui – 2005<br />
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
Ave Alegria – 1989 (nova edição no prelo)<br />
Você viu? Você ouviu? – 2004 (nova edição no prelo)<br />
O Anjo <strong>de</strong> Aleijadinho – 1996 (nova edição no prelo)<br />
A Onça <strong>de</strong> Vitalino – 1994 (nova edição no prelo)<br />
LÊ<br />
A Velhota Cambalhota – 1985<br />
Bóia Bóia Lambisgóia – 1995<br />
AO LIVRO TÉCNICO<br />
Dona Noite Doidona – 1991<br />
Pé <strong>de</strong> Pato – 1991<br />
Dumonzito – 1991<br />
MODERNA<br />
A Viagem <strong>de</strong> um Barquinho – 2002<br />
NOVA FRONTEIRA<br />
No Fundo do Fundo-fundo, Lá Vai o Tatu Raimundo –<br />
1984<br />
Se as Coisas Fossem Mães – 1984<br />
Uxa, Ora Fada, Ora Bruxa – 1985<br />
Se a Memória Não Me Falha – 1987<br />
Nana Pestana – 1987<br />
Luana Adolescente, Lua Crescente – 1989<br />
Zoiúdo, o Monstrinho que Bebia Colírio – 1990<br />
Chora Não! – 1991<br />
Zé Vagão da Roda Fina e Sua Mãe Leopoldina – 1997<br />
Currupaco, paco e tal, quero ir pra Portugal – 2002<br />
A Bruxa Fofim – 2002<br />
Manual <strong>de</strong> Boas Maneiras das Fadas – 1995, 2009 - 32<br />
págs.<br />
Fada Fofa em Paris – 1995, 2009 - 16 págs.<br />
Fada Fofa e os Sete Anjinhos – 1997, 2009 - 31 págs.<br />
Fada Fofa e a Onça Fada – 1998, 2009 - 31 págs.<br />
OBJETIVA<br />
Contos <strong>de</strong> Estimação: mudanças no galinheiro, mudam<br />
as coisas por inteiro – 2003,<br />
Eu Chovo, Tu Choves, Ele Chove... – 2003<br />
65
PAULINAS<br />
Tia Carlota Tricota – 1998<br />
Tia Libória <strong>Conta</strong>ndo <strong>História</strong> – 1998<br />
Tia Januária é Veterinária – 1998<br />
Bagunça Total na Cida<strong>de</strong> Imperial – 1998<br />
Moqueca, a Vaca – 1999<br />
Vovô Bastião Vai Comendo Feijão – 2000<br />
Pequenas Orações para Sorrir – 2000<br />
PAULUS<br />
Doce Doce <strong>Quem</strong> Comeu Regalou-se – 1987<br />
PROJETO<br />
Ervilina e o Princês – 1986, 2009<br />
QUINTETO<br />
Duas <strong>História</strong>s <strong>de</strong> Pernafina – 1985<br />
Sou Miloquinha, a Duen<strong>de</strong> – 1988<br />
Malaquias – 1995<br />
Cor<strong>de</strong>l Adolescente, ó Xente! – 1998<br />
RECORD<br />
Papos <strong>de</strong> Anjo – 1987<br />
As Casas Que Fugiram <strong>de</strong> Casa – 2002<br />
Pererê na Pororoca – 2002<br />
As Malandragens <strong>de</strong> um Urubu – 2002<br />
ROVELLE<br />
Vovó viaja e não sai <strong>de</strong> casa – 1994, (nova edição no<br />
prelo)<br />
Gato pra cá, Rato pra lá – 2012<br />
O Livro Que Ninguém Vai ler – 1997, (nova edição no<br />
prelo)<br />
A Mula sem cabeça, A Flauta <strong>de</strong> Nicolau e Fada Crica<br />
Cozinheira – 1994, (nova edição no prelo)<br />
Senhor Vento e Dona Chuva – 1986, (nova edição no<br />
prelo)<br />
O Baile do Fim do Mundo e Outras <strong>História</strong>s – 2012<br />
Mudanças no Galinheiro Mudam as Coisas por Inteiro –<br />
2003, 2012<br />
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
Eu Sou Mais Eu! – (nova edição no prelo)<br />
A Folia dos Três Bois – (nova edição no prelo)<br />
Uma 'Estória' <strong>de</strong> Telhados – (nova edição no prelo)<br />
Cantarim <strong>de</strong> Cantará – 1984, 2010<br />
Adolescente Poesia – 1996, 2010<br />
SALAMANDRA<br />
As Aventuras da Família Repinica em Busca do Tesouro<br />
- 1984<br />
Sonhando Santos Dumont – 1997<br />
Os Bichos Que Tive – 2004<br />
<strong>História</strong> Enroscada – 1997 (nova edição no prelo)<br />
<strong>História</strong> Vira-lata – 1997 (nova edição no prelo)<br />
<strong>História</strong> Avacalhada– 1997 (nova edição no prelo)<br />
<strong>História</strong> Engatada – 1997 (nova edição no prelo)<br />
SCIPIONE<br />
O Inspetor Geral (adaptação) – 1997<br />
SM EDIÇÕES<br />
A Fada Lá <strong>de</strong> Pasárgada e Cabi<strong>de</strong>lim, O Doce<br />
Monstrinho – 2004<br />
DIREITOS REVERTIDOS<br />
São Francisco Bem Te Vi – 1993<br />
Meus Vários Quinze Anos – 1995<br />
Tem Minhoca no Caminho - 1995<br />
Tem Cachorro no Salame – 1996<br />
Tem Cavalo no Chilique – 1996<br />
Tem Graças no Botticelli – 1996<br />
Canarinho, Cachorrão e a Tijela <strong>de</strong> Ração – 1996<br />
Mas que Bicho Lagarticho – 1996<br />
Que Raio <strong>de</strong> <strong>História</strong> – 1994<br />
Mais-que-perfeita Adolescente – 1994<br />
Papai Bach Família e Fraldas – 1997<br />
Cadê a Peruca do Mozart? – 1998<br />
Quincas Plim, Foi Assim – 1998<br />
Tia Anacleta e Sua Dieta – 1998<br />
Dragonice Diz que Disse – 2004<br />
“Se eu me for<br />
vou <strong>de</strong> bagagem<br />
sem ter mala<br />
e compromisso.<br />
Vou <strong>de</strong> anjo,<br />
sem ter asa,<br />
vou morando,<br />
sem ter casa.<br />
Vou medir<br />
o infinito.”<br />
66
Andrea por ela mesma<br />
Andrea Viviana Taubman<br />
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
Nasci em Buenos Aires, na Argentina em 1965.<br />
Talvez por ter sido filha única até os seis anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> e a<br />
primeira criança da minha geração numa família <strong>de</strong> leitores<br />
vorazes, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que me conheço por gente (bem miudinha) me<br />
interessei pelas letras – minha mãe ri contando que eu pegava os<br />
grampos <strong>de</strong> cabelo <strong>de</strong>la para montá-las e perguntava: mãe, que<br />
letra é essa?<br />
Des<strong>de</strong> então e mesmo antes disso, minha maior diversão<br />
sempre foram os livros.<br />
Em 1973, vim para o Brasil com meus pais e minha irmã.<br />
Morei em São Paulo e no Rio <strong>de</strong> Janeiro. Passei a adolescência lendo,<br />
escrevendo poemas, cantando, tocando violão, representando e<br />
trabalhando voluntariamente com educação não formal com crianças.<br />
Na hora <strong>de</strong> escolher a profissão, optei pelo bacharelado em<br />
química porque era tão curiosa que queria saber do que eram feitas as<br />
coisas do Universo. Em 1986 me formei na Universida<strong>de</strong> Mackenzie e<br />
passei vinte anos escrevendo e traduzindo textos técnicos, manuais e<br />
correspondências comerciais.<br />
Nunca abandonei os livros <strong>de</strong> literatura nem me afastei das<br />
crianças. Em 2008, já mãe <strong>de</strong> dois filhos, escrevi O MENINO QUE TINHA<br />
MEDO DE ERRAR - que conta em versos a história <strong>de</strong> Pedro, que por<br />
receio <strong>de</strong> virar motivo <strong>de</strong> chacota, prefere não conviver com outras<br />
crianças. Publicado inicialmente em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2009 com ilustrações <strong>de</strong> Judith Adler Levacov, o livro<br />
ganhou nova edição e novas ilustrações <strong>de</strong> Camila Carrossine em<br />
2012 (Escrita Fina).<br />
Em outubro <strong>de</strong> 2010 tive a felicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ver publicado meu<br />
segundo livro, A ESCOLA QUE EU QUERO PRA MIM – com ilustrações<br />
<strong>de</strong> Luiza Costa (Editora Ao Livro Técnico), que fala também em versos<br />
sobre as relações interpessoais no ambiente escolar e promove a<br />
reflexão sobre os valores e as atitu<strong>de</strong>s individuais que fazem a<br />
diferença para que esse ambiente seja o mais acolhedor possível.<br />
A partir <strong>de</strong>ste trabalho, conheci muitas escolas, muitas<br />
crianças e professores, muitos outros escritores e ilustradores <strong>de</strong><br />
literatura infantil e juvenil e pessoas envolvidas com livros e<br />
educação. Isto tudo me trouxe <strong>de</strong> volta uma alegria que eu acreditava ter ficado lá na minha infância e<br />
adolescência; me faz sentir que <strong>de</strong>i uma gran<strong>de</strong> volta ao mundo, mas que agora estou on<strong>de</strong> sempre gostaria<br />
<strong>de</strong> ter ficado!<br />
Atualmente, divulgo meu trabalho e opiniões através da página pessoal no facebook<br />
(https://www.facebook.com/andrea.taubman), da página do livro A ESCOLA QUE EU QUERO PRA MIM<br />
(https://www.facebook.com/pages/A-ESCOLA-QUE-EU-QUERO-PRA-MIM/253189551368030 ) e do meu<br />
blog (www.andreavivianataubman.blogspot.com.br).<br />
67
Celso por ele mesmo<br />
Celso Sisto<br />
Nasci no mês <strong>de</strong> junho e sou do signo <strong>de</strong><br />
gêmeos. Caramba! Deve ser por isso que gosto tanto<br />
disso e daquilo! Faço “trocentas” coisas ao mesmo<br />
tempo. E adoro esse movimento, essa ocupação toda!<br />
Às vezes, se tenho pouca coisa para fazer, acabo não<br />
fazendo nada ou <strong>de</strong>ixando tudo para a última hora!<br />
Gosto mesmo é <strong>de</strong> tudo o que está relacionado a<br />
livros e leituras! Escrevo diariamente e leio quase o<br />
tempo todo! Se pu<strong>de</strong>sse, leria durante o sono também!<br />
Há tanta coisa para ler na vida, que tenho medo que<br />
não dê tempo <strong>de</strong> ler tudo o que quero! Adoro estudar,<br />
pesquisar, inventar projetos. Gosto <strong>de</strong> cachorros, gatos<br />
e plantas... De mexer na terra, fazer hidroginástica,<br />
comer doces...<br />
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
Hum! Vivo perto do mar, no litoral norte do<br />
Rio Gran<strong>de</strong> do Sul. Estu<strong>de</strong>i Literatura e Teatro. Quer<br />
dizer, estu<strong>de</strong>i não, continuo estudando! Sou<br />
professor com muita honra! Dou aulas por aí, em<br />
universida<strong>de</strong>s, ministro oficinas em feiras <strong>de</strong> livros e<br />
cursos em cida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> longe e <strong>de</strong> perto!<br />
Principalmente para professores, para quem quer e<br />
gosta <strong>de</strong> contar histórias, oralmente e por escrito.<br />
Há mais <strong>de</strong> vinte anos sou contador <strong>de</strong><br />
histórias do Grupo Morandubetá, um dos primeiros<br />
grupos <strong>de</strong> contadores <strong>de</strong> histórias do Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />
Além disso, adoro ilustrar! Brincar com as imagens me encanta! Para saber mais sobre mim, é sobre<br />
mim, é só acessar meu site www.celsosisto.com<br />
Do livro Vozes da Floresta: lendas indígenas, Cortez Editora: São Paulo, 2011.<br />
68
Cora por ela mesma (1889–1985) - Todas as Vidas<br />
Vive <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> mim<br />
uma cabocla velha<br />
<strong>de</strong> mau-olhado,<br />
acocorada ao pé do borralho,<br />
olhando pra o fogo.<br />
Benze quebranto.<br />
Bota feitiço...<br />
Ogum. Orixá.<br />
Macumba, terreiro.<br />
Ogã, pai-<strong>de</strong>-santo...<br />
Vive <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> mim<br />
a lava<strong>de</strong>ira do Rio Vermelho.<br />
Seu cheiro gostoso<br />
d'água e sabão.<br />
Rodilha <strong>de</strong> pano.<br />
Trouxa <strong>de</strong> roupa,<br />
pedra <strong>de</strong> anil.<br />
Sua coroa ver<strong>de</strong> <strong>de</strong> são-caetano.<br />
Cora Coralina<br />
Vive <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> mim<br />
a mulher cozinheira.<br />
Pimenta e cebola.<br />
Quitute bem-feito.<br />
Panela <strong>de</strong> barro.<br />
Taipa <strong>de</strong> lenha.<br />
Cozinha antiga.<br />
toda pretinha.<br />
Bem cacheada <strong>de</strong> picumã.<br />
Pedra pontuda.<br />
Cumbuco <strong>de</strong> coco.<br />
Pisando alho-sal.<br />
Vive <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> mim<br />
a mulher do povo.<br />
Bem proletária.<br />
Bem linguaruda,<br />
<strong>de</strong>sabusada, sem preconceitos,<br />
<strong>de</strong> casca-grossa,<br />
<strong>de</strong> chinelinha,<br />
e filharada.<br />
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
Vive <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> mim<br />
a mulher roceira.<br />
- Enxerto da terra,<br />
meio casmurra.<br />
Trabalha<strong>de</strong>ira.<br />
Madruga<strong>de</strong>ira.<br />
Analfabeta.<br />
De pé no chão.<br />
Bem pari<strong>de</strong>ira.<br />
Bem cria<strong>de</strong>ira.<br />
Seus doze filhos,<br />
Seus vinte netos.<br />
Vive <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> mim<br />
a mulher da vida.<br />
Minha irmãzinha...<br />
tão <strong>de</strong>sprezada,<br />
tão murmurada...<br />
Fingindo alegre seu triste fado.<br />
Todas as vidas <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> mim:<br />
Na minha vida -<br />
a vida mera das obscuras.<br />
CORALINA, CORA. Poemas dos becos <strong>de</strong> Goiás e estórias mais. Ed. Global, 2001.<br />
69
Luciana por ela mesma<br />
Luciana Grether Carvalho<br />
Sou Luciana Grether Carvalho, carioca e me interesso por<br />
imagens <strong>de</strong>s<strong>de</strong> cedo. Na escola, às vezes, os discursos dos professores<br />
sumiam frente às fotografias, pinturas, filmes e mapas que eles<br />
mostravam. Além do mais, eles foram meus primeiros mo<strong>de</strong>los vivos,<br />
<strong>de</strong>senhava-os todos, principalmente, no Ensino Médio.<br />
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
Comecei a estudar <strong>de</strong>senho em 1996 ao ingressar no curso <strong>de</strong><br />
Design na PUC- Rio. Na universida<strong>de</strong> fui aluna <strong>de</strong> professores que me<br />
apresentaram significativos caminhos para o <strong>de</strong>spertar <strong>de</strong> uma<br />
linguagem poética própria e me ensinaram a trabalhar junto a<br />
diversos grupos <strong>de</strong> pesquisa. Fui ainda monitora em aulas <strong>de</strong> pintura e <strong>de</strong>senho e apaixonei-me<br />
pelo processo criativo.<br />
Depois <strong>de</strong> formada, já tendo ilustrado dois livros,<br />
colaborando com ilustrações semanalmente para o Jornal<br />
do Brasil e cuidando da minha primeira filha recémnascida,<br />
fui fazer licenciatura em Artes na Unibennett.<br />
Aprendi a ser professora e a lidar com os aprendizados do<br />
cotidiano escolar nas aulas <strong>de</strong> Artes Visuais no Ensino<br />
Fundamental na Escola Oga<br />
Mitá. Conciliando a<br />
Cor<strong>de</strong>l da Can<strong>de</strong>lária<br />
maternida<strong>de</strong>, as aulas nas<br />
escolas e as ilustrações, iniciei<br />
o Mestrado em Artes & Design<br />
na PUC-Rio em 2004. Em 2007 nasce minha segunda filha e cada vez<br />
mais a literatura infantil se fez presente em longas contações <strong>de</strong><br />
histórias que nos aproximavam e emocionavam. Em 2009 passei a dar<br />
aulas também na PUC-Rio on<strong>de</strong> realizo um trabalho gratificante ao<br />
orientar processos e <strong>de</strong>senhos nas aulas <strong>de</strong> projeto I e II.<br />
Namoro Encantado<br />
Recentemente as ilustrações pra<br />
livros vêm acontecendo mais<br />
intensamente e hoje já conto <strong>de</strong>zesseis Teatro com bicho é o bicho<br />
projetos editoriais ilustrados. Nos<br />
encontros, lançamentos, oficinas, mesas redondas tenho tido preciosas<br />
oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conviver com autores e ilustradores. A admiração<br />
pelos mestres da representação, as histórias e a beleza da vida são<br />
inspirações para as ilustrações que faço. Ilustrando e ensinando<br />
continuo apren<strong>de</strong>ndo.<br />
70
Sandra por ela mesma<br />
H u g o<br />
Sandra Ronca<br />
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
Sou carioca, filha <strong>de</strong> artistas plásticos italianos, formada em<br />
Comunicação Social – Publicida<strong>de</strong> e Propaganda. Cursos<br />
complementares: Desenho <strong>de</strong> Propaganda; Design e Produção Gráfica;<br />
Aquarela; Quadrinhos; Livro Infantil: Ilustração e Design. Pós-graduada<br />
em Design e Ilustração pelas Faculda<strong>de</strong>s Pestalozzi em Niterói. Em 2010,<br />
participei do Laboratório Cor & Ilustração com Rebeca Luciani. Em 2011,<br />
participei <strong>de</strong> workshops <strong>de</strong> ilustração infantil com Svjetlan Junakovic<br />
(Sarme<strong>de</strong>/IT) e Carll Cneut e Maurizio Quarello (Macerata/IT).<br />
Como ilustradora, utilizo Aquarela, Acrílica, Colagem e Técnica<br />
Mista. Participei <strong>de</strong> mostras em diferentes Estados no Brasil e em 2010,<br />
tive uma ilustração selecionada para a mostra e catálogo Scarpetta<br />
D’Oro, em Riviera Del Brenta, Italia. Em 2011, participei da mostra Dear<br />
JAPAN: Messages of hope from picture book artists worldwi<strong>de</strong>", em<br />
Tokyo e Ishikawa, Japão, promovida por Art-Ehon em apoio às vítimas<br />
<strong>de</strong>ste país. Minha imagem foi selecionada para o mês <strong>de</strong> abril do<br />
calendário <strong>de</strong> 2012.<br />
Apesar <strong>de</strong> também ilustrar com mais serieda<strong>de</strong>, sempre tive<br />
forte tendência para as figuras tidas como "infantis", on<strong>de</strong> qualquer<br />
objeto ou personagem po<strong>de</strong> ganhar características e comportamentos<br />
humanos. O mesmo já acontecia no contato com o barro, nas visitas ao atelier, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> surgiam as simpáticas<br />
"criaturas". Amo ilustrar, inventar e ver o brilho nos olhos das crianças diante dos traços, das cores e<br />
texturas nas muitas viagens que proporciona a ilustração. Trabalho com Aquarela, Acrílica, Colagem, Técnica<br />
Mista e Lápis Aquarelável.<br />
Como escritora, a imaginação também vai longe. Em 2008, lancei o “Coitada da raposa!” pela Cortez<br />
Editora. O texto está leve e vem nos mostrar, <strong>de</strong> forma divertida, que o problema <strong>de</strong> uns, às vezes, não é o<br />
problema dos outros. E até mesmo que as alegrias <strong>de</strong> uns, po<strong>de</strong>m ser um ‘problema’ para os outros.<br />
O segundo como escritora, "Dia <strong>de</strong> vacina" foi publicado pela Editora Rovelle. Se trata <strong>de</strong> uma vivência<br />
particular trazida a público <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 40 anos! A história <strong>de</strong> uma menina que sempre se comportava na hora <strong>de</strong><br />
tomar vacina. Até que um dia, na hora H, algo inesperado aconteceu. Ela chorou e esperneou. Muito. Por quê <strong>de</strong>sta<br />
vez e, nas outras não?<br />
O terceiro, lançado em 2011, “Com que bicho você se parece?” pela Editora RHJ, brinca com as<br />
diferenças, e não só as dos animais... Vale a pena a leitura!<br />
Agora em 2012, está no forno O sumiço do O. Lançamento previsto para o mês <strong>de</strong> junho.<br />
Seja na ilustração ou na escrita, sigo apren<strong>de</strong>ndo, inventando e viajando em meio a meus amigos-mirins.<br />
www.sandraronca.com.br<br />
www.sandraronca.blogspot.com.br<br />
71
<strong>História</strong> da Thaís<br />
Thaís Linhares<br />
Formada pela Escola <strong>de</strong> Belas Artes UFRJ e SENAI <strong>de</strong> Artes<br />
Gráficas, a ilustradora já conta com <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> obras publicadas e<br />
bem recebidas pelo público, algumas <strong>de</strong>las incluídas nas<br />
bibliotecas escolares, premiadas como "Altamente<br />
Recomendável" pela FNLIJ ou expostas na BIB – Bienal<br />
Internacional <strong>de</strong> Bratislava. Foi cenógrafa <strong>de</strong> animação na série<br />
“Juro que Vi”– da Multirio e roteirista para "O Quarto do Jobi",<br />
série animada da 2DLab exibida pela TV Ratimbum. Em 2008<br />
recebeu da Secretaria <strong>de</strong> Cultura do Estado do RJ o prêmio do<br />
edital para Desenvolvimento <strong>de</strong> Roteiro <strong>de</strong> Longa <strong>de</strong> Animação<br />
por sua obra "O Monge e a Fada". Também escreve quadrinhos e<br />
livros para crianças e jovens, alguns <strong>de</strong>stes adotados em políticas<br />
públicas para difusão da leitura. Participa ativamente da diretoria<br />
da AEILIJ – Associação <strong>de</strong> Escritores e Ilustradores <strong>de</strong> Literatura<br />
Infantil e Juvenil. Thais nasceu carioca, em setembro <strong>de</strong> 1970.<br />
Uma bancada antiga <strong>de</strong> sapateiro. Estudo para o livro novo da Bia Bedran.<br />
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
72
SUGESTÕES DE ATIVIDADES...<br />
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
Ler e fazer análise crítica das histórias<br />
Confeccionar jornal mural sobre os autores e suas obras<br />
Organizar a produção <strong>de</strong> um jornal falado ou notícia escrita sobre o contexto <strong>de</strong> uma história<br />
Criar o “Clube do autor”. Ativida<strong>de</strong>s relacionadas a obra e vida <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminado autor, com dinâmicas para<br />
a comunida<strong>de</strong> escolar utilizando diferentes portadores textuais sobre o mesmo: biografia, entrevista,<br />
notícias, etc..<br />
Organizar “Ciranda <strong>de</strong> livros” com obras <strong>de</strong> um autor específico, promovendo a circulação das obras nos<br />
grupos <strong>de</strong> leitores por meio <strong>de</strong> sacolas, malas e caixas literárias.<br />
Promover roda <strong>de</strong> leitura, leitura compartilhada, leitura dramatizada, sarau, chá literário, piquenique<br />
literário sobre diversas obras e autores.<br />
Criar a “Vitrine <strong>de</strong> autores”, divulgar a obra do autor, na comunida<strong>de</strong> escolar por meio <strong>de</strong> propagandas.<br />
Confeccionar mural com frases sugestivas, relacionadas à leitura ou ao livro.<br />
Elaborar “Perfil <strong>de</strong> personagens”, ou seja, construir textos <strong>de</strong>scritivos com as características e<br />
personalida<strong>de</strong>s dos personagens <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada obra. Po<strong>de</strong>ndo promover brinca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> adivinhar o<br />
personagem <strong>de</strong>scrito entre os alunos.<br />
Promover <strong>de</strong>bates e/ou julgamento <strong>de</strong> personagens.<br />
Construir linha do tempo com as obras e biografia <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminado autor, situando o contexto social e<br />
vivências dos leitores.<br />
Exposição visual: vida e obra <strong>de</strong> autores.<br />
Brincar <strong>de</strong> mímica para adivinhar personagens e títulos <strong>de</strong> histórias.<br />
Confeccionar jogos <strong>de</strong> trilha, quebra-cabeça, dominó, jogo da memória, quiz literário, bingos, utilizando o<br />
contexto da história.<br />
Dar vida aos personagens com criação <strong>de</strong> bonecos.<br />
Dramatizar as histórias utilizando diversos recursos: teatro <strong>de</strong> varas, <strong>de</strong> sombras, <strong>de</strong> bonecos, fantoches,<br />
sucatas.<br />
Organizar com os alunos coletâneas <strong>de</strong> contos, poesias, narrativas e crônicas dos autores trabalhados<br />
e/ou textos produzidos pelos alunos.<br />
Promover dinâmicas a partir da literatura utilizada: história interrompida, mudança <strong>de</strong> final, criar uma<br />
versão da história do ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado personagem, criar história em quadrinho, cartão<br />
postal.<br />
A partir das histórias criar esquetes, enquetes, jograis e paródias.<br />
<strong>Conta</strong>r e recontar histórias.<br />
Montar varal utilizando diversas tipologias textuais e produções <strong>de</strong> alunos<br />
Transformar a história em literatura <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>l.<br />
<strong>História</strong>s ou poemas partidos em parágrafos, estrofes ou versos para que os alunos reorganizem o texto.<br />
Recital e roda <strong>de</strong> poesia.<br />
Concurso <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> livros, <strong>de</strong> cartas para personagens <strong>de</strong> histórias, <strong>de</strong> frases sobre um tema, <strong>de</strong><br />
contos, crônicas, poesias, etc.<br />
Promover um correio escolar que po<strong>de</strong> ter em seu conteúdo: poesias, consi<strong>de</strong>rações sobre uma obra lida,<br />
informações sobre autores, etc.<br />
Releitura dos textos lidos com mudança <strong>de</strong> gênero ou estilo. Ex: <strong>de</strong> poesia para canção, <strong>de</strong> canção para<br />
pintura, <strong>de</strong> narrativa para poesia.<br />
Comparar textos literários com adaptações audiovisuais (televisivas ou cinematográficas).<br />
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NAVEGANDO...<br />
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
Navegando nos links abaixo você encontra biografia, bibliografia, textos, poesias,<br />
artigos, curiosida<strong>de</strong>s, fotos, ilustrações, teses e muito mais sobre a vida e obra <strong>de</strong><br />
diversos autores.<br />
Ana Maria Machado - http://www.anamariamachado.com/home<br />
Informações sobre vários autores: http://www.caleidoscopio.art.br/artistas-literatura e<br />
http://www.releituras.com/drummond_bio.asp.<br />
Bia Bedran - http://biabedran.com.br e http://bloglog.globo.com/biabedran<br />
Ilustradora Thaís Linhares: http://ilustracoes<strong>de</strong>thais.blogspot.com.br<br />
Carlos Drummond <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> - http://drummond.memoriaviva.com.br<br />
Jorge Amado - http://www.jorgeamado.org.br e http://www.jorgeamado.com.br<br />
Lygia Bojunga: http://www.casalygiabojunga.com.br<br />
Fundação Manoel <strong>de</strong> Barros - http://www.fmb.org.br<br />
Monteiro Lobato: http://www.projetomemoria.art.br/MonteiroLobato e http://lobato.globo.com<br />
Nelson Rodrigues: http://www.nelsonrodrigues.com.br<br />
Roseana Murray: http://www.roseanamurray.com e http://www.roseanamurray.com/ebook<br />
Ruth Rocha: http://www2.uol.com.br/ruthrocha<br />
Sylvia Orthof: https://sites.google.com/site/sylviaorthof<br />
Cora Coralina: http://casa<strong>de</strong>coracoralina.blogspot.com.br<br />
Ilustradora Luciana Grether Carvalho:<br />
http://ilustralu.blogspot.com.br<br />
Escritora e Ilustradora Sandra Ronca -<br />
http://www.sandraronca.com.br<br />
Ilustradora Thaís Linhares:<br />
http://ilustracoes<strong>de</strong>thais.blogspot.com.br e http://thaislinhares.blogspot.com.br<br />
Celso Sisto - http://www.celsosisto.com<br />
<strong>Portal</strong> do Ilustrador - http://ilustradores.ning.com<br />
Aca<strong>de</strong>mia Brasileira <strong>de</strong> Letras - http://www.aca<strong>de</strong>mia.org.br<br />
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EQUIPE DE LEITURA...<br />
Chefe<br />
Hellenice <strong>de</strong> Souza Ferreira<br />
Implementadores<br />
Ana Rita <strong>de</strong> Castilho<br />
Cristiane Guimarães Dantas<br />
Daniela Men<strong>de</strong>s Vieira Alves<br />
Fátima Regina dos Santos França<br />
Flávio José Bonfim<br />
Izabel Regina Docek<br />
Marluce Moraes dos Santos<br />
Patrícia <strong>de</strong> Sá Góes<br />
Renata <strong>de</strong> Araújo Tomé<br />
Vera Lúcia Santos da Silva<br />
Assistente administrativo<br />
Ana Paula Cabral <strong>de</strong> Lima<br />
Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />
Junho <strong>de</strong> 2012<br />
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