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Capitulo 1- História das técnicas fotográficas - Lupa

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<strong>Capitulo</strong> 1- <strong>História</strong> <strong>das</strong> <strong>técnicas</strong> <strong>fotográficas</strong><br />

1. 1. Introdução<br />

1. 1. 1. A atitude perante a fotografia<br />

1. 1. 2. A definição de períodos na evolução <strong>das</strong> <strong>técnicas</strong><br />

1. 2. Período da daguerreotipia, (1839~1855)<br />

1. 2. 1. O Daguerreótipo<br />

1. 2. 2. Aperfeiçoamentos no processo<br />

1. 2. 3. O Calótipo<br />

1. 3. Período dos negativos em vidro de colódio húmido e <strong>das</strong> provas de albumina,<br />

(1855~1880)<br />

1. 3. 1. Negativos em vidro de albumina<br />

1. 3. 2. Negativos em vidro de colódio húmido<br />

1. 3. 3. Positivos directos de colódio húmido: o Ambrótipo e o Ferrótipo<br />

1. 3. 4. A impressão dos negativos de colódio: as Provas de Albumina<br />

1. 3. 5. O processo de impressão em albumina<br />

1. 3. 6. A impressão em papel de carvão<br />

1. 3. 7. A impressão em papel de platina<br />

1. 3. 8. Negativos em vidro de colódio seco<br />

1. 4. Período dos negativos em vidro de gelatina e brometo de prata e <strong>das</strong> provas em papel<br />

directo de fabrico industrial, (1880~1910)<br />

1. 4. 1. Aperfeiçoamentos no processo<br />

1. 4. 2. O desenvolvimento da indústria fotográfica<br />

1. 4. 3. O papel de impressão directo de fabrico industrial<br />

1. 5. Período dos negativos em película e <strong>das</strong> provas em papel de revelação, (1910-1970)<br />

1. 5. 1. Negativos em película<br />

1. 5. 2. Película de nitrato de celulose<br />

1. 5. 3. Câmaras <strong>fotográficas</strong> para amadores<br />

1. 5. 4. Aperfeiçoamentos no processo<br />

1. 5. 5. O papel de impressão de revelação<br />

1. 5. 6. Processos de impressão alternativos<br />

1. 6. Período da fotografia a cor cromogénea, (1970 ~ hoje)<br />

1. 6. 1. O primeiro processo a cor, o Autochrome<br />

1. 6. 2. Outros processos a cor de rede<br />

1. 6. 3. Processos a cor cromogéneos<br />

1. 6. 4. O Kodachrome<br />

1. 6. 5. Acopladores na emulsão ou no revelador?<br />

1. 6. 6. O Ektachrome<br />

1. 6. 7. Processo positivo-negativo<br />

1. 6. 8. Aperfeiçoamentos nos processos a cor<br />

1. 6. 9. Provas por branqueamento de corante<br />

1. 6. 10. Fotografia instantânea, processos de difusão<br />

1. 1. Introdução<br />

Tal como aconteceu a muitos outros nesta área, o meu envolvimento com a fotografia<br />

desenvolveu-se essencialmente a fazer fotografia e não tanto a observá-la. No início dos anos<br />

70, to<strong>das</strong> as minhas atenções se centravam em encontrar bons assuntos e produzir imagens<br />

interessantes e, tanto quanto possível, originais. Nessa altura não estava propriamente<br />

orientado para estudar o trabalho de outros fotógrafos, sobretudo fotógrafos do passado. Isto é<br />

o que naturalmente pensa um jovem de 15 anos, que inicia uma nova e apaixonante<br />

actividade. Hoje encontro a mesma atitude em muitos jovens estudantes de fotografia. No<br />

grupo onde desenvolvia as minhas actividades <strong>fotográficas</strong>, o Foto Clube 6x6, em Lisboa,<br />

grande parte do tempo era passado a discutir os equipamentos e os materiais: a máquina


fotográfica, as objectivas, as películas e os papéis de impressão. A cultura fotográfica era<br />

orientada para os aspectos técnicos, sentindo-se apenas a influência de meia dúzia de grandes<br />

fotógrafos internacionais consagrados, cuja obra nos chegava através de revistas. Raramente<br />

nos era possível observar provas originais, a não ser as produzi<strong>das</strong> por nós próprios.<br />

O estudo da conservação de fotografia abriu-me as portas a um novo mundo. A simples<br />

observação <strong>das</strong> colecções de fotografia em alguns museus e arquivos, sobretudo nos Estados<br />

Unidos, revelou-se tão proveitosa como o ingresso numa universidade: eram colecções ricas<br />

em trabalhos dos grandes fotógrafos do fim do século XIX, que continham sobretudo provas de<br />

autor, algumas já divulga<strong>das</strong>. A variedade de cor, textura, brilho e detalhe encontra<strong>das</strong> nestas<br />

provas era enorme: em cada caixa que abria encontrava um mundo de possibilidades. A<br />

qualidade plástica destes originais é dificil de reproduzir tipograficamente e a sua observação<br />

é uma experiência totalmente nova para quem está habituado a ver apenas reproduções,<br />

mesmo de boa qualidade.<br />

A observação de provas e negativos deteriorados revelou-se também interessante e rica de<br />

ensinamentos, pois cada forma de deterioração traduz os erros cometidos no seu<br />

manuseamento, ou a falta de condições a que foram submetidos. À medida que ia aprendendo<br />

mais sobre os vários processos fotográficos, sobre os seus materiais componentes e estrutura,<br />

mais podia concluir e explicar sobre as formas de deterioração encontra<strong>das</strong>. Cada visita a um<br />

alfarrabista ou a uma colecção particular transformava-se numa sessão de investigação e<br />

aprendizagem.<br />

1. 1. 1. A atitude perante a fotografia<br />

As colecções de fotografia constituem uma riqueza que tem vindo gradualmente a ser<br />

descoberta e reconhecida; cada vez mais se recorre a fotografias históricas para fundamentar<br />

teses sociais, projectos científicos, grandes obras, planos de intervenção urbanísticos; os<br />

grande meios de comunicação como a televisão e os jornais, frequentemente se socorrem de<br />

imagens históricas e de arquivo. De facto a fotografia é um meio único de ensino e transmissão<br />

de ideias; muitas escolas possuem colecções de fotografia e as experiências de historiar, pela<br />

imagem, regiões ou comunidades têm obtido uma adesão surpreendente por parte do público.<br />

Em alguns países, as colecções de fotografia são alvo de grandes cuidados e de orgulho<br />

nacional. São amplamente divulga<strong>das</strong> em catálogos, as exposições históricas circulam e sãolhes<br />

presta<strong>das</strong> as honras que merecem. Investe-se na construção de arquivos e museus para<br />

que as colecções fiquem condignamente instala<strong>das</strong> e sejam preserva<strong>das</strong>. Em Portugal esta<br />

atitude tem uma escala mais modesta: as instituições que têm investido na conservação e<br />

organização <strong>das</strong> suas colecções, têm visto os seus esforços recompensados pelo crescente<br />

número de visitantes e pelo reconhecimento público da realização de um bom trabalho.<br />

Em 150 anos de fotografia podemos dizer que muita coisa mudou: os materiais, os processos<br />

de fabrico, a aparência <strong>das</strong> imagens. No entanto e fundamentalmente mudou a nossa atitude<br />

face à fotografia: hoje em dia ela está tão presente e em tão grande quantidade que quase não<br />

reparamos nela. De objectos preciosos e únicos, que eram nos primeiros tempos, as<br />

fotografias passaram a objectos banais, que entulham gavetas e em que chegamos a tropeçar.<br />

As fotografias são maltrata<strong>das</strong> ou destruí<strong>das</strong> sem contemplação, é frequente ver colecções de<br />

família, mesmo do século XIX, serem lança<strong>das</strong> para o lixo como móveis antiquados. Se do<br />

ponto de vista científico e museológico a conservação de fotografia avançou muito nos últimos<br />

20 anos, a verdade é que a falta de atenção e cuidado tende a generalizar-se.<br />

Hoje o mundo tem mais fotografias do que pode consumir. A fotografia está e esteve quase<br />

desde o início ligada a uma grande produção; aliás, não há outra forma de expressão a que a<br />

palavra “muito” esteja mais associada do que a fotografia; não dizemos “fui a um museu ver<br />

muitas pinturas a óleo”, nem “hoje li muitas poesias” ou passei pela biblioteca e trouxe “muitos<br />

romances”; contudo quando referimos a fotografia, a palavra “muito” surge naturalmente:<br />

alguém viajou e tirou “muitas fotografias”; um fotógrafo chega e traz “muitas fotografias” novas<br />

para mostrar; erradamente, associa-se a qualidade à quantidade, parece que só em grande<br />

quantidade a fotografia tem importância ou significado; uma fotografia isolada não terá valor ou<br />

utilidade?


A maior parte <strong>das</strong> instituições que possuem colecções de fotografia vêem-se precisamente a<br />

braços com este problema: têm milhares de negativos, provas ou diapositivos para preservar;<br />

cuidar de duas ou três fotografias é uma coisa, cuidar de cem mil é algo de totalmente<br />

diferente; é que nem sabemos por onde começar, será que temos de as conservar to<strong>das</strong>, de<br />

lhes dar a to<strong>das</strong> a mesma importância? valerá a pena arquivar tudo? Mesmo que hoje digamos<br />

que sim, acabaremos mais tarde por mudar de opinião.<br />

1. 1. 2. A definição de períodos na evolução <strong>das</strong> <strong>técnicas</strong><br />

Já referi que a observação de colecções de fotografia é interessante e rica de ensinamentos;<br />

as colecções de fotografia englobam uma diversidade de <strong>técnicas</strong> e contam a própria <strong>História</strong><br />

da Fotografia. Para os responsáveis por colecções, esta diversidade de processos, com os<br />

seus diferentes materiais, cores, superfícies, formas de apresentação e deterioração, constitui<br />

um desafio à sua capacidade de identificar, descrever, organizar e preservar. No sentido de<br />

familiarizar os leitores com os vários processos fotográficos, abordaremos agora a evolução<br />

técnica da fotografia, desde os seus primeiros tempos até hoje.<br />

Designo por processo fotográfico o conjunto de procedimentos e processos químicos e<br />

fotoquímicos que conduzem ao fabrico de uma fotografia. Cada fotografia foi produzida por um<br />

processo fotográfico, que é possível identificar e que determina a sua estrutura e materiais<br />

componentes. Nos primeiros tempos da fotografia, todo o processo era realizado pelo<br />

fotógrafo, no seu estúdio ou em casa, a partir de materiais tão simples como papel, vidro e sais<br />

de prata. Com a industrialização, o fabrico <strong>das</strong> fotografias passou gradualmente para a<br />

indústria de produção e de foto-acabamento, os fotógrafos passaram a usufruir de materiais<br />

mais elaborados, ficando apenas com as tarefas de expor, revelar e imprimir.<br />

Alguns processos fotográficos foram tão importantes que, durante algum tempo, foram mais<br />

usados do que qualquer outro, dominando completamente a produção fotográfica. A <strong>História</strong> da<br />

fotografia pode ser dividida, por razões de estudo e de método, em grandes períodos<br />

consoante a técnica fotográfica dominante. Esses períodos são os seguintes:<br />

· Período da daguerreotipia: de 1839 a 1855<br />

· Período dos negativos em vidro de colódio húmido e <strong>das</strong> provas de albumina: de 1855<br />

a 1880<br />

· Período dos negativos em vidro de gelatina e brometo de prata e <strong>das</strong> provas em papel<br />

directo de fabrico industrial (de gelatina ou colódio): de 1880 a 1910<br />

· Período dos negativos em película e <strong>das</strong> provas em papel de revelação: de 1910 a<br />

1970<br />

· Período da fotografia a cor cromogénea: de 1970 até hoje.<br />

Estas datas são em geral aceites na maior parte dos países, embora possam variar um pouco<br />

em alguns casos. Trataremos agora, detalhadamente, cada um destes períodos da <strong>História</strong> da<br />

Fotografia e os processos correspondentes.<br />

1. 2. Período da daguerreotipia (1839~1855)<br />

O Daguerreótipo foi o primeiro processo fotográfico que se tornou conhecido e utilizado por<br />

muita gente. A sua invenção, anunciada a 7 de Janeiro de 1839, deveu-se a um pintor e<br />

inventor francês, Louis Jacques Mandé Daguerre; o segredo do seu fabrico foi revelado ao<br />

mundo apenas em Agosto desse ano, quando o estado francês comprou a Daguerre a patente<br />

e tornou livre a sua utilização. A onda de entusiasmo por este invento não tem paralelo na<br />

<strong>História</strong> da Fotografia: a daguerreotipia espalhou-se rapidamente pela Europa e América e<br />

depois pelo resto do mundo. Apareceram fotógrafos em to<strong>das</strong> as grandes cidades do velho e<br />

novo continente; em 1840 já havia fotógrafos nas ilhas do Pacífico ; organizaram-se excursões<br />

ao Médio Oriente e ao Egipto para fotografar os monumentos e locais santos e foram<br />

publicados álbuns com litografias copia<strong>das</strong> destas primeiras imagens. Nos 20 anos que se<br />

seguiram, a daguerreotipia foi praticada com furor por toda a Europa e pelos Estados Unidos,<br />

daí que se encontrem com frequência, em colecções de fotografia históricas, imagens desse<br />

período. Uma razão para tão grande êxito residia na capacidade que o daguerreótipo tinha de


eproduzir com muito detalhe todos os pormenores da cena real, como nenhum pintor o tinha<br />

feito.<br />

1. 2. 1. O Daguerreótipo<br />

O que é então um daguerreótipo? É uma imagem fotográfica, que tem por base uma chapa de<br />

cobre coberta com uma camada de prata polida. As zonas claras são forma<strong>das</strong> por uma<br />

amálgama de mercúrio e prata e as zonas escuras são apenas a prata polida reflectindo uma<br />

superfície negra. A imagem é claramente perceptível quando é vista de modo a reflectir uma<br />

superfície negra e nessa situação o observador vê um positivo; quando o daguerreótipo é<br />

observado de modo a reflectir uma superfície branca a imagem aparece negativa. O<br />

daguerreótipo era protegido dentro de um estojo com cobertura, que ao abrir ajudava a criar a<br />

zona escura necessária à correcta leitura da imagem. O daguerreótipo permanece associado<br />

ainda hoje a este característico estojo.<br />

O processo era baseado na sensibilidade à luz de um sal de prata, como o iodeto de prata, que<br />

se decompõe em iodo e prata. Para fazer um daguerreótipo, o fotógrafo usava uma chapa de<br />

cobre polida, prateada por um processo galvânico. Depois, a chapa era escrupulosamente<br />

polida, até a superfície ganhar a reflexão de um espelho. Era exposta a vapores de iodo,<br />

tornando-se dourada e sensível à luz. Ao abrigo da luz, o fotógrafo colocava a chapa na<br />

câmara fotográfica e fazia então a exposição à luz, que se prolongava por alguns minutos. A<br />

imagem só aparecia mais tarde, quando a chapa era submetida à acção de vapores de<br />

mercúrio. O mercúrio aderia às zonas expostas, formando uma amálgama branca de mercúrio<br />

e prata, as zonas não expostas, onde permanecia o iodeto de prata, não reagiam com o<br />

mercúrio. A chapa era depois fixada, sendo removido o iodeto de prata e finalmente, lavada e<br />

seca.<br />

1. 2. 2. Aperfeiçoamentos no processo<br />

Para o cidadão do século XIX o daguerreótipo era um milagre da ciência. A sua imagem era a<br />

verdade nua e crua, pois era totalmente produzida por uma máquina, não passando pelo olho<br />

nem pela mão de um artista. Toda a próspera burguesia de então queria ter o seu retrato e<br />

constituía um mercado potencial para os recém convertidos a fotógrafos; no entanto os tempos<br />

de exposição necessários inicialmente eram demasiado longos para que se obtivessem<br />

retratos nítidos. Três aperfeiçoamentos no processo vieram permitir a redução do tempo de<br />

exposição para apenas alguns segundos: foram eles a sensibilização da prata alternadamente<br />

com vapores de bromo e vapores de iodo, o que permitiu aumentar a sensibilidade de 10 a 100<br />

vezes ; o aparecimento no mercado de novas objectivas, mais luminosas, desenha<strong>das</strong><br />

especificamente para a fotografia; e os aperfeiçoamentos na iluminação dos estúdios, que<br />

passaram a ser salas envidraça<strong>das</strong>, muitas delas construí<strong>das</strong> no topo de prédios. Desta forma,<br />

depois de 1841, os retratos passaram a figurar entre as grandes utilizações do daguerreótipo e<br />

o número de estúdios aumentou sempre durante os primeiros anos de fotografia. Fizeram-se<br />

milhões de retratos, que constituiram a forma de utilização mais popular dos daguerreótipos e a<br />

mais frequentemente encontrada em colecções de fotografia.<br />

Os meios técnicos então disponíveis não permitiam reproduzir facilmente a imagem de um<br />

daguerreótipo e assim cada um constituia uma preciosidade, que se oferecia aos mais<br />

próximos, como o retrato que o soldado deixava antes de partir para a guerra. O estojo ajudava<br />

a criar a atmosfera de objecto íntimo e único. Esta característica constituiu, no entanto, um<br />

inconveniente à sua divulgação e popularização, pois o público desejava um processo que se<br />

pudesse reproduzir facilmente. A popularidade do daguerreótipo decaiu quando surgiram os<br />

negativos em vidro, sendo abandonado na década de 1860.<br />

1. 2. 3. O Calótipo<br />

Quando a invenção do Daguerreótipo foi anunciada, apareceram outros igualmente a reclamar<br />

para si a invenção da fotografia. Um deles foi o inglês William Henry Fox Talbot, que em 1835<br />

tinha conseguido registar, por meio de luz, a silhueta de ren<strong>das</strong>, folhas de árvores e outros<br />

objectos opacos, sobre uma folha de papel. Talbot tinha impregnado uma folha de papel com<br />

sais de prata, tornando-a sensível à luz. Quando exposta ao sol, o cloreto de prata escurecia e


ao fim de alguns minutos formava-se uma imagem de fundo avermelhado, com a silhueta dos<br />

objectos recortada. A imagem continuaria a escurecer se os sais sensíveis à luz não fossem<br />

removidos e, para o fazer, Talbot usou uma solução concentrada de cloreto de sódio. Designou<br />

estas provas como “desenhos fotogénicos”. Sendo escuras as zonas expostas à luz, a imagem<br />

formada era um negativo.<br />

O passo seguinte seria registar a imagem formada no fundo da câmara escura. Este aparelho<br />

já era conhecido desde o Século V e tinha sido usado como auxiliar de desenho durante o<br />

Renascimento. Talbot colocou o papel sensibilizado na câmara escura, mas os resultados que<br />

obteve foram desanimadores: a luz que chegava ao papel era insuficiente e para se obter uma<br />

imagem, era necessária uma longa exposição. Talbot abandonou a investigação até que, em<br />

1839, foi despertado pela invenção do daguerreótipo. Em 1840 descobre a imagem latente,<br />

uma <strong>das</strong> grandes descobertas em fotografia. Ao tentar definir imagem latente caímos sempre<br />

na tentação de a descrever como uma imagem invisível, o que é um pouco contraditório;<br />

imagem latente é o que fica no papel por acção da luz, o que não se vê mas está lá. Talbot<br />

verificou que uma imagem latente podia tornar-se visível por meio de um tratamento químico<br />

chamado revelação; este tratamento permitiu reduzir o tempo de exposição, que era<br />

inicialmente de cerca de uma hora, para um minuto. Talbot conseguiu assim obter imagens que<br />

incluiam pessoas.<br />

A impressão de negativos<br />

As imagens assim obti<strong>das</strong> eram negativos. Como convertê-las em positivos? Talbot<br />

sensibilizou outra folha de papel, previamente mergulhada num banho de cloreto de sódio, que<br />

colocou em contacto com o negativo e expôs ao sol, tal como havia feito antes com as ren<strong>das</strong><br />

e as folhas de árvores. A imagem resultante foi um positivo, pois era o negativo de um<br />

negativo. Talbot aperfeiçoou o processo, impregnando o papel do negativo com cera de<br />

abelha, para aumentar a transparência. Cria assim o primeiro processo negativo-positivo. A cor<br />

<strong>das</strong> provas era vermelha ou castanha, os tons eram suaves e traduziam muito bem o claroescuro<br />

do assunto. Do negativo podiam ser impressas tantas provas quantas se quisessem. A<br />

imagem inicial negativa, que parecia ser um inconveniente, revelou-se depois uma vantagem<br />

do processo.<br />

Chamamos calótipo ao conjunto do negativo em papel e da prova em papel salgado. A<br />

designação de papel salgado provém do banho inicial numa solução de sal de cozinha. As<br />

provas em papel salgado mais antigas datam do período de 1839 a 1855 ou de um pouco mais<br />

tarde. O processo teve um novo surto no início do século XX, sendo ainda hoje ocasionalmente<br />

usado por artistas. São raras as provas em papel salgado impressas a partir de calótipos.<br />

O calótipo não gozou da popularidade do daguerreótipo, em parte porque a sua imagem não<br />

era tão perfeita: apresentava uma certa granulação devida ao facto <strong>das</strong> fibras do papel do<br />

negativo aparecerem impressas no positivo; a reprodução do pormenor não era tão fina como<br />

no daguerreótipo. Para além destas questões <strong>técnicas</strong>, outras razões contribuíram para que o<br />

calótipo fosse um processo menos praticado: Talbot registou a patente do seu invento e exigiu<br />

o pagamento de direitos de autor aos fotógrafos que o quisessem utilizar comercialmente. É<br />

claro que a preferência dos fotógrafos se orientou para a daguerreotipia, livre de direitos. Os<br />

calótipos são assim raros em colecções de fotografia; a sua importância histórica advém de ter<br />

sido o primeiro processo negativo- positivo.<br />

1. 3. Período dos negativos em vidro de colódio húmido e <strong>das</strong> provas de<br />

albumina (1855~1880)<br />

O suporte ideal para negativos deve ser transparente, plano, de superfície polida, estável e<br />

barato. No ano de 1850 o material que mais se aproximava destas características era o vidro.<br />

Contudo, o vidro não era capaz de segurar os sais de prata, sendo necessário algo mais que<br />

funcionasse como um agente ligante entre o vidro e os sais de prata.<br />

1. 3. 1. Negativos em vidro de albumina


Os primeiros negativos em vidro datam de 1848; usavam clara de ovo como meio ligante dos<br />

sais de prata ao vidro. A camada de albumina, transparente e muito fina, permitia a acção dos<br />

agentes químicos de processamento. Os negativos assim obtidos reproduziam o pormenor de<br />

uma forma excelente. Depois de sensibiliza<strong>das</strong>, as chapas dos negativos de albumina podiam<br />

esperar até 15 dias antes da exposição e mais 10 a 15 dias antes da revelação, o que facilitava<br />

o seu uso em viagem. As chapas eram revela<strong>das</strong> com uma solução de ácido gálico, alternando<br />

com outra de nitrato de prata . O processo obteve algum êxito em fotografia de paisagem e de<br />

monumentos e foi ainda usado para imprimir positivos em vidro para projecção por meio de<br />

uma lanterna. A sensibilidade deste processo à luz era reduzida, as chapas requeriam tempos<br />

de exposição da ordem dos 5 a 15 minutos, não sendo adequa<strong>das</strong> para fazer retrato.<br />

1. 3. 2. Negativos em vidro de colódio húmido<br />

Em 1851 surge outro processo de fazer negativos em vidro, apresentado pelo inglês Frederich<br />

Scott Archer. Em vez de albumina, Archer usou como ligante dos sais de prata uma substância<br />

chamada colódio. O colódio é um líquido viscoso, que depois de seco forma sobre o vidro uma<br />

película transparente e impermeável. Vários fotógrafos tentaram usar o colódio para fazer<br />

negativos, sem êxito; o colódio seco é impermeável e não permite a acção <strong>das</strong> soluções de<br />

processamento. Archer teve a ideia de o usar ainda húmido, enquanto os poros permaneciam<br />

abertos e permeáveis. To<strong>das</strong> as operações da fotografia eram executa<strong>das</strong> rapidamente -<br />

sensibilização da chapa, exposição, revelação e fixagem - antes que o colódio secasse. Os<br />

negativos que obteve em 1849 foram um grande passo em frente, pois aliavam uma excelente<br />

definição a uma maior sensibilidade à luz. Os tempos de exposição oscilavam entre 10 e 100<br />

segundos para negativos de grande formato e entre 5 e 20 segundos para retratos com<br />

chapas menores. As provas em papel salgado, impressas a partir destes negativos, eram de<br />

melhor qualidade do que as obti<strong>das</strong> através dos negativos em papel.<br />

Quando divulgou o seu processo, em 1851, Archer não registou nem exigiu direitos de<br />

utilização, pelo que o processo do colódio húmido teve de imediato muitos adeptos. Desta<br />

forma encontramos negativos de colódio húmido com frequência em colecções de fotografia<br />

que abrangem este período histórico.<br />

Os fotógrafos de estúdio converteram-se em pouco tempo aos negativos de colódio húmido. As<br />

chapas eram prepara<strong>das</strong> imediatamente antes da sessão de fotografia e revela<strong>das</strong> de<br />

imediato, permitindo julgar o resultado e, se necessário, repetir com o cliente ainda no estúdio.<br />

O velho daguerreótipo, muito mais caro e lento, dando ao cliente apenas uma imagem de cada<br />

original, tornou-se obsoleto. Os negativos de albumina, inadequados para o negócio do retrato,<br />

pouco foram praticados. Em meados da década de 1850, praticamente toda a fotografia<br />

comercial era em negativos de vidro de colódio húmido.<br />

O processo do colódio húmido era um pesadelo para praticar fora do estúdio. Quem<br />

fotografasse na rua tinha de transportar consigo todos os materiais e equipamentos, que<br />

incluíam, pelo menos, uma tenda câmara escura, os produtos químicos de sensibilização e<br />

revelação, a câmara fotográfica de madeira, geralmente grande, o tripé, as chapas de vidro... e<br />

vários ajudantes. Os fotógrafos usavam então máquinas e chapas de grande formato, pois os<br />

negativos eram impressos por contacto, tendo a prova as dimensões do negativo. Os negativos<br />

podiam ir até 30x40 cm ou 50x60 cm, sendo a câmara para estes formatos de enormes<br />

dimensões e construida em madeira e latão. O tripé era de estatura correspondente. O<br />

problema do transporte do equipamento não era um dos problemas menores.<br />

É interessante notar que os dois processos referidos, de negativos em vidro, apareceram na<br />

mesma época (albumina 1848, colódio 1851), tendo vingado aquele que apresentava maiores<br />

inconvenientes práticos. De resto, o aspecto destes dois tipos de negativos era bastante<br />

semelhante. Lembremos que os negativos de albumina podiam ser previamente preparados no<br />

estúdio e as chapas leva<strong>das</strong> para a rua e mesmo expostas alguns dias depois, podendo ser<br />

processa<strong>das</strong> mais tarde, dispensando o transporte da câmara escura e demais equipamento.<br />

As chapas sensíveis à luz, com a câmara e o tripé, constituíam todo o equipamento a<br />

transportar. Contudo, os fotógrafos preferiram o processo do colódio húmido porque o negócio<br />

era o retrato. Um bom retrato exigia tempos de exposição curtos, já que uma exposição longa<br />

resultava numa pose rígida, sem vida, ou numa imagem tremida. E como fotografar uma


criança com poses de 30 segundos? O processo do colódio permitiu retratos mais naturais,<br />

realizados em poucos segundos ou fracções de segundo.<br />

1. 3. 3. Positivos directos de colódio húmido: o Ambrótipo e o Ferrótipo<br />

Com o processo do colódio húmido fizeram-se também positivos directos, em suporte de vidro<br />

ou de ferro, pois a cor castanha da imagem permitia a sua visão como um positivo, quando<br />

colocada sobre um fundo negro. Foi o francês Adolphe Martin (1824-1892) o primeiro a<br />

apresentar um processo positivo directo baseado neste principio.<br />

Em 1852 surge o Ambrótipo, que é um negativo em vidro, revestido por trás com um veludo ou<br />

cartão preto, aparecendo como um positivo. O processo, praticado como um substituto mais<br />

barato do daguerreótipo e apresentado também dentro de um estojo, teve bastante<br />

popularidade em retrato até 1880.<br />

Em 1853 surge um processo semelhante, o Ferrótipo, que tem como suporte uma chapa de<br />

ferro pintada de preto e em que a imagem aparece positiva pelas mesmas razões. O ferrótipo<br />

foi muito popular, pois era o processo fotográfico mais barato nessa época, a chapa de ferro<br />

era inquebrável, fácil de cortar em qualquer formato, sendo vulgares os de pequenas<br />

dimensões. A imagem tem aparência leitosa, não é excepcionalmente bela nem de grande<br />

riqueza tonal, as altas luzes não são brancas nem muito luminosas, o contraste possível é<br />

reduzido. Encontram-se ferrótipos em medalhões, em anéis ou outros adornos e ainda em<br />

estojos; são também frequentes em álbuns de família, datados até 1880, sendo por vezes<br />

inseridos ou colados num suporte de cartão. O processo foi praticado por fotógrafos<br />

ambulantes, nas praias, em feiras e pelas ruas.<br />

1. 3. 4. A impressão dos negativos de colódio: as provas de albumina<br />

As provas em papel salgado, de cor castanha avermelhada e sem brilho, não traduziam todo o<br />

pormenor de que o negativo de colódio húmido era capaz.<br />

Em 1849, o francês Louis Désiré Blanquard-Évrard, impressor fotográfico na cidade de Lille,<br />

sugeriu uma variação do papel salgado, que permitia resultados bem mais interessantes.<br />

Blanquard-Évrard cobriu a folha de papel com clara de ovo salgada, tornando-a brilhante como<br />

se tivesse sido coberta por verniz e depois sensibilizou-a numa solução de nitrato de prata. Os<br />

sais de prata ficavam assim suspensos nesta camada, não se afundando nas fibras do papel e<br />

as provas assim prepara<strong>das</strong>, as provas de albumina, apresentavam maior contraste, sombras<br />

mais profun<strong>das</strong> e reproduziam melhor os pormenores do que as provas em papel salgado. A<br />

albumina preenchia os poros e fibras do papel, tornando-o liso e macio. O seu contraste<br />

adequava-se milagrosamente ao contraste dos negativos de colódio húmido; as provas<br />

reproduzem com grande pormenor os tons nas sombras e nas altas luzes. O papel de albumina<br />

foi rapidamente aceite e a partir de 1855 passou a ser o papel mais usado para a impressão<br />

dos negativos de colódio húmido. A dupla colódio/albumina era tão perfeita que, durante cerca<br />

de 30 anos, até 1880, foi o processo fotográfico predominante em todo o mundo. O seu uso<br />

decaiu lentamente a partir de 1895, mas o papel albuminado continuou a ser fabricado até à<br />

década de 1930.<br />

O papel de albumina foi usado para todo o tipo de fotografia. Salientamos algumas utilizações<br />

mais comuns:<br />

· O retrato, em primeiro lugar, que foi produzido em muitos formatos e com formas de<br />

apresentação típicas; a mais vulgar, na década de 1860, foi a dos cartões de visita, em que as<br />

pequenas provas eram cola<strong>das</strong> em cartão com o nome e morada do fotógrafo. Mais tarde<br />

apareceram outros formatos (ver secção 2. 5. 1.).<br />

· Os cartões estereoscópicos foram também impressos em papel de albumina; nestes,<br />

duas provas semelhantes eram cola<strong>das</strong> lado a lado sobre um cartão, permitindo ver, com o<br />

auxílio de um visionador próprio, a imagem em relevo. Os cartões estereoscópicos foram<br />

populares durante a segunda metade do século XIX, constituindo uma forma de diversão nos<br />

serões passados em família.<br />

· Os álbuns de fotografia, para divulgação de lugares exóticos, de monumentos e de<br />

obras de arte em geral, foram outra aplicação <strong>das</strong> provas de albumina. Os editores enviavam


os seus fotógrafos pelo mundo, recolhendo imagens <strong>das</strong> pirâmides do Egipto, dos Lugares<br />

Santos no Médio Oriente, da Índia e do Japão e ainda de grandes cidades e regiões<br />

inexplora<strong>das</strong> do globo; as provas impressas em tiragens reduzi<strong>das</strong>, eram cola<strong>das</strong> em cartão e<br />

encaderna<strong>das</strong> em peles luxuosas com gravações a ouro, por vezes de grandes dimensões<br />

como 40 x 50 cm; em geral estas iniciativas obtiveram bom êxito junto do público.<br />

1. 3. 5. O processo de impressão em albumina<br />

Como era feita a impressão com o papel de albumina?<br />

As provas de albumina eram impressas ao sol, em contacto directo com o negativo. A imagem<br />

formava-se directamente por acção da luz, sem revelação e por isso se designam provas em<br />

papel directo. A exposição ao sol era demorada, podia estender-se até uma hora ou mais,<br />

conforme a intensidade da luz do sol e o negativo a imprimir. Os fotógrafos usavam prensas de<br />

impressão, para manter o negativo apertado contra o papel durante a exposição, sendo<br />

possível abrir a prensa na câmara escura e inspeccionar a evolução da impressão sem<br />

deslocar o negativo. Desta forma os fotógrafos tinham um controlo bastante grande sobre a<br />

exposição e quando a imagem atingia a tonalidade desejada era retirada do sol. Apresentava<br />

então uma cor vermelha acastanhada. Para obter uma cor mais agradável a prova era virada a<br />

ouro, ou seja era tratada num banho de cloreto de ouro, que a tornava de cor castanha ou<br />

púrpura. Finalmente eram fixa<strong>das</strong>, lava<strong>das</strong> cuidadosamente e secas.<br />

O papel albuminado industrialmente<br />

O papel de albumina era de inicio preparado integralmente pelo fotógrafo, que tinha de partir os<br />

ovos, separar claras e gemas, bater as claras, salgar e deixar fermentar. O papel era posto a<br />

flutuar sobre o banho <strong>das</strong> claras, absorvendo-as durante alguns minutos e posto a secar.<br />

Obtinha-se assim papel albuminado, que era armazenado até ser necessário. Para imprimir, a<br />

folha de papel era sensibilizada por flutuação sobre uma solução de nitrato de prata, secava<br />

no escuro e era colocada na prensa ao sol. As operações necessárias para realizar a<br />

impressão eram muitas e trabalhosas e como a procura era grande, o papel de albumina<br />

industrial apareceu no mercado, em 1854 . Este era mais perfeito, mais prático e dava<br />

resultados mais consistentes do que o papel albuminado pelo próprio fotógrafo; com ele as<br />

operações eram simplifica<strong>das</strong>, consistindo apenas no sensibilizar do papel com nitrato de prata<br />

antes da exposição. Foi em Dresden, na Alemanha, que se concentraram as fábricas de papel<br />

albuminado. A indústria atingiu grandes proporções, chegando a ser oferecida ao público uma<br />

gama variada de superfícies e gramagens de papel albuminado. Produziu-se papel corado de<br />

azul e cor-de-rosa, que disfarçava a tendência da albumina para amarelecer. A título de<br />

curiosidade, podemos acrescentar que apenas uma <strong>das</strong> empresas consumiu, durante o ano de<br />

1888, seis milhões de ovos.<br />

Outras formas de impressão<br />

Basta olhar para as provas de albumina para ter uma ideia de como são frágeis. As albuminas<br />

que vemos hoje dão-nos apenas uma pálida ideia da sua beleza original, pois a maior parte<br />

amareleceu, perdeu muito do contraste inicial e os pormenores mais delicados já não são<br />

visíveis. Estamos tão habituados a ver provas de albumina amarela<strong>das</strong> que associamos<br />

automaticamente provas amarelas a fotografia do século XIX. Esta instabilidade preocupou os<br />

fotógrafos e foi motivo para algum descrédito da fotografia. O Fading Comitee, proposto em<br />

1855 pelo Príncipe Alberto de Inglaterra para estudar o problema, concluiu que a deterioração<br />

<strong>das</strong> provas estava relacionada com deficiências na sua fixação e lavagem, com a humidade e a<br />

poluição atmosférica . Conclusões certas, que não evitaram que as provas continuassem a<br />

deteriorar.<br />

Outras formas de impressão foram então procura<strong>das</strong>, tendo surgido uma série de novos<br />

processos, muito mais estáveis, que não usavam nem a prata nem os sais de prata na sua<br />

execução; usavam antes outros metais ou compostos metálicos ou ainda os pigmentos. Os<br />

dois processos mais importantes, foram a impressão em carvão e a impressão em platina.<br />

1. 3. 6. A impressão em papel de carvão<br />

O papel de carvão apareceu no mercado em 1864 ostentando a designação de papel<br />

permanente. Não existe prata neste processo: a imagem é formada por um pigmento disperso


em gelatina e o princípio de funcionamento nada tem a ver com sais de prata. A substância<br />

sensível à luz é a gelatina impregnada de sais de crómio, que endurece e mantém o pigmento<br />

agarrado nas zonas expostas à luz solar; nas zonas não expostas, a gelatina não endurece e<br />

desfaz-se em água. O pigmento pode ser o carvão em pó, ou qualquer outro de qualquer cor; a<br />

designação, que se generalizou “prova em carvão”, provem do primeiro pigmento usado,<br />

precisamente o pó de carvão. São provas sem dúvida permanentes, pois não desvanecem<br />

nem alteram a sua cor, mesmo em condições adversas. Ainda assim, o público aderiu apenas<br />

moderadamente a este novo processo, bem mais caro e difícil de executar do que a impressão<br />

em albumina. A sua realização exigia uma grande habilidade por parte do impressor uma vez<br />

que era necessário fazer uma transferência da imagem em gelatina para outro papel de<br />

suporte. Os papéis de carvão eram comercializados em três graus de contraste e as cores mais<br />

frequentes eram o castanho e o preto. Este processo também foi designado por Fotografia<br />

Permanente e Cromotipia e foi praticado desde a década de 1860 até cerca de 1940.<br />

Alguns fotógrafos imprimiam retratos em papel de carvão para o grande público e até retratos<br />

de pequeno formato em cartões de visita. As provas em carvão são frequentes em álbuns de<br />

paisagens e monumentos, em imagens de obras de arte e retratos de pessoas famosas.<br />

Firmas como a Adolphe Braun, em França e a Hanfstangl na Alemanha produziram grandes<br />

edições de fotografias de objectos de arte em papel de carvão. Em Inglaterra, o papel de<br />

carvão era produzido com o nome comercial de Autotype e foi comercializado até meados do<br />

século XX. Em Lisboa, pelo menos um estúdio, a Fotografia Popular, imprimia os retratos em<br />

papel de carvão, nos formatos cartão de visita e cabinet.<br />

1. 3. 7. A impressão em papel de platina<br />

A impressão em papel de platina, ou platinotipia, foi tornada prática pelo inglês William Willis,<br />

que patenteou o seu processo em 1873. Willis foi capaz de usar a sensibilidade à luz dos sais<br />

de ferro, já há muito conhecida, para reduzir um composto de platina e criar a partir daí,<br />

imagens <strong>fotográficas</strong> de muito boa qualidade. Depois de exposta à luz do sol em contacto com<br />

o negativo, a prova era revelada, formando-se a imagem de cor neutra que era então fixada<br />

num banho ácido. Willis aperfeiçoou várias vezes o processo, tendo chegado a resultados tão<br />

bons que iniciou a produção industrial deste papel: fundou a Platinotype Company, com sede<br />

em Londres e fabricou a partir de 1880 papel de platina em três tipos de superfícies (texturada,<br />

lisa e semi-mate) e em várias cores. Outros inventores anunciaram variações a este processo,<br />

entre eles os austríacos Pizzighelli e Hubl, anunciaram uma forma mais simples do processo,<br />

sem necessidade de revelação, que se designou papel directo de platina. Na última década do<br />

século XIX, a impressão em platina ganha popularidade e outros fabricantes entram no<br />

mercado, entre eles a Ilford e a Hesekiel em Inglaterra e a Gevaert na Bélgica. Nos Estados<br />

Unidos, o papel de platina foi produzido pela Aristotype Co., pela Ansco e pela Eastman Kodak<br />

que, a partir de 1906, produz o papel de platina Angelo . Em 1913 a Platinotype Company<br />

fabricou um papel de prata e platina designado Satista . A popularidade do papel de platina foi<br />

crescendo, tendo atingido o auge nesta década. Contudo, no início da Primeira Grande Guerra,<br />

a subida de preço da platina tornou-o impraticável; a Kodak cessou a produção deste papel em<br />

1916; a Platinotype Company lançou no mercado, em 1916, o Papel de Paládio, em tudo<br />

semelhante ao de platina, mas com um preço mais baixo e continuou a produção de papel de<br />

platina até 1930 . O papel de platina também era possível de ser preparado pelo fotógrafo, a<br />

partir de papel de escrita de boa qualidade e de produtos químicos. É desta forma que alguns<br />

artistas praticam este processo ainda hoje.<br />

As provas em platina apresentam imagens de excelente qualidade, de cor neutra, sem brilho e<br />

com uma paleta de cinzentos riquíssima, com inúmeras tonalidades e subtis variações de tom.<br />

A sua contemplação é um verdadeiro prazer. Para além disso, é uma imagem muito estável. O<br />

aparecimento deste papel, com aspecto tão diferente operou uma pequena revolução nos<br />

gostos fotográficos do público, habituado ao longo de 40 anos à cor quente e superfície<br />

brilhante <strong>das</strong> provas de albumina. Era sinal de prosperidade e de gosto requintado ter o seu<br />

retrato impresso em platina. Os grandes profissionais do retrato ofereciam aos seus clientes a<br />

escolha da impressão em platina como um artigo de luxo. No início do século XX, no meio<br />

artístico e literário, o papel de platina veio contribuir significativamente para a criação de uma<br />

nova estética e para estabelecer a fotografia como uma forma de arte. Nos salões de fotografia<br />

dessa época, as provas em platina eram assim frequentes e muito bem cota<strong>das</strong>.


O seu preço elevado impediu que o número de clientes se alargasse para além da aristocracia.<br />

Aproveitando o interesse do público por provas de cor neutra e sem brilho, os fabricantes<br />

desenvolveram outros papéis à base de prata, com as características do papel de platina por<br />

um preço menor, como o papel de colódio mate virado a ouro e platina, que descrevemos um<br />

pouco mais à frente, na secção 1. 4. 3.<br />

1. 3. 8. Negativos em vidro de colódio seco<br />

Os inconvenientes do processo do colódio húmido levaram os fotógrafos a tentar alterações<br />

que facilitassem a execução do processo e dispensassem a sensibilização e revelação no<br />

momento em que fotografavam. Foram tenta<strong>das</strong> inúmeras variações para manter o colódio<br />

húmido durante mais tempo. Algumas incluíam substâncias bem familiares como o mel, o<br />

açúcar, a resina e a albumina, que eram adiciona<strong>das</strong> ao colódio. Uma <strong>das</strong> variações mais bem<br />

sucedi<strong>das</strong>, sugerida por Norris, cobria de gelatina a camada de colódio húmido já sensibilizada.<br />

A sensibilidade à luz, destas primeiras chapas de colódio seco, era metade da sensibilidade<br />

<strong>das</strong> chapas húmi<strong>das</strong>. Depois de prepara<strong>das</strong>, as chapas conservavam-se durante seis meses, o<br />

suficiente para serem transporta<strong>das</strong> em viagem e expostas, sem necessidade de câmara<br />

escura no local; podiam aguardar o processamento durante mais alguns meses. Estas<br />

inovações permitiram a preparação industrial de chapas de colódio seco. A Patent Dry<br />

Collodion Plate Co. iniciou a produção industrial de chapas secas em 1856, que manteve até<br />

1866. Em 1860 aparecem as chapas extra rápi<strong>das</strong>, com sensibilidade semelhante às de<br />

colódio húmido e que se conservavam sensíveis por um ano. Apesar destas grandes<br />

inovações, o processo do colódio húmido continuou a ser mais usado.<br />

1. 4. Período dos negativos em vidro de gelatina e brometo de prata e <strong>das</strong><br />

provas em papel directo de fabrico industrial, (1880~1910)<br />

Foram necessários mais 10 anos de experimentação para que a gelatina entrasse<br />

definitivamente na tecnologia da fotografia. A gelatina é hoje universalmente usada na<br />

suspensão dos sais de prata, dos grãos de prata ou dos corantes em todos os processos<br />

fotográficos contemporâneos. O inglês Maddox foi o primeiro a tornar prático o seu uso, em<br />

1871. Maddox espalhou sobre o vidro uma solução de gelatina com vários sais de prata, em<br />

que eram predominantes os sais de brometo de prata, formando-se uma fina película que se<br />

denominava como emulsão (trata-se na verdade de uma suspensão). Depois de seca, a<br />

emulsão permanecia firmemente agarrada ao vidro e mantinha-se inalterável durante bastante<br />

tempo. Quando a chapa era processada, a gelatina inchava, abria poros e permitia que as<br />

soluções penetrassem e reagissem com os sais. Depois de seca, a gelatina voltava ao seu<br />

estado inicial.<br />

Para além da gelatina, este processo trouxe à fotografia outra grande novidade: o uso de uma<br />

emulsão sensível à luz. Os processos que vimos até agora não usam emulsão, a substância<br />

sensível à luz é aplicada no final da preparação do papel ou vidro, por meio de um banho. O<br />

uso de uma emulsão foi um importante passo em frente para permitir a produção industrial de<br />

chapas <strong>fotográficas</strong>, mas havia ainda um longo caminho a percorrer até se chegar à perfeição<br />

da fotografia de hoje. Esta evolução foi obra de vários investigadores.<br />

1. 4. 1. Aperfeiçoamentos no processo<br />

De entre os aperfeiçoamentos operados no processo inicial de Maddox, que nos conduziram às<br />

emulsões a preto e branco de hoje, os mais importantes foram os seguintes:<br />

· A solidificação e lavagem da emulsão de gelatina para remover todos os sais solúveis<br />

estranhos ao processo fotográfico, antes de ser aplicada sobre as chapas de vidro.<br />

· O processo de ripagem, descoberto por Swan e Bennett, que consiste no aquecimento<br />

da gelatina e cristais de prata durante algum tempo, a uma temperatura moderada. Os cristais<br />

de brometo de prata crescem dentro da gelatina e a sua sensibilidade à luz cresce também.<br />

· A operação de sensibilização, que consiste em acrescentar à emulsão pequenas<br />

quantidades de substâncias sensibilizadoras, como o enxofre, o ouro ou a amónia, que formam


imperfeições na superfície dos cristais de brometo de prata, tornando o edifício cristalino mais<br />

frágil à luz e aumentando a sensibilidade da emulsão fotográfica entre 10 a 100 vezes.<br />

· A utilização de reveladores alcalinos, que permite obter melhores resultados com a<br />

emulsão de gelatina.<br />

O resultado final destes aperfeiçoamentos foi uma muito maior sensibilidade à luz. O tempo de<br />

exposição com as chapas de gelatina passou a 1/2 segundo em 1880 e a 1/30 segundo no final<br />

do século XIX. Este aumento de sensibilidade abriu portas a novas formas de utilização<br />

capazes de registar o movimento de pessoas e objectos e permitiu a invenção do cinema. As<br />

chapas de gelatina foram comercializa<strong>das</strong> de várias formas, durante a década de 1870. Em<br />

1873 aparece no mercado uma emulsão líquida de gelatina, da autoria de Burguess, para os<br />

fotógrafos revestirem as suas próprias chapas. Nesse mesmo ano, Richard Kennett<br />

comercializou emulsão sob a forma de películas de gelatina, que deviam ser diluí<strong>das</strong> em água<br />

quente antes de cobrir as chapas. Pequenos fabricantes de negativos em vidro e gelatina<br />

começaram a surgir nesta década, em vários países da Europa e nos Estados Unidos.<br />

Os amadores aderiram prontamente a este novo processo, muito mais prático e sensível à luz<br />

que o anterior. Os profissionais tiveram uma certa relutância em mudar, pois estavam<br />

habituados a trabalhar com emulsões mais lentas. Alguns rejeitavam a "excessiva"<br />

sensibilidade <strong>das</strong> chapas, que resultava em negativos sobre-expostos ou velados. Foi<br />

necessário aperfeiçoar o obturador para conseguir tempos de exposição rigorosos, de fracções<br />

de segundo; o sistema de retirar, por alguns segundos, a tampa da objectiva para a exposição,<br />

não funcionava com negativos de gelatina. Maiores cuidados foram também postos na<br />

calafetagem <strong>das</strong> câmaras escuras, tarefa até então levada pouco a sério pelos fotógrafos do<br />

colódio húmido. No início da década de 1880, todos os fotógrafos estavam já convertidos aos<br />

negativos de gelatina e o processo do colódio húmido chegara ao fim dos seus dias, depois de<br />

ter cumprido exemplarmente a sua missão histórica durante 30 anos. Os últimos 20 anos do<br />

século XIX iriam ser para a fotografia os anos <strong>das</strong> grandes transformações.<br />

1. 4. 2. O desenvolvimento da indústria fotográfica<br />

Foi por esta época que a fotografia passou a indústria concentrada de grandes dimensões. Na<br />

década de 1880, as pequenas fábricas de negativos viram as suas ven<strong>das</strong> anuais crescer mais<br />

do que podiam prever, o que gerou o aumento do número dos centros produtores. Em 1878,<br />

quatro firmas inglesas produziam chapas secas; no ano seguinte eram já catorze e outras<br />

havia que produziam emulsões líqui<strong>das</strong> . Os fabricantes substituíram os métodos artesanais de<br />

produção por produção mecanizada. A firma inglesa Wratten & Wainwright, por exemplo,<br />

fabricava inicialmente a emulsão de gelatina em panelas, na própria cozinha da senhora<br />

Wratten, sendo os vidros revestidos manualmente por meio de um bule de chá; uma panela de<br />

emulsão dava para encher 20 bules . As chapas assim fabrica<strong>das</strong> eram de grande qualidade e<br />

a empresa progrediu, passando a mecanizar o revestimento de chapas. Em 1877 fabricavam<br />

chapas 15 vezes mais sensíveis do que as de colódio húmido e em 1879 produziam as London<br />

Instantaneous Plates, 40 vezes mais sensíveis.<br />

George Eastman, nos Estados Unidos, começou em 1880 a produzir negativos de vidro na<br />

cozinha da sua mãe. As suas ven<strong>das</strong> foram crescendo e a sua firma, a Eastman Kodak<br />

Company, tornou-se uma poderosa multinacional, com milhares de empregados e várias<br />

fábricas nos Estados Unidos e em Inglaterra. O segredo desta evolução assentou na<br />

simplificação de processos, na publicidade, na redução dos preços e na distribuição alargada<br />

de produtos, permitindo o acesso à fotografia de um público mais vasto e não especializado.<br />

Eastman conseguiu fabricar câmaras <strong>fotográficas</strong> muito simples e em grande quantidade,<br />

mantendo uma qualidade aceitável.<br />

1. 4. 3. O papel de impressão directo de fabrico industrial<br />

A industrialização da fotografia estendeu-se também aos papéis de impressão. Na década de<br />

1880, foram introduzidos no mercado os papéis fotográficos de gelatina e colódio de fabrico<br />

industrial, com emulsão de cloreto de prata, de brometo de prata ou de cloro- brometo de prata.<br />

Várias inovações permitiram obtê-los com melhor qualidade do que os papéis de albumina. Em<br />

primeiro lugar, estes eram papéis de emulsão, pois eram sensíveis à luz desde o momento do


seu fabrico; eram por isso mais práticos de usar e mais consistentes no seu comportamento de<br />

caixa para caixa. Outra grande inovação foi a mecanização da aplicação da emulsão, o que<br />

permitia maior uniformidade, melhor qualidade da prova e um preço de produção inferior. Muito<br />

importante também foi o revestimento do papel com um substracto de sulfato de bário e<br />

gelatina, aplicado antes da emulsão, designado por camada de barita. A barita é um material<br />

opaco, de cor branca, que dá ao papel uma superfície mais lisa e permite acabamentos<br />

brilhante, mate ou texturado. Surgiram no mercado muitos papéis com uma grande variedade<br />

de superfícies, que satisfaziam todos os gostos. O papel de gelatina ou colódio não amarelece<br />

facilmente, o que constitui outra grande vantagem sobre o papel de albumina. Os papéis<br />

fotográficos de fabrico industrial foram produzidos tanto para impressão directa como para<br />

revelação.<br />

O papel directo de fabrico industrial<br />

A designação genérica papéis directos refere todos os processos de impressão em prata, em<br />

que a formação da imagem se deve apenas à acção da luz solar, sem se recorrer a revelação.<br />

Para além dos papéis de gelatina e colódio, são também papéis directos o papel de albumina e<br />

outros, que veremos adiante. O processamento destes papéis consistia normalmente numa<br />

viragem a ouro, seguida de fixação e lavagem.<br />

Os papéis fotográficos directos, de colódio e gelatina foram produzidos industrialmente a partir<br />

da década de 1880 e decaíram a partir de 1910. A sua época de ouro vai de 1895 até 1905 e<br />

nesse período, foram o papel fotográfico mais consumido no mundo.<br />

Nos últimos 20 anos do século XIX e ainda nos primeiros anos do século XX, o papel<br />

fotográfico directo foi produzido numa grande variedade de texturas, cores e brilhos.<br />

Encontramos provas em papel sem brilho, brilhante ou muito brilhante, de superfície texturada<br />

ou não e ainda papéis corados com tonalidades rosa ou azulada. De entre estas variedades<br />

destacamos os papéis de superfície brilhante e muito brilhante, por serem os mais utilizados<br />

em retrato e hoje em dia muito correntes em colecções de fotografia e álbuns familiares.<br />

Nestas provas a camada de barita era muito espessa (resultava da sobreposição de<br />

sucessivas cama<strong>das</strong>), e ocultava totalmente as fibras e outras irregularidades do papel,<br />

conseguindo-se superfícies perfeitamente lisas; as superfícies muito brilhantes são<br />

características dos papéis de colódio.<br />

Os papéis directos de gelatina e colódio tiveram outras designações, algumas com origem em<br />

nomes comerciais: foram chamados de Papéis de Celoidine, Papéis de Citrato e Aristótipos. A<br />

designação Aristótipo designa papel de gelatina na Europa e papel de colódio nos Estados<br />

Unidos. Genericamente em língua inglesa, referem-se estes papéis como Printing-out-Paper,<br />

ou seja, papel em que a imagem se forma por acção da luz. As abreviaturas POP, printing-outpaper<br />

e DOP, developing-out-paper (papel de revelação), foram usa<strong>das</strong> inicialmente pela Ilford<br />

em 1891 . A Kodak manteve a produção do último papel directo de gelatina, o Studio Proof, até<br />

1987; era destinado a provas de escolha de retratos, que eram entregues aos clientes<br />

gratuitamente; como não eram fixa<strong>das</strong>, tinham um tempo de vida limitado.<br />

O papel de colódio mate virado a ouro e platina<br />

Entre os inúmeros papéis fotográficos de fabrico industrial do final do século XIX, merece<br />

especial referência o Papel de Colódio Mate Virado a Ouro e Platina. Este papel directo, de<br />

produção industrial, surgiu no mercado nos primeiros anos da década de 1890 e rapidamente<br />

se tornou o papel mais usado para retrato em estúdio, sobretudo no período da viragem do<br />

século (1895~1905); a sua utilização começou a decair na década de 1910 e acabou por<br />

desaparecer do mercado na década de 1920. A referência a este papel é obrigatória não só<br />

pelas quantidades consumi<strong>das</strong>, como pela qualidade excepcional <strong>das</strong> suas provas: apresentam<br />

cor neutra, negros profundos, uma excelente reprodução tonal e grande riqueza de pormenor<br />

nas zonas mais claras; a superfície não tem brilho pois a camada de barita, muito fina, deixa<br />

perceber as irregularidades da superfície do papel. A sua cor neutra resulta da viragem dupla<br />

recomendada pelo fabricante, primeiro a ouro e depois a platina. Esta cor neutra e a superfície<br />

mate foram inspira<strong>das</strong> no papel de platina, que os fabricantes tentavam imitar por processos<br />

mais baratos. A viragem a ouro e platina não era obrigatória, encontrando-se algumas provas<br />

não vira<strong>das</strong> (de cor castanha avermelhada) ou vira<strong>das</strong> apenas a ouro (de cor púrpura).


Este papel produzia imagens de tão boa qualidade e tão estáveis que, mesmo hoje, não foi<br />

ultrapassado por outros papéis de prata. A sua imagem não desvanece nem amarelece,<br />

mesmo em condições adversas. Os exemplares que encontramos hoje, com cerca de 100 anos<br />

de idade, estão, em geral, em excelente estado de conservação e destacam-se <strong>das</strong> provas<br />

noutros processos da mesma época.<br />

1. 5. Período dos negativos em película e <strong>das</strong> provas em papel de revelação,<br />

(1910-1970)<br />

1. 5. 1. Negativos em película<br />

A criação de um novo suporte para negativos tornou-se inevitável. O vidro é<br />

um material volumoso, pesado, muito frágil e só podia ser usado em placas individuais, o que<br />

tornava a operação de fotografar muito difícil. Uma tira de película flexível, enrolada num<br />

pequeno rolo, podia produzir muitos negativos, era facilmente transportável e não pesava<br />

muito. No final de século XIX a fotografia visava atingir o grande público e a simplificação dos<br />

processos era inevitável. O vidro era sem dúvida um dos obstáculos a remover.<br />

George Eastman produziu e comercializou em 1885, um rolo fotográfico em que a emulsão de<br />

gelatina e brometo de prata assentava numa tira de papel. Neste primeiro rolo fotográfico, o<br />

papel de suporte era previamente tratado com gelatina e calandrado, para tornar a superfície o<br />

mais lisa possível; só depois era coberto com a emulsão. Após serem expostos e processados,<br />

os negativos eram impregnados em óleo de rícino (Ricinus communi ou castor oil plant), para<br />

dar maior transparência ao papel na impressão. Com W. H. Walker, Eastman comercializou um<br />

carregador que permitia usar o seu rolo em qualquer máquina fotográfica de grande formato.<br />

Este sistema era de certa forma um regresso ao velho Calótipo de Talbot: em ambos os<br />

processos, as fibras do negativo em papel deixam alguma granulação na prova final e não<br />

apresentam a gama tonal dos negativos de vidro.<br />

O rolo de papel foi posteriormente substituído pelo Eastman American Film, produzido entre<br />

1885 (?) e 1889, para superar o inconveniente da imagem granulosa. Neste novo rolo, a<br />

emulsão de gelatina era também aplicada sobre papel, mas entre papel e emulsão fora incluida<br />

uma terceira camada de gelatina solúvel em água quente. Depois de exposto e processado o<br />

rolo fotográfico, o papel era destacado da emulsão com água quente (que dissolvia a camada<br />

intermédia de gelatina), sendo aplicada nova camada de gelatina para reforçar a estrutura do<br />

negativo final. As provas assim obti<strong>das</strong> eram isentas de granulação. Foi esta película que<br />

equipou as primeiras máquinas Kodak, a Kodak nº 1 e a Kodak nº 2, de imagem circular, como<br />

veremos adiante .<br />

1. 5. 2. Película de nitrato de celulose<br />

Em 1889 é lançada no mercado a primeira película com suporte de plástico, o nitrato de<br />

celulose. Era um material inflamável e quimicamente instável, que prometia muitos problemas.<br />

O seu fabricante passara a chamar-se Eastman Kodak Company e o seu desenvolvimento está<br />

associado ao crescimento do mercado amador e à produção de máquinas <strong>fotográficas</strong> de<br />

dimensões reduzi<strong>das</strong> e também à indústria do cinema.<br />

Os negativos com suporte de nitrato de celulose foram comercializados desde 1889 até ao<br />

início da década de 1950. Foram produzidos em rolo, nos formatos 35 mm, 120, 220, 620 e<br />

outros, e em chapas de vários formatos; foram também comercializados em pacotes, o<br />

FilmPack, de 1903 até 1949 (este foi um sistema prático, que permitia expor as várias chapas<br />

sem retirar o pacote da máquina e sem recorrer a câmara escura). Até 1950, uma grande parte<br />

da película de 35 mm para fotografia foi produzida em suporte de nitrato de celulose; as chapas<br />

de película rígida foram produzi<strong>das</strong> neste suporte desde 1889 até cerca de 1940. O ano da<br />

última produção Kodak em suporte de nitrato de celulose foi: 1933 para a película de raios X;<br />

1938 para a película em rolo de 35 mm para fotografia; 1939 para as chapas para retrato e<br />

fotografia comercial; 1942 para as chapas para fotografia aérea; 1950 para os rolos 120, 220,<br />

616, 620; 1951 para as bobines de 35 mm para cinema .


1. 5. 3. Câmaras <strong>fotográficas</strong> para amadores<br />

Em 1888 Eastman lançou no mercado outro produto que iria abrir as portas da fotografia a um<br />

público muito maior: uma câmara fotográfica, a que chamou Kodak nº 1, que continha um rolo<br />

de papel para 100 fotografias, o Eastman American Film, já referido. Esta câmara, muito<br />

simples de usar, com foco e exposição fixos, permitia a qualquer um, mesmo a um leigo na<br />

matéria, fotografar. O rolo vinha incluído na câmara e depois de exposto, a máquina era<br />

enviada para a fábrica, o rolo revelado e os negativos impressos em papel. Um novo rolo era<br />

colocado na máquina pelo fabricante e o conjunto era enviado para o cliente, com as provas e<br />

os negativos processados.<br />

O fotógrafo amador não precisava, assim, de câmara escura, produtos químicos ou papel de<br />

impressão para conseguir fazer fotografia. Segundo a publicidade da época, fotografar passou<br />

a ser uma operação composta apenas de três movimentos: armar o obturador, avançar a<br />

película, disparar. Os fotógrafos amadores multiplicaram-se. Mais tarde o rolo de suporte de<br />

papel passou a rolo de suporte de plástico. A venda de máquinas <strong>fotográficas</strong> cresceu<br />

rapidamente: a Kodak nº 1, que produzia uma imagem circular com 63 mm de diâmetro,<br />

vendeu no primeiro ano 30 000 unidades; a Kodak nº 2 é de 1889, produzia imagens circulares<br />

um pouco maiores (89 mm de diâmetro) e foi também um sucesso pois, em meados da década<br />

de 1890, cerca de 100 000 máquinas tinham sido vendi<strong>das</strong>. O preço <strong>das</strong> câmaras foi baixando<br />

à medida que estas se tornavam mais simples. No ano de 1900 a Kodak lança a Brownie, uma<br />

máquina fotográfica para crianças com um rolo de 6 fotografias ao preço de 1 dólar, vendendo<br />

num ano 250 000 máquinas. O êxito da Kodak e do negativo em película foi seguido a uma<br />

escala mais modesta por outras companhias: em Inglaterra pela Ilford, em Itália pela Ferrânia,<br />

na Bélgica pela Gevaert, em França pela Lumiére e na Alemanha pela Agfa.<br />

1. 5. 4. Aperfeiçoamentos no processo<br />

No início do século XX, o processo a preto e branco era muito semelhante ao que é hoje. No<br />

noventa anos que entretanto decorreram a sua evolução deu-se no sentido da obtenção de<br />

materiais mais estáveis, mais sensíveis à luz e sensíveis a to<strong>das</strong> as cores.<br />

Novos suportes de plástico<br />

O suporte de nitrato de celulose é instável e muito inflamável e constitui um risco de incêndio<br />

sério para os locais onde se acumula: arquivos de fotografia, armazéns de bobines de cinema,<br />

salas de cinema e hospitais (películas de raios X). As películas em nitrato provocaram alguns<br />

grandes incêndios; entre eles citamos os que ocorreram em Lisboa, na Empresa<br />

Cinematográfica Ideal em 1911, nos Filmes Castello Lopes em 1933 (onde arderam mais de<br />

1000 filmes), o grande incêndio na Praça da Alegria (com origem nos filmes Albuquerque e se<br />

propagou a outras distribuidoras de filmes vizinhas), e o que destruiu o auditório da<br />

Cinemateca Portuguesa, em 1981.<br />

Não foi fácil substituir o nitrato de celulose por outro plástico de melhor qualidade. Só em 1924<br />

foi lançada a película fotográfica em diacetato de celulose, designada safety por não arder tão<br />

facilmente como o nitrato. Foi produzida em chapa e em rolo até cerca de 1950. O diacetato é<br />

também instável e fisicamente não é muito robusto; por essa razão não conseguiu substituir o<br />

nitrato em várias utilizações, em particular nas películas para cinema de 35 mm. Em 1949<br />

surgiu a película em triacetato de celulose, mais robusta, que substituiu o nitrato de celulose<br />

em to<strong>das</strong> as suas aplicações. Este suporte continua em produção até hoje. Embora mais<br />

estáveis que o nitrato, o triacetato e o diacetato de celulose são ambos quimicamente instáveis<br />

como é referido na secção 3. 9. 2. Outros plásticos da família dos acetatos foram ainda usados<br />

como suporte de película, tais como o acetato propionato de celulose (entre 1930 e 1940) e o<br />

acetato butirato de celulose ( de 1935 até hoje).<br />

Na década de 1950 surge finalmente o poliéster, o suporte plástico de melhor qualidade e<br />

maior estabilidade, muito superior a qualquer dos suportes então existentes. Foi introduzido na<br />

indústria fotográfica em 1955, como suporte de película de artes gráficas e raios X, e desde<br />

então o seu uso tem vindo a aumentar. Entre as suas aplicações actuais contam-se a película<br />

de artes gráficas, de fotografia aérea e de raios X e ainda os rolos de microfilme. Alguns rolos<br />

de 35mm com aplicações especiais têm suporte de poliéster.


Extensão da sensibilidade cromática<br />

As emulsões disponíveis até 1880 não registavam as cores como nós as vemos. Os<br />

daguerreótipos, as chapas <strong>fotográficas</strong> de colódio húmido e as primeiras chapas de gelatina,<br />

(as produzi<strong>das</strong> antes de 1883 ), eram sensíveis apenas à luz azul e a radiações ultravioleta;<br />

eram cegas ao vermelho e ao verde. Por exemplo, no retrato de alguém vestido de azul, com<br />

gravata vermelha, teremos o fato azul reproduzido como muito claro e a gravata a escuro.<br />

Os sais de prata são sensíveis apenas à cor que conseguem absorver. Assim os cristais de<br />

cloreto de prata, incolores, são apenas sensíveis às radiações ultravioleta; os cristais de<br />

brometo de prata, que são amarelo pálido, são também sensíveis ao violeta e ao azul . To<strong>das</strong><br />

as emulsões usa<strong>das</strong> no século XIX eram incapazes de registar o vermelho e o verde e com<br />

elas seria impossível qualquer processo a cores. A extensão desta sensibilidade às outras<br />

cores foi produzida artificialmente.<br />

O cientista alemão Vogel descobre, em 1873, que é possível estender a sensibilidade<br />

cromática dos sais de prata adicionando corantes à emulsão fotográfica. Entre os corantes<br />

experimentados contam-se a beterraba, capaz de sensibilizar à luz verde e a clorofila capaz de<br />

sensibilizar à luz vermelha. As primeiras chapas de gelatina sensíveis ao verde e ao azul,<br />

designaram-se por chapas ortocromáticas, apareceram no mercado em 1883. Foram<br />

sensibiliza<strong>das</strong> com o corante oezina. Representaram um progresso considerável, já que a<br />

vegetação passou a ser reproduzida com mais pormenor. A extensão da sensibilidade às<br />

outras cores foi mais demorada: só em 1906 apareceram no mercado emulsões sensíveis a<br />

to<strong>das</strong> as cores, designa<strong>das</strong> pancromáticas. Logo no ano seguinte é comercializado o primeiro<br />

processo fotográfico a cores que se tornou muito popular, o Autochrome.<br />

1. 5. 5. O papel de impressão de revelação<br />

O papel de impressão fotográfica a preto e branco para revelação surgiu no mercado na<br />

década de 1880 e o seu consumo cresceu muito no final do século XIX. A partir de 1905 foi o<br />

papel mais vendido em todo o mundo e só nos anos 1970 foi ultrapassado pelo processo a<br />

cores cromogéneo.<br />

O crescente interesse no papel de revelação deve-se ao aparecimento do negativo de pequeno<br />

formato. O papel directo então usado, impresso ao sol em contacto com o negativo, não<br />

permitia facilmente a ampliação. A luz do sol era necessária, uma vez que é muito intensa e<br />

rica em radiações ultravioleta; a luz incandescente ou de gás eram insuficientes. Ampliar um<br />

negativo com luz do sol é difícil e a maior parte dos fotógrafos evitava fazê-lo.<br />

O papel de revelação pode ser impresso à luz artificial e permite imprimir os negativos com<br />

ampliação. A imagem aparece por acção química do revelador, o que o torna muito mais<br />

sensível à luz. Para imprimir uma prova basta uma exposição de alguns segundos à luz de<br />

uma lâmpada eléctrica; um pequeno ampliador caseiro permite aos amadores abordarem a<br />

arte de ampliar negativos.<br />

O papel de revelação é um papel de barita, de fabrico industrial. Foi produzido em várias<br />

gramagens, desde o fino ao cartonado e numa tal variedade de cores (branco, creme, amarelo,<br />

etc.) e superfícies (brilhante, mate, semi-mate, perlado, texturado, etc.) que ainda hoje nos<br />

deixa impressionados.<br />

O papel de revelação foi produzido com emulsão de cloreto de prata, brometo de prata e clorobrometo<br />

de prata, com características ligeiramente diferentes entre si.<br />

· A emulsão de gelatina e cloreto de prata, não era suficientemente rápida para ampliar,<br />

pelo que era usada para imprimir provas de contacto à luz do gás. Daí que o papel<br />

sensibilizado com esta emulsão fosse vulgarmente designado por papel para luz de gás: era<br />

exposto com o bico da lanterna no máximo e processado com o bico no mínimo. A imagem<br />

resultante é negra, levemente azulada. Esta emulsão foi comercializado até 1960 sendo a<br />

marca Velox um dos nomes comerciais mais populares.<br />

· A emulsão de gelatina e brometo de prata é <strong>das</strong> três, a mais sensível à luz, pelo que<br />

podia ser usada em ampliações com luz artificial. É o tipo de papel a preto e branco mais


consumido actualmente, apresenta tons neutros frios, ligeiramente azulados. Exemplos de<br />

papéis contemporâneos: Agfa Brovira, Ilfobrom, Kodak Elite.<br />

· A emulsão de gelatina e cloro-brometo de prata foi comercializada a partir de 1883 e<br />

manteve-se em produção até hoje. A imagem que produz tem cor neutra, mais quente que a do<br />

papel de brometo, podendo ser controlada pela escolha do revelador. Exemplos: Agfa Portriga<br />

Rapid e Record Rapid, Forte, Porturex Rapid.<br />

Com o desenvolvimento da fotografia a cor, nas déca<strong>das</strong> de 1960 e 1970, começou o declínio<br />

da fotografia a preto e branco; muitos dos papéis referidos desapareceram do mercado. No<br />

entanto mesmo depois de 1960, o papel de revelação teve alguns aperfeiçoamentos<br />

importantes, com a introdução do papel plastificado e do papel de contraste variável.<br />

Viragem do papel de revelação<br />

A viragem da prata nos papéis de revelação foi ganhando adeptos a partir do seu aparecimento<br />

e foi praticada mais ou menos ciclicamente durante o século XX, consoante os gostos.<br />

Salientamos particularmente o seu uso nos anos de 1930. Também denominado entonação,<br />

este tratamento consiste num banho dado à prova após o processamento, que transforma a<br />

prata em sulfureto de prata, selenato de prata ou outro sal mais estável do que a prata. Por<br />

meio da viragem, a cor da prova é alterada para castanho ou sépia (viragem a enxofre) ou para<br />

tons negros avermelhados (viragem a selénio). A viragem pode ser aplicada em qualquer prova<br />

de papel de revelação, plastificada ou não. Os resultados e a cor obtida variam de papel para<br />

papel.<br />

A viragem mais frequentemente encontrada em colecções do século XX é a viragem a enxofre,<br />

também designada por viragem a sépia, pelo tom castanho ou sépia produzido. A cor final da<br />

imagem depende da fórmula de banho usado, da duração do tratamento, da temperatura e do<br />

papel de impressão e pode variar entre castanho ou castanho amarelado, com ou sem tons<br />

avermelhados. Confere às provas um aspecto de fotografia antiga e é muitas vezes usada com<br />

esse fim, especialmente em reproduções ou reimpressões de negativos do século XIX. A<br />

viragem é usada também em fotografia de retrato, em provas que se pretendam colorir e em<br />

provas que se desejem de longa duração.<br />

Outra viragem, popularizada recentemente é a viragem a selénio, que apresenta tons neutros<br />

com tendência para o vermelho. Comparada lado a lado com uma prova virada a selénio, uma<br />

prova não virada parece ligeiramente verde. A tendência para o vermelho pode ser mais ou<br />

menos acentuada conforme a intensidade da viragem.<br />

Papel plastificado e papel de contraste variável<br />

Em 1972 surgiu no mercado o papel fotográfico plastificado, também conhecido por papel RC,<br />

Resin-Coated paper. Apesar dos protestos que na altura foram levantados contra este papel, a<br />

verdade é que ele se impôs no mercado, sendo o seu consumo hoje em dia muito superior ao<br />

do papel de barita. O papel plastificado não tem camada de barita e é coberto de ambos os<br />

lados por uma película de polietileno que o torna impermeável. É processado mais<br />

rapidamente, requer uma lavagem mais curta e seca muito mais depressa que o papel de<br />

barita. Depois de seco mantém-se sempre plano. É um papel adequado à grande indústria de<br />

processamento que deseja produzir muitas provas em pouco tempo.<br />

Os papéis de impressão fotográfica, ditos de contraste variável, surgiram no mercado na<br />

década de 1960, lançados pela Ilford. Hoje são fabricados também por outras marcas. Estes<br />

papéis permitem variar o contraste da impressão por meio de filtros de cor amarela a vermelha.<br />

Oferecem maiores possibilidades no controlo da impressão e são muito mais consumidos hoje<br />

em dia do que os papéis de contraste fixo.<br />

1. 5. 6. Processos de impressão alternativos<br />

No final do século XIX muitos fotógrafos estavam descontentes com a fotografia pura. O<br />

processo fotográfico tinha sido tão simplificado que a fotografia se tornou banal e praticada por<br />

qualquer um, sem preocupações de qualidade. Alguns fotógrafos, designados pictoralistas,<br />

desenvolveram então processos de impressão mais artísticos, que permitiam a intervenção<br />

manual sobre a imagem, à vontade do autor. Estes processos, ditos processos de pigmento,


usavam pigmentos de várias cores para formar a imagem. As provas de pigmento, de<br />

confecção artesanal, são geralmente exemplares únicos. Mesmo quando impressas a partir do<br />

mesmo negativo, diferem entre si no contraste, cor, densidade e granulação, pelo menos o<br />

suficiente para as olharmos como imagens únicas; cada prova tem, assim a marca do autor.<br />

A maior parte destes processos baseia-se no mesmo princípio, a sensibilidade à luz dos<br />

colóides dicromatados (propriedade já referida na secção 1. 3 5. para a impressão em carvão).<br />

De uma forma muito geral, podemos enunciar este principio da seguinte forma: a gelatina, a<br />

goma arábica e outros colóides solúveis em água quente, quando impregnados de um sal de<br />

crómio e expostos à luz do sol tornam-se insolúveis (o sal de crómio geralmente usado é o<br />

dicromato de amónio ou o dicromato de potássio). Para criar uma imagem fotográfica utiliza-se<br />

uma folha de papel coberta com colóide e sal de crómio, expõe-se ao sol debaixo de um<br />

negativo, as zonas expostas à luz endurecem, as zonas não expostas à luz permanecem<br />

solúveis em água; depois a prova é molhada as zonas não endureci<strong>das</strong> incham com a água e<br />

podem ser removi<strong>das</strong> num banho. Vejamos alguns destes processos, goma dicromatada, óleo,<br />

bromóleo e carbro, nas suas muitas variações.<br />

Provas em goma dicromatada<br />

Foi o primeiro processo de impressão usado pelos pictoralistas, desenvolvido e praticado a<br />

partir de 1894 pelos fotógrafos Robert Demachy e Alfred Maskell e mantido até cerca de 1920<br />

. É um processo de pigmento baseado no endurecimento pela luz da goma arábica, contendo<br />

sais de crómio e um pigmento. Depois de impressa ao sol sob um negativo, a prova é<br />

mergulhada em água, com a face exposta para baixo; a goma não endurecida vai-se<br />

libertando, surgindo a imagem. O autor pode acelerar a libertação da goma em certas zonas<br />

com um pincel ou a jacto de água, ou proteger outras zonas que pretenda mais escuras; pode<br />

também sobrepor várias impressões na mesma folha ou usar cores, lado a lado ou<br />

sobrepostas. A impressão em goma permite uma liberdade de manipulação e uma criatividade<br />

superiores à permitida por qualquer outro processo deste género. As provas em goma<br />

dicromatada foram sempre totalmente realiza<strong>das</strong> à mão pelos fotógrafos, impressores ou<br />

artistas , não tendo sido comercializado papel de goma arábica. O pigmento é aguarela, em<br />

tubo ou em pó, ou carvão.<br />

Impressão a óleo e bromóleo<br />

Nestes dois processos, a formação de uma imagem é conseguida por aplicação de tintas<br />

gor<strong>das</strong>, litográficas, sobre uma folha de papel coberta com gelatina dicromatada e endurecida<br />

selectivamente de acordo com uma matriz. No momento da aplicação da tinta, a gelatina é<br />

molhada; as zonas de gelatina não endurecida incham com a água, mantêm-se molha<strong>das</strong> e<br />

repelem a tinta gorda e a gelatina endurecida não absorve água ou absorve menos água e<br />

agarra a tinta.<br />

O processo de impressão a óleo, da autoria de G. E. H. Rawlins, data de 1904 . A impressão<br />

era feita ao sol em contacto com um negativo, sendo posteriormente a prova molhada e a tinta<br />

gorda aplicada por meio de pincel ou de rolo. Nesta operação era possível trabalhar a imagem,<br />

ou seja escurecer algumas zonas e manter outras muito claras, aplicar cores diferentes em<br />

determinados locais da prova, criar mais ou menos textura.<br />

O processo de bromóleo foi sugerido em 1907 por E. J. Wall, como uma alternativa à<br />

impressão a óleo , com a grande vantagem de não requerer um negativo de grande formato. O<br />

endurecimento da gelatina dicromatada é feito por meios químicos, resultante do contacto com<br />

uma prova fotográfica, com a dimensão que se desejar. O processo só atingiu a sua forma<br />

mais perfeita na década de 1920 e foi então bastante popular entre os fotógrafos amadores e<br />

artistas, tendo ultrapassado a impressão a óleo.<br />

A imagem é também constituída por tinta litográfica aplicada sobre gelatina dicromatada,<br />

endurecida selectivamente. O endurecimento da gelatina resulta de uma reacção química que<br />

ocorre durante o contacto com uma prova fotográfica em papel de brometo (já processada e<br />

seca) do mesmo formato. Nesta reacção a prata é branqueada e na mesma reacção química, a<br />

gelatina endurece nas zonas onde existia prata. Depois, a gelatina é molhada e coberta de óleo<br />

a pincel ou com um rolo, como na impressão a óleo. São possíveis to<strong>das</strong> as manipulações que<br />

o autor entender fazer. Algumas companhias norte-americanas (Kodak e Defender), inglesas<br />

(Sinclair, Autotype e Barnett) e austríacas (Drem) comercializaram papéis, tintas e prensas de


transferência para impressão a óleo e bromóleo. Nos anos 1950 estes materiais foram-se<br />

tornando mais difíceis de adquirir, até que desapareceram completamente do mercado, e se<br />

deixou de praticar o processo.<br />

As imagens a óleo e a bromóleo têm um aspecto geral texturado ou granuloso, não sendo<br />

muito ricas em pormenor, como se de um desenho se tratasse. O seu aspecto geral é<br />

grosseiro, a textura do papel é bem visível na imagem e podem apresentar qualquer cor.<br />

Impressão em carbro<br />

Este processo foi lançado por Thomas Manly em 1905. O termo carbro resulta da contracção<br />

dos vocábulos carvão e brometo. Na verdade, este processo é uma combinação <strong>das</strong> duas<br />

formas de impressão, em carvão e em brometo de prata. Ele permite imprimir directamente a<br />

partir de um negativo, no ampliador, não requerendo um negativo de grande formato. O<br />

sistema é muito semelhante ao usado na impressão em carvão e a imagem final é constituída,<br />

tal como na prova em carvão, apenas por gelatina e pigmento sobre a folha de papel. O<br />

processo foi muito aperfeiçoado e tornou-se popular nas déca<strong>das</strong> de 1920 e 1930, quando foi<br />

utilizado intensamente pelos grandes fotógrafos profissionais que trabalhavam para revistas de<br />

moda, para a indústria e em publicidade. A sua importância deve-se ao facto de se conseguir<br />

obter provas a cor de grande qualidade, num momento em que o processo a cor estava ainda<br />

numa fase inicial: era preciso usar três negativos a preto e branco, que eram expostos<br />

separadamente e impressos separadamente em gelatinas cora<strong>das</strong>, depois sobrepostas em<br />

registo perfeito. O processo de impressão a cores com o nome comercial Vivex, baseava-se na<br />

impressão carbro .<br />

Impressão em cianotipia<br />

A impressão em cianotipia deve ser aqui referida. Os cianótipos são provas de cor azul, em<br />

que a imagem é formada por sais de ferro. Baseia-se na sensibilidade dos sais férricos, que<br />

passam ao estado ferroso por acção da luz. Este processo de impressão, inventado por<br />

Herschell em 1840, não foi muito praticado até ao final do século XIX, pois a sua cor azul não<br />

era do agrado do público e clientes dos retratos. No final do século, no entanto, ressurgiu como<br />

processo de interesse artístico e ainda hoje é praticado por amadores, artistas e estudantes.<br />

Os cianótipos, tão fáceis de fazer, tão baratos e desculpando-nos todos os erros, são usados<br />

em escolas para ensinar os rudimentos da fotografia. Aparecem esporadicamente em<br />

colecções de fotografia, muitas vezes praticados por amadores e curiosos e não são<br />

associados a nenhuma época particular da fotografia. Raramente foram praticados por<br />

fotógrafos profissionais. O papel de cianotipia, que pode ser totalmente elaborado em casa, foi<br />

produzido industrialmente pela primeira vez por Marion, em Paris, com o nome de Papier Ferro<br />

Prussiate, em 1876 . Até 1950 foi muito usado para reprodução de desenhos a traço de<br />

arquitectos; ainda hoje nos arquivos é comum designar-se o papel dos desenhos, plantas e<br />

mapas azuis como papel Marion.<br />

1. 6. Período da fotografia a cores cromogénea, (1970 ~ hoje)<br />

Desde a invenção do daguerreótipo que os fotógrafos e cientistas procuravam fazer fotografia a<br />

cores. Durante os primeiros anos, a investigação neste sector foi orientada pela procura de<br />

uma substância miraculosa que tomasse a cor da luz iluminante. Esta solução, a ideal para<br />

fazer imagens <strong>fotográficas</strong> a cores, consumiu a fortuna e a vida de investigadores sem êxito.<br />

Durante o século XIX, quem quisesse uma fotografia a cores deveria mandar colorir à mão uma<br />

boa prova a preto e branco. Desse período, chegam-nos excelentes exemplos de fotografias<br />

colori<strong>das</strong>; a arte de colorir vem bem até ao século XX.<br />

1. 6. 1. O primeiro processo a cores, o Autochrome<br />

As chapas Autochrome foram fabrica<strong>das</strong> pela firma francesa Lumiére desde 1907, até à<br />

década de 1930. Foram o primeiro processo fotográfico a cores largamente praticado por<br />

profissionais e amadores. O ano de 1907, data do seu lançamento não foi casual; é o ano<br />

seguinte à comercialização da primeira emulsão pancromática.


Um Autochrome consiste numa chapa de vidro coberta por minúsculos grãos transparentes de<br />

cor laranja, verde e violeta, sobrepostos a uma imagem fotográfica a preto e branco, positiva. A<br />

imagem a preto e branco tapa os grãos de cor indesejável e não tapa os grãos da cor<br />

necessária para reproduzir determinado assunto. O seu fabrico era feito deste modo: grãos de<br />

amido de batata, de dimensões microscópicas (cerca de 7000 grãos por milímetro quadrado),<br />

eram corados de laranja, verde e violeta, depois misturados em certa proporção e espalhados<br />

sobre a chapa de vidro, numa camada muito fina. De seguida eram cobertos por uma camada<br />

de verniz impermeável, que os isolava dos banhos de processamento. À transparência, este<br />

vidro tinha cor geral neutra, sendo perceptível a granulação colorida. Depois eram cobertos por<br />

uma emulsão pancromática. Para fazer uma fotografia, a chapa era colocada na câmara<br />

fotográfica com o lado do suporte virado para a objectiva. A luz vinda da objectiva atravessava<br />

o suporte de vidro, depois os grãos corados onde era filtrada e finalmente, ia impressionar a<br />

emulsão fotográfica. Depois de processada, a imagem positiva a preto e branco permanece<br />

sobreposta aos grãos de amido; como contem toda a informação cromática do assunto tapa as<br />

cores indeseja<strong>das</strong> e deixa passar a luz da cor do assunto. Por exemplo, numa zona da cena<br />

original de cor verde, os grãos violeta e laranja são cobertos de prata e os grãos verdes não o<br />

são.<br />

O processo, tão simples, dava resultados que surpreenderam todos: as cores podiam ficar<br />

satura<strong>das</strong> e contrasta<strong>das</strong> ou suaves; a granulação animava a imagem a cores. O público<br />

aderiu abertamente ao autochrome e as chapas esgotaram-se várias vezes. Apesar do seu<br />

elevado preço de mercado, de todo o lado surgiam mais pedidos de chapas e a produção<br />

cresceu até à Primeira Grande Guerra. Este processo não requeria mais habilidade do que o<br />

preto e branco, apenas a exposição, feita através de um filtro amarelo, necessitava de maior<br />

duração: ao sol, no Verão, era de 1 ou 2 segundos com f 8; para um retrato em estúdio bem<br />

iluminado era de 10 a 30 segundos, com f 5. O autochrome ressuscitou o interesse do público<br />

pela cor. Em 1931 a firma Lumiére lançou no mercado chapas autochromes em suporte de<br />

plástico, que não iriam contudo sobreviver até ao fim da década.<br />

1. 6. 2. Outros processos a cor de rede<br />

O êxito do Autochrome fez surgir outros processos a cor, que funcionavam segundo o mesmo<br />

princípio e se designam processos de rede. A palavra rede refere um filtro de vidro ou película<br />

coberto com pontos ou linhas transparentes, com as três cores primárias.<br />

Os processos de rede melhor sucedidos foram o Omnicolor (mais tarde designado Dufaycolor)<br />

de 1907, o Dioptichrome, de 1909, o Paget, de 1913, o Agfacolor, de 1916, o Finlay de 1929<br />

(todos eles em suporte de vidro) e o Dufaycolor em película de 1935 . O Agfacolor, com<br />

suporte em vidro, e o Agfacolor Ultra, com suporte em película, foram processos a cor de rede<br />

comercializados entre 1934 e 1938. Eram muito mais rápidos do que o Autochrome, permitindo<br />

exposições de 1/25 de segundo .<br />

Vejamos algumas variações destes processos de rede. Alguns processos, incluindo o<br />

autochrome, apresentam a rede e a emulsão indissociáveis. A rede era também mergulhada<br />

nos banhos de processamento e estava protegida para não se estragar. Noutros processos,<br />

como o Paget ou o Finlay, a rede é destacável da emulsão, podendo ser usada para várias<br />

exposições; era sobreposta à emulsão para a exposição, destacada quando da revelação e<br />

sobreposta novamente, em delicado registo, para o visionamento.<br />

Vários processos foram usados para construir a rede. A rede do autochrome, como já vimos, é<br />

composta de grãos de amido coloridos. As redes de linhas, paralelas ou cruza<strong>das</strong>, eram<br />

traça<strong>das</strong> a caneta; o traço deveria ser muito fino, para se obter uma boa reprodução do<br />

pormenor. A execução destas linhas era difícil e conduzia a imperfeições e dificuldades de<br />

produção. Observando o padrão da rede à lupa é possível identificar o processo (ver mais<br />

detalhes na secção 2. 15.).<br />

Com excepção do autochrome, todos estes processos tiveram vida mais ou menos curta.<br />

Embora interessantes e produzi<strong>das</strong> em quantidades apreciáveis, as imagens a cor em rede<br />

não têm qualidade comparável à <strong>das</strong> fotografias a cor actuais. A imagem granulosa tinha uma<br />

fidelidade cromática fraca, os tempos de exposição necessários eram longos e muitas imagens


esultavam tremi<strong>das</strong>, sendo difícil fotografar objectos em movimento. A rede absorvia grande<br />

quantidade de luz; a rede dos autochromes, por exemplo, permitia que apenas 7% da luz, que<br />

atravessava a objectiva, atingisse a camada sensível. Um filtro amarelo era colocado sobre a<br />

objectiva para compensar a excessiva sensibilidade ao azul e prolongava o tempo de<br />

exposição, que era 60 vezes mais longo do que com película a preto e branco. As redes que se<br />

destacavam da imagem fotográfica eram difíceis de registar e uma alteração dimensional da<br />

rede ou da imagem impedia o visionamento correcto da cor. Tiveram no entanto o mérito de<br />

despertar o apetite do público e dos fabricantes pela cor, o que levou à descoberta de outros<br />

processos a cor de melhor qualidade. Os processos de rede aparecem com frequência em<br />

colecções de amadores do início do século XX.<br />

1. 6. 3. Processos a cor cromogéneos<br />

No ano de 1935, surgiu no mercado o primeiro processo a cor cromogéneo, lançado pela<br />

Kodak com o nome comercial de Kodachrome. Este novo sistema de fotografia a cor vai<br />

ultrapassar o domínio da fotografia a preto e branco, na década de 1970.<br />

Num processo cromogéneo, as cores são gera<strong>das</strong> durante o processamento. As cores não<br />

estão na emulsão no momento da exposição; são fabrica<strong>das</strong> quimicamente nos banhos de<br />

processamento. As películas cromogéneas usam os sais de prata para registarem a luz, como<br />

os outros processos que temos vindo a descrever, mas não usam prata na imagem final; a<br />

prata é removida no processamento, ficando apenas os corantes. Em traços gerais podemos<br />

descrever o processo como se segue: os sais de prata são expostos na câmara fotográfica e<br />

são revelados transformando-se em prata; durante a revelação, os produtos químicos<br />

resultantes da revelação (revelador decomposto) combinam-se com outros produtos químicos,<br />

os acopladores de cor e adquirem cor, formando-se os corantes (esta reacção é controlada<br />

para que os corantes permaneçam no mesmo local e não andem à deriva na imagem); depois<br />

os sais de prata são removidos e os corantes permanecem na emulsão; a imagem final é<br />

formada por corantes apenas, o amarelo, o magenta e o ciano (azul-verde), dispostos em três<br />

cama<strong>das</strong>, to<strong>das</strong> as outras cores resultam da sobreposição destas três cores primárias.<br />

Nos processos cromogéneos surgem-nos portanto estas substâncias, de importância crucial,<br />

designa<strong>das</strong> por acopladores de cor: são compostos orgânicos, complexos, transparentes, que<br />

ganham cor por combinação química com o revelador fotográfico decomposto; ou seja, o<br />

revelador usado na redução de sais de prata expostos à luz.<br />

1. 6. 4. O Kodachrome<br />

Produzido a partir de 1935, primeiro em filme de 16 mm para cinema amador e no ano<br />

seguinte, em rolo de 35 mm para fotografia, o Kodachrome produz uma imagem transparente<br />

positiva. A qualidade da imagem é muito superior a tudo o que se tinha visto até essa altura;<br />

não tem granulação visível, a reprodução <strong>das</strong> cores é muito boa, não há problemas de<br />

desacertos de cor e forma. O Kodachrome beneficiou de vários aperfeiçoamentos ao longo do<br />

tempo, ainda se fabrica e continua a ser uma <strong>das</strong> película a cor mais perfeitas que existem.<br />

Figura 1. 6. 4.<br />

Rolo Kodachrome com envelope para envio por correio para o laboratório de processamento.<br />

Fotografia a preto e branco *<br />

O Kodachrome é o resultado de muitos anos de investigação, que começou em 1912, quando<br />

o alemão Rudolph Fisher descobriu os acopladores de cor. O trabalho de dois músicos,<br />

Leopold Godowsky e Leopold Mannes, veio tornar prático um processo a cor formado por três<br />

cama<strong>das</strong> sobrepostas. A sua colaboração com a Kodak teve início em 1930. A primeira versão<br />

comercializada era complicada de processar: prolongava-se por três horas e meia, envolvia<br />

vinte e oito etapas e a película era seca três vezes. Tratava-se de um processo tão complexo<br />

que só podia ser realizada nos laboratórios da Kodak, para onde os rolos expostos eram<br />

enviados. Simplificações feitas em 1938 possibilitaram a revelação em desoito etapas apenas e<br />

melhorias na consistência do processo.<br />

O Kodachrome inicial tinha uma sensibilidade de 10 ASA. A película rígida Kodachrome foi<br />

produzida desde 1938 até 1955, em formatos até 20x25 cm. Outras versões surgiram mais


tarde: o Kodachrome II, de 25 ASA, é de 1961; o Kodachrome 64, de 64 ASA, data de 1965. A<br />

Kodak produziu também papel a cores para a impressão dos diapositivos Kodachrome em<br />

duas versões: a versão para amador, Minicolor, em provas 10x15 cm com os cantos<br />

arredondados; a versão profissional, de formato maior, era designada Kodavachrome. O<br />

suporte destas provas era em acetato de celulose pigmentado de branco. Em 1939 aparece o<br />

caixilho de 35 mm em cartão; a maioria dos diapositivos surgem então montados em caixilhos,<br />

tornando mais fácil a manipulação e projecção.<br />

1. 6. 5. Acopladores na emulsão ou no revelador?<br />

O grande sucesso do Kodachrome foi um prenúncio do sucesso que estava reservado para a<br />

fotografia a cor cromogénea. Contudo a evolução dos processos a cor cromogéneos iria<br />

desenvolver-se numa direcção um pouco diferente daquela que o Kodachrome faria supor,<br />

uma vez que a maior parte do processos que surgiram posteriormente utilizaram acopladores<br />

de cor integrados na própria emulsão e não nos banhos reveladores e assim eram<br />

processados de forma muito mais simples do que o Kodachrome. Até cerca de 1942 os<br />

cientistas da Kodak não conseguiram que o processo a cor funcionasse com os acopladores de<br />

cor integrados na emulsão de gelatina; a dificuldade que tiveram foi precisamente a de segurar<br />

os acopladores de cor, que durante a revelação andavam à deriva nas três cama<strong>das</strong> e as cores<br />

resultavam mistura<strong>das</strong>; a solução encontrada, de que resultou o Kodachrome, foi inserir os<br />

acopladores nos banhos de processamento; era necessário uma revelação para cada cor, um<br />

processo complexo como já vimos.<br />

Em 1936, a Agfa lança no mercado uma película cromogénea, Agfacolor Neue, que tinha os<br />

acopladores de cor incorporados na emulsão e podia ser processada mais rápida e facilmente<br />

do que o Kodachrome, em estúdios de fotógrafos profissionais ou em pequenos laboratórios.<br />

Os cientistas da Agfa usaram um artifício para fixar os acopladores: aumentaram artificialmente<br />

o comprimento <strong>das</strong> suas moléculas, ligando-as a hidrocarbonetos de cadeia longa . Deste<br />

modo os acopladores permaneciam encalhados na estrutura da gelatina durante o<br />

processamento, não se movimentando.<br />

A Kodak e a Agfa produziram e comercializaram estas películas, antes e durante a Segunda<br />

Guerra Mundial, mantendo secretos os pormenores da sua produção. Surgem assim duas<br />

famílias de películas cromogéneas as que têm os acopladores de cor incorporados na emulsão<br />

e são de processamento simples e as que não têm os acopladores de cor incorporados e são<br />

muito mais complica<strong>das</strong> de processar. Ambas se mantêm em produção, embora as primeiras<br />

sejam muito mais populares.<br />

1. 6. 6. O Ektachrome<br />

Por volta de 1942, a Kodak desenvolveu um novo processo cromogéneo, de corantes<br />

integrados na emulsão. Para evitar que os acopladores de cor an<strong>das</strong>sem à deriva durante o<br />

processamento, a estratégia foi envolvê-los em glóbulos que se mantinham colados à gelatina.<br />

Este glóbulos, de uma substância tipo resina, eram insolúveis em água, permeáveis às<br />

soluções e aderentes à gelatina como uma cola que mantinha os acopladores presos na<br />

respectiva camada. Com esta nova tecnologia surgiu o Ektachrome, em 1946 em película<br />

rígida e em 1947 em rolo; a sensibilidade era de 8 ASA. Em 1958 foi lançado no mercado o<br />

papel Ektachrome para impressão de diapositivos, que veio substituir o papel Kodak Color Print<br />

Material Type R, lançado em 1955 .<br />

O sistema de processamento inicial, designado de E-1, foi usado até 1960. No entanto outros<br />

processos surgiram: em 1951 o processamento E-2, com alguns aperfeiçoamentos e em 1959<br />

o processo E-3; o Ektachrome-X, de 1963, tinha sensibilidade de 64 ASA. Com excepção da<br />

versão actual, processo E-6 de 1976, to<strong>das</strong> as versões do Ektachrome são relativamente<br />

instáveis .<br />

1. 6. 7. Processo positivo-negativo<br />

Durante a Segunda Guerra Mundial tanto a Kodak como a Agfa, tentaram produzir película<br />

negativa destinada à impressão de provas em papel. O sistema Kodacolor de negativo e papel


de impressão foi colocado no mercado em 1941 . A qualidade conseguida era aceitável,<br />

embora as cores não fossem tão fiéis como a dos diapositivos Kodachrome. O Kodak Ektacolor<br />

Film, lançado no mercado em 1948, era um filme negativo a cor destinado a ser impresso em<br />

Ektacolor Print Film, de suporte transparente. Em 1955 a Kodak lançou o papel Ektacolor tipo<br />

C, para impressão da película Ektacolor. Este papel tornou possível ao fotógrafo profissional<br />

fazer as suas próprias provas, sem recorrer a processos muito complicados de transferência e<br />

sobreposição de cama<strong>das</strong> colori<strong>das</strong> como o Dye Transfer.<br />

Embora as primeiras provas a cores tivessem muitos problemas de conservação, a euforia da<br />

cor foi tão grande que os aspectos negativos foram esquecidos. O problema mais vulgar era a<br />

formação de uma mancha amarela geral, resultante da decomposição de acopladores de cor<br />

não utilizados, que permaneciam na imagem. Esta forma de deterioração arruinou grande parte<br />

<strong>das</strong> provas produzi<strong>das</strong> nestes primeiros anos.<br />

Outros produtores de diapositivos<br />

No final da II Guerra Mundial, os laboratório Agfa em Leverkunsen foram tomados pelos<br />

Aliados e os segredos de produção do Agfacolor Neue revelados publicamente. Outros<br />

fabricantes, aproveitando esta divulgação, iniciaram então a produção de película a cores<br />

cromogénea: a Ferrânia, italiana, produziu em 1951 uma película inversível, de acopladores<br />

integrados; a empresa belga Gevaert produziu nos anos 50 o Gevacolor e produziu também<br />

película negativa a cor, até ser integrada na Agfa em 1964; na Alemanha Oriental produziu-se<br />

o Orwocolor, desde 1964; na União Soviética o Zo foi produzido a partir de 1949; no Japão a<br />

Fuji iniciou a produção do Fujicolor R100 em 1961 e a Konica lançou o Sacuracolor em 1960 .<br />

Depois da II Guerra Mundial verifica-se um período de crescimento e concentração <strong>das</strong><br />

empresas de produtos fotográficos. A Ciba comprou várias empresas de fotografia: a Telko em<br />

1961, a Sociedade Lumiére em 1963 e a Ilford em 1969. A Agfa adquire a Perutz e funde-se<br />

com a Gevaert em 1964. A Ansco foi integrada na GAF (General Aniline Film) e desapareceu<br />

em 1977. Os fabricantes de película a cores reduzem a três ou quatro “gigantes”, que todos<br />

conhecemos.<br />

1. 6. 8. Aperfeiçoamentos nos processos a cor<br />

A partir de 1950 registaram-se grandes melhoramentos na produção de películas a cor.<br />

Vejamos alguns.<br />

Máscaras<br />

Um deles foi a introdução de máscaras nos negativos a cor, que lhes conferem a cor geral<br />

alaranjada bem nossa conhecida (ver figura 2. 12) e que servem para corrigir imperfeições dos<br />

corantes usados. O corante amarelo tem cor próxima da ideal e não necessita de correcção.<br />

Contudo os corantes ciano e magenta estão longe da cor ideal: o corante ciano absorve<br />

alguma luz verde e azul e em teoria deveria apenas absorver luz vermelha; o corante magenta<br />

absorve alguma luz azul quando deveria absorver apenas luz verde. Desta imperfeição<br />

cromática do negativo resultam provas com cores menos satura<strong>das</strong> e com uma reprodução<br />

cromática menos fiel. A máscara é adicionada apenas aos acopladores magenta e ciano e<br />

permite corrigir consideravelmente as imperfeições dos corantes. Nos negativos ela é tanto<br />

mais forte quanto menos cor for produzida, sendo destruída nos acopladores consumidos<br />

durante o processamento . O primeiro negativo com máscara, o Ektacolor, data de 1947. O<br />

Kodacolor começou a ser produzido com máscara em 1949 e foi seguido por negativos de<br />

outras marcas. Os negativos a cor sem máscara apresentam margens incolores.<br />

Cama<strong>das</strong> Múltiplas<br />

A aplicação de mais cama<strong>das</strong> de cor, duas por corante, sendo uma mais sensível à luz que a<br />

outra, permite cores mais perfeitas e satura<strong>das</strong>. Duas cama<strong>das</strong> de cada cor permitem também<br />

uma redução considerável no grão, maior latitude de exposição, ou seja desculpam, até certo<br />

ponto, os erros na medição da luz. Esta questão é importante na medida em que são os<br />

amadores os principais utilizadores da película negativa a cor. Estas películas dão-nos provas<br />

com alguma qualidade mesmo em condições de sobre exposição ou sub exposição<br />

consideráveis, sujeição a calor (máquina fotográfica esquecida dentro de automóvel ao sol),


tempos longos de espera pela revelação (alguns amadores conseguem no mesmo rolo ter<br />

fotografias de dois Verões e um Natal).<br />

Máquinas de revestir a película<br />

O aperfeiçoamento, nos anos 1950, de máquinas que podem aplicar várias cama<strong>das</strong> de<br />

emulsão simultaneamente permitiu obter cama<strong>das</strong> muito finas, chegando a 2 mícrons de<br />

espessura por camada e também reduzir o preço <strong>das</strong> películas. Hoje, uma película com 12<br />

cama<strong>das</strong> é mais fina do que uma película de 3 cama<strong>das</strong> produzida há alguns anos.<br />

Consequentemente, a definição é maior nestas películas, já que não há grande dispersão de<br />

luz na espessura da gelatina. Com estes aperfeiçoamentos apareceram a partir de 1972, o<br />

Kodacolor II, depois o Fujicolor II e o Kodachrome 25 e 64 em 1974.<br />

Alta Sensibilidade<br />

Outro avanço tecnológico foi o aparecimento de películas a cores, para negativos e<br />

diapositivos, de alta sensibilidade apresentando também alta definição e perfeição de cores.<br />

Simplificação do processamento<br />

Este foi um aspecto fundamental no crescimento do uso da cor. Para sobreviver, os<br />

fabricantes de películas a cor menos poderosos tornaram os seus produtos compatíveis com o<br />

processamento Kodak. Hoje a revelação de diapositivos é universalmente feita pelo processo<br />

designado E-6, tanto para películas Kodak como Agfa, Konica ou Fuji. A única excepção é o<br />

Kodachrome que se mantém ainda, mas talvez por pouco tempo. O processo C-41 é<br />

universalmente usado no processamento de negativos a cor. Os diapositivos do processo E-6<br />

são processados em menos de uma hora, com 6 operações apenas. O Agfacolor de há 30<br />

anos era processado em duas horas e meia em 12 operações e o primeiro Ektachrome, de<br />

1946, era processado em uma hora e meia.<br />

1. 6. 9. Provas por branqueamento de corante<br />

Existem outros processos a cor não cromogéneos, com alguma aplicação. Vou referir dois, o<br />

processo de branqueamento de corante e os vários processos de fotografia instantânea.<br />

Hoje produzido com o nome de Ilfochrome, o papel de branqueamento de corante foi<br />

designado por Cibachrome no passado. A sua produção começou em 1963. É um processo de<br />

impressão a cor, inversível, que funciona por um princípio totalmente diferente dos processos a<br />

cor que vimos até agora. O papel sensível à luz contém os corantes integrados, distribuídos em<br />

três cama<strong>das</strong>. Durante o processamento os corantes são branqueados selectivamente nos<br />

locais expostos à luz. Podemos comparar este processo ao trabalho de um escultor, que<br />

começa com um bloco de pedra inteiro e vai removendo a pedra que está a mais até formar a<br />

peça desejada. As provas são contrasta<strong>das</strong>, de cores satura<strong>das</strong> e a superfície é geralmente<br />

brilhante. Destina-se apenas à impressão de diapositivos.<br />

Vejamos com mais pormenor o seu funcionamento. O papel, como já se disse, contém os<br />

corantes e sais de prata sensíveis à luz, dispostos em várias cama<strong>das</strong>. Na primeira revelação,<br />

os sais de prata expostos são revelados, formando-se uma imagem negativa de prata (em três<br />

cama<strong>das</strong>). Depois, esta prata é branqueada (removida) por um processo químico. Esta reacção<br />

química destrói também os corantes adjacentes aos grãos de prata, que são do tipo azóico. Os<br />

corantes azóicos são divididos ao meio na reacção, tornando-se incolores. Ficam no papel<br />

apenas os corantes necessários para formar uma imagem positiva. Finalmente, todos os sais<br />

de prata e corantes que reagiram são removidos na fixagem e lavagem. A imagem final contém<br />

apenas corantes.<br />

O processo de branqueamento de corante foi apresentado por Bela Gaspar nos anos 1930 e<br />

foi comercializado por várias companhias. A Ilford, em 1953, lançou o Ilford Colour Print, papel<br />

de impressão a partir de transparências. O processo Cibachrome, foi apresentado em 1963 e já<br />

passou por várias versões. O Cibachrome P-7a, processado em 47 minutos e 7 etapas, deu<br />

lugar em 1974 ao Cibachrome A de processamento apenas em 12 minutos e 3 banhos . O<br />

Ilfochrome representa uma pequena fracção no mercado de fotografia. É um processo de<br />

impressão mais caro que o cromogéneo, mas que permite obter provas a cores mais estáveis,


de grande qualidade e saturação de cor. A Agfa também produziu um sistema a cores por<br />

branqueamento de corante entre 1970 e 1976 chamado de Agfachrome CU410.<br />

1. 6. 10. Fotografia instantânea, processos de difusão<br />

A fotografia instantânea permite-nos ver a prova alguns minutos depois do disparo, sem<br />

necessidade de câmara escura, de impressão de negativos ou lavagens demora<strong>das</strong>. Todos os<br />

processos instantâneos funcionam por um sistema de difusão, ou seja os produtos químicos<br />

deslocam-se ou difundem-se através <strong>das</strong> cama<strong>das</strong> de gelatina até à superfície da prova, onde<br />

se produz a imagem final.<br />

A fotografia instantânea surgiu em 1948, com o lançamento do Polaroid Land Film tipo 40 e da<br />

câmara Polaroid 95. As primeira provas instantâneas eram monocromáticas, de cor sépia e<br />

formato 8x10,5 cm. Depois de disparar, o fotógrafo tinha apenas de puxar a ponta da prova<br />

para um compartimento nas costas da câmara e aguardar 1 minuto. Podia ver a prova depois<br />

de despelicular, ou seja, depois de destacar da prova o negativo que a cobria. O negativo não<br />

era aproveitado. Mais tarde foi lançado o Polaroid Land Film tipo 41, com imagens de cor<br />

neutra.<br />

Vejamos como funciona este sistema: dentro da câmara está a película sensível à luz e o papel<br />

de transferência (o suporte final da prova), que contém na borda um pequeno saco de<br />

revelador e fixador. Depois de exposta, a película é puxada para fora da câmara. Nesse<br />

movimento, película e papel de suporte são sobrepostos e passam entre dois rolos de aço que<br />

rompem o saco e espalham esta solução alcalina pastosa. O processamento desenvolve-se<br />

fora da câmara fotográfica, onde se forma uma imagem negativa. Os sais de prata não<br />

expostos dissolvem-se (por acção do fixador) e migram para a folha de papel de suporte, onde<br />

são reduzidos a prata (por acção do revelador). No papel de transferência forma-se uma<br />

imagem positiva, que apresenta excelente definição pois o percurso percorrido pela prata entre<br />

os dois suportes é muito curto. Revelação e fixação da película são feitos com um só produto<br />

que permanece em parte na imagem final; o processo não requer lavagem.<br />

O primeiro processo instantâneo a cores foi lançado em 1963 também pela Polaroid. Era o<br />

Polacolor tipo 48, com provas de formato 8x10,5 cm e o Polaroide tipo 38 com provas de 6x8<br />

cm, que foi produzido até 1969. As provas eram razoavelmente estáveis no escuro e tinham<br />

tendência para curvar para dentro, razão porque eram cola<strong>das</strong> em cartão. O Polacolor II surgiu<br />

em 1975, mais estável e com cores melhora<strong>das</strong>.<br />

O sistema a cor instantâneo funciona segundo um princípio diferente dos outros processos a<br />

cor já vistos. Os corantes já existem na emulsão, não sendo nem gerados (como no processo<br />

cromogéneo), nem destruídos na revelação (com no processo de branqueamento). O que<br />

acontece é que os corantes expostos à luz são imobilizados, o corantes não expostos migram<br />

para o papel de suporte final, formando a imagem positiva. Os corantes encontram-se em 3<br />

cama<strong>das</strong> sobre um suporte e estão agregados ao revelador. Depois de exposta, a película é<br />

puxada para o exterior da câmara, sobreposta ao papel de suporte e espalham-se os produtos<br />

químicos alcalinos para o processamento. Nas zonas expostas a revelação agarra os corantes<br />

à gelatina. Nas zonas em que não ocorre revelação, os corantes migram através <strong>das</strong> várias<br />

cama<strong>das</strong>, para a folha receptora da imagem. O processo dura cerca de 90 segundos. Quando<br />

a película e o papel de suporte são separados a imagem a cores passou para a folha de papel<br />

receptora, o suporte inicial, com corantes não revelados e revelador não se aproveita.<br />

Algumas provas instantâneas são cobertas com um verniz após o processamento, o que as<br />

protege de riscos e remove produtos residuais do processamento evitando reacções químicas<br />

indeseja<strong>das</strong>. O Polaroid tipo 55 produz uma prova a preto e branco e um negativo a preto e<br />

branco de grande qualidade, de onde se podem imprimir outras provas.<br />

Outro tipo de fotografia instantânea surgiu em 1972 e constituiu uma novidade sensacional. Foi<br />

o Polaroid SX-70, a primeira película do tipo integral, quer dizer cada prova é um pacote<br />

indivisível, que não requeria que se abrisse ou se removesse o papel de cobertura e não<br />

produzia lixo. Para a imagem não aparecer invertida lateralmente, as câmaras SX-70 contem<br />

um espelho no interior, o que lhes dá uma forma um pouco bizarra. Mais tarde foi lançado a


película Time Zero, de formato quadrado tal como o anterior e com tempo de processamento<br />

reduzido a metade. Em 1992 foi lançada a Polaroid Vision, do tipo pacote integral, de formato<br />

rectangular e de menores dimensões.<br />

Este pacote integral é também um processo de difusão de cores que funciona deste modo:<br />

depois do fotógrafo disparar, a câmara empurra a prova entre dois rolos de aço, que espalham<br />

os produtos químicos de processamento, saindo depois para o exterior. Este movimento<br />

espalha também, dentro da prova, um líquido opaco e branco, que constitui a imagem branca<br />

que vemos inicialmente. Pouco a pouco, as cores surgem do fundo da prova e a imagem<br />

forma-se completamente em 5 a 10 minutos; são os corantes não expostos, que migram até à<br />

superfície da prova, constituindo a imagem positiva; os corantes expostos permanecem<br />

agarrados ao suporte, tapados pela camada branca. Parece espantoso como uma película<br />

sensível à luz pode ser exposta e uma fracção de segundo depois ser expelida para o exterior<br />

da câmara, para a luz do dia, sem se estragar. O segredo reside exactamente nesse material<br />

branco e opaco (dióxido de titânio) que está incorporado no saco dos produtos químicos e que<br />

cobre a emulsão no momento da expulsão, uma vez que este não permite que a luz atinja os<br />

sais de prata e destrua a imagem.<br />

A fotografia instantânea foi também produzida pela Kodak com o PR-10, apresentado em<br />

1976. Este produto foi retirado do mercado em 1986, depois de um longo processo em tribunal<br />

desencadeado pela Polaroid, que alegava violação de patentes comerciais.<br />

A Fuji produz também película para fotografia instantânea desde 1991; a primeira foi o FP100C<br />

e em 1981 surge no mercado a película Fuji F-10. To<strong>das</strong> estas novidades tem vindo a alargar<br />

muito o mercado da fotografia instantânea, sobretudo entre os amadores.<br />

Cronologia de alguns inventos que revolucionaram a fotografia<br />

1827 Niépce, Betume da Judeia<br />

1835 Talbot, Desenho Fotogénico<br />

1839 Daguerre, Daguerreótipo<br />

1847 Niépce de Saint Victor, Negativo em Albumina<br />

1850 Blanquard Everard, Impressão em Albumina<br />

1851 Scott Archer, Colódio Húmido<br />

1851 Ambrótipos<br />

1855 Ferrótipos<br />

1859 Disderi, Cartão de Visita<br />

1864 Walter B. Woodbury, Woodburytipia<br />

1864 Swan, Impressão em Carvão<br />

1871 Madox, Chapas Secas de Gelatina Brometo<br />

1879 Willis, Platinotipia<br />

1889 Eastman, Película plástica em rolo<br />

1883 Vogel, Descoberta de sensibilização cromática dos sais de prata<br />

1912 Revelação cromogénea<br />

1923 Sheppard descoberta acção sensibilizadora da gelatina<br />

1935 Kodachrome<br />

1948 Land, Fotografia Instantânea

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