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OLHAR GRAÇA MORAIS - Antiguidades São Roque

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<strong>OLHAR</strong> <strong>GRAÇA</strong> <strong>MORAIS</strong>


A Menina Gaivota em Dias de Nevoeiro § Pormenor<br />

<strong>OLHAR</strong> <strong>GRAÇA</strong> <strong>MORAIS</strong><br />

RUA DE S. BENTO, 199B, 1250-219 LISBOA § T+ F 213 960 734 § T 962 363 260 § E ANTIGUIDADESSROQUE@SAPO.PT § WWW.ANTIGUIDADESSAOROQUE.COM


SÃO ROQUE, ANTIGUIDADES E GALERIA DE ARTE RUA DE S. BENTO, 199B, 1250-219 LISBOA T+F 213 960 734 T 962 363 260 E ANTIGUIDADESSROQUE@SAPO.PT<br />

§§§ E MARIOROQUE@NETCABO.PT § WWW.ANTIGUIDADESSAOROQUE.COM § COMPILAÇÃO E ORGANIZAÇÃO MARIA HELENA ROQUE, MÁRIO ROQUE, ANTÓNIO<br />

AFONSO LIMA, ANA ANAHORY, ISABEL CUNHA REIS § EDIÇÃO SÃO ROQUE § FOTOGRAFIA JOÃO KRULL § DESIGN JOSÉ MENDES E JMENDESIGN@MAC.COM §<br />

TIPOGRAFIA CHAPARRAL PRO DE CAROL TWOMBY § PRÉ PRESS CRITÉRIO, PRODUÇÃO GRÁFICA § IMPRESSÃO E ACABAMENTO NORPRINT SA § DEPÓSITO LEGAL<br />

315994 /10 § TIRAGEM 1500 EXEMPLARES § SETEMBRO DE 2010 INTERDITA A REPRODUÇÃO TOTAL OU PARCIAL § © SÃO ROQUE 2010 <br />

Sem Título, 2006<br />

“Um Natal muito feliz para a Maria Helena.<br />

Um beijinho, Graça.”<br />

Técnica mista sobre papel. Colecção particular.<br />

AGRADECIMENTOS §<br />

Visitar um atelier de um pintor é sempre fascinante. Contactar um artista e um novo imaginário,<br />

afinal tão longe do meu. Descobrir a sua obra …<br />

Conhecer Graça Morais foi um privilégio. Desde a primeira visita ao atelier que a empatia pela<br />

pintora e sua obra foi crescendo. Foram-se estabelecendo laços de entendimento e proximidade<br />

entre mim, coleccionadora, e a artista, dos quais resultou uma grande amizade.<br />

O fascínio pela obra da Graça Morais ia crescendo a cada visita, por vezes com alguns desapontamentos,<br />

quando umas obras que considerávamos que tinham que ser nossas, nos eram<br />

recusadas por serem da colecção da pintora ou estarem comprometidas…<br />

Rendida à sua obra, a procura dos seus trabalhos estendeu-se a Galerias e coleccionadores particulares,<br />

na ânsia obsessiva de ir adquirindo novas peças.<br />

Recentemente, surpreendida com as novas tecnologias, ao ver no computador do meu filho<br />

imagens do núcleo de obras que tinha da pintora, apercebi-me da coerência dos trabalhos<br />

que possuía e achei que era um grupo suficientemente importante para fazer uma exposição:<br />

quarenta obras, todas elas conhecidas por mim. Lembro-me do primeiro dia em que cada<br />

uma me chegou às mãos…<br />

É com muito gosto que disponibilizo a minha colecção e vos convido a <strong>OLHAR</strong> <strong>GRAÇA</strong> <strong>MORAIS</strong>:<br />

um terceiro olhar sobre estas obras, que se venha juntar ao primeiro, o da pintora que as<br />

concebeu e ao segundo, o meu e o do meu filho Mário que as namorámos e escolhemos.<br />

Espero que estas obras sejam visitadas, conhecidas, “olhadas” por muitos mais olhares….<br />

Obrigada.<br />

A Graça Morais e Sílvia Chicó pela sua inestimável colaboração.<br />

3 _


<strong>GRAÇA</strong> <strong>MORAIS</strong><br />

EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS (selecção)<br />

Galeria Municipal Lagar de Azeite, Oeiras<br />

2003 Deusas da Montanha, Biblioteca Municipal de Carrazeda de Ansiães e Centro Cultural de Vila Flor<br />

Nasce em 1948, Vieiro, Trás-os-Montes. Conclui o 1974 Museu Alberto Sampaio, Guimarães<br />

Pintura e Desenho 1999-2003, Fundação da Casa de Mateus<br />

Curso de Pintura na Escola Superior de Belas-Artes 1976 Galeria Dois, Porto<br />

A Terra e o Tempo, Museu da República Arlindo Vicente, Aveiro<br />

no Porto, em 1971.<br />

Museu Alberto Sampaio, Guimarães<br />

2004 /5 Visitação, Galeria 111, Lisboa e Porto<br />

1978 Centro Cultural Português, Fundação Calouste Gulbenkian, Paris<br />

Os Olhos Azuis do Mar, Centro de Artes de Sines, Sines<br />

Bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian em Paris, 1980 Galeria de Arte Moderna, SNBA, Lisboa<br />

2005 /6 Retratos e Auto-Retratos, Centro Cultural de Cascais e Teatro Municipal da Guarda<br />

de 1976 a 1979.<br />

Cooperativa Árvore, Porto<br />

Diálogos com a Terra, G. Ratton, Lisboa<br />

1981 Galeria Roma e Pavia, Porto<br />

2007 Graça Morais na Colecção da Fundação Paço d’Arcos, Pintura, Desenho e Azulejo (1982 a 2006), Cordoaria Nacional, Lisboa<br />

Actualmente vive e tem o atelier em Lisboa. 1983 Galeria 111, Lisboa<br />

Silêncios, Biblioteca Municipal de Chaves e Museu Municipal de Amadeo de Souza-Cardoso, Amarante<br />

Museu do Abade de Baçal, Bragança<br />

Orpheu e Eurydice, Paços da Cultura de S. João da Madeira e Casa da Cultura de Trofa<br />

Inauguração do Centro de Arte Contemporânea Graça<br />

Câmara Municipal, Macedo de Cavaleiros<br />

In Sofrimento, Museu Municipal, Edifício Chiado, Coimbra<br />

Morais em Bragança em 2008, projecto de Souto 1984 Museu da Casa Nogueira da Silva, Braga<br />

2008 Pintura e Desenho 2007, Galeria 111, Porto<br />

Moura, onde está patente uma exposição permanente<br />

Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa<br />

Pinturas e Desenhos 2008, Galeria DN, Lisboa e Galeria JN, Porto<br />

da artista, com obras de 1982 a 2005.<br />

Museu de Arte Moderna de <strong>São</strong> Paulo<br />

Desenhos do Mar e da Terra, 1983-2007, Graça Morais na Fundação Júlio Resende, Lugar do Desenho, Porto<br />

1985 Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro<br />

Pintura e Desenho 1982-2005, Centro de Arte Contemporânea Graça Morais, Bragança<br />

Intervenções artísticas em espaços públicos (selecção):<br />

Palácio Hospital Real, Universidade de Granada<br />

2009 Sagrado e Profano, Centro de Arte Contemporânea Graça Morais, Bragança<br />

painel de azulejos na estação de Metropolitano de<br />

Imprensa Nacional, Lisboa<br />

A Máscara e o Tempo, Galeria Ratton, Lisboa<br />

Bielorrússia – Moscovo e da Falagueira – Amadora, 1986 Centro de Artes Plásticas, Coimbra<br />

2010 A Procissão, Centro de Arte Contemporânea Graça Morais, Bragança<br />

estação de Caminhos de Ferro do Fogueteiro – Seixal, 1987 Museu do Abade de Baçal, Bragança<br />

Graça Morais na Colecção Manuel de Brito, CAMB, Palácio Anjos, Algés<br />

sede da Caixa Geral de Depósitos – Lisboa, Mercado<br />

Galeria 111, Lisboa<br />

Retratos e Auto-Retratos, Centro de Arte Contemporânea Graça Morais, Bragança<br />

Municipal de Bragança, Biblioteca Municipal de 1988 Centro Cultural Português, Fundação Calouste Gulbenkian, Paris<br />

Carrazeda de Ansiães, Caixa de Crédito Agrícola de 1989 Centro Cultural Português, Praia e Mindelo, Cabo Verde<br />

EXPOSIÇÕES COLECTIVAS (selecção)<br />

Bragança, Teatro Municipal de Bragança, Escolas 1990 Galeria 111, Lisboa<br />

Monsenhor Jerónimo do Amaral e Miguel Torga em<br />

Pavilhão do Jardim Lou Lim Loc, Macau<br />

1995 Colecção Manuel de Brito – Imagens da Arte Portuguesa do Século XX, Leal Senado, Fórum, Macau,<br />

Bragança. Referimos ainda os painéis do Viaduto de 1991 Galeria 111, Lisboa e Galeria Zen, Porto<br />

Museu de Arte de <strong>São</strong> Paulo e Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro<br />

_ 4 Rinchoa – Rio de Mouro, do Centro de Astrofísica e<br />

Museu do Abade de Baçal, Bragança<br />

Artistas Portugueses do Século XX, Casa do Povo, Cidade Proibida, Pequim<br />

5 _<br />

Planetário do Porto e da Central Hidroeléctrica de<br />

Museu Municipal Armindo Teixeira Lopes, Mirandela<br />

Waves of Influence, Cinco Séculos do Azulejo Português, Everson Museum of Art, E.U. A.<br />

Vilar de Frades – Vieira do Minho. 1992 Exposição Antológica, Prémio Soctip Artista do Ano 1991, Centro de Arte Soctip, Lisboa<br />

FAC’95, Galeria 111, Paris<br />

Galeria Zen, Porto<br />

1996 Colecção Mário Soares, Museu do Chiado, Lisboa<br />

Colaboração e ilustração em obras de poetas e<br />

Kimberly Gallery, Washington e Scott Allan Gallery, New York<br />

Waves of Influence, Cinco Séculos do Azulejo Português, Museum of Art, Rhode Island<br />

escritores: Agustina Bessa-Luís; José Saramago; 1993 10 Anos de Pintura 1982-1992, Paço dos Duques de Bragança, Guimarães<br />

FAC’96, FORUM 96, Galeria 111<br />

Miguel Torga; Sophia de Mello Breyner Andresen;<br />

Pintura – Desenho, Centro de Estudos Judiciários, Lisboa<br />

1998 ARCO’ 98, Galeria 111, Madrid<br />

Pedro Tamen; António Alçada Baptista; Manuel<br />

Japão – Diário de Viagem, Galeria 111, Lisboa<br />

O que há de Português na Arte Portuguesa do Século XX, Palácio Foz, Lisboa<br />

António Pina; Nuno Júdice; Clara Pinto Correia; 1994 Pintura 1982-1992, Cooperativa Árvore, Porto e Mitra, Lisboa<br />

Arte Contemporânea Anos 60 /90, Galeria 111, Porto e Lisboa<br />

José Fernandes Fafe; António Osório; Ana Marques<br />

Biombos, Central Tejo – Museu da Electricidade, Lisboa<br />

Figures from a Collection, F.C.G., Galeria de Arte da China, Beijing<br />

Gastão; José Carlos de Vasconcelos, entre outros.<br />

O Espírito da Oliveira, Museu Alberto Sampaio, Guimarães<br />

1999 ARCO’99, Galeria 111, Madrid<br />

Graça Morais na Colecção da Fundação Paço D’Arcos, Museu da Água, Lisboa<br />

Five Portuguese Painters, Guinness Hopstore, Dublin<br />

Graça Morais está representada em inúmeras 1995 As Escolhidas, Galeria 111, Lisboa<br />

Auto do Nascimento – Leituras da Carta de Pêro Vaz de Caminha e Outros Tesouros, Palácio de Belém, Lisboa<br />

colecções públicas e privadas: Assembleia da 1996 Antologia 1982-1995, Casa do Corpo Santo, Casa de Bocage e Museu do Trabalho Michel Giacometti, Setúbal<br />

2000 Auto do Nascimento – Leituras da Carta de Pêro Vaz de Caminha e Outros Tesouros,<br />

República, Câmara Municipal de Lisboa, Universidade 1997 Memória da Terra /Retrato de Mulher, Culturgest, Lisboa e Museu Soares dos Reis, Porto<br />

Sociedade Nacional de Belas-Artes, Lisboa; Museu dos Transportes e Comunicações, Alfândega do Porto<br />

Técnica de Lisboa, C.A.M. – Fundação Calouste<br />

Desenho – Pintura 1982-1997, Inst. Açoriano de Cultura, Palácio dos Capitães Generais, Angra do Heroísmo<br />

ARCO’00, Galeria 111, Madrid<br />

Gulbenkian, Fundação Serralves, Fundação<br />

Desenho – Pintura 1982-1997, Angra do Heroísmo e Academia das Artes dos Açores, Ponta Delgada<br />

Diez Artistas Portugueses Contemporáneos, Colecção Manuel de Brito, Museo de la Ciudad, Madrid<br />

Luso-Americana, Ministério das Finanças, 1998 Cabo-Verde. O Espírito do Lugar, Museu Alberto Sampaio, Guimarães<br />

2001 8 Pintoras Portuguesas, Fundação Bissaya Barreto, Coimbra<br />

Casa-Museu Anastácio Gonçalves, Museu de Angra<br />

Rostos da Terra, Alfândega de Fé, Mirandela, Vila-Flor, Carrazeda de Ansiães e Macedo de Cavaleiros<br />

Portugal: La mirada cercana, Fundación Provincial de Artes Plásticas Rafael Boti, Córdova<br />

do Heroísmo, Museu Municipal de Vila Flor, Museu<br />

Pintura e Desenho 1982-1997, Centro Cultural Emmérico Nunes, Sines<br />

2002 ARCO’02, Galeria 111, Madrid<br />

Abade de Baçal de Bragança, Museu de Arte Moderna<br />

Geografias do Sagrado, Galeria 111, Porto<br />

100 Anos, 100 Artistas, S.N.B.A., Lisboa<br />

de <strong>São</strong> Paulo – Brasil, Millennium-BCP, Banco Espírito<br />

Caretos, Galeria de Arte J. Gomes Alves, Guimarães<br />

Azulejos - 12 Artistas Portugueses Contemporâneos, Galeria da Livraria Portuguesa, Macau<br />

Santo, Banco Português de Negócios, Montepio Geral, 1999 Geografias do Sagrado, Pallazo Geremia e Pallazo Trentini, Trento<br />

2003 ARCO’03, Galeria 111, Madrid<br />

Caixa Geral de Depósitos, Caixa de Crédito Agrícola<br />

Exposição Antológica, Palácio Foz, Lisboa<br />

Colecção de Arte Contemporânea da Caixa Geral de Depósitos, Museo Extremeño de Arte Contemporáneo, Badajoz<br />

de Bragança, Fundação Mário Soares, Colecção 2000 Terra Quente – O Fim do Milénio, Galeria 111, Lisboa<br />

2004 ARCO’04, Galeria 111, Madrid<br />

Manuel de Brito, Colecção da Fundação Paço D’ Arcos, 2001 Terra Quente – Peinture et Dessin 1999-2001, Centre Culturel Calouste Gulbenkian, Paris<br />

2005 ARCO’05, Galeria 111, Madrid<br />

Culturgest, Cooperativa Árvore Colecção do Centro de<br />

Les Déesses de la Montagne, Instituto Camões, Paris<br />

2006 ARCO’06, Galeria 111, Madrid<br />

Arte Contemporânea Graça Morais.<br />

2002 A Idade da Terra, Galeria 111, Lisboa<br />

Exposição Inaugural do Centro de Arte Manuel de Brito, Palácio Anjos, Algés


_ 6<br />

2007 ARCO’07, Galeria 111, Madrid<br />

2008 Olhares no Feminino, Galeria 111, Casa Museu Bissaya Barreto, Coimbra<br />

À Volta do Papel, CAMB, Palácio Anjos, Algés<br />

2009 Anos 90, CAMB, Palácio Anjos, Algés<br />

Anos 70 Atravessar Fronteiras, CAM, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa<br />

Arte Partilhada Millennium BCP, Exposição Itinerante de Pintura,<br />

Centro de Arte Contemporânea Graça Morais, Bragança, Aveiro, Évora e Funchal<br />

2010 Arte Ponto por Ponto, Tapeçarias de Portalegre, Centro Cultural de Cascais<br />

BIBLIOGRAFIA (resumo)<br />

1976 Espaço Pictural, Espaço Mental; Egídio Álvaro; Museu Alberto Sampaio; Guimarães<br />

1978 Mémoire d’une Realité qui Fuit; Egídio Álvaro; Fundação Calouste Gulbenkian; Paris<br />

1980 O Rosto e os Frutos; Fernando de Azevedo; S.N.B.A.; Lisboa<br />

1983 Graça, depois do Rosto e os Frutos; Fernando de Azevedo; Galeria 111<br />

1984 Graça Morais, Mapas e o Espírito da Oliveira; José Sommer Ribeiro, Bruno Musatti,<br />

Fernando de Azevedo e Frederico Morais; MAM <strong>São</strong> Paulo/MAM Rio de Janeiro<br />

1985 Graça Morais, Linhas da Terra; António Mega Ferreira; Monografia; INCM<br />

1987 Evocações e Êxtases; Sílvia Chicó, Fernando de Azevedo e António Barahona; Galeria 111<br />

1991 Graça Morais, Artista do Ano; vários autores; Prémio Soctip 1991; Soctip<br />

Graça Morais; Sílvia Chicó e Lídia Jorge; Museu do Abade de Baçal; Bragança<br />

1992 Graça Morais; Ruth Rosengarten; Kimberly Gallery; Washington e Scott Alan Gallery; NY<br />

1995 As Escolhidas; Graça Morais, Manuel Hermínio Monteiro; Ed. Assírio e Alvim<br />

1996 Antologia 1982-1995; Fernando António Baptista Pereira; CM Setúbal<br />

1997 Cães; Pedro Tamen; Galeria Ratton<br />

Graça Morais; Vasco Graça Moura e Sílvia Chicó; Quetzal /Galeria 111<br />

Memória da Terra /Retrato de Mulher: Exposição Antológica de Graça Morais; F. Pernes, F. Azevedo,<br />

Sílvia Chicó, Rui Gonçalves e Mónica Baldaque; Culturgest, Museu Nacional de Soares dos Reis<br />

1998 Graça Morais, Rostos da Terra; F. Pernes, Sílvia Chicó e Rui Gonçalves; Ed. Cooperativa Árvore<br />

Graça Morais, Painéis de Azulejo para a Estação de Belourusskaya; João Pinharanda; Metropolitano de Moscovo<br />

2000 Graça Morais, Terra Quente, O Fim do Milénio; António Carlos Carvalho; Ed. Gótica<br />

Anjos da Montanha; Júlio Moreira e Bernardo Pinto de Almeida; B. M. de Carrazeda de Ansiães<br />

2001 100 Quadros Portugueses do Séc. XX; José Augusto França<br />

Deusas da Montanha; Nuno Júdice e Manuel H. Monteiro; C. C. Português, Instituto Camões, Paris<br />

Terra Quente - Peinture et Dessin 1999-2001; Francisco Bettencourt e Sílvia Chicó; Calouste Gulbenkian, Paris<br />

2002 A Idade da Terra; Maria Velho da Costa; ed. Galeria 111, Quetzal Editores<br />

2003 A Terra e o Tempo; Fernando Pernes e Ana Marques Gastão; Câmara Municipal de Aveiro<br />

2005 Visitação; Manuel António Pina; Galeria 111<br />

2005 Graça Morais, Os Olhos Azuis do Mar; António Mega Ferreira; Câmara Municipal de Sines<br />

2005 Uma Geografia da Alma; vários autores; Edições Bial<br />

Graça Morais, Retratos e Auto-Retratos; Sílvia Chicó; Fundação D. Luís I; Cascais<br />

2006 A Pintura de Graça Morais como condição do Drama e da Fábula; Cristina Tavares;<br />

Cordoaria Nacional /Colecção da Fundação Paço d’ Arcos; CM Lisboa<br />

2007 Graça Morais: In Sofrimento; José Vialle Moutinho; Museu Municipal de Coimbra<br />

2008 Graça Morais – Pinturas e Desenhos 1982 a 2005; João Fernandes; CM Bragança /CACGM<br />

2009 Respiração Suspensa; Manuel A. Pina; Catálogo da Exposição no DN e JN; Lisboa /Porto<br />

A Máscara e o Tempo; Pedro Caldeira Cabral; Galeria Ratton<br />

2010 Graça Morais, Retratos com Raízes; Miguel Matos; Centro de Arte Manuel de Brito<br />

FILMES<br />

1997 As Escolhidas de Margarida Gil, baseado na obra de Graça Morais<br />

1999 Na Cabeça de uma Mulher está a História de uma Aldeia<br />

Documentário de Joana Morais sobre a vida e obra de Graça Morais<br />

<strong>OLHAR</strong> <strong>GRAÇA</strong> <strong>MORAIS</strong>


<strong>OLHAR</strong> <strong>GRAÇA</strong> <strong>MORAIS</strong><br />

Sílvia Chicó, Colares, Agosto de 2010<br />

Ao Fernando Pernes, grande crítico de arte e excepcional amigo, que tantas vezes guiou os passos dos<br />

artistas, e os meus na crítica, homenagem sentida, com muitas saudades do tempo em que assinalar<br />

a arte dos jovens (e não jovens), significava prazer e partilha, quando a promoção dos artistas era<br />

vista como missão generosa e desinteressada.<br />

Eis uma exposição resultante de parte da colecção de Mário e Maria Helena <strong>Roque</strong>, de obras<br />

da pintora Graça Morais. Revela-se um olhar sofisticado, que nos informa sobre o gosto<br />

do coleccionador. O olhar de um médico, que se dedica agora à antiquária, de alguém que<br />

sempre gostou de se ver rodeado de objectos de arte. Mário <strong>Roque</strong>, médico radiologista<br />

em plena actividade profissional, tem igualmente dedicado o seu tempo ao restauro de<br />

património, através da recuperação de casas rústicas, trabalho em que tem obtido resultados<br />

surpreendentes. O seu gosto, o seu bom gosto, o requinte com que restaura as suas casas<br />

recuperadas, é assinalável. Seria bom que muitos arquitectos observassem o tratamento de<br />

interiores como o faz este médico…<br />

Temos uma exposição que exibe um aspecto da obra da artista, mas que mostra também a génese<br />

de uma colecção. Não esqueçamos que muitos museus têm origem no gosto específico de<br />

personalidades, das suas colecções, geralmente organizadas com base em critérios pessoais.<br />

Sobre esses critérios, que surgem por uma infinidade de razões, muito haveria a dizer.<br />

Sejam eles por pura vontade de investigação, por mero gosto pessoal ou ainda por espírito<br />

de coleccionador em que, por vezes, a caça de peças idênticas se torna obsessiva, quase<br />

roçando o patológico. Pode ser também o resultado da junção de obras feitas por estudiosos,<br />

especializados em determinadas épocas, escolas ou estilos. Sem, por exemplo, Alfred Barr ou<br />

Jean Cassou, para dar apenas exemplos já históricos, que se ocuparam da arte do século XX,<br />

não existiriam os núcleos fundadores do MOMA ou Museu de Arte Moderna de Paris. <strong>São</strong><br />

colecções que se organizaram em torno de ideias estruturantes da história da arte, reflectindo<br />

uma visão que não pode deixar de considerar-se autoral.<br />

Vejamos pois esta colecção, tentando uma leitura de cada obra, para a qual escrevemos textos<br />

específicos, acompanhando cada imagem, em que se pretende alguma intenção pedagógica,<br />

a fim de poder funcionar para além do tempo da exposição, como que uma legenda alargada,<br />

para os fruidores da obra de Graça Morais – penso sobretudo nos estudantes – para que, depois<br />

da exposição acabada, estes pequenos textos possam operar como suporte informativo, para<br />

quem estiver interessado em conhecer parte do vasto universo pictórico de Graça Morais.


_ 10<br />

01<br />

Vemos uma cabeça de mulher que nos olha frontalmente, dir-se-ia um close-up de uma imagem<br />

mais vasta. Esta pintura resume a especificidade do trabalho da artista: é figurativa, quase<br />

realista, mas não abdica de um enquadramento que tem origem na Nova Figuração<br />

(o figurativo e o abstracto em conjugação). A cara da mulher é claramente a de um modelo<br />

de mulher idosa transmontana, que a pintora tanto retrata. É um tema recorrente e<br />

preferencial na sua obra, espécie de homenagem a um paradigma feminino central na<br />

imagética da artista, que desde os anos oitenta decidiu documentar mas recriando, a vida<br />

da sua terra natal. Mas o seu olhar nada tem de naturalista ou de pitoresco: as suas imagens<br />

reflectem uma postura que se pode aproximar dos expressionismos, é pulsional. Muita da<br />

sua temática assume um pendor autobiográfico.<br />

01. Natureza Viva, 1996<br />

Acrílico, carvão e pastel s/ papel; 120,5 x 159 cm; assinado c.i.e. e datado 30.8.96 c.s.d.


_ 12 02<br />

Menina do Circo é uma obra de juventude, realizada durante a estadia da artista em Paris,<br />

inspirada num caso de obesidade mórbida, exibido como atracção de circo. Graça Morais,<br />

como muitos artistas dos vários realismos, ocupa-se muitas vezes de seres desprotegidos<br />

e infelizes, marginalizados pela sociedade. Esta imagem, realizada na juventude é<br />

premonitória do que a artista virá a fazer mais tarde, ao tomar como modelos as suas<br />

célebres velhas. O lado triste da vida, o sofrimento e a velhice, estiveram desde sempre<br />

presentes na obra da artista.<br />

13 _<br />

02. Menina do Circo , 1978<br />

Pastel e sanguínea s/ cartão; 49 x 63,5 cm; assinado e datado Paris 10.11.78 c.i.e.


_ 14 03<br />

Uma cabeça clássica, símbolo da Grécia que se aprendia nas academias artísticas, retrato<br />

tipificado, que sobreviveu e frutificou durante séculos na arte ocidental. Aqui temos uma<br />

outra situação, obedecendo a outra lógica, mais perto das propostas surrealistas que das<br />

realistas. A cabeça dá-nos um olhar, quase vazio, que nos olha a nós. À sua frente, um<br />

elemento de outro código, um estranho objecto, à primeira vista difícil de identificar. Existe<br />

ambiguidade e convite à contemplação. Uma das riquezas de muitas obras da autora, que<br />

junta peças de diferentes puzzles, criando atmosferas em que o onírico se insinua, como<br />

neste caso, em que a invocação de De Chirico faz sentido.<br />

15 _<br />

03. Amordaçada, 1980<br />

Óleo s/ tela; 33 x 24,5 cm; assinado e datado 80 c.s.d.


_ 16 04<br />

Uma aguarela, em que um cão chamado Fadista é representado, um cão que existiu e foi<br />

modelo da pintora. É uma obra de dimensões pequenas, mas não é um estudo: existem<br />

dezenas, talvez centenas, de desenhos e pinturas, na obra da autora. O seu labor incessante<br />

dura há pelo menos quatro décadas. Desenhar, é como respirar, faz parte da natureza da<br />

artista. Neste caso, vemos um cão, um elemento circular lembrando um prato de cerâmica,<br />

e ainda um pequeno retrato de um homem. É o retrato de um criminoso retirado da<br />

imprensa, de um caso que impressionou a artista. Aparece como uma estampilha, quase<br />

podendo funcionar como assinatura. <strong>São</strong> temas amplamente desenvolvidos em outras<br />

séries, que aqui se juntam, num processo de convocação de experiências anteriores. Trata-se<br />

de uma combinação de códigos, de uma linguagem própria, pela autora inventada.<br />

17 _<br />

04. Fadista, 1978<br />

Aguarela, tinta-da-china e grafite s/ papel; 49,5 x 63,5 cm; assinado e datado Paris 24/7/78 c.i.d.


_ 18 05<br />

Um dos temas que marcam as primícias da constituição do universo temático de Graça Morais,<br />

é o tema da caça. Marca vivamente a invocação das práticas rurais e serve, simbolicamente,<br />

a múltiplas interpretações. A caça, a matança do porco, a violência destas práticas, são<br />

magistralmente invocadas em desenhos e pinturas do início dos anos oitenta. Mas se se<br />

caçam animais, os homens assimilam-se aos mesmos. E os animais simbolizam os homens<br />

com as suas virtudes e os seus defeitos. À maneira da Guernica de Picasso, obra visitada<br />

pela artista em Madrid em 1981, que muito a marcou. Mas a caça, os troféus da caça, podem<br />

ser também temas de natureza morta. Este desenho está entre essas duas situações: patas<br />

de animais suspensas na paisagem, ostentam um excelente domínio do desenho, criando<br />

uma insólita condição.<br />

19 _<br />

05. Voando sobre a Terra, 1981<br />

Aguarela e grafite s/ papel; 29,5 x 23,7 cm; assinado e datado 26.12.81 c.s.e.; 25.11.81 c.s.d.


_ 20 06<br />

Um quadro em que se vê um burro e uma figura sentada. Uma obra, em que se joga com as<br />

diferentes escalas das figuras representadas. É mais um exemplo de descontextualização,<br />

recurso formal frequente em obras de carácter surrealizante. Estamos perante uma cena<br />

bucólica? O que fazem estas duas figuras, quem são? É nessa ambiguidade e capacidade<br />

de juntar numa mesma cena imagens de diferentes códigos, que reside a riqueza poética<br />

existente em tantas obras da autora.<br />

21 _<br />

06. Joaquina – Uma Escolhida, 1996<br />

Acrílico, pastel e carvão s/ tela; 46 x 52 cm; assinado e datado 1996 c.i.d.<br />

Colecção particular.


_ 22<br />

07<br />

Uma tela em que a dramaticidade domina. Vemos figuras que protagonizam uma cena erótica,<br />

tendo em primeiro plano uma personagem, que parece surpreender a acção e uma outra,<br />

uma pequena figura, que parece independente do resto. O grau de ambiguidade aqui é<br />

máximo, é um dos quadros verdadeiramente significativos desta série da autora. É pelo<br />

desenho que se fundamenta esta cena, que mais do que explicitada, é sugerida. Interessa<br />

sobretudo a atmosfera criada, de grande intensidade dramática em que actos e atitudes<br />

contrastam. Como se alguém estivesse espreitando um acto amoroso, com toda a sua carga<br />

pecaminosa. O nome da série, “O Sagrado e o Profano” muito diz sobre o que pode ser uma<br />

experiência erótica, ligada à culpa e à condenação religiosa.<br />

07. O Sagrado e o Profano I, 1987<br />

Óleo s/ tela; 100,4 x 133,2 cm; assinado e datado 1987 em baixo ao centro.


_ 24<br />

08<br />

Uma obra de um ano particularmente rico em que Graça Morais, exímia desenhadora, se<br />

aventura na realização de obras de grande porte, agora em pintura. É um momento de<br />

passagem do desenho à pintura, que coincide com uma residência artística em Londres.<br />

Ainda se sente nesta obra uma construção que parte do desenho: as figuras são definidas<br />

pelos seus contornos. Neste momento, a pintora faz confluir figurações retiradas das suas<br />

representações anteriores em obras de particular intensidade, ganhando a sua pintura um<br />

carácter único em que a maturidade estilística da autora se afirma. Também aqui se vê o<br />

desenho servindo uma soberba representação dos corpos. Tema que aborda o erótico e o<br />

lado profano da religião, com os seus cerimoniais, algo que a pintora pôde testemunhar,<br />

conhecendo como conhece o lado pagão da religião transmontana, em que sobrevivem ritos<br />

de iniciação, ritos da primavera, etc, sabendo que o seu registo é urgente, pois a civilização e<br />

a inevitável modernização, tenderão a fazê-los desaparecer. Desde o início dos anos oitenta<br />

que a pintora elege definitivamente como tema a celebração da sua cultura local, num<br />

ponto do país que se sente à parte. Dizia-se: Para cá do Marão mandam os que cá estão. A<br />

cultura popular, algo independente e com as suas características sociais e religiosas, a força<br />

das mulheres que em tempos de grande emigração aguentavam as casas e asseguravam as<br />

culturas agrícolas, foi algo que Graça Morais quis testemunhar através da sua obra. As suas<br />

personagens são gente humilde, cuja força de carácter continuamente homenageia. Pode<br />

pensar-se que com este programa iria acontecer uma obra com características naturalistas<br />

ou realistas, mas a pintora soube criar uma linguagem em que esses sinais estando<br />

presentes, funcionam por alusão conferindo à obra um valor de ambiguidade passível de<br />

múltiplas leituras. É o caso desta composição em que se cruzam representações de corpos,<br />

aludindo uma velada sexualidade, apenas decifrável por ambígua representação de sexos.<br />

08. O Sagrado e o Profano II, 1987<br />

Óleo s/ tela; 100,4 x 133,2 cm; assinado e datado 1987 em baixo ao centro.


_ 26<br />

09<br />

Desenho de celebração de uma estação do ano, desenho que a artista realiza como quem faz<br />

um diário. Este desenho, grácil e quase ligeiro, representa bem o registo de elementos<br />

naturais que sempre existiram na obra da pintora. Recupera-se um labor quase<br />

feminino, que em tantas artes decorativas se pode encontrar, afirmando a delicadeza do<br />

gesto, recorrendo à simplicidade, sem pudor, nem medo de confusão com academismo.<br />

Estes desenhos constituem também uma fonte temática que a autora irá explorar,<br />

descontextualizar e usar à outrance, em conjugação, por exemplo, com uma linguagem<br />

expressionista se lhe for necessário. Essa capacidade de leveza, que vem também a<br />

reflectir-se em muitas aguarelas e ilustrações de obras literárias, denotam o virtuosismo e a<br />

maturidade pictórica de uma pintora que desde cedo se revelou mestre do desenho.<br />

09. Raminho da Sorte, 1988<br />

Grafite s/ papel; 19 x 29 cm; assinado ao centro e datado 31.12.88 c.i.d.


_ 28<br />

10+11<br />

Duas pinturas do tempo em que a artista resolveu pintar em panos de estopa já “pintados”<br />

pelo uso. As manchas decorrentes da utilização na recolha da azeitona formaram a base,<br />

o “chão sagrado” com que a artista uma vez mais homenageia o labor rural dos seus<br />

conterrâneos. Um grande pano que pode funcionar como uma tela, e que, como tela passou<br />

a ser usado. Nesta atitude uma memória do Informalismo Matérico? Quem pode ignorar<br />

a poética de Tàpies? Estas formulações têm consequências em obras de grande porte, que<br />

veremos depois na obra da autora.<br />

12 +13<br />

Outras pinturas em que a da esquerda nos mostra um anjo barroco segurando uma figura.<br />

Permanece a ambiguidade, que é convite claro à interpretação característica que se pode<br />

considerar estilística na obra da autora, nela residindo uma das suas principais riquezas.<br />

SÉRIE II<br />

GEOGRAFIAS DO SAGRADO


_ 30 31 _<br />

10. Geografias do Sagrado I, 1998<br />

Gouache e caneta de feltro s/ papel; 29,5 x 21 cm; assinado c.i.d. e datado 1998 c.i.e.<br />

11. Geografias do Sagrado II, 1998<br />

Gouache e caneta de feltro s/ papel; 42 x 30 cm; assinado e datado 1998 c.i.d.


_ 32 33 _<br />

12. Geografias do Sagrado III, 1998<br />

Gouache e caneta de feltro s/ papel; 41,7 x 29,5 cm; assinado e datado 1998 c.i.d.<br />

13. Geografias do Sagrado IV, 1998<br />

Goauche e caneta de feltro s/ papel; 42 x 30 cm; assinado em baixo ao centro e datado 1998 c.i.d.


_ 34 14<br />

Esta cabeça alude sem dúvida a um tema caro à artista: a velhice. Pode dizer-se que Graça<br />

Morais homenageia os velhos e os anónimos, os rostos do povo que ninguém celebra ou<br />

exalta. Fernando Pernes, o crítico que mais lucidamente entendeu a obra de Graça Morais<br />

refere: A velhice que desce sobre o mundo, em texto sublime que talvez tenha ajudado a<br />

definir as premissas estéticas, e quiçá, o desenvolvimento da obra da autora. Aqui vemos<br />

um rosto já deformado, uma pele escura, mas, curiosamente, uma pose majestosa. Essa é<br />

a mensagem: encontrar beleza na aparente fealdade, chamar a atenção, não apenas para os<br />

humilhados e ofendidos, mas paro o povo visto no máximo da dignidade. Nesse aspecto, a<br />

obra de Graça Morais é profundamente original. A sua mensagem passou e é reconhecida.<br />

35 _<br />

14. Metamorfoses III, 2001<br />

Aguarela, tinta-da-china, sépia e goma laca s/ papel; 26,8 x 19,7 cm; assinado e datado 7.viii.001 c.i.d.<br />

Figurou na exposição “Graça Morais – A Terra e o Tempo. Pintura e Desenho 1987/2003”, Museu da República, Aveiro 2003 (cat. p. 83).


_ 36<br />

15+16<br />

Em 2005 Graça Morais empreende mais uma aventura: a da observação do povo pescador, desta<br />

vez em Sines. A pintora instala-se por um tempo perto da faina da pesca, captando os gestos<br />

e as movimentações dos pescadores. E, mais uma vez, aí descobre a grandeza inerente a uma<br />

profissão ancestral. Os homens, as redes, mas também os pássaros. Gaivotas que sempre<br />

estão por perto, completam a paisagem onde o mar azul é o grande protagonista.<br />

17+18<br />

Dois modelos que a artista leva para o seu atelier de Sines: dois peixes que agora são estudados,<br />

como já o foram a perdiz e o gafanhoto. Uma cabeça de peixe que contém uma forte<br />

expressividade. Bocas abertas e olhos enormes. Se fossem rostos, seriam rostos expressionistas.<br />

SÉRIE<br />

OS OLHOS AZUIS DO MAR


_ 38 39 _<br />

15. Os Olhos Azuis do Mar I, 2005<br />

Carvão s/ papel; 29,5 x 41,8 cm; assinado e datado 05 c.i.d.<br />

Figurou na exposição “Os olhos Azuis do Mar”,<br />

Centro de Arte de Sines, Sines 2005.<br />

16. Os Olhos Azuis do Mar II, 2005<br />

Carvão s/ papel; 29,5 x 41,8 cm; assinado e datado 05 c.i.d.<br />

Figurou na exposição “Os olhos Azuis do Mar”,<br />

Centro de Arte de Sines, Sines 2005.


_ 40 41 _<br />

17. Os Olhos Azuis do Mar III, 2005<br />

Pastel s/ papel; 32 x 24 cm; assinado e datado 26.x.0v c.i.d.<br />

18. Os Olhos Azuis do Mar IV, 2005<br />

Pastel s/ papel; 32 x 24 cm; assinado e datado 26 x 0v em baixo ao centro.


_ 42<br />

19<br />

Este quadro é talvez o principal da exposição. O tema difere das cenas de faina campestre. Mas,<br />

se nas anteriores, encontramos simbioses entre homens e bichos – bovinos por exemplo,<br />

e por herança picasseana – aqui surgem os peixes e as gaivotas antropomorfizadas. Duas<br />

pequenas figuras do lado esquerdo do quadro evocam os emigrantes que a pintora vira<br />

partir para o Brasil. Mesmo fora do contexto transmontano invoca-se sempre a dureza da<br />

vida, o drama da emigração. A Menina Gaivota é um pássaro com cabeça humana, cabeça<br />

essa que engole um peixe. Ao fundo, um barquinho. Uma figura serena, lembrando as<br />

personagens de António Dacosta. Num mesmo quadro a pintora conjuga uma série de<br />

situações. Embora o mar seja o pano de fundo, os dramas humanos permanecem.<br />

19. A Menina Gaivota em Dias de Nevoeiro, 2005<br />

Pastel e carvão s/ papel; 120 x 160 cm; assinado e datado 2005 em baixo ao centro.<br />

Figurou na exposição “Os olhos Azuis do Mar”, Centro de Arte de Sines, Sines 2005 (cat. p. 49).


_ 44 20<br />

Uma cabeça de galo pequeno. Os modelos de Graça Morais são vários e neles é frequente a<br />

presença de animais. Talvez se trate de um exercício de estilo ou, simplesmente, de um<br />

trabalho para cultivar a disciplina da observação, que está para os pintores como a corrida<br />

está para os atletas. Faz-se para não perder a mão, mas também por puro prazer. Para quem,<br />

como Graça Morais, não consegue deixar de desenhar e pintar.<br />

45 _<br />

20. Sem Título, 2005<br />

Óleo e pastel s/ tela; 60 x 73,5 cm; assinado e datado 2005 no verso.


_ 46 21+22<br />

Dois tordos, pequenos troféus de caça. Mais um exemplo do que atrás foi dito. A relação com<br />

os animais e a natureza uma vez mais presente. De notar como é sublinhada a fragilidade de<br />

um pássaro morto. Simbolizando algo? Talvez…<br />

47 _<br />

21. Pequeno Troféu de Caça I, 2006<br />

Aguarela e tinta-da-china s/ papel; 30 x 42 cm; assinado e datado vi.viii.vi em baixo ao centro.<br />

22. Pequeno Troféu de Caça II, 2006<br />

Aguarela e tinta-da-china s/ papel; 30 x 42 cm; assinado e datado 2.viii.06 em baixo ao centro.


_ 48<br />

23<br />

Decorrem estes desenhos de uma situação em que a pintora estava a observar duas mulheres<br />

conversando. Essas mulheres eram a sua mãe e uma amiga desta. Imaginou-as como<br />

pássaros e produziu estes desenhos. Estes trabalhos muito dizem da sua vasta simbiose<br />

formal entre animais e humanos, tema que lhe é caro. Estas obras são uma graça: podem<br />

lembrar-nos o Papagueno e a Papaguena da Flauta Mágica de Mozart. Obra aparentemente<br />

despretensiosa, revela a capacidade de num momento transformar os seus modelos,<br />

alterando-lhes a identidade…<br />

24+25<br />

Duas cabeças algo enigmáticas, vistas em plongé. Figuras cujos olhos não se percebem. O<br />

turbante, a coifa ou o lenço, podem ler-se quase como uma representação do cérebro. Mais<br />

uma vez a ambiguidade que ultrapassa todas as classificações possíveis, denotando mestria<br />

e liberdade, passíveis de ultrapassar o espectável.<br />

26<br />

Uma variante de um tema eleito da autora. O retrato de modelos de mulheres velhas que<br />

se assemelham a bichos. Mas estas simbioses na obra de Graça Morais nunca tendem<br />

a denegrir ou ridicularizar os modelos. Bem pelo contrário: é como se estas mulheres<br />

ganhassem as qualidades e a força dos animais com os quais a pintora as cruza ou confunde.<br />

O processo mágico-simbólico da máscara é convocado nestas figurações. A exaltação deste<br />

tipo de tema – a cabeça das mulheres velhas – é um mote maior e quase inesgotável na obra<br />

da autora. Os seus auto-retratos e a aproximação destes dos de sua mãe, que continuamente<br />

exalta e homenageia, muito dizem sobre a pessoa da autora, da sua afectividade e ligação ao<br />

mundo materno.<br />

27<br />

Retrato em close-up de uma mulher cujo olhar se torna insólito: a pupila do olho direito é<br />

enorme, o rosto está coberto de traços que sugerem pêlos, como se a mulher se estivesse a<br />

transformar em bicho. <strong>São</strong> traços de grande dinamismo, quase de raiva, como a desfazer o<br />

retrato. Mas ao desfazê-lo, confere-lhe uma rara pujança, que mais uma vez remete a obra<br />

para um registo expressionista. Pontuam a obra toda de Graça Morais estes actos em que<br />

a pintura, com as lógicas formais que uma linguagem plástica carrega, afirma a profunda<br />

originalidade e a certeza de uma voz própria, que a artista ao longo do seu intenso labor<br />

soube construir. E que a tornam inconfundível.<br />

28+29<br />

Um pássaro morto, uma perdiz, objecto de particular significação afectiva, recordando uma<br />

oferta do pai da artista. O pássaro que ao ressuscitar, o seu bico é transformado em nariz.<br />

Quantas pessoas conhecemos que têm cara de pássaro? E quantas outras enxergamos que<br />

têm cara de outros bichos, de macacos, por exemplo. Picasso, num dos seus últimos autoretratos,<br />

já perto da morte, representa-se quase como um macaco. A metamorfose pode<br />

relacionar-se com a velhice, com a integração num vasto mundo animal, ao qual o homem<br />

regressa. Essa noção está certamente presente na obra de Graça Morais.<br />

SÉRIE<br />

DIÁLOGOS COM A TERRA


_ 50 51 _<br />

23. Diálogos com a Terra – Conversas com Tempo, 2006<br />

Tinta-da-china e sépia s/ papel; (4x) 20 x 28,5 cm; assinados e datados 19.2.06.<br />

Figuraram na exposição “Diálogos com a Terra”, Galeria Ratton, Lisboa 2006.<br />

Reproduzidos na revista Egoísta, Ed. Especial “Paz”, Dezembro 2009 (p. 204, 205 e 206).


_ 52 53 _<br />

24. Diálogos com a Terra – Sem Título I, 2006<br />

Acrílico, aguarela e tinta-da-china s/ papel; 30 x 42 cm; assinado e datado 21.2.06 c.i.d.<br />

Figurou na exposição “Diálogos com a Terra”, Galeria Ratton, Lisboa 2006.<br />

25. Diálogos com a Terra – Sem Título II, 2006<br />

Acrílico, aguarela e tinta-da-china s/ papel; 41 x 29 cm; assinado e datado Fev. 2006 c.i.d.<br />

Figurou na exposição “Diálogos com a Terra”, Galeria Ratton, Lisboa 2006.


_ 54 55 _<br />

26. Diálogos com a Terra – Metamorfoses I, 2006<br />

Acrílico, aguarela, tinta-da-china e sépia s/ papel; 19,6 x 19,6 cm; assinado e datado 25.ii.06 c.i.e.<br />

Figurou na exposição “Diálogos com a Terra”, Galeria Ratton, Lisboa 2006.<br />

Reproduzido na revista Egoísta, Ed. Especial “Paz”, Dezembro 2009 (p. 196).<br />

27. Diálogos com a Terra – Metamorfoses II, 2006<br />

Acrílico, tinta-da-china e sépia s/ papel; 19,6 x 19,6 cm; assinado e datado 25.ii.06 c.i.d.<br />

Figurou na exposição “Diálogos com a Terra”, Galeria Ratton, Lisboa 2006.<br />

Reproduzido na revista Egoísta, Ed. Especial “Paz”, Dezembro 2009 (p. 198).


_ 56 57 _<br />

28. Diálogos com a Terra – Sem Título, 2006<br />

Aguarela, tinta-da-china e grafite s/ papel; 29,3 x 41,7 cm; assinado e datado 21.2.06 c.i.d.<br />

Figurou na exposição “Diálogos com a Terra”, Galeria Ratton, Lisboa 2006.<br />

Reproduzido na revista Egoísta, Ed. Especial “Paz”, Dezembro 2009 (p. 202).<br />

29. Diálogos com a Terra – Outra Metamorfose, 2006<br />

Aguarela, tinta-da-china e sépia s/ papel; 29,6 x 20,8 cm; assinado e datado 20.2.06 c.i.d.


_ 58 30<br />

Um trabalho recente, uma pose que podia ser de um impressionista, um rosto atento a algo,<br />

apoiado na mão. Uma mulher a ouvir uma conversa à lareira? Mais uma vez um retrato,<br />

sem medo que o pendor naturalista venha desvirtuar o estilo da pintora. Um dos milhares<br />

de retratos deste tipo de mulheres, que a artista tem vindo a produzir, trazendo luz para a<br />

vida simples da gente do campo. E essa simplicidade é elogiada em obras como esta.<br />

59 _<br />

30. Sem Título, 2009<br />

Acrílico, pastel e carvão s/ tela; 65 x 54 cm; assinado c.i.d.; anotado At. C. Castelo c.i.e.


_ 60 31<br />

Um desenho do ano em que a pintora inicia o seu programa de “regresso às origens” depois de<br />

uma estadia em Paris. Está-se no início da década de oitenta, em que as identidades nacionais<br />

e as culturas locais se valorizam. A Europa cansada da hegemonia americana na política<br />

das artes, exibe orgulhosa a sua antiguidade. Tratou-se de um momento de viragem e de<br />

regresso à pintura, depois de um excesso de arte conceptual. Nesse momento, e estando bem<br />

informada das démarches dos artistas, Graça Morais instala-se na sua terra natal, iniciando<br />

um processo que viria a ser crucial para a sua actividade de pintora. Este retrato, em que uma<br />

cabeça de mulher se conjuga com um vegetal, apesar de ser um desenho com características<br />

muito realistas, contém já as premissas estilísticas reveladas no futuro.<br />

32+33<br />

Dois retratos de mulher, exibindo os seus penteados. Os cabelos longos são apanhados<br />

formando um corucho, termo transmontano, designando um chignon ou um carrapito.<br />

Penteado elaborado que corresponde a uma tradição e a uma cultura. Típico de uma moda<br />

antiga que pelos penteados se identificavam as mulheres. Estes dois quadros pertencem<br />

a uma vasta série em que a artista se dedicou a retratar estes penteados, no intuito de<br />

preservar imagens que tendem a desaparecer, com a inevitável modernização e influência<br />

das modas urbanas.<br />

61 _<br />

31. Vieiro, 1981<br />

Grafite s/ papel; 31 x 41 cm; assinado e datado 1981 c.s.d.


_ 62 63 _<br />

32. Na Cabeça de uma Mulher Está a História de uma Aldeia I, 2006<br />

Óleo, pastel e carvão s/ tela; 60 x 73 cm; assinado c.i.d. e datado 06 no verso.<br />

33. Na Cabeça de uma Mulher Está a História de uma Aldeia II, 2006<br />

Acrílico s/ tela; 33 x 41,2 cm; assinado c.i.d. e datado 06 no verso.<br />

Colecção particular.


_ 64<br />

34<br />

Aqui temos um retrato de uma Mater Dolorosa, correspondendo a um paradigma, numa<br />

sociedade em que as mulheres são as mais sacrificadas e sobre elas se exerce a discriminação<br />

e a maldade do mundo. Uma figura que poderia ser de uma pintura religiosa. Não<br />

esqueçamos que Graça Morais observou e retratou muitos santos de altar, deles recolhendo<br />

fortíssima inspiração. Essas imagens, quase ingénuas, contêm a influência do barroco<br />

português. Nelas os santeiros dão largas à imaginação, como acontece frequentemente em<br />

muita arte não erudita.<br />

34. In Sofrimento V, 2007<br />

Acrílico, pastel e carvão s/ tela; 81 x 100 cm; assinado e datado 07 c.s.e.<br />

Figurou na exposição “Graça Morais – In Sofrimento”, comemorativa do Centenário do Nascimento de Miguel Torga,<br />

Museu Municipal, Coimbra 2007 (capa de cat. e p. 25).


_ 66 35<br />

Outro, (quantos haverá?) retrato de uma mulher idosa. Um tema perseguido, uma pontuação<br />

do tempo, na recolha dos retratos que por vezes se confundem com os auto-retratos da<br />

autora. Vários pintores o fizeram, pensemos apenas em Rembrandt, que exerceu o máximo<br />

de objectividade na captação dos seus traços.<br />

67 _<br />

35. Sem Título, 2010<br />

Acrílico s/ papel; 30 x 40 cm; assinado e datado 12.vi.0x c.s.d.


_ 68 36<br />

Pensar em Van Gogh, que sublinhava os volumes representados com traços paralelos, em<br />

pinceladas que funcionam como signos. Van Gogh um dos “pais” do Expressionismo ao qual<br />

tanto se liga a obra da autora, e de outros artistas dos anos oitenta. Um rosto popular, com<br />

as típicas arrecadas, um rosto quase másculo, dizendo da força da mulher retratada.<br />

69 _<br />

36. A Pensar em Van Gogh, 2009<br />

Acrílico s/ tela; 46 x 38 cm; assinado c.i.d. e datado 2009 c.i.e.


_ 70 37+38<br />

Duas aguarelas, que poderíamos chamar rituais, a celebrar a primavera deste ano de 2010. Um<br />

desenho grácil que não desaparece nunca dos formulários da artista.<br />

71 _<br />

37. Primavera I, 2010<br />

Aguarela e grafite s/ papel; 30 x 40 cm; assinado e datado 12.6.010 c.i.e.<br />

Colecção particular.<br />

38. Primavera II, 2010<br />

Aguarela s/ papel; 30 x 40 cm; assinado e datado 2010 c.i.d.


_ 72<br />

39. Alho Francês para a Sopa do Mário <strong>Roque</strong>, 2006<br />

Aguarela s/ papel; 23 x 32 cm; assinado e datado Eugaria 13.Ag.06 em baixo ao centro.<br />

Colecção particular.<br />

Desenho de férias, em que a artista, mesmo fora do seu atelier não prescinde de pintar e desenhar.<br />

Mais uma graça de Graça, que ao amigo oferece esta recordação, do verão de 2006 (Sílvia Chicó).<br />

A Menina Gaivota em Dias de Nevoeiro § Pormenor


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