Em choque com anunciantes, televisões criam nova associação para medir audiências

A RTP, a SIC e a TVI fundaram uma nova associação para “modernizar a medição de audiências de televisão”, anunciaram as três empresas num comunicado conjunto. A decisão surge semanas depois de estes meios terem decidido fechar um acordo com a GfK para continuar a medir as audiências por mais um ano, sendo o surgimento desta nova instituição reflexo do choque entre os canais e os anunciantes.

“Os três operadores nacionais RTP, SIC e TVI decidiram fundar uma nova associação responsável pela medição das audiências de televisão em Portugal, seguindo as melhores práticas internacionais, e tendo como objetivo principal a promoção, a modernização e a transformação futura da indústria televisiva em Portugal”, indicam as empresas na nota conjunta.

Esta nova plataforma vem pôr em causa o papel da Comissão de Análise de Estudos de Meios (CAEM) na medição das audiências televisivas de uma forma consensual entre as partes interessadas. A CAEM é a uma entidade de autorregulação que junta, entre outros, as televisões e os anunciantes, e que, recentemente, falhou as negociações com a GfK para continuar a medir as audiências televisivas.

Foi depois deste impasse que os operadores de televisão em sinal aberto decidiram fechar sozinhos um novo contrato anual com a GfK, a empresa responsável pela medição, para ficar em vigor durante o ano de 2019, decisão que gerou desconforto junto dos anunciantes.

Quando souberam do acordo entre as televisões portuguesas e a GfK, à margem da CAEM, a Associação Portuguesa de Anunciantes (APAN) mostrou-se, desde logo, surpreendida. Para a associação que agrega grandes anunciantes em Portugal, o acordo representou o “rompimento unilateral por parte dos operadores televisivos em sinal aberto do consenso entre os principais stakeholders do mercado, mantido desde há oito anos no seio da CAEM”.

Publicamente, as operadoras de televisão em sinal aberto afirmam apenas que pretendem garantir a “existência de um serviço de medição de audiências televisivas” que seja “transparente, fiável e independente”. Mas o problema, para estas empresas, residirá no atual modelo de governação da CAEM e nas convenções atuais que estão na base dessas medições. “O processo de decisão era muito complexo”, disse ao ECO uma fonte próxima das televisões.

Assim, depois de meses de negociações para tentarem mudar alguns aspetos da medição de audiências, as televisões decidiram aproveitar o fim do contrato entre a CAEM e a GfK para tentar inaugurar um novo paradigma na medição de audiências. Depois de terem fechado um novo acordo com a GfK sem que os anunciantes tivessem uma palavra a dar, as televisões decidiram criar esta nova associação e pretendem convidar os vários stakeholders, incluindo os anunciantes, a juntarem-se a esta nova plataforma.

“[RTP, SIC e TVI] irão convidar representantes de outros canais de televisão em Portugal, assim como stakeholders do mercado televisivo, a fazerem parte desta nova associação que ficará responsável pela gestão da medição de audiências durante o ano de 2019 e pelo lançamento de um concurso internacional para a prestação do serviço de medição de audiências para um prazo mais alargado, a partir de 2020″, acrescenta a nota conjunta emitida esta quarta-feira. Mas não é certo que os anunciantes aceitem juntar-se a ela.

O mesmo comunicado acrescenta, por fim, que “o modelo de governo da nova associação responsável pela gestão do sistema de medição de audiências de televisão em Portugal garantirá a representatividade do mercado e da indústria televisiva de forma inclusiva, transparente e eficaz, e implementará as melhores práticas internacionais na medição das audiências televisivas dos canais que operam em Portugal”.

A medição das audiências é uma parte importante do negócio da televisão, uma vez que servem de referência para a definição dos preços que são praticados junto dos anunciantes no que diz respeito à publicidade.

(Notícia atualizada às 13h35 com mais informações)

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