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Dez vezes em que manifestações políticas fizeram a diferença no esporte

Tommie Smith (centro) e John Carlos fazem o gesto dos "Panteras Negras" no pódio dos 200 m dos Jogos Olímpicos de 1968 Imagem: Associated Press

Do UOL, em São Paulo

03/03/2018 04h00

Defender uma causa política nem sempre envolve a participação de um partido, por exemplo. Muitas vezes, trata-se de uma manifestação que representa uma classe, uma etnia ou uma religião - causas eventualmente esquecidas justamente pelos partidos ao redor do mundo.

Na última semana, um artigo publicado pelo site da revista GQ trouxe o assunto à tona - e, com ele, muita polêmica. No texto, o jornalista Tiago Leifert deixou claro seu ponto de vista ao afirmar que "evento esportivo não é lugar de manifestação política".

"Será que o evento esportivo é um local apropriado para manifestações políticas? Eu acho que não. Olhando por todos os lados, não vejo motivos para politizar o esporte", disse o apresentador do Big Brother Brasil. "Do ponto de vista do atleta: ele veste uma camisa que não é dele (que, aliás, ele largará por um salário melhor), uma camisa que representa torcedores que caem por todo o espectro político. A câmera e o microfone só estão apontados para aquele jogador por causa da camisa que ele está vestindo e de sua performance esportiva. Não acho justo ele hackear esse momento, pelo qual está sendo pago, para levar adiante causas pessoais", acrescentou.

A história, porém, tem mostrado o contrário. Desde que o esporte começou a se organizar da forma que conhecemos hoje, a partir do fim do século XIX, equipes têm sido formadas para representar entidades de classes. Em campos e quadras de todo o mundo, competições têm representado mais do que placares: têm representado a soberania de povos, a união de etnias, a voz de indivíduos.

O UOL Esporte relembra dez casos, no Brasil e no mundo, em que o esporte foi o porta-voz para a política - sem hackear o espetáculo.

O esporte e a política

  • No futebol, soviéticos x nazistas

    O Start FC foi um time que fez bastante sucesso durante a Segunda Guerra Mundial. Formada por ex-jogadores de Dínamo de Kiev e Lokomotiv Kiev, majoritariamente ex-prisioneiros de guerra, a equipe fez sucesso nos campos do Leste Europeu, a ponto de incomodar os alemães. Desafiado pelo Flakelf (um time da Força Aérea Alemã), o Start aceitou, mesmo ciente das consequências que uma vitória poderia ter. Venceu por 5 a 3. Pouco tempo depois, os jogadores foram presos e enviados a campos de trabalhos forçados. Quatro foram mortos.

  • O pioneiro negro do beisebol

    Jackie Robinson estreou pelo Brooklyn Dodgers em 1947, tornando-se o primeiro atleta negro a disputar a Major League Baseball. Apesar das manifestações racistas vindas de adversários (e até companheiros) em seus primeiros anos de carreira, Robinson se tornou um dos maiores nomes da história da MLB. Em 1997, a liga aposentou o número 42 - que ele adotava em seu uniforme - em todos os times.

  • Muhammad Ali e a Guerra do Vietnã

    Em 1962, o pugilista Cassius Clay se encontrou com Malcom X, ativista dos direitos humanos nos EUA, e se tornou em um de seus seguidores. Quatro anos depois, já rebatizado como Muhammad Ali, foi convocado para a Guerra do Vietnã, mas se recusou. Alegou que, além de ser contrário aos ensinamentos de sua nova religião, o islamismo, o confronto estava deixando de lado os negros nos próprios EUA. Acabou proibido de lutar por três anos.

  • Os Panteras Negras

    Durante a cerimônia de premiação dos 200 m livres nos Jogos Olímpicos de 1968, na Cidade do México, os norte-americanos Tommie Smith e John Carlos - respectivamente medalhistas de ouro e de bronze na prova - baixaram a cabeça e levantaram os punhos com luvas negras. O gesto, segundo a dupla, era uma manifestação em favor dos direitos humanos. O australiano Peter Norman, medalha de prata, também usava uma insígnia favorável a causa em seu agasalho durante a cerimônia.

  • João Saldanha x Médici

    No início de 1970, o técnico da seleção brasileira, João Saldanha, sofria pressões de Emílio Garrastazu Médici, presidente da República durante à ditadura militar, para que convocasse Dadá Maravilha, então atacante do Atlético-MG. "Ele escala o ministério, e eu convoco a seleção", respondeu Saldanha. Demitido duas semanas depois, o treinador deu lugar a Zagallo no comando do Brasil que disputou a Copa do Mundo no México.

  • Democracia Corintiana

    Na década de 80, em meio ao processo de reabertura política do Brasil, jogadores do Corinthians lideraram um movimento de gestão autônoma da equipe: era a Democracia Corintiana, que deu grande destaque a nomes como Sócrates, Casagrande e Wladimir. O movimento perdeu força em 1984, mas ajudou a colocar alguns dos atletas do clube nas campanhas pelas eleições diretas no Brasil.

  • Mandela e o rúgbi

    Eleito o primeiro presidente negro da África do Sul após o regime do apartheid, Nelson Mandela aproveitou a Copa do Mundo de rúgbi de 1995 no país para unir a população. Embora a seleção do país fosse formada por atletas brancos até então, a África do Sul se esforçou para integrar atletas brancos e negros através do esporte - com destaque para Chester Williams, único negro do time e principal referência dos torcedores negros em campo. Com uma campanha surpreendente, a seleção da casa acabou campeã; na cerimônia de premiação, o capitão dos Springboks, François Pienaar, recebeu o troféu do próprio Mandela.

  • O futebol e a causa LGBT

    Não foram poucos os clubes ao redor do mundo que manifestaram publicamente seu apoio aos torcedores LGBT. Na Inglaterra, Chelsea e Norwich City, por exemplo, já deram seu apoio. Na MLS, o Orlando City tem um setor com as cores da bandeira do arco-íris em seu estádio. No Brasil, o Rio Claro já proibiu os gritos de "bicha" em sua torcida. Em 2017, Dinamarca e Alemanha realizaram um amistoso no qual os capitães utilizaram braçadeiras com as cores do arco-íris. Leia mais

  • De joelhos na NFL

    Em 2016, durante um jogo da NFL, o quarterback Colin Kaepernick (então no San Francisco 49ers) se ajoelhou durante o hino nacional dos Estados Unidos antes de jogos. O gesto foi motivado por questões raciais nos EUA e provocou debate no país - motivando, inclusive, outros atletas a repetir o gesto. A iniciativa foi bastante criticada pelo presidente Donald Trump em 2017.

  • Uma só Coreia

    Apesar de separadas politicamente, as Coreias do Norte e do Sul têm dado mostras de reaproximação em grandes eventos esportivos. O mais recente deles veio nos Jogos Olímpicos de Inverno de 2018, em PyeongChang (Coreia do Sul), quando os dois países disputaram o torneio feminino de hóquei no gelo com uma equipe unificada.

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