Netanyahu não consegue formar novo governo e Israel terá novas eleições

Vitorioso nas eleições de abril, mas sem maioria absoluta no Parlamento, primeiro-ministro não conseguiu fechar aliança com partido ultranacionalista
Líder do Yisrael Beiteinu, Avigdor Lieberman, no Knesset: governo não superou impasse Foto: MENAHEM KAHANA / AFP

TEL AVIV — O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu —  que venceu as eleições gerais de 9 de abril e caminhava para chefiar seu quinto governo em Israel —  não conseguiu formar uma nova coalizão de governo majoritária no Knesset , o Parlamento do país. Com isso, a maioria dos deputados aprovou na noite desta quarta-feira a dissolução da Casa, abrindo caminho para novas eleições, que deverão ser realizadas em 17 de setembro.

O  impasse aconteceu por causa de divergências entre o direitista Likud, partido do primeiro-ministro, e dois de seus potenciais parceiros de coalizão, o ultranacionalista Yisrael Beiteinu, comandado pelo ex-ministro da Defesa Avigdor Lieberman, e os partidos ultraortodoxos.

A princípio, o resultado das eleições de 9 de abril indicou que Netanyahu não teria problemas para formar uma maioria no do Parlamento de 120 assentos. O Likud  teve a maior bancada eleita, com 35 representantes. Contando seus aliados tradicionais ultraordoxos e nacionalistas, o primeiro-ministro parecia contar com uma maioria de 65 assentos.

No entanto, divisões entre o Yisrael  Beiteinu e o Judaísmo Unido da Torá relacionadas a uma lei de recrutamento militar que rege as isenções para os estudantes de seminários ultraortodoxos levaram as negociações a um impasse. O ex-ministro Lieberman, cuja base é formada por judeus seculares oriundos do Leste europeu, defende que todos os membros de comunidades ultraortodoxas sejam obrigados a servir o Exército, enquanto líderes das legendas religiosas se negam a aceitar essa exigência.

Os cinco assentos parlamentares que o Yisrael Beiteinu ganhou nas eleições de abril eram cruciais para que Netanyahu obtivesse uma maioria parlamentar. Apesar dos apelos do primeiro-ministro, que destacou a "flexibilidade política" dos ultraortodoxos, Lieberman não cedeu, classificando os compromissos das legendas religiosas como "uma farsa".

Num esforço para obter um acordo com os dois lados, Netanyahu apresentou uma nova proposta, na qual o projeto de lei defendido por Lieberman seria levado a votação após a formação da coalizão, enquanto os dois lados continuariam a negociar até a votação final. Como os projetos de lei devem ser aprovados em três votações no Congresso para entrar em vigor, a oferta de Netanyahu se apoiava na ideia de que todos os israelenses ultraortodoxos seriam obrigados a servir o Exército caso nenhuma lei fosse aprovada até julho.

Durante as negociações, o Likud chegou a lançar um comunicado afirmando que as negociações estavam encerradas, e que 60 deputados haviam concordado em se juntar ao governo, entre eles, quatro parlamentares do partido de centro-direita Kulanu. O presidente da legenda, Moshe Kahlon, afirmou que o Kulanu não assinara nenhum acordo de coalizão, e que não assinaria a menos que Netanyahu contasse com o apoio de 61 deputados (número que configuraria uma maioria parlamentar no Knesset) e que Kahlon ficasse com o Ministério da Fazenda.

Comentaristas políticos e membros do Likud sugerem que o verdadeiro motivo do impasse é a intenção de Lieberman de suceder Netanyahu e liderar a direita de Israel.  Ministro da Infraestrutura e dos Transportes durante o governo de Ariel Sharon, vice-primeiro-ministro no governo de Ehud Olmert, e ministro das Relações Exteriores e da Defesa no governo de Netanyahu, Lieberman é constantemente visto como o fiel da balança nas formações dos governos israelenses, e sua insistência para que membros de comunidades ultraortodoxas sirvam o Exército gerou incômodo nas legendas religiosas.

— Israel terá novas eleições porque Netahyahu se rendeu aos ultraortodoxos — bradou Lieberman durante a votação que definiu a dissolução do Parlamento.

Netanyahu se mostrou confiante na formação de um novo governo no futuro.

— Venceremos as próximas eleições — afirmou o líder do Likud, que culpou Lieberman pelo impasse. — Lieberman enganou seus eleitores e está arrastando todo o país a uma nova eleição, depois de ter sido responsável pela eleição anterior, apenas porque quer alguns votos a mais que não conseguirá.