23 fevereiro 2010 às 01h00

Seguros não pagam prejuízos com calamidade pública

ANA BELA FERREIRA, 

Alberto João Jardim decidiu não declarar estado de calamidade pública, na sequência dos danos causados pelo temporal de sábado, para não prejudicar o turismo da Madeira. Mas deputados do PSD e do CDS-PP acreditam que a decisão foi também influenciada pelo facto de as seguradoras ficarem isentas de pagar os prejuízos nesta situação.

Guilherme Silva, do PSD, e José Manuel Rodrigues, do CDS-PP, lembram que em caso de calamidade pública as seguradoras ficam isentas de pagar qualquer prejuízo, considerando que este terá sido o principal motivo para que Alberto João Jardim tenha evitado esta declaração. Uma decisão que não tem influência nos apoios comunitários e governamentais, já garantidos.

"O estatuto de calamidade tem alguns inconvenientes, como excluir o funcionamento dos seguros", sublinha Guilherme Silva. Uma ideia reforçada pelo deputado popular, ao considerar que este "poderia prejudicar o pagamento dos prejuízos das empresas privadas, do comércio e dos particulares por parte das seguradoras".

De facto a Lei de Bases da Protecção Civil determina que se consideram "nulas" as cláusulas de contratos de seguros "visando excluir a responsabilidade das seguradoras por efeito de declaração da situação de calamidade".

Mas nem todos concordam com esta decisão do governo regional madeirense. O deputado António Filipe, do PCP, e o líder do PS Madeira, Jacinto Serrão, consideram que há motivos para decretar o estado de calamidade.

Logo no sábado, quando aconteceu a catástrofe, Jacinto Serrão defendeu que "perante a dimensão da tragédia" se tornava "necessário accionar o estado de calamidade pública e a intervenção do Estado". Ontem foi a vez de António Filipe defender publicamente a declaração de estado de calamidade. De visita à Madeira, disse que "tendo em conta a gravidade da situação justificar-se-ia plenamente a declaração da situação de calamidade na região, o que permitiria dar um enquadramento legal adequado às medidas excepcionais que é necessário tomar".

No entanto, esta decisão não tem implicações nas ajudas à reconstrução que vão ser pedidas à União Europeia (UE) e ao Governo da República. Ontem no Conselho de Ministros extraordinário foram já estipuladas algumas medidas de apoio. O ministro da Administração Interna, Rui Pereira, anunciou o lançamento de uma linha de crédito de ajuda aos comerciantes para recuperar as instalações e repor os stocks, bem como o accionamento de todos os instrumentos legais para apoiar as vítimas. Assegurado está também o envio de meios de emergência.

A nível externo, a Comissão Europeia aguarda que Portugal envie uma proposta de apoio à Madeira ao abrigo do Fundo de Solidariedade da UE, depois de o secretário de Estado dos Assuntos Europeus ter ontem dado conta, em Bruxelas, da intenção que o Governo tem de accionar esse instrumento. "A manifestação da intenção foi o primeiro passo para alertar e permitir que a situação comece a ser analisada pela Comissão", disse, ao DN, Pedro Lourtie, confirmando, porém, que os dinheiros deste tipo de fundo não cobrem bens seguráveis e destinam-se apenas a pagar prejuízos públicos, como as infra-estruturas destruídas pelas cheias.