Sociedade
09 junho 2022 às 05h00

Suplemento alimentar mostra eficácia no tratamento da covid-19

A toma de um suplemento à base de vitamina D3, curcumina e quercetina demonstrou reduzir o tempo de hospitalização de doentes internados e acelerar a sua recuperação, num ensaio clínico realizado em hospitais na Bélgica.

Pode um suplemento alimentar já existente no mercado acelerar a recuperação de doentes hospitalizados com covid-19? Essa é a nota de esperança que chega da Bélgica, onde um ensaio clínico efetuado nas unidades do grupo hospitalar Chirec revelou resultados considerados "surpreendentes" no uso de um suplemento à base de vitamina D3, curcumina e quercetina. Os pacientes que receberam este tratamento não só não desenvolveram qualquer complicação do seu estado como manifestaram uma recuperação bastante mais rápida do que a dos outros doentes hospitalizados - 82% mais de altas hospitalares ao final de sete dias, em relação ao grupo de controlo.

O estudo ainda não foi publicado em qualquer revista científica - "está prevista a publicação em outubro", diz Yves Henrotin, fundador e CEO da biotecnológica Artialis, que promoveu o ensaio clínico - e, portanto, ainda não revisto por pares, mas "os dados foram tão animadores que resolvemos comunicá-los já", explica ao DN o também professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Liège.

O ensaio clínico envolveu pacientes hospitalizados com doença severa de covid-19, mas sem necessidade de serem intubados. Quase cinquenta doentes (49) internados nas unidades hospitalares do grupo Chirec em Bruxelas (Delta e Sainte-Anne/Saint-Rémi) e Braine-l"Alleud foram divididos em dois grupos: 25 deles receberam o suplemento ali- mentar Nasafytol durante 14 dias, além do tratamento hospitalar padrão reservado a todos os doentes com covid; os outros 24 receberam apenas um suplemento de vitamina D, além do tratamento padrão.

Os grupos eram similares na sua composição, em parâmetros de idade, género, etnia, peso, altura e índice de massa corporal. A única diferença, segundo os autores do estudo, era o número de vacinados (com pelo menos uma dose) em cada um dos grupos: nove naquele que recebeu apenas a vitamina D, contra somente dois no grupo que recebeu o suplemento alimentar.

"O estudo concentrou-se num suplemento dietético, não num medicamento", salienta Jean Gérain, chefe do Departamento de Medicina Interna do Hospital Delta, uma das unidades onde decorreu o ensaio clínico. "Escolhemos uma combinação de quercetina bioativa, um extrato bioativo de curcumina e vitamina D3, porque têm propriedades conhecidas por ajudar a manter o bom funcionamento do sistema imunológico e a eficácia das nossas defesas naturais", diz Yves Henrotin.

"São flavonoides conhecidos pelos seus efeitos anti-inflamatórios, mas também antivirais, antibacterianos e imunomoduladores", especifica Jean Gérain. "Ao combinar esses três elementos, queríamos desenvolver uma preparação natural que ajudasse os doentes com covid-19. Por um lado, reduzindo o risco de complicações graves e, por outro, reduzindo o número de transferências para cuidados intensivos, evitando a sobrelotação dessas unidades", acrescenta.

Quatro comprimidos do suplemento alimentar tomados pela manhã e outros quatro à noite mostraram reduzir significativamente o tempo de hospitalização. "O grupo que recebeu Nasafytol apresentou redução de 59% no número de internados no dia 7 e 73% no dia 14 , em comparação com o grupo que recebeu vitamina D", relata o médico belga.

As conclusões do estudo mostram ainda que "76% dos que receberam este suplemento alimentar tiveram alta hospitalar no sétimo dia, em comparação com apenas 42% do grupo "Vitamina D". E nenhuma complicação grave foi detetada no grupo tratado com o suplemento alimentar (ou seja, não houve óbitos nem doentes transferidos para UCI), enquanto no outro grupo um paciente morreu e quatro tiveram necessidade de cuidados intensivos.

A melhoria no estado dos doentes que receberam o suplemento começou a notar-se "a partir do quarto dia", descreve o chefe de Medicina Interna do hospital Delta em Bruxelas. "Um período de tempo coerente", indica, "pois demora um pouco para que o suplemento seja metabolizado pelo organismo e produza os efeitos desejados", explica, sublinhando, no entanto, ter ficado "surpreendido com resultados tão significativos" entre os doentes que receberam este suplemento, até porque, regista, "não apresentaram quaisquer efeitos colaterais".

Os resultados animadores não devem convidar, no entanto, a extrapolações perigosas, advertem. Como, por exemplo, desprezar o papel das vacinas contra a covid-19 (no grupo do ensaio clínico que recebeu Nasafytol apenas dois doentes tinham sido vacinados). "As vacinas têm o seu papel na prevenção da doença e de formas graves da doença. O nosso estudo refere-se apenas a uma forma de acelerar a recuperação de doentes hospitalizados e retirar carga sobre enfermarias e UCI", sublinha Yves Henrotin ao DN.

Também por isso não pode ser generalizada a ideia de que a toma deste suplemento beneficiará todos os doentes com covid, desde o momento em que acusem positivo. "Por muito que o senso comum sugira essa extrapolação, nada no nosso estudo sugere que tomar o suplemento possa prevenir uma possível deterioração do estado de saúde das pessoas que deram positivo num autoteste", refere Jean Gérain. "Este estudo não foi configurado para esse cenário. Por outro lado, mostra-nos que há potencial novos estudos".

Para já, esta pode ser uma boa notícia para doentes hospitalizados e corpos clínicos dos hospitais: "Estamos muito satisfeitos com o facto de podermos oferecer um complemento ao tratamento hospitalar padrão, que não apenas reduzirá a duração dos internamentos e salvará vidas, como também reduzirá significativamente a carga de trabalho das equipas hospitalares", resume Jean Gérain.

rui.frias@dn.pt