06 dezembro 2018 às 17h33

Portugal cometeu erro estratégico ao recusar exploração do gás - António Costa Silva

Portugal cometeu um erro estratégico ao recusar o projeto da exploração de gás porque põe em causa o desenvolvimento de todos os recursos 'off shore', considerou hoje em Lisboa o académico e investigador António Costa Silva durante um seminário internacional.

Lusa

"Não tenho dúvidas que Portugal cometeu um erro estratégico. Ao chumbar o projeto do gás põe em causa o desenvolvimento de todos os recursos no 'off shore', foi atrás da contestação de alguns grupos ambientalistas", considerou o professor do Instituto Superior Técnico e presidente da comissão de gestão do grupo Partex Oil and Gas no decurso do seminário "A Geopolítica do Gás e o Futuro da relação Euro-Russa no horizonte de 2035", que decorreu no auditório do Instituto de Defesa Nacional (IDN).

"Penso que há preocupações ambientalistas, é um projeto mais que provado, um projeto convencional, e esta ideia de que vamos entrar no futuro com uma visão romântica e sem atender aos recursos é uma visão errada", disse em declarações à Lusa, após ter intervindo no primeiro painel "Energia, Tecnologia e Segurança", moderado pelo académico António Paulo Duarte e após a sessão de abertura a cargo de Vítor Viana, diretor do IDN.

"Os recursos, o petróleo, gás, energias renováveis, minerais, são fulcrais para este século e Portugal tem na sua zona económica exclusiva várias ocorrências, minerais estratégicos, sobretudo ao largo dos Açores, e as pessoas que defendem isso são as que defendem a mobilidade elétrica e por isso dei o exemplo do cobalto", argumentou António Costa Silva.

"As reservas de cobalto são exíguas em terra no planeta, cerca de 15 milhões de toneladas, e os carros elétricos necessitam de muito cobalto, que existe na nossa zona económica exclusiva. Portanto, a mineração do 'off shore' vai ser incontrolável, mas tem que se fazer com regras, respeitando os sistemas ambientais, a sustentabilidade", acrescentou.

E nesta perspetiva, recordou o exemplo da Noruega, "um país que explora os seus recursos no 'off shore' petróleo e gás, e é dois países mais sustentáveis".

Ao abordar a situação na União Europeia, um dos temas da sua intervenção, o professor do IST sublinhou a "série de crises às quais não consegue dar resposta, a crise migratória, que tem um efeito nos sistemas políticos com a ascensão dos partidos populistas, de extrema-direita, situações extremamente difíceis e a Europa não tem uma resposta a essa altura".

Numa referência aos recentes protestos em França dos "coletes amarelos" e ao Presidente Emmanuel Macron, "que pensa bem", assinalou os resultados da "implementação da transição energética, com um país que entra em guerra civil", e num momento em que, disse, a Europa tem uma "visão muito romântica da realidade", com pouca ligação aos mecanismos de mercado, ao funcionamento da economia, e com o risco de "piorar" o problema.

"A Europa devia refletir sobretudo tudo isso, sobre os pontos em que está a falhar, não é apenas a crise migratória. E há migrações desde que começou a realidade, a questão é regulá-las, estruturá-las", prosseguiu.

"E a Europa presta pouco atenção à economia, é a história do politicamente correto, por exemplo é campeão da redução das emissões de CO2 e depois vê-se o funcionamento do mercado e há países europeus que estão a importar cada vez mais carvão e a aumentar as emissões, ao contrário de outros, como os Estados Unidos, que nem sequer estão no acordo mas descobriram uma nova fonte de energia que estão a utilizar e é mais limpa que as outras, o caso do gás", destacou.

"A Europa está numa encruzilhada, enrodilhada em muitos destes problemas", concluiu.

Tópicos: economia