País
08 janeiro 2019 às 19h16

Aurora espera a GNR à porta. Há 45 mil idosos a viver sozinhos em Portugal

Programa da GNR mostra uma estabilização do número de pessoas a viver sozinhas e/ou isoladas - mais 47 no ano passado em relação a 2017 - nas áreas de responsabilidade da Guarda.

Carlos Ferro

A Guarda Nacional Republicana sinalizou 45 563 idosos a viver sozinhos e/ou isolados nas áreas da sua responsabilidade. Este é o resultado de um recenseamento que os militares efetuaram durante o mês de outubro de 2017 e a que o DN teve acesso esta terça-feira.

Entre estas pessoas que são acompanhadas no âmbito do Programa Apoio 65 - Idoso em Segurança há quem viva "em situações de vulnerabilidade devido à sua condição física, psicológica ou outra que possa colocar a sua segurança em causa", frisa fonte oficial da Guarda ao DN.

De acordo com os dados disponibilizados pela Guarda, Vila Real foi o distrito onde foram recenseadas mais pessoas nesta situação: 4515. Guarda (4008) e Viseu (3776) são as regiões que se seguem nesta lista.

Este número, a que o DN teve acesso, representa uma ligeira subida em relação ao recenseamento de 2017 - 47 pessoas -, uma estabilização que interrompe o crescimento que foi existindo desde o primeiro ano em que este trabalho foi feito.

Desde mais de 45 mil cidadãos referenciados pela GNR, 23 mil residem sozinhos, 3945 estão isolados e 3123 são considerados de especial vulnerabilidade pois vivem isolados e sozinhos, como adiantou ao DN o major Pedro Ramos, chefe da repartição de prevenção criminal e policiamento comunitário da Guarda. Além destes casos há ainda cerca de 14 mil pessoas que integram "outras situações". Por exemplo, podem passar o dia num lar, mas à noite estão sozinho e por isso necessitam da atenção dos militares.​

Depois do trabalho de recenseamento desta população, os elementos da GNR que integram este programa vão ter agora outra preocupação: trabalhar com os municípios e outras instituições para conseguir resolver situações de necessidades, sejam relacionadas com a saúde ou com apoio social destas pessoas, a exemplo do que vem sendo feito desde 2011. "Todos estão numa situação vulnerável, pode ser por estarem isolados, por questões familiares ou físicas", frisa em declarações ao DN o major Pedro Ramos

A primeira vez que a GNR fez este trabalho nas áreas da sua responsabilidade foi em 2011 e nessa altura foram detetadas 15 596 pessoas com mais de 65 anos a viver sozinhas e/ou isoladas, esse número foi sempre crescendo, o que também estará relacionado com a maior disponibilização de meios para efetuar o recenseamento e o maior alcance do mesmo.

As zonas do interior são aquelas onde mais idosos vivem sozinhos e/ou isolados e que necessitam de acompanhamento por parte dos militares da Guarda Nacional Republicana, que muitas vezes são conselheiros e o elo de ligação com as entidades de saúde e de apoio das regiões onde estas pessoas vivem.

Como é o caso de Aurora ou do casal Maria e Manuel Alves que são acompanhados por elementos da prevenção criminal e policiamento comunitário de Vila Franca de Xira e cujo trabalho o DN acompanhou no final de outubro.

Em ambos os casos, os militares conhecem as dificuldades das pessoas, as necessidades e ajudam a resolver problemas como a escolha de um lar ou centro de dia ou a lembrança de que é a altura de levar a vacina da gripe. Têm também os contactos telefónicos que servem para pedir ajuda ou, no caso dos elementos da Guarda, ligar para saber se há algum situação anormal.

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Em muitas situações as visitas da GNR é das poucas que estas pessoas têm, como comprovou o DN nessa reportagem em que Aurora até esperava pelos militares junto à porta.

Estes dados da GNR só contabilizam as pessoas que estão na sua área de influência, a maior parte zonas rurais, deixando assim de fora as grandes cidades que estão sob responsabilidade da PSP.

E estão inseridos na população nacional com mais de 65 anos que o Instituto Nacional de Estatística estima poder chegar aos 2,8 milhões de pessoas em 2080.