29 outubro 2018 às 17h54

"Brasileiros que votaram Bolsonaro devem voltar ao Brasil." Margarida Martins justifica-se

Presidente da junta de Arroios argumenta que frase publicada no Facebook foi "um lapso" e não reflete a sua relação com a comunidade brasileira

Pedro Vilela Marques

Margarida Martins, presidente da junta de freguesia de Arroios, onde vivem quase metade dos estrangeiros da cidade de Lisboa, defendeu no Facebook que os brasileiros que votaram em Jair Bolsonaro devem voltar ao seu país "para viver a sua liberdade". Um post publicado logo a seguir à divulgação dos resultados eleitorais deste domingo e que a autarca eleita duas vezes pelo PS já apagou por ter sido "um lapso", como explicou ao DN.


"Os brasileiros que vivem em Portugal e que votaram em Bolsonaro devem voltar ao Brasil para viver a sua liberdade". Margarida Martins reagiu desta forma aos resultados das eleições brasileiras, numa publicação que acabou por ser retirada, mas não a tempo de conter partilhas nas redes sociais e reações críticas, em especial porque a antiga presidente da Abraço é agora presidente de uma freguesia onde moram cerca de 1700 brasileiros, a maior comunidade imigrante na mais multicultural das freguesias da capital.

Em repostas enviadas ao DN através da sua assessoria de comunicação, Margarida Martins argumenta que a sua declaração foi "um lapso" e que o post foi apagado por não refletir aquela que tem sida a relação da presidente com a comunidade brasileira. "Margarida Martins, enquanto presidente da Junta de Freguesia de Arroios, sempre teve a preocupação de integrar todas as pessoas e comunidades que procuram Arroios para viver. Na Freguesia de Arroios vivem pessoas de 92 nacionalidades e o trabalho desenvolvido, ao longo destes anos, confirma que todas as pessoas e comunidades são bem recebidos e integrados em Arroios".

"Está a ser agressiva"


Explicações que não convencem o presidente da Associação Brasileira de Portugal, que defende mesmo que Margarida Martins se deve afastar da junta de freguesia. "Vou perguntar-lhe quem lhe deu autoridade para falar sobre os brasileiros. Tendo de lidar com a maior comunidade imigrante em Portugal, e quando faz estes comentários sobre a maior comunidade da sua freguesia, uma comunidade trabalhadora, está a ser agressiva e deve deixar o seu lugar na junta", argumenta Ricardo Amaral.


Aos 62 anos, e depois de cerca de 30 em Portugal, Ricardo Amaral é ele próprio apoiante de Jair Bolsonaro. Quando lhe perguntamos se também ele, enquanto representante da comunidade, não devia ter uma posição neutra e não apoiar nenhum dos candidatos presidenciais, o empresário responde que essa posição é pessoal, não vincula a associação, e só o fez agora porque o Brasil estava naquilo que rotula de "risco enorme".

Segundo os censos de 2011, moravam 1672 brasileiros em Arroios, mais do que todos os imigrantes de outros países europeus juntos (1299) e quase tantos como os estrangeiros vindos de todo o continente africano. No total, há cerca de 80 mil brasileiros com residência legal em Portugal, naquela que é de longe a maior comunidade migrante no nosso país - Cabo Verde vem a seguir, com pouco mais de 34 mil residentes.