17 julho 2017 às 00h48

Professores deixam salas de aulas para ensinar línguas online

Plataformas permitem aprender com um professor à escolha, onde e quando o aluno quiser. Pagamento é à hora. Procura está a subir

Joana Capucho

Susana Morais, 38 anos, é professora de Português e Alemão e aluna de Mandarim e Russo. Tudo isto online, numa plataforma chamada Italki. Cansada dos horários dos institutos de línguas, começou à procura de alternativas que lhe permitissem continuar a fazer aquilo de que mais gosta, e a ter melhor qualidade de vida. Encontrou vários sites, como o Verbalplanet, o Verbling e o Italki, mas optou pelo terceiro porque "o mercado era mais abrangente e preenchia o horário por completo".

As aulas decorrem, maioritariamente, através do Skype. "Para os professores, a grande vantagem é que acedem a um mercado muito grande e não precisam de se preocupar com a sua própria promoção. Além disso, as transações são muito simples", destaca. Já para os alunos, as mais-valias passam por "horários flexíveis" e "acesso a um professor nativo à sua escolha e em qualquer sítio, seja num hotel ou em casa, por exemplo". Aquando do registo, o utilizador tem direito a algumas sessões grátis de 30 minutos, o que lhe permite conhecer vários professores e escolher aquele que considera mais adequado.

Gerson Ladeira, 36 anos, angolano descendente de portugueses, está a aprender alemão com a Susana. "Falo português, espanhol, italiano e inglês. Estava à procura de um professor que falasse uma dessas línguas, porque vivo na Suíça há cinco anos e já fiz vários cursos aqui, mas, como não falam português, é difícil entender", explicou ao DN, por e-mail. O que o fez escolher a plataforma, indica, foi a possibilidade de "estudar à hora que se quer sem ter de sair de casa e poder escolher o/a professor/a ideal" para si.

No site Italki pode ler-se que a tarifa da Susana é a partir dos 15,34 euros. A média por hora, adianta a docente ao DN, será entre os 20 e os 25 euros, mas tudo depende do idioma. Segundo Gerson, "os professores do Norte da Europa têm sempre os preços mais altos. Tinha uma professora que falava italiano, mas que vivia aqui na Suíça, e era quase dez euros à hora mais cara do que a Susana. Há alguns que exageram nos preços".

À semelhança do que acontece com Gerson, Susana diz que a maioria dos portugueses que procuram aprender o alemão é porque "moram na Suíça ou na Alemanha e desejam comunicar com os locais, embora utilizem, na maior parte dos casos, inglês (ou outro idioma) no local de trabalho". À procura do português surgem sobretudo cidadãos dos EUA, Inglaterra e Canadá, que "fazem férias em Portugal com frequência, querem mudar-se para o nosso país ou já moram cá". Há, ainda, casos em que "é a língua de herança", ou seja, "os pais ou familiares têm como língua materna o português e desejam poder comunicar com eles, uma vez que o idioma dominante no local sobrepôs-se à utilização do português em casa quando ainda eram crianças", e de "residentes em antigos territórios portugueses, principalmente Goa e Macau, que não querem perder o contacto com as raízes portuguesas".

Não substitui aulas presenciais

Helena Marques, 38 anos, dava aulas de Inglês em escolas há mais de 12 anos e em janeiro decidiu juntar-se à comunidade Italki em part--time. Ensina Português e Inglês, aprende Japonês e Italiano. "A principal vantagem é que a pessoa pode escolher o horário e não tem de se preocupar com as deslocações. No caso do português, há uma grande dificuldade em conseguir professores em muitos sítios", diz ao DN. Por outro lado, "sendo aulas individuais, a pessoa anda ao seu ritmo, o que geralmente não acontece com as presenciais, que costumam ser em grupo".

A professora reconhece, no entanto, que "as aulas presenciais são melhores". "O contacto pessoal é mais interessante, é diferente e permite outro tipo de interatividade", sublinha. No online também não existem certificados. "Muitas vezes, estas aulas são usadas para fazer exames nacionais de classificação que permitem obter os certificados oficiais", revela.

Os "professores profissionais", como Susana e Helena, têm de apresentar certificados e currículo para poder dar aulas na plataforma, enquanto os "tutores da comunidade" são "falantes nativos (ou com um nível próximo de nativo) que podem ajudar os estudantes a aprender um idioma por meio de tutoriais informais ou prática de conversação". Além disso, a plataforma Italki permite ter "parceiros de língua", onde, a custo zero, pessoas interessadas em aprender um idioma podem comunicar entre si. Através da plataforma, Aymen Ayari, tunisino, de 20 anos, explicou ao DN que está a usar o Italki para encontrar pessoas com quem possa praticar o inglês. Estudante de Anestesia, inscreveu-se no site há dois meses e todos os dias se conecta para aperfeiçoar a língua inglesa.