Documentos provam existência de vasta rede de campos de prisioneiros na China

24 novembro, 2019 às 19:42
REUTERS

O jornal "The Guardian" publicou este domingo documentos que provam a existência de uma vasta rede de campos de detenção forçada na China, destinada a pelo menos um milhão de pessoas de minorias étnicas e religiosas a viver no país. O governo nega os factos e diz que os detidos estão a ser reeducados.

A possível existência de detenções forçadas em campos na China sempre foram assuntos muito falados na opinião pública, sobretudo através de depoimentos de alguns antigos detidos e provados por imagens satélite do território chinês. Contudo, podemos estar perante uma confirmação quase inegável da violação de direitos humanos no país.

O "The Guardian" publica este domingo, através do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação, alguns documentos que vêm provar a criação de uma estratégia interna do Partido Comunista chinês em deter milhares de pessoas de minorias étnicas e religiosas. Uma delas são os uigures, uma das minorias étnicas mais perseguidas em todo mundo. O país já reagiu e afirmou que os materiais são "fabricados".

O Consórcio, ao qual pertencem 17 meios de órgãos de comunicação social, confirmou a veracidade dos documentos junto de especialistas, ao qual foi dado o nome de "China Cables".

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Os campos estão localizados na região autónoma de Xinjiang, na China, e segundo os documentos publicados, é referido como estes devem ser construídos e projetados, de forma a se tornarem uma técnica de doutrinação forçada para as minorias. São também declaradas inúmeras medidas e regras que os detidos devem cumprir como os telefonemas semanais ou videochamadas mensais que podem fazer para os seus familiares.

As medidas de segurança nos campos deverão ser apertadas, de acordo com as diretrizes dos documentos, com a instalação de cercas em redor dos prédios, assim como bloqueios em vários dormitórios e corredores. Os detidos ganham ainda "pontos" consoante o seu comportamento. A vida nos campos poderá ter a duração mínima de um ano, segundo declarações de antigos detidos.

Apesar dos 12 meses servirem como base, os campos de concentração podem dividir-se em dois tipos e prolongar a estadia: um mais dedicado ao ensinamento da ideologia e do mandarim e um segundo orientado para as capacidades laborais, o que tudo levar a crer, ser trabalho forçado. Caso seja concedida a libertação aos presos, estes devem continuar a ser acompanhados e vigiados pelas autoridades.

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De acordo com este consórcio de jornalistas de investigação pode estar-se perante o "maior encarceramento em massa de uma minoria étnica e religiosa desde a Segunda Guerra Mundial". As autoridades chinesas admitem a existência destes campos, mas negam a repressão e a violência; enaltecem antes a reeducação feita a estas minorias.

Num dos papéis é referido, segundo o jornal britânico, que em apenas uma semana foram consideradas suspeitos 24 mil pessoas, sendo que 15600 pessoas foram para estes campos e outras 706 foram presas. A embaixada chinesa em Londres considerou que "os documentos são uma fabricação e notícias falsas". "A educação vocacional e os campos de treino foram estabelecidos para prevenir o terrorismo", referiram em comunicado.