Professores e polícias protestam à entrada da Web Summit

Os visitantes da Web Summit foram recebidos esta segunda-feira por protestos de polícias e professores que distribuíram folhetos traduzidos em várias línguas.

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O primeiro dia da Web Summit em Portugal ficou marcado por protestos. Horas antes de o presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, ter dito que a Web Summit fez da cidade "a capital do mundo", dezenas de polícias e professores passaram a tarde à entrada da Altice Arena a distribuir panfletos, com bandeiras na mão, sobre os problemas que afectam as suas classes profissionais à entrada. E apesar da chuva, distribuíram informação em inglês, francês, alemão e espanhol. A pressa para entrar não impedia a maioria dos visitantes de aceitar os panfletos distribuídos. Alguns paravam ainda para ler ou a tirar fotografias aos cartazes a decorar a tenda de um sem-abrigo em plena Alameda dos Oceanos: chamavam a atenção para uma vida de quem não tem tecto e não conta com o apoio do Estado.  

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O primeiro dia da Web Summit em Portugal ficou marcado por protestos. Horas antes de o presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, ter dito que a Web Summit fez da cidade "a capital do mundo", dezenas de polícias e professores passaram a tarde à entrada da Altice Arena a distribuir panfletos, com bandeiras na mão, sobre os problemas que afectam as suas classes profissionais à entrada. E apesar da chuva, distribuíram informação em inglês, francês, alemão e espanhol. A pressa para entrar não impedia a maioria dos visitantes de aceitar os panfletos distribuídos. Alguns paravam ainda para ler ou a tirar fotografias aos cartazes a decorar a tenda de um sem-abrigo em plena Alameda dos Oceanos: chamavam a atenção para uma vida de quem não tem tecto e não conta com o apoio do Estado.  

“Do lado da polícia, o nosso objectivo é fazer chegar informação a todo o mundo”, disse o presidente do Sindicato Nacional da Polícia (SINAPOL), Armando Ferreira, ao PÚBLICO. Nas mãos, tinha folhetos onde se lê que o Governo diz ter 110 milhões de euros para investir na Web Summit, mas que não tem dinheiro para investir nos seus agentes de segurança.

Foi em Outubro que o co-fundador da Web Summit, Paddy Cosgrave, anunciou um compromisso de permanência de dez anos da cimeira da tecnologia em Lisboa, que implicam 11 milhões de euros de dinheiro público por cada ano. Embora não existam estimativas oficiais sobre o impacto nas startups portuguesas, no que toca a receitas turísticas, o retorno desse valor investido ronda os 300 milhões de euros em serviços como alojamento, transportes e restauração.

“Ainda que seja um evento de destaque a nível mundial, não é este evento que vai garantir a segurança pública daqui a uns anos. Se há dinheiro para a Web Summit devia haver para a polícia”, frisa, no entanto, o presidente da SINAPOL. “Ouve-se que Portugal é dos países mais seguros do mundo, mas só somos porque, mesmo mal pagos e mal-tratados, os nossos profissionais de segurança se esforçam pela segurança do país.”

Em 2017, Portugal foi de facto eleito como a terceira nação mais pacifica do mundo entre 163 países, de acordo com um estudo realizado pelo Instituto para a Economia e Paz. À frente ficaram apenas a Nova Zelândia e a Islândia. Em 2018, Portugal foi ultrapassado pela Áustria, mas mantém-se perto do pódio.

Ferreira preocupa-se que as más condições – os baixos salários (menos de 800 euros ao início) e a falta de progressão – afastem jovens de uma carreira na área, afectando a prazo a segurança pública. “Em 2006, o relatório social dizia que eramos 23 mil [agentes]. Hoje somos 20 mil, mas até 2021 devemos baixar para 15 mil. Não é aceitável que um país que está no pódio dos mais seguros do mundo ponha em causa a segurança pública desta forma", diz.

A denúncia dos professores

A par dos polícias, a entrada da Web Summit é marcada por professores de camisas pretas – de luto – a denunciar a “falta de respeito” que o governo português tem pela profissão.

“Isto é uma denúncia, não um protesto”, clarifica ao PÚBLICO Mário Nogueira, secretário-geral da Federação Nacional dos professores (FENPROF). “É denunciar uma pratica do governo de Portugal, que recebe estes jovens aqui de braços aberto, mas não recebe quem os forma nas escolas. Os professores.”

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Mário Nogueira quer avisar os visitantes da Web Summit que o governo português não respeita os seus professores LUSA/MIGUEL A. LOPES

No topo das exigências está a contabilização por inteiro, para efeitos de progressão, dos anos em que as suas carreiras estiveram congeladas devido à austeridade. No total são nove anos, quatro meses e dois dias, argumentam, mas o Governo apenas quer considerar dois anos, nove meses e 18 dias.

“O Governo de Portugal não respeita os professores ao ponto de lhes querer apagar seis anos e meio de trabalho”, conclui Mário Nogueira, da FENPROF. Os horários de trabalho excessivos que o Executivo tarda em regularizar, e os profissionais com vínculos precários, são outras dos pontos para os quais querem alertar. “Escolhemos a Web Summit porque é um evento que reúne profissionais de inteligência artificial, informáticos, grandes engenheiros e pensadores, e por detrás de muitas destas pessoas está sempre por norma um professor."

Até ao começo da tarde desta segunda-feira, estava também marcada uma paralisação parcial do metro para os dias 6 e 8 de Novembro (terça-feira e quinta-feira). Foi cancelada, depois da administração da empresa pôr fim ao braço-de-ferro com os trabalhadores, ao aceitar a prorrogação da vigência do acordo de empresa, por mais um ano. A questão dos aumentos salariais, porém, mantém-se por resolver.

Na entrada da Web Summit, o objectivo tanto dos polícias como dos professores em protesto parece ser recordar que o evento de tecnologia não basta, por si só, para impulsionar Portugal. 

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LUSA/MIGUEL A. LOPES