28 julho 2016 às 11h13

Frederico Lourenço faz tradução completa dos 80 livros da Bíblia

Desde 2014 que o tradutor, professor e escritor vive 24 horas por dia em redor dos textos dos Evangelhos. A aposta é editar até 2019 seis volumes da Septuaginta ou Bíblia dos Setenta traduzidos a partir do grego. Será a Bíblia mais completa

João Céu e Silva

O professor universitário Frederico Lourenço anunciou ontem que estava a trabalhar na tradução integral da Bíblia a partir dos textos originais em grego. Ninguém se espanta que faça esta revelação pois o trabalho homérico de tradução da Ilíada e da Odisseia antecipavam qualquer desafio do género. Mesmo assim, a "aventura" em que se meteu em 2014, data em que decide avançar, corresponde a uma tarefa inédita em Portugal e que consiste num grande "risco", refere.

As línguas estrangeiras sempre foram a sua companhia desde que vem ao mundo em 1963. Os primeiros anos de estudo foram passados em Oxford; a família regressa a Lisboa, onde estuda no Liceu Francês Charles Lepierre e acaba na língua alemã, no Instituto Goethe de Lisboa. Licencia-se em 1988, em Línguas e Literaturas Clássicas na Universidade de Lisboa, onde irá doutorar-se com uma tese sobre os cantos líricos de Eurípides. Torna-se docente dessa universidade, até que em 2009 muda-se de armas e bagagens para a Universidade de Coimbra. Abandonar a capital não foi problema: "Gosto muito de Coimbra, porque é uma cidade que dá a tranquilidade que necessito para me dedicar ao trabalho. É uma cidade que vive em torno da universidade e a minha vida é em torno dos livros: é o sítio ideal."

Aí ensina Estudos Clássicos, grego e literatura grega, atividade que vai partilhar até 2019 com a tradução dos 80 livros que formam a Bíblia conhecida como Septuaginta ou Bíblia dos Setenta, escrita entre os séculos I e o VII.

Para Frederico Lourenço, esta tradução da Bíblia era inevitável: "Desde que comecei a pensar no projeto, senti que tanto era uma tarefa incontornável como uma necessidade absoluta que me satisfaria após a Ilíada e a Odisseia. Ainda ponderei outros planos mas meti este na cabeça e foi impossível fugir-lhe." Confessa que só pensava fazer o Evangelho de São João: "A dado momento, decido fazer os restantes e quando falei com a editora Quetzal já tinha a perspetiva dos seis volumes."

Desde esse momento, utiliza intensamente dois computadores: "O portátil e um de mesa, este último muito útil pois permite ter vários textos da Bíblia abertos em simultâneo."

Lourenço diz-se ex-católico praticante, facto que lhe permite o "distanciamento" necessário na tradução: "O que pretendo é uma leitura independente do catolicismo, do protestantismo ou de qualquer religião que tenha surgido a partir destes textos. Quero uma perspetiva isenta e de respeito por quem tem esta crença. A Bíblia, como texto, interessa-me profundamente, mesmo sem ser cristão praticante."

Não querendo pensar no futuro, prevê: "Queria escrever um livro sobre o início do cristianismo, a figura de Jesus e os primeiros cem anos da religião cristã."