26 novembro 2017 às 01h32

"De Belém não vêm só expressões de afeto"

Questionados pelo DN, os líderes parlamentares dos cinco maiores partidos analisam os últimos dois anos e perspetivam o futuro. Mariana Mortágua diz que o governo deve responder pela saúde pública, onde a situação é crítica

DN

O que destaca de mais positivo nestes dois anos?

O triunfo de uma ideia simples contra o dogma europeu e dos partidos que o seguem: a recuperação dos rendimentos do trabalho e das pensões é mesmo boa para a criação de emprego e para as contas do Estado.

O que ficou por fazer?

Faltam duas mudanças essenciais: recuperar os serviços públicos, sufocados pelas restrições europeias ao investimento do Estado, e limpar as leis laborais da carga de abusos contra os trabalhadores que a troika lá deixou.

Qual será o maior desafio nos dois próximos anos?

Entre outros desafios críticos, o governo deve responder pela saúde pública, onde a situação é crítica. A recente proposta de António Arnaut e João Semedo para uma nova lei de bases é o ponto de partida para essa enorme tarefa.

O PR será mais interventivo?
O Presidente da República tornou-se mais interventivo nos últimos meses. Esteve bem, na proximidade das populações afetadas pelas recentes catástrofes. Esteve mal ao fazer-se porta-voz de uma direita inconformada com a política de recuperação de rendimentos. Assume esse papel com uma retórica conformista e perigosa. O país começa a perceber que, de Belém, não vêm só expressões de afeto.

Qual a linha vermelha nos próximos dois anos? O governo durará até final da legislatura?

A linha vermelha dos próximos dois anos é a mesma dos últimos dois: nenhuma carga adicional nos impostos sobre o trabalho e os bens essenciais, nenhum corte de salários e pensões. Mas a grande questão é outra: está ou não o PS disponível para cumprir o sentido do que assinou com o Bloco acerca da recuperação dos serviços públicos nas áreas da saúde, educação e cultura?

A atual solução parlamentar de apoio ao governo poderá ser repetida mesmo que com outra reconfiguração?

Esta solução partiu da necessidade de impedir um novo governo da direita depois de quatro anos de desastre e essa circunstância não vai repetir-se. Novas soluções políticas dependem de novas relações de forças e o Bloco disputará as próximas eleições com toda a força do seu programa.