Leonardo e a engenharia militar

O interesse de Leonardo em trabalhar com engenharia militar para a corte dos Sforza começou entre 1482 e 1483, quando ele escreveu uma carta de apresentação a Ludovico, o Mouro. Até aquele momento, a experiência de Leonardo estava relacionada principalmente à tradição do artesanato em oficinas. No entanto, ao listar as próprias habilidades, ele dá ênfase ao preparo para a engenharia militar, mencionando as atividades como pintor somente no final. A intenção de Leonardo era impressionar o duque.

Durante os anos que passou em Milão, Leonardo buscou se atualizar na arte da fortificação. Até aquele momento, o conhecimento dele era limitado à tradição mecânica da Toscana. Da Vinci teve acesso a textos clássicos e modernos sobre as artes militares que estavam em circulação na corte da família Sforza. Leonardo conhecia os autores clássicos por fontes secundárias e os estudou em paralelo com o fundamental texto contemporâneo "De re militari" ("Sobre assuntos militares"), de Roberto Valturio. Os desenhos de instrumentos de guerra de Valturio refletem o estado da engenharia militar durante a segunda metade do século XV, em que as armas de combate corporal da tradição medieval coexistiam com as novas armas de fogo, e todas eram representadas de maneira fantástica, quase teatral.

Além de representarem uma fantasia desenfreada, estes desenhos também se caracterizam pelo distanciamento de qualquer implicação prática. Leonardo era fascinado pelos aspectos extraordinários e dramáticos dos instrumentos de guerra. Ele combinava elementos tradicionais com automações e itens mecânicos complexos. Nos desenhos de máquinas de guerra, a engenharia se entrelaça com a representação artística, conferindo às obras tons emotivos e dramáticos.

Durante os dois anos que passou em Florença, entre 1500 e 1502, Leonardo teve o primeiro contato com a monarquia francesa e, mais notavelmente, com um dos aliados dela: César Bórgia. Com o cargo de consultor militar, Leonardo era responsável por visitar todas as fortificações na Romanha para realizar reparos e reconstruções.

Em 1506, Leonardo voltou a Milão a serviço do governador Carlos de Amboise, que o elogiou pelas obras de arquitetura militar. Durante esses anos, ele desenhou o Castelo de Milão muitas outras vezes.

O modelo representa o canto de uma fortaleza com duas fortificações quadradas: a primeira é incluída dentro do perímetro da muralha principal da fortaleza, enquanto a segunda tem a maior parte do volume projetado para fora do canto. O fosso não é escavado, mas formado por uma muralha de contenção e grandes quantidades de terra. Uma característica interessante é a posição inovadora da defesa dos flancos, que consiste em uma linha de armas de fogo na parte saliente da fortificação, para que os defensores possam atacar qualquer agressor que chegue ao topo do fosso. O objetivo dessa estrutura é organizar, em fases sucessivas, uma série de disparos rasantes para atacar os agressores nos pontos onde é mais difícil avançar: o aterro, o fosso, a cortina e a passarela superior.

O modelo representa um revelim (um posto defensivo) em um plano triangular. Leonardo desenhou esse projeto com a página de cabeça para baixo nas vistas de planta e em perspectiva, fornecendo detalhes sobre a coroa em uma folha separada. As muralhas são bastante inclinadas e divididas em dois setores por uma nervura. No setor superior, muito mais curto, mísulas são colocadas entre pequenos arcos e ameias, para posicionamento da artilharia, alternados por merlões. Os cantos do revelim são chanfrados e, no telhado do terraço, há uma passarela coberta e três pequenos prédios de serviço. Em vez de um revelim, talvez esse projeto seja uma fortificação de baluartes que Leonardo tenha visto, possivelmente na fortaleza de Ostia ou de Civita Castellana, no Lácio, ambas planejadas por Giuliano da Sangallo.

Este modelo representa uma seção de fortificação e um fosso, sobre o qual duas máquinas de guerra estão sendo usadas para atacar as muralhas: uma carruagem com ponte móvel coberta por um telhado e uma escada ajustável. Esses aparatos permitiam que os soldados se posicionassem atrás da muralha inimiga e atravessassem o fosso para subir. A ponte podia ser movida com roletes e rodas e tinha uma estrutura coberta para proteger os soldados durante a travessia. A inclinação da ponte coberta podia ser ajustada por cabos conectados a um eixo de transmissão.

Com este carro, Leonardo redescobriu, estudou e inovou os modelos da tradição de guerra da Idade Média. Na forma de uma tartaruga, o carro é reforçado com telhas de metal e é mostrado em uma vista lateral aberta para exibir o interior. O veículo é armado com canhões e tem uma torre no topo, que permite observar o terreno por dentro. A movimentação do carro era realizada por dentro, com oito homens acionando um sistema de engrenagens conectado às quatro rodas. A direção dos tiros era decidida pelos homens posicionados na parte superior do carro, de onde podiam ver o campo de batalha através de aberturas estreitas.

Esta balista, que é um exercício sobre uma das máquinas de assalto tradicionais das épocas clássica e medieval, foi concebida para lançar pedras com uma trajetória parabólica por uma longa distância, a fim de romper as muralhas inimigas. Ela é composta por uma mola de madeira que é puxada por um parafuso posicionado na base da estrutura do cavalete. A energia de lançamento é fornecida pela torção dos cabos. Esse instrumento de guerra foi projetado para fornecer um grande poder com dimensões modestas, ao contrário do trabuco, uma arma de assalto que aplicava o princípio do contrapeso e normalmente tinha mais de 10 metros de altura.

Nos planos de Leonardo, esta besta, uma verdadeira "maravilha tecnológica", deveria ser usada para lançar grandes bolas de pedra, gerando pânico e medo entre os inimigos. As proporções eram colossais, e Leonardo representou o impacto que ela causava desenhando um soldado operando a arma, a fim de usar o sistema de gatilho. Os braços dela tinham uma extensão de 42 braccia (cerca de 24 m), montados em um corpo com 23 m de comprimento e 1,2 m de espessura. A máquina era movida sobre seis rodas.

Leonardo descreve essa roupa de mergulho em detalhes: "Jaqueta, calça e um pequeno recipiente para urina, uma cinta e um recipiente para o ar, com semicírculos de ferro para mantê-lo afastado do peito. Se o recipiente estiver cheio, usando as bolas como válvulas, ao esvaziá-lo, você irá para o fundo, puxado pelos sacos de areia grossa. Ao inflá-lo, você subirá na água. Uma máscara com coberturas de vidro nos olhos, mas com peso que possa ser levantado ao nadar. Leve uma faca que corte bem, para não ficar preso em uma rede. Leve dois ou três recipientes pequenos e vazios, que podem ser inflados como bolas, se necessário". Portanto, a roupa de mergulho em couro era composta por uma jaqueta, uma calça e

"O circumfulgore é uma máquina naval. Ele foi inventado pelo povo de Majolica e é composto por um círculo de canhões de número variado, desde que não seja um número ímpar, porque, para que o tiro seja eficaz e não haja recuo, é necessário que cada canhão esteja atrás de outro para bloqueá-lo. Para fazer isso, é necessário disparar dois canhões opostos ao mesmo tempo, para que possam se anular sem causar o recuo em uma direção." Este modelo representa o estudo de um canhão múltiplo projetado para ser posicionado na ponte de um navio. Leonardo o chamava de circumtronito ou circumfolgore (em italiano, algo como "trovão circular" ou "raio circular"). Esse dispositivo era montado em uma seção do casco da embarcação, onde era instalada a torre de artilharia, composta por uma plataforma giratória com 12 canhões. As armas, provavelmente carregadas pela culatra, eram dispostas radialmente e disparadas simultaneamente em direções opostas, equilibrando os recuos de cada tiro, para evitar guinadas ou movimentos perigosos no navio.

Este guincho, descrito e observado por Leonardo, era usado para levantar peças de artilharia, como canhões ou colunas. Ele tem o formato clássico de cavalete. Na parte superior, um braço de equilíbrio é instalado em um pivô: uma extremidade é conectada a um parafuso sem fim, e a outra carrega um canhão amarrado com cordas. Os movimentos de elevação e abaixamento são realizados por meio de um parafuso sem fim e uma roda helicoidal que atua como parafuso. O movimento faz com que o eixo central em que o canhão está pendurado oscile lentamente, elevando-o.

"Novo método de fole que funciona muito bem." Em uma folha do Codex Arundel, compilado em 1508, Leonardo analisa um sistema respiratório para uso subaquático. Vinte anos depois do projeto de roupa de mergulho, em uma folha do Codex Atlanticus com numerosas indicações militares para ataques subaquáticos contra navios inimigos, Leonardo abordou esse tema novamente a partir de uma nova perspectiva, indicando a utilidade do sistema para a calafetagem de navios, que é um processo para impermeabilizar as tábuas do casco preenchendo as lacunas com estopa. Com esse sistema de respiração, uma pessoa poderia trabalhar debaixo d'água sem precisar colocar o navio em terra. O intervalo de 20 anos entre estes desenhos e os anteriores do mergulhador é bastante claro.

O modelo representa uma ponte giratória com perfil parabólico construída sobre um curso d'água. À esquerda, é representada a parte final de uma estrada construída em uma margem. A ponte é composta por uma extensão arqueada com perfil parabólico. Quando a ponte é fechada, a extremidade livre, que é fina e leve, é apoiada sobre um suporte de troncos na outra margem do rio, onde a estrada começa novamente. O pivô é conectado a dois guinchos posicionados nos dois lados da margem, com um contrapeso para equilibrar e facilitar as manobras quando a ponte está suspensa no ar, antes de ser apoiada na outra margem. A movimentação da ponte é realizada por meio de cabos e guinchos, com o auxílio de rodas ou roletes de metal.