O património natural de Portugal passa pelas espécies animais e vegetais que tem distribuído pelo território nacional (Continente, Madeira e Açores), sejam essas espécies residentes ou apenas temporárias. Assim, sempre que uma espécie se perde, perde-se igualmente parte vital da herança natural de Portugal e do Mundo.
Como este tema é de certa forma extenso vamos dividi-lo em três posts: 1) espécies da fauna ameaçadas em Portugal; 2) espécies da flora ameaçadas em Portugal; e 3) identificação das principais ameaças para as espécies de Portugal.
O post de hoje é sobre as espécies da fauna que estão catalogadas com risco de ameaça.
Quando se caracteriza uma determinada espécie classifica-se essa espécie em termos de estatuto de conservação segundo a seguinte escala:
- Pouco preocupante (LC);
- Informação insuficiente (DD);
- Quase ameaçado (NT);
- Vulnerável (VU);
- Em perigo (EN);
- Criticamente em perigo (CR);
- Regionalmente extinto (RE);
- Extinto na natureza;
- Extinto.
O Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal (Cabral et al., 2005) classifica as espécies de peixes dulciaquícolas e migradores, anfíbios e répteis, aves e mamíferos em território nacional (Continente, Açores e Madeira) em função da sua probabilidade de extinção, num dado período de tempo.
Para este livro foram avaliadas 553 espécies/populações, das quais:46% foram classificadas como LC; 12% correspondem a espécies cuja informação disponível é insuficiente, DD, 42% correspondem a espécies abrangidas pelas categorias de ameaça (CR, EN e VU) e também pelas categorias NT e RE.
Os resultados globais deste livro apontam que Portugal conta com 19 espécies extintas regionalmente: o esturjão (Acipenser sturio); o urso-pardo (Ursus actus); e ainda 17 espécies de aves. Algumas das aves regionalmente extintas são o Maçarico-preto (Plegadis falcinellus), o Pato-casarca (Tadorna ferruginea), a Pardilheira (Marmaronetta angustirostris), a Pêrra (Aythya nyroca), a Brita-ossos (Gypaetus barbatus), o Falcão-da-rainha (Falco eleonorae) , o Tetraz-real (Tetrao urogallus), a Perdiz-cinzenta (Perdix perdix), o Toirão (Turnix sylvatica), a Calhandra de Dupont (Chersophilus duponti) e a Gralha-calva (Corvus frugilegus).
Globalmente, são os peixes dulciaquícolas e migradores que apresentam uma maior percentagem de espécies classificadas com categorias de ameaça (CR, EN, VU) (63%), seguindo-se as aves e os répteis (31%), os mamíferos (29%) e os anfíbios (12.5%) (Cabral et al., 2005).
1) Peixes
Nos Peixes algumas das espécies ameaçadas, na escala EN, são o Sável (Alosa alosa), o Cumba (Barbus comiza), o Panjorca (Rutilus arcasii), a Boga-de-boca-arqueada (Rutilus lemmingii), a Enguia-europeia (Anguilla anguilla), o Barbo do Sul (Barbus sclateri), o Escalo do Sul (Squalius pyrenaicus), a Verdemã do Norte (Cobitis calderoni), a Esgana-gata (Gasterosteus gymnurus), o Caboz-de-água-doce (Salaria fluviatilis).
A Savelha (Alosa fallax), a Lampreia-marinha (Petromyzon marinus), a Boga do Guadiana (Chondrostoma willkommii) e o Bordalo (Rutilus alburnoides) são classificados como VU. Na categoria CR estão o Saramugo (Anaecypris hispanica), a Boga-portuguesa (Chondrostoma lusitanicum), a Lampreia-de-rio (Lampetra fluviatilis), a Lampreia-de-riacho (Lampetra planeri), o Escalo do Arade (Squalius aradensis), o Salmão (Salmo salar), a Boga do Sudoeste (Chondrostoma almacai) e o Escalo do Mira (Squalius torgalensis).
Para mais informação sobre o estatuto de conservação das espécies de Peixe podem consultar:
http://www.icnf.pt/portal/naturaclas/patrinatur/lvv/resource/doc/tab-class-spp/peix
2) Aves
No grupo das Aves são muitas as espécies ameaçadas, pelo que, de modo a simplificar a leitura deste texto estas são apresentadas numa tabela com a identificação do seu estatuto de conservação.
Aves | ||
Nome vulgar |
Nome científico | Estatuto de conservação |
Abutre-preto | Aegypius monachus | CR |
Águia-imperial | Aquila adalberti | CR |
Águia-real | Aquila chrysaetos | EN |
Águia-perdigueira | Hieraaetus fasciatus | EN |
Garça-vermelha | Ardea purpúrea | EN |
Papa-ratos | Ardeola ralloides | CR (nidificantes)EN (invernante) |
Coruja-do-nabal | Asio flammeus | EN |
Alcaravão | Burhinus oedicnemus | VU |
Pardela-de-bico-amarelo | Calonectris diomedea | VU |
Noitibó-cinzento | Caprimulgos europaeus | VU |
Noitibó-de-nuca-vermelha | Caprimulgos ruficollis | VU |
Gaivina-dos-pauis | Chlidonias hybridus | CR |
Cegonha-preta | Ciconia nigra | VU |
Águia-sapeira | Circus aeruginosus | VU |
Tartaranhão-cinzento | Circus cyaneus | CR (residente)VU (invernante) |
Tartaranhão-caçador | Circus pygargus | EN |
Rolieiro | Coracias garrulus | CR |
Francelho | Falco naumanni | VU |
Falcão-peregrino | Falco peregrinus | VU |
Narceja | Gallinago gallinago | CR (nidificante) |
Perdiz-do-mar | Glareola Pratincola | VU |
Grou | Grus grus | VU |
Garçote | Ixobrychus minutus | VU |
Gaivota de Audouin | Larus audouinii | VU |
Pato-negro | Melanitta nigra | EN |
Merganso-de-poupa | Mergus serrator | EN |
Milhafre-real | Milvus milvus | CR (residente)VU (invernante) |
Abutre do Egipto | Neophron percnopterus | EN |
Pato-de-bico-vermelho | Netta rufina | EN (residente) |
Goraz | Nycticorax nycticorax | EN |
Roquinho | Oceanodroma castro | VU |
Chasco-ruivo | Oenanthe hispanica | VU |
Chasco-preto | Oenanthe leucura | CR |
Abetarda | Otis tarda | EN |
Águia-pesqueira | Pandion haliaetus | CR (residente)EN (invernante) |
Falcão-abelheiro | Pernis apivorus | VU |
Flamingo | Phoenicopterus roseus | VU |
Colhereiro | Platalea leucorodia | EN |
Camão | Porphyrio porphyrio | VU |
Cortiçol-de-barriga-branca | Pterocles alchata | CR |
Cortiçol-de-barriga-preta | Pterocles orientalis | EN |
Gralha-de-bico-vermelho | Pyrrhocorax pyrrhocorax | EN |
Andorinha-do-mar-anã | Sterna albifrons | VU |
Sisão | Tetrax tetrax | VU |
Airo | Uria aalge | CR (nidificante) |
Para mais informações sobre o estatuto de conservação de Aves podem consultar:
http://www.icnf.pt/portal/naturaclas/patrinatur/lvv/resource/doc/tab-class-spp/aves
3) Anfíbios e Répteis
Nos Anfíbios e Répteis as espécies ameaçadas são a Salamandra-lusitânica (Chioglossa lusitanica), o Tritão-palmado (Triturus helveticus), a Osga turca (Hemidactylus turcicus), a Lagartixa de Carbonell (Podarcis carbonelli), a Cobra-lisa-europeia (Coronella austriaca), a Víbora-cornuda (Vipera latastei) e a Lagartixa-da-montanha (Lacerta monticola) classificadas como VU. O Cágado-de-carapaça-estriada (Emys orbicularis), Pelodytes sp e a Víbora de Seoane (Vipera seoanei) são classificados como EN.
O Atlas (Loureiro e tal., 2008) mostra, de acordo com o registo de observações feitas, como se distribuem actualmente, em Portugal, os Anfíbios e Répteis que são autóctones no território português:
– 17 espécies de Anfíbios;
– 30 espécies de Répteis terrestres; e
– 5 espécies de Tartarugas marinhas.
Para quem pretende saber um pouco mais sobre Anfíbios e répteis autóctones de Portugal aqui ficam os links:
http://www.icnf.pt/portal/naturaclas/patrinatur/atlas-anfi-rept/anfibios
http://www.icnf.pt/portal/naturaclas/patrinatur/atlas-anfi-rept/repteis
4) Mamíferos
No grupo dos mamíferosestão classificados como EN o Lobo (Canis lupus) e o Morcego de Bechstein (Myotis bechsteinii); a Toupeira-de-água (Galemys pyrenaicus), o Rato de Cabrera (Microtus cabrerae), o Boto (Phocoena phocoena), o Morcego-de-ferradura-grande (Rhinolophus ferrumequinum), o Morcego-de-ferradura-pequeno (Rhinolophus hipposideros), o Morcego-rato-grande (Myotis myotis), o Morcego-de-franja (Myotis natterer), a Baleia-anã (Balaenoptera acutorostrata), o Gato-bravo (Felis silvestris) e o Morcego-de-peluche (Miniopterus schreibersii) são espécies classificadas como VU; o Lince-ibérico (Lynx pardinus), o Morcego-de-ferradura-mediterrânico (Rhinolophus euryale), a Cabra-montês (Capra pyrenaica), o Morcego-rato-pequeno (Myotis blythii) e o Morcego-de-ferradura-mourisco (Rhinolophus mehelyi) são classificados como CR.
5) Invertebrados
Nas espécies invertebradas a Rosca ou Larva-da-madeira (Cerambyx cerdo) é classificada como VU e o Mexilhão-de-rio (Margaritifera margaritifera) é classificado na categoria EN.
Existem outras espécies ameaçadas na fauna, infelizmente a lista é extensa. Este texto resultou de uma ampla pesquisa de forma a dar-vos a conhecer a quantidade de espécies que está ameaçada em Portugal. Porém, não é só na fauna que existem ameaças de extinção, também na flora existem espécies em risco em Portugal. Portanto, num próximo post será esse o tema abordado.
Referencias:
http://worldandnature.blogs.sapo.pt/
http://www.ciencia20.up.pt
http://www.ecossistemas.org/ficheiros/livro/Capitulo_5.pdf
Cabral, M. J., J. Almeida, P. R. Almeida, T. Dellinger, N. Ferrand de Almeida, M. E. Oliveira, J. M. Palmeirim, A. I. Queiroz, L. Rogado e M. Santos Reis (eds.) (2005), Livro Vermelho dos Vertebrados Portugueses, Lisboa, Instituto de Conservação da Natureza.
Loureiro, A. Ferrand de Almeida,N. Carretero, M.A. e Paulo, O.S. (eds.) (2008) Atlas dos Anfíbios e Répteis de Portugal. 1ª edição, Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade, Lisboa.