Fotogaleria: 36 animais em vias de extinção, por Tim Flach

Existem no planeta mais de 7,7 milhões de espécies de animais e mais de 20 por cento estão em vias de se extinguirem. O fotógrafo Tim Flach passou mais de dois anos a imortalizar alguns dos animais mais raros do mundo em imagens.

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Tim Flach
Héctor Rodríguez
Héctor Rodríguez

JORNALISTA E EDITOR DE CIÊNCIA E NATUREZA

A fauna que habita a Terra já mudou em diversas ocasiões desde que a vida surgiu. Ao longo dos seus milhares de anos de existência e por diversas razões, ocorreram cinco grandes extinções das espécies que povoavam a Terra, conhecidas como as cinco extinções em massa. Actualmente, devido à acção dos seres humanos, o planeta está à beira daquilo que os cientistas chamam a Sexta Grande Extinção.  Para conhecer a fundo o problema da perda de biodiversidade devem conhecer-se diferentes aspectos e conceitos chave para compreender melhor a questão a nível biológico.

Quando se considera uma espécie em vias de extinção?

Considera-se que uma espécie está em vias de extinção quando todos os seus representantes correm o risco de desaparecer da face da Terra.

Quantos animais estão em vias de extinção?

Segundo dados da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), o organismo internacional com maior autoridade na matéria, aproximadamente 5.200 espécies de animais encontram-se em vias de extinção. Divididas por classe, encontram-se em vias de extinção 11 por cento das aves, 20 por cento dos répteis, 34 por cento dos peixes e 25 por cento dos anfíbios e mamíferos.

Causas pelas quais os animais estão em vias de extinção

Existem múltiplas causas para uma espécie se encontrar à beira da extinção. As razões podem ser específicas de cada espécie, mas as maiores ameaças são, em traços gerais, a destruição e fragmentação dos habitats, as alterações climáticas, a caça e tráfico ilegal, e a introdução de espécies exóticas.

Como evitar a extinção das espécies?

Conseguir que uma espécie deixe de estar em vias de extinção não é tarefa fácil. Evitar que uma espécie desapareça implica pôr em marcha uma grande quantidade de recursos e medidas concretas. Algumas delas seriam evitar a fragmentação dos seus habitats, nomeadamente a desflorestação, perseguir e punir duramente a caça ilegal e o tráfico de espécies, criar reservas naturais, promover programas de reprodução, reintrodução e melhoria genética. A luta contra a poluição e as alterações climáticas também é a luta pela conservação de muitos animais. Cada decisão pessoal tem uma consequência a nível global em diversas áreas, daí a importância da consciencialização social para lutar contra a perda de biodiversidade.

Seguem-se algumas das espécies em vias de extinção mais chamativas e emblemáticas do planeta, fotografadas ao longo de mais de dois anos pelo fotógrafo de natureza Tim Flach. Como o próprio autor explica, “quis criar imagens que nos tocassem emocionalmente, para que nos sintamos obrigados a mudar a nossa relação com a natureza”.

Os aztecas viam no axolotl, uma manifestação do deus Xolotl, que levava as almas para o submundo juntamente com o Sol poente.

Tim Flach

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Axolote

Os aztecas viam no axolotl, uma manifestação do deus Xolotl, que levava as almas para o submundo juntamente com o Sol poente. Os aztecas veneravam a carne do axolote e capturavam as criaturas na enorme rede de canais e lagos que sustentavam as suas comunidades no centro do México. Hoje em dia, resta apenas uma fracção deste sistema aquático, que está a ser contaminado pelos adubos, pesticidas, fezes e lixo da Cidade do México.

Os axolotls, tal como os seus primos europeus, os olms, são neoténicos, o que significa que alcançam a maturidade sexual sob a forma de larvas, conservando as guelras e a cauda. Isto faz com que não se desenvolvam fisicamente. No entanto, regeneram-se. O axolote consegue fazer crescer extremidades, ossos e órgãos que tenham sido danificados ou cortados. São mil vezes mais resistentes ao cancro do que os mamíferos. Se sobreviverem às ameaças contemporâneas durante tempo suficiente para conseguirmos compreender as suas células imunitárias, poderemos alcançar enormes avanços em diversas terapias médicas.

maiores grupos sociais de primatas não-humanos

Tim Flach

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Mandril

Cores verdadeiras

O estilo é tudo quando se vive num grupo tão grande como o de um mandril. Com um bando de 1.300 indivíduos identificado nas florestas do Gabão, crê-se que os mandris formem os maiores grupos sociais de primatas não-humanos. Com os seus chamativos rostos e olhos, evoluíram para exibir a coloração mais espectacular de qualquer espécie de mamífero, cuja intensidade indica o seu estatuto social e estado sexual. Infelizmente, não é só a sua aparência que atrai. A carne de mandril é considerada um manjar na África Ocidental e faz parte de um negócio em crescimento: toneladas de carne de animais selvagens são contrabandeadas diariamente para a região ocidental da Europa. Como os mandris vivem em grupos muito grandes, grande parte da sua população pode ser capturada por este negócio numa única caçada. O abate madeireiro e a agricultura também estão a limitar os seus locais de refúgio, razão pela qual estes animais notáveis precisam urgentemente de uma protecção mais eficaz.

Os ursos polares dependem do gelo marinho para capturarem as suas presas.

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Ursos polares

Escapando

Os ursos polares dependem do gelo marinho para capturarem as suas presas. Atacam as focas quando estas emergem através dos respiradouros e rondam-nas enquanto apanham sol ao ar livre, mas o gelo está a derreter à medida que o nosso clima aquece. Nos treze Invernos ocorridos desde o ano 2003, verificaram-se as treze extensões de gelo mais pequenas registada pelos satélites. As temporadas de caça são cada vez mais curtas e, por cada semana de gelo que se perde nos Invernos do Árctico, os ursos polares perdem cerca de sete quilos de gordura.

Macaco-dourado-de-nariz-arrebitado

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Macaco-dourado-de-nariz-arrebitado

Resistência dourada

Habitando as montanhas do centro da China, o macaco-dourado suporta alguns dos Invernos mais duros que qualquer primata não-humano consegue suportar. A sua camada de pêlo comprido e suave protege-o dos ventos gelados, enquanto o seu rosto desnudo suporta a maior parte do frio. Foi caçado durante muito tempo pela sua bela pelagem, mas a caça furtiva diminuiu desde o início da década de 1990 graças a uma maior protecção do governo. Não obstante, o seu número continuou a descer à medida que as suas florestas foram abatidas para obtenção de madeira e criação de terras de cultivo. Além disso, o turismo aumentou, acompanhando o crescimento económico da China, e os bandos de macacos foram fortemente fustigados e perseguidos por pessoas desejosas de os ver. Actualmente, restam apenas cerca de 120 indivíduos desta espécie em estado selvagem.

Restam apenas 10 por cento das florestas históricas de Madagáscar, que sustentam estes lémures em perigo crítico. Com uma grande paixão por néctar, crê-se que os lémures sejam os maiores polinizadores do mundo

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Lémures

Um grito de ajuda

Restam apenas dez por cento das florestas históricas de Madagáscar, que sustentam estes lémures em vias de extinção. Com uma grande paixão por néctar, crê-se que os lémures sejam os maiores polinizadores do mundo. Ao contrário da maioria dos primatas, têm ninhadas grandes, razão pela qual prosperam em cativeiro, onde as taxas de sobrevivência são altas. Contudo, como foram criados a partir de um grupo genético muito pequeno, as reintroduções posteriores acarretam muitas complicações. A sua conservação será bem-sucedida quando simplesmente os deixarmos em paz num dossel de selva intacta.

O lémure-preto-e-branco-de-colar da região leste de Madagáscar tem uma das vozes mais potentes de todos os primatas.

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Lémure-preto-e-branco-de-colar da região leste de Madagáscar

Objectivo dos caçadores furtivos

O lémure-preto-e-branco-de-colar da região leste de Madagáscar tem uma das vozes mais potentes de todos os primatas. No entanto, estes chamamentos de alerta transformaram-se numa responsabilidade perigosa, pois os caçadores furtivos podem caçar os lémures com facilidade para obter a sua carne.

Os ovos da rã arborícola de olhos amarelos medem cerca de 3 milímetros. Ontem, os embriões não tinham olhos e amanhã tornar-se-ão escuros, como girinos.

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Ovos de rã arborícola

Dificuldades logo à nascença

Os ovos da rã arborícola de olhos amarelos medem cerca de três milímetros. Ontem, os embriões não tinham olhos e amanhã tornar-se-ão escuros, como girinos. Embora a sua taxa de gestação seja razoável, o facto de reagir à temperatura e as alterações climáticas está a fazer com que as rãs eclodam mais cedo ou mais tarde, confundindo os predadores e perturbando toda a cadeia alimentar.

8 - Imagina o Pólo Norte sem gelo?

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Imagina o Pólo Norte sem gelo?

Talvez um dia cheguemos a ver um Verão sem gelo no Pólo Norte. O gelo reflecte a radiação solar e, se desaparecer, as novas águas postas a descoberto no mar absorverão mais calor e o aquecimento global a acelerar-se-á em todo o planeta.

O Acordo de Paris foi assinado em 2015 para limitar o aquecimento antropogénico a um máximo de 2°C. Se os seus signatários o ratificarem e respeitar, poderá contribuir bastante para proteger tanto os ursos polares como os seres humanos do degelo e da subida do nível do mar.

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Urso polar

Aquecimento global

O Acordo de Paris foi assinado em 2015 para limitar o aquecimento antropogénico a um máximo de 2°C. Se os seus signatários o ratificarem e respeitar, poderá contribuir bastante para proteger tanto os ursos polares como os seres humanos do degelo e da subida do nível do mar.

As alterações climáticas também estão a contribuir para a propagação de um fungo mortal conhecido como fungo quítridio dos anfíbios. As florestas das terras baixas tornam-se mais quentes e, à medida que a humidade aumenta, formam-se nuvens mais espessas nas montanhas, tornando o habitat destas rãs muito mais frio.

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Anfíbios em vias de extinção

Dificuldades logo à nascença

As alterações climáticas também estão a contribuir para a propagação de um fungo mortal conhecido como fungo quítridio dos anfíbios. As florestas das terras baixas tornam-se mais quentes e, à medida que a humidade aumenta, formam-se nuvens mais espessas nas montanhas, tornando o habitat destas rãs muito mais frio. Uma vez que as rãs são ectotérmicas – dependem de fontes externas para o seu calor corporal –, o seu sistema imunitário enfraquece e o fungo quítridio prospera. A doença resultante, a quitridiomicose, afecta anfíbios em todo o mundo, infectando e destruindo mais espécies de vertebrados do que qualquer doença registada na história. Um terço das espécies de anfíbios encontram-se actualmente em vias de extinção e já se perderam cerca de 120.

Há 66 milhões de anos, quando o impacto de um meteorito destruiu a maior parte das formas de vida da Terra, o olm continuou a nadar. Surgira cerca de 80 milhões de anos antes, nas grutas mais escuras da actual Europa de Leste e, por não depender da luz solar, mal se apercebeu da quinta extinção em massa.

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Olm, um curioso organismo

Há 66 milhões de anos, quando o impacto de um meteorito destruiu a maior parte das formas de vida da Terra, o olm continuou a nadar. Surgira cerca de 80 milhões de anos antes, nas grutas mais escuras da actual Europa de Leste e, por não depender da luz solar, mal se apercebeu da quinta extinção em massa.

Uma vez que é cego, o olm não desenvolveu o colorido padrão dos seus primos anfíbios tropicais e quase não tem pigmentação. Sem constrangimentos, orienta-se através do olfacto, da audição e da electrosensibilidade e crê-se que detecta os campos magnéticos da Terra. Vive até cem anos e pode sobreviver dez anos sem alimento, mas precisa de água limpa. As florestas que existem sobre o seu habitat funcionam como purificadores, mas à medida que se convertem em terras de cultivo, os poluentes penetram no seu lar subterrâneo. Pela primeira vez na sua longa história, o olm tornou-se vulnerável.

A ligação que sentimos com um papagaio que nos devolve cumprimentos não é algo irrelevante, pois significa que fazemos parte do seu grupo. As araras imitam as nossas palavras, mas não conseguem entendê-las.

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Perdida na tradição

A ligação que sentimos com um papagaio que nos devolve cumprimentos não é algo irrelevante, pois significa que fazemos parte do seu grupo. As araras imitam as nossas palavras, mas não conseguem entendê-las. Se conseguissem poderiam, convencer-nos a deixá-las nas suas árvores e a deixar essas árvores no solo.

A tartaruga mais rara do mundo demora 15 anos a alcançar a idade de reprodução. Isto significa que cada ovo roubado ou cada árvore ou arbusto cortado é um revés esmagador para esta espécie à beira da extinção. Pensava-se que a tartaruga de Madagáscar – Astrochelys yniphora – já tinha desaparecido, mas foi redescoberta em 1984 no noroeste da ilha. A Durrell Wildlife Conservation Trust iniciou rapidamente um programa de criação em cativeiro.

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Tartaruga de Madagáscar

Um lento progresso

A tartaruga mais rara do mundo demora 15 anos a alcançar a idade de reprodução. Isto significa que cada ovo roubado ou cada árvore ou arbusto cortado é um revés esmagador para esta espécie à beira da extinção. Pensava-se que a tartaruga de Madagáscar – Astrochelys yniphora – já tinha desaparecido, mas foi redescoberta em 1984 no noroeste da ilha. A Durrell Wildlife Conservation Trust iniciou rapidamente um programa de criação em cativeiro. Em 1998, o único habitat da tartaruga de Madagáscar foi oficialmente designado Parque Nacional – o primeiro criado para proteger uma única espécie – e a Fundação Durrell conseguiu libertar cem indivíduos. A sua redescoberta também a transformou num dos animais mais desejáveis do mundo para os vendedores ilícitos de espécies raras e conchas ornamentais. Cada sucesso da conservação tem sido fruto de uma luta constante com este poderoso comércio internacional. A caça furtiva intensificou-se recentemente e todas as libertações da natureza foram suspensas enquanto os guardas lutam para garantir a segurança do local, que actualmente contém apenas umas quantas centenas de indivíduos.

Todos os Invernos, centenas de milhões de insectos empreendem uma viagem de vários milhares de quilómetros, apesar de cada um pesar menos do que uma nota de euro.

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Perdida na multidão

Todos os Invernos, centenas de milhões de insectos empreendem uma viagem de vários milhares de quilómetros, apesar de cada um pesar menos do que uma nota de euro. Num dos fenómenos mais espectaculares do mundo natural, as borboletas monarca migram do Canadá e do Norte dos EUA para o México e a Califórnia, onde revestem os pinhais com um manto cor-de-laranja, branco e negro.

Estima-se que mais de um milhão de pangolins tenham sido comercializados ilegalmente entre 2007 e 2017, transformando-o no mamífero mais vendido do mundo. São animais tímidos, sem dentes, maioritariamente nocturnos e que se imobilizam quando têm medo. A armadura de escamas de queratina que os envolve protege-os dos seus predadores históricos, mas os seres humanos podem, simplesmente, pegar neles e levá-los consigo.

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Pangolim

Decadência silenciosa

Estima-se que mais de um milhão de pangolins tenham sido comercializados ilegalmente entre 2007 e 2017, transformando-o no mamífero mais vendido do mundo. São animais tímidos, sem dentes, maioritariamente nocturnos e que se imobilizam quando têm medo. A armadura de escamas de queratina que os envolve protege-os dos seus predadores históricos, mas os seres humanos podem, simplesmente, pegar neles e levá-los consigo.

Os pangolins possuem um legado evolutivo único, tendo-se separado dos outros mamíferos quando os dinossauros ainda caminhavam sobre a Terra. Existem quatro espécies em África e quatro na Ásia: todas são actualmente vulneráveis e duas estão em vias de extinção.

Este é Djala, um gorila ocidental das terras baixas, fotografado num santuário inglês dirigido pela Fundação Aspinall. Foi resgatado no Gabão durante a década de 1980 quando era bebé, depois de ter visto toda a sua família ser assassinada por caçadores furtivos.

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Gorila ocidental das terras baixas

Obra de amor

Este é Djala, um gorila ocidental das terras baixas, fotografado num santuário inglês dirigido pela Fundação Aspinall. Foi resgatado no Gabão durante a década de 1980 quando era bebé, depois de ter visto toda a sua família ser assassinada por caçadores furtivos. No centro de resgate, superou gradualmente os profundos traumas da sua infância e, 30 anos mais tarde, foi levado para casa, nas florestas do Gabão, com a sua nova família. Na natureza, a sua saúde melhorou: os caroços sob o seu olho esquerdo diminuíram, perdeu peso em excesso e continua vivo, embora já seja velho. O resgate e reintrodução de gorilas são tarefas trabalhosas e alguns conservacionistas criticam esta abordagem, argumentando que os fundos poderiam ser usados mais eficazmente para defender estes animais em vias de extinção na natureza.

O saguim-bicolor evoluiu numa pequena área do nordeste da selva amazónica. O seu habitat junto ao rio proporcionava-lhe todas as presas e vegetação de que necessitava.

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Saguim-bicolor

A selva de betão

O saguim-bicolor evoluiu numa pequena área do nordeste da selva amazónica. O seu habitat junto ao rio proporcionava-lhe todas as presas e vegetação de que necessitava. No final do século XVII, porém, fixou-se ali uma povoação humana. Essa povoação é agora o Porto de Manaus, uma capital regional com mais de dois milhões de habitantes. Grande parte do lar do saguim foi asfaltado e, embora seja possível encontrá-lo em algumas áreas protegidas, o saguim-de-mãos-douradas, uma espécie invasora, está a “roubar-lhe” a maior parte do alimento e o pouco habitat que lhes resta.

Ao contrário de algumas espécies de macacos, o saguim, nas suas várias cores, não conseguiu adaptar-se à vida humana e é frequentemente morto por cães, automóveis e cabos eléctricos ao atravessar a cidade nas suas deslocações entre bolsas isoladas de floresta. A pressão económica continua a fazer Manaus crescer, tornando a extinção deste intrigante primata uma possibilidade cada vez mais real.

A desflorestação tem sido mais lenta na região ocidental da África Central, pelo menos em comparação com outras regiões tropicais. O habitat do chimpanzé-comum manteve-se relativamente intacto, mas cerca de três quartos da sua população desapareceu no último século. Tal deve-se ao facto de serem amplamente caçados devido à sua carne, que é consumida localmente e também contrabandeada para o estrangeiro.

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Chimpanzé-comum

Mais do que humano

A desflorestação tem sido mais lenta na região ocidental da África Central, pelo menos em comparação com outras regiões tropicais. O habitat do chimpanzé-comum manteve-se relativamente intacto, mas cerca de três quartos da sua população desapareceu no último século. Tal deve-se ao facto de serem amplamente caçados devido à sua carne, que é consumida localmente e também contrabandeada para o estrangeiro.

A agricultura, o abate madeireiro, a extracção petrolífera e mineira e a construção de auto-estradas atravessam as florestas e fragmentam as suas comunidades unidas. Na cultura africana tradicional, os chimpanzés costumam ser representados como animais indignos de confiança. A sua semelhança com a nossa própria espécie fá-los parecer perversamente subversivos. Essa extraordinária parecença é fascinante para nós, mas pode ser devastadora para eles, que também são susceptíveis a surtos de antrax, Ébola e doenças respiratórias. À medida que vamos entrando mais profundamente no seu território, as ameaças serão cada vez mais graves.

Os cientistas descobriram os macacos-pretos-de-nariz-arrebitado de Yunnan na década de 1890, mas estes caíram rapidamente no esquecimento e pensava-se que se tinham extinguido até à descoberta de um indivíduo em 1962.

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Macacos-pretos-de-nariz-arrebitado de Yunnan

O macaco misterioso

Os cientistas descobriram os macacos-pretos-de-nariz-arrebitado de Yunnan na década de 1890, mas estes caíram rapidamente no esquecimento e pensava-se que se tinham extinguido até à descoberta de um indivíduo em 1962. Trata-se de um dos primatas mais esquivos do planeta. São seminómadas e habitam latitudes mais altas do que qualquer outro macaco, nas espessas florestas de bambu das montanhas Hengduan, no sudoeste da China. Tal como os seus primos de pêlo dourado, enfrentam temperaturas invernais de -40°C e são venerados tradicionalmente pela população local devido à sua resistência. As pessoas consideram-nos antepassados e chamam-lhes “homens selvagens das montanhas”. Se a China aplicar efectivamente a sua medida de protecção das florestas antigas, o futuro dos macacos-pretos-de-nariz-arrebitado de Yunnan melhorará consideravelmente. No entanto, os elevados níveis de endogamia continuarão a ser uma ameaça grave. As populações sobreviventes são tão pequenas e estão tão isoladas actualmente que é possível que não exista diversidade genética suficiente para prosperarem nos próximos séculos.

Na década de 1980, o governo chinês lançou uma das maiores e mais dispendiosas campanhas de conservação da história para salvar o panda gigante. A caça furtiva foi proibida, as florestas foram protegidas e a difícil situação do panda foi reconhecida internacionalmente. Este esforço acabou por resultar num aumento da população selvagem do panda gigante e, em 2016, a espécie foi finalmente classificada como vulnerável.

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Urso-panda

Um sucesso relativo

Na década de 1980, o governo chinês lançou uma das maiores e mais dispendiosas campanhas de conservação da história para salvar o panda gigante. A caça furtiva foi proibida, as florestas foram protegidas e a difícil situação do panda foi reconhecida internacionalmente. Este esforço acabou por resultar num aumento da população selvagem do panda gigante e, em 2016, a espécie foi finalmente classificada como vulnerável. Muitos grupos ficaram felizes e consideraram esta reclassificação um triunfo do trabalho duro das medidas governamentais. No entanto, outros temiam que esta nova classificação fosse enganosa e pudesse reduzir o financiamento e as investigações.

Com efeito, o futuro do panda gigante continua a ser precário. Existem, actualmente, apenas cerca de 20.000 indivíduos na natureza, dispersos por várias populações isoladas.

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2.000 ursos panda

Com efeito, o futuro do panda gigante continua a ser precário. Existem, actualmente, apenas cerca de 20.000 indivíduos na natureza, dispersos por várias populações isoladas. Além disso, a sua fonte de alimento, o bambu, é muito sensível à temperatura e as florestas de bambu da China serão gravemente danificadas pelas alterações climáticas.

As borboletas monarca alimentam-se de asclépias, uma planta tóxica que as torna venenosas para potenciais predadores. No entanto, os herbicidas estão a destruir milhões de hectares desta fonte de alimento essencial para as borboletas a cada ano que passa.

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Borboletas-monarca

Perdida na multidão

As borboletas-monarca alimentam-se de asclépias, uma planta tóxica que as torna venenosas para potenciais predadores. No entanto, os herbicidas estão a destruir milhões de hectares desta fonte de alimento essencial para as borboletas a cada ano que passa. Estes enormes e majestosos enxames são compostos por indivíduos frágeis, que enfrentam um ambiente em mudança e um futuro profundamente incerto.

As araras militares possuem uma das vozes mais sonoras das florestas da América do Sul. No entanto, não reconhecem os seus chamamentos de forma inata, aprendendo-os com os seus progenitores e companheiros, o que dá origem a dialectos locais que distinguem os bandos. Na natureza, as araras militares permanecem monógamas ao longo de toda a vida e são extremamente leais enquanto animais de estimação.

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Araras Militares

As araras militares possuem uma das vozes mais sonoras das florestas da América do Sul. No entanto, não reconhecem os seus chamamentos de forma inata, aprendendo-os com os seus progenitores e companheiros, o que dá origem a dialectos locais que distinguem os bandos.

Na natureza, as araras militares permanecem monógamas ao longo de toda a vida e são extremamente leais enquanto animais de estimação. A sua beleza e agradável companhia faz com que sejam muito procuradas pela indústria de mascotes, mas muitos comerciantes capturaram-nas em estado selvagem em vez de as criarem em cativeiro.

A majestosa águia filipina é uma das maiores aves de rapina do mundo. Com asas curtas e fortes, abre caminho por entre o dossel de vegetação com velocidade e precisão, em busca de serpentes, lagartos, macacos, roedores ou aves.

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Águia filipina

Alturas vertiginosas

A majestosa águia filipina é uma das maiores aves de rapina do mundo. Com asas curtas e fortes, abre caminho por entre o dossel de vegetação com velocidade e precisão, em busca de serpentes, lagartos, macacos, roedores ou aves. Este predador, que se encontra no topo da sua cadeia alimentar, também reside na parte superior da floresta, construindo os seus ninhos nas árvores mais altas, que permanecem numa família durante gerações.

Sendo predadores de topo, as águias das Filipinas são particularmente vulneráveis às toxinas das explorações agrícolas e das pedreiras, uma vez que estas se acumulam nas espécies abaixo de si na cadeia alimentar.

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Alturas vertiginosas

Sendo predadores de topo, as águias das Filipinas são particularmente vulneráveis às toxinas das explorações agrícolas e das pedreiras, uma vez que estas se acumulam nas espécies abaixo de si na cadeia alimentar. Também são sensíveis à desflorestação do seu país de origem, depois um casal com crias precisa de 103 quilómetros quadrados para sobreviver e a maioria dos seus ninhos encontram-se em terras desprotegidas.

Estes casais monógamos criam um único pinto a cada dois anos, razão pela qual a sua população enfraquecida terá dificuldades em recuperar. Existem actualmente menos de mil em estado selvagem, sendo, possivelmente, as águias em maior perigo de extinção do nosso planeta.

Os macacos narigudos gostam de se deslocar numa ampla área de distribuição, mas o seu domínio está cada vez mais fragmentado. Trata-se de uma espécie que se dá muito mal em cativeiro, por isso, a sua preservação implica salvar as florestas. No entanto, em Sabah, onde eles e os elefantes locais são reconhecidos como anúncio turístico, apenas 15 por cento dos macacos vivem em áreas protegidas.

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Macacos narigudos

Os macacos narigudos gostam de se deslocar numa ampla área de distribuição, mas o seu domínio está cada vez mais fragmentado. Trata-se de uma espécie que se dá muito mal em cativeiro, por isso, a sua preservação implica salvar as florestas. No entanto, em Sabah, onde eles e os elefantes locais são reconhecidos como anúncio turístico, apenas 15 por cento dos macacos vivem em áreas protegidas. As florestas desprotegidas estão a transformar-se em unidades de cultura de camarão e plantações de azeite de palma. A situação no vizinho Kalimantan é igualmente grave. No total, um terço das selvas tropicais do Bornéu desapareceram desde 1973, sobretudo nas orlas costeiras, e a noção de “zona protegida” é proporciona uma defesa insuficiente contra os exploradores comerciais. Em 2011, a Noruega concedeu à Indonésia um incentivo de mil milhões de dólares para o país proteger as suas florestas, mas isso não chega.

Nos últimos 100 anos, a população mundial de tigres diminuiu 97 por cento e três das suas nove subespécies extinguiram-se. Em 2010, os países ainda habitados pelos tigres fizeram um pacto inovador para duplicar a sua população mundial até 2022, comprometendo-se a proteger o seu habitat natural e a combater o comércio internacional ilegal desta espécie, que incide sobretudo na procura de vinho de osso de tigre e vários remédios tradicionais.

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Tigres

Uma recuperação incerta

Nos últimos 100 anos, a população mundial de tigres diminuiu 97 por cento e três das suas nove subespécies extinguiram-se. Em 2010, os países ainda habitados pelos tigres fizeram um pacto inovador para duplicar a sua população mundial até 2022, comprometendo-se a proteger o seu habitat natural e a combater o comércio internacional ilegal desta espécie, que incide sobretudo na procura de vinho de osso de tigre e vários remédios tradicionais. A meio da iniciativa, em Abril de 2016, foi anunciado um aumento mundial dos tigres pela primeira vez na história: a Índia, a Rússia, o Nepal e o Butão relataram melhoras significativas. Infelizmente, os números continuam a diminuir em todo o sudeste asiático, excepto num santuário situado na região ocidental da Tailândia. Por outro lado, o Camboja declarou os tigres extintos a nível nacional, o tigre do sul da China já quase desapareceu e o tigre de Sumatra – o último da Indonésia – também está em vias de extinção. O seu futuro permanece incerto, mas o desejo de proteger a nossa megafauna mais carismática persiste.

Os coelhos selvagens não foram as únicas vítimas do vírus da mixomatose que se disseminou pela Europa na década de 1950, nem dos surtos de doença hemorrágica do coelho que começaram na década de 1980. O lince ibérico, que se alimenta quase exclusivamente destes animais, foi privado de alimento pela diminuição das suas presas. Sofrendo igualmente com a degradação das florestas e as pressões exercidas pela caça ilegal, o lince ibérico quase se extinguiu em 2003. As autoridades espanholas e portuguesas comprometeram-se, então, com um programa de criação em cativeiro.

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Lince ibérico

Reacção em cadeia

Os coelhos selvagens não foram as únicas vítimas do vírus da mixomatose que se disseminou pela Europa na década de 1950, nem dos surtos de doença hemorrágica do coelho que começaram na década de 1980.

O lince ibérico, que se alimenta quase exclusivamente destes animais, foi privado de alimento pela diminuição das suas presas. Sofrendo igualmente com a degradação das florestas e as pressões exercidas pela caça ilegal, o lince ibérico quase se extinguiu em 2003.

As autoridades espanholas e portuguesas comprometeram-se, então, com um programa de criação em cativeiro. Foram arrecadados fundos através de um “imposto ambiental” sobre uma empresa pública de água que construíra barragens em terras que eram previamente território dos linces. A população do lince ibérico encontra-se, actualmente, nas centenas de indivíduos, mas os conservacionistas alertam para o facto de ser necessário manter as reintroduções e de as alterações climáticas representarem um risco para a qualidade do seu habitat.

Os leopardos das neves, escondidos nas montanhas áridas da Ásia Central, são conhecidos como um dos felinos mais esquivos do mundo. Em 2016, uma investigação realizada com tecnologia de rastreio por GPS demonstrou que um leopardo das neves precisa de até 207 quilómetros quadrados de território para sobreviver, o que significa que quase 40 por cento das áreas protegidas do seu habitat são demasiado pequenas para manter um único casal em idade reprodutiva.

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Leopardo das neves

O fantasma das montanhas

Os leopardos das neves, escondidos nas montanhas áridas da Ásia Central, são conhecidos como um dos felinos mais esquivos do mundo. Em 2016, uma investigação realizada com tecnologia de rastreio por GPS demonstrou que um leopardo das neves precisa de até 207 quilómetros quadrados de território para sobreviver, o que significa que quase 40 por cento das áreas protegidas do seu habitat são demasiado pequenas para manter um único casal em idade reprodutiva.

O aquecimento global, que afectou o Himalaia com três vezes mais intensidade do que outros locais do mundo, está a deslocar as florestas para as encostas e a reduzir os habitats do leopardo das neves. Além disso, os agricultores e criadores de animais estão a alimentar o seu gado e plantar culturas cada vez a maior altitude, o que aumenta as possibilidades de conflito entre os leopardos das neves e os seres humanos. O Acordo de Paris 2015 foi um passo em frente para a conservação destes felinos lendários, mas até as suas terras e o seu modo de vida estarem protegidos, é provável que continuem a diminuir.

Os grous-do-Japão, também conhecidos como grous-da-Manchúria, no noroeste da China, são famosos pelas suas graciosas danças de cortejamento: arqueiam o pescoço e saltam no ar, voltando a pousar no solo com um golpe de asas, aterrando em bicos de pés junto à sua companheira.

Tim Flach

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Grou-do-Japão

O tesouro nacional

Os grous-do-Japão, também conhecidos como grous-da-Manchúria, no noroeste da China, são famosos pelas suas graciosas danças de cortejamento: arqueiam o pescoço e saltam no ar, voltando a pousar no solo com um golpe de asas, aterrando em bicos de pés junto à sua companheira. Caçados devido à sua esplêndida plumagem, a população residente na ilha japonesa de Hokkaido ficou reduzida a 30 indivíduos na década de 1920, mas os agricultores locais intervieram para salvá-los e continuam a alimentá-los todas as manhãs ainda hoje.

Devido ao estrangulamento da sua população, a diversidade genética destes grous em vias de extinção é muito reduzida, o que os torna altamente vulneráveis aos surtos de muitas doenças. Entretanto, a perda e a conversão do seu habitat de zonas húmidas em zonas de cultivo continua a representar uma ameaça universal. No continente, os grous-da-Manchúria estão em declínio: 92 por cento do seu habitat na China perdeu-se nos últimos 30 anos e o pouco que resta está rodeado por cidades, explorações agrícolas e campos petrolíferos. As suas melhores possibilidades de sobrevivência podem encontrar-se no Japão, onde a comunidade nacional os valoriza mais.

Este é Makara. Nascido na Florida em Junho de 2016, foi o primeiro gavial indiano criado em cativeiro fora do seu habitat nativo.

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Gavial indiano

Este é Makara. Nascido na Florida em Junho de 2016, foi o primeiro gavial indiano criado em cativeiro fora do seu habitat nativo. Aos seis meses, o gavial é aproximadamente do tamanho de um braço, mas em adulto pode alcançar os 6 metros. Em tempos idos, este grande membro da família crocodylidae, com o seu característico focinho delgado, podia ser encontrado desde o rio Indo no Paquistão, a leste, até ao Irrawaddy, no Myanmar, e em todos os grandes rios da Índia.

Caçada durante muito tempo pela sua pele, carne, ovos e partes do corpo (para remédios tradicionais), a espécie enfrentou recentemente uma série de novas ameaças incluindo grandes projectos de irrigação e engenharia e foi perseguida por invadir territórios habitados por pessoas ou utilizados para a criação de gado.

Na década de 1940 existiam possivelmente cerca de 10.000 gaviais, mas hoje, apesar dos grandes esforços de conservação empreendidos desde meados da década de 1970, a população totaliza umas poucas centenas de indivíduos, a maioria dos quais reside num de dois grandes santuários situados no norte da Índia.

Na maior parte do mundo, a morte de um animal é rapidamente assinalada por um círculo de abutres. Estes animais avisam-se uns aos outros sobre a localização de um novo cadáver, reunindo-se grupos de centenas de aves no ar, que depois pousam para se alimentarem. São ícones da morte na cultura popular, mas, na verdade, são grandes símbolos da vida.

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Abutres

Ritos funerários

Na maior parte do mundo, a morte de um animal é rapidamente assinalada por um círculo de abutres. Estes animais avisam-se uns aos outros sobre a localização de um novo cadáver, reunindo-se grupos de centenas de aves no ar, que depois pousam para se alimentarem.

São ícones da morte na cultura popular, mas, na verdade, são grandes símbolos da vida. Não só evitam a propagação de doenças em inúmeras comunidades e ecossistemas, como protegem os mamíferos em perigo, alertando os guardas sobre os locais de actuação de caçadores furtivos. Infelizmente, os caçadores furtivos estão a retaliar e a envenenar as suas presas com cianeto, fazendo com que um elefante morto possa tirar a vida a centenas de abutres adultos.

De todas as espécies de abutres do mundo, quase metade encontra-se actualmente em vias de extinção.

As cegonhas-bico-de-sapato – Balaeniceps rex – são aves tranquilas e solitárias que vivem e caçam nos pântanos da África Oriental. Nos últimos anos, o conflito humano local multiplicou a posse de armas de fogo, intensificando a pressão exercida pela caça furtiva sobre a espécie, mas a perda de habitat é a principal responsável pela ameaça de extinção que paira sobre estas peculiares aves de bico estranho.

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Cegonha-bico-de-sapato

Uma perspectiva diferente

As cegonhas-bico-de-sapato – Balaeniceps rex – são aves tranquilas e solitárias que vivem e caçam nos pântanos da África Oriental. Nos últimos anos, o conflito humano local multiplicou a posse de armas de fogo, intensificando a pressão exercida pela caça furtiva sobre a espécie, mas a perda de habitat é a principal responsável pela ameaça de extinção que paira sobre estas peculiares aves de bico estranho. As zonas húmidas, até as que se situam em parques nacionais, foram geralmente desvalorizadas como terras baldias, e os pântanos são frequentemente drenados para serem transformados em pastagens ou enclaves para eliminação de resíduos. Isto não só põe em perigo uma série de espécies, como ameaça as povoações humanas que, em última análise, dependem de uma fonte de água.

Para preservar o seu ambiente, os agricultores locais criam cada vez mais cabras em vez de vacas, uma vez que as cabras podem coexistir com terras pantanosas. Além disso, decidiram cuidar de mais abelhas melíferas e cultivar mais frutas, gerando receitas enquanto fortalecem o seu entorno natural, o que, por sua vez, gera mais oportunidades económicas. Esta prática permite que a natureza e as terras agrícolas sejam mutuamente benéficas e igualmente prosperas.

Apresentamos a borboleta-marinha, um pequeno e translúcido elo de uma cadeia alimentar cujo colapso poderia ter graves consequências. Com 2 a 5 centímetros de comprimento, as borboletas-marinhas são moluscos, parentes das lesmas e dos caracóis

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Borboletas-marinhas

Apresentamos a borboleta-marinha, um pequeno e translúcido elo de uma cadeia alimentar cujo colapso poderia ter graves consequências. Com 2 a 5 centímetros de comprimento, as borboletas-marinhas são moluscos, parentes das lesmas e dos caracóis. As suas “asas” chamam-se parápodes: extensões especializadas das patas, que elas batem para se deslocarem através da água.

As borboletas-marinhas da subordem Gymnosomata podem alimentar-se das Thecosomata, que também possuem este tipo de adaptação. Por sua vez, as Gymnosomata são uma fonte de nutrição essencial para baleias, aves marinhas e muitas outras espécies. Enquanto uma Gymnosomata se desfaz da sua carapaça pouco depois de eclodir do ovo, a Thecosomata conserva a sua – e esse é o problema.

O seu revestimento é muito fino e dissolve-se facilmente quando a acidez do oceano aumenta. Se, como parece provável, as Thecosomata se extinguirem por volta de 2050, as Gymnosomata serão, sem dúvida, as seguintes e, juntamente com elas, é provável que muitas outras espécies desapareçam das redes e anzóis dos pescadores.

No passado, os esturjões – Huso huso – peixes com cerca de 5 metros, alguns dos quais com mais de um século, deslocavam-se até aos mares da Eurásia durante o Inverno. Na Primavera, migravam novamente rio acima, até aos seus locais de desova tradicionais.

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Esturjão

No passado, os esturjões – Huso huso – peixes com cerca de cinco metros, alguns dos quais com mais de um século, deslocavam-se até aos mares da Eurásia durante o Inverno. Na Primavera, migravam novamente rio acima, até aos seus locais de desova tradicionais. Depois de eclodirem dos seus ovos, os jovens esturjões regressam ao mar, ali permanecendo até atingirem a maturidade, o que implica uma espera de uma ou duas décadas até surgir uma nova geração de esturjões.

No entanto, o esturjão-gigante desapareceu e é fácil perceber que algo correu mal para esta espécie de crescimento lento e dependente do rio, cujos ovos podem alcançar um valor até 25.000 euros por quilo. Os projectos de represas nos rios Volga, Don, Terek e Sulak, entre outros, privaram o esturjão dos seus locais de desova e a sua captura ilegal para comercialização do caviar, da sua carne, pele e outras partes do corpo continua em alta. Com a população selvagem a diminuir, apesar dos reforços das leis de protecção e dos programas de criação em cativeiro, o esturjão aproxima-se da extinção.

A estrutura do coral é composta, em grande parte, por zooxantelas, organismos fotossintéticos unicelulares que fornecem açúcares e aminoácidos ao coral em troca da sua segurança. À medida que a temperatura do mar aumenta, as zooxantelas abandonam os seus corais, deixando-os pálidos – um processo conhecido como “branqueamento”.

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Um equilíbrio delicado

A estrutura do coral é composta, em grande parte, por zooxantelas, organismos fotossintéticos unicelulares que fornecem açúcares e aminoácidos ao coral em troca da sua segurança. À medida que a temperatura do mar aumenta, as zooxantelas abandonam os seus corais, deixando-os pálidos – um processo conhecido como “branqueamento”. Privados da sua principal fonte de alimento, os corais embranquecidos tornam-se susceptíveis a doenças e lutam pela sua sobrevivência. Só em 2016 mais de 90 por cento dos corais da Grande Barreira de Coral sofreu branqueamento e 20 por cento morreram.

A Terra assistiu a várias extinções em massa ao longo da sua história. Após cada uma delas, os recifes de coral demoraram milhões de anos a recuperar, abrindo “fendas nos recifes” ao longo da nossa cronologia geológica. As causas principais destas destruições pré-históricas, a última das quais pôs fim aos dinossauros, foram as alterações no nível do mar, da acidez e da temperatura – e todas estão a acontecer actualmente. Teremos de vigiar cuidadosamente as “selvas tropicais do mar” se quisermos travar o sexto evento de extinção em massa da Terra.

Tim Flach, o autor destas fotografias, na primeira pessoa

O título deste livro é Endangered, mas a pergunta é: "a quem se aplica?"

Estas linhas dão início à obra do fotógrafo Tim Flach que, na companhia do cientista Jonathan Baillie, e sob a orientação de vários conservacionistas de renome, passou mais de dois anos a capturar em imagens algumas das espécies mais emblemáticas do nosso planeta. “A Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza – UICN – também foi um recurso inestimável, que ilustra com um extraordinário nível de pormenor quanto e quão depressa as espécies animais estão a sofrer decréscimos perigosos e fatais”, adverte Tim, sem deixar passar a oportunidade de destacar o importante trabalho desta instituição para a realização do seu projecto.

A sociedade contemporânea está a perder o contacto com a natureza e com os ritmos básicos da vida. 

Em Endangered, embarcamos numa viagem ao longo da qual descobrimos uma surpreendente diversidade de espécies em vias de extinção, desde corais a ursos polares e os ambientes específicos de que necessitam para sobreviver. O livro também aborda as ameaças provocadas por nós, os seres humanos, que incluem doenças, introdução de espécies invasoras, perda de habitat, comércio ilegal, poluição e alterações climáticas.

Endangered é um livro extremamente informativo, mas vai muito mais além de uma mera compilação de imagens sobre o estado das espécies ameaçadas – é uma experiência única, que explora o papel das imagens no desenvolvimento de uma ligação emocional com os animais e os seus habitats.

Hoje em dia, mais de metade da população mundial vive em cidades e as pessoas passam menos tempo ao ar livre ou em locais selvagens. Há mais dispositivos móveis do que pessoas no planeta e as crianças do mundo desenvolvido passam uma boa parte do dia a olhar para um ecrã.

A sociedade contemporânea está a perder o contacto com a natureza e com os ritmos básicos da vida. Poucas pessoas têm noção da posição das estrelas, do ciclo lunar e das marés – e ainda menos das épocas em que ocorrem as grandes migrações de aves ou insectos.

“Continuamos a afastar-nos do meio ambiente que serviu de refúgio aos nossos antepassados durante milhões de anos e nos deu forma enquanto humanos”, refere o autor. Esta desconexão da natureza sucede num momento em que a sociedade está a ter um impacto sem precedentes nas espécies e ecossistemas do mundo. As populações de vertebrados diminuíram mais de 50 por cento desde 1970 e, actualmente, cerca de 20 por cento das espécies do mundo estão em perigo de desaparecer.

Houve grandes eventos de extinção na história do nosso planeta. O último ocorreu há aproximadamente 60 milhões de anos. Actualmente, estamos a provocar uma sexta extinção, diferente das anteriores porque esta é impulsionada essencialmente por nós. “Se quisermos inverter esta tendência destrutiva, teremos de redefinir a nossa relação cultural com a natureza.” Em poucas palavras: devemos valorizar mais as outras formas de vida para além da nossa. Esta mudança só será possível se conseguirmos criar uma ligação profunda com as restantes espécies, que nos permita compreender o papel que desempenham na nossa saúde mental, física e emocional, bem como na nossa própria sobrevivência.

“Sempre me senti maravilhado com o mundo natural”, diz Flach. "Quando era pequeno, ia caminhar e passava o tempo a desenhar paisagens. Lembro-me muito bem de uma vez em que estive sentado num campo de milho durante dias. Num dos meus desenhos, estava tão concentrado naquilo que me rodeava que, quando uma abelha passou à minha frente, consegui sentir a sua energia atravessar o céu enquanto o lápis riscava o papel. Essa sensação de maior consciência da natureza transformou-se em algo que tento sempre redescobrir e transmitir no meu trabalho como fotógrafo."

Esta ligação forte com o nosso mundo natural não é algo estranho nem arcaico: teorias como a hipótese de Gaia tentaram explicar a incrível complexidade do nosso planeta e as suas notáveis capacidades homeostáticas: esse equilíbrio perfeito que permite, sustenta e alimenta a vida na Terra. “Se não conseguirmos entender como a Terra consegue manter o meio ambiente de modo a possibilitar a vida, não nos daremos conta do ponto de viragem em que podemos estragá-lo de forma irreversível”, comenta Flach. “A noção de o mundo natural ser vulnerável só começou a fazer parte da consciência contemporânea nas últimas décadas. Vivemos um momento único na nossa história e teremos de fazer uma mudança a nível cultural. Sentindo essa urgência, quis criar imagens que nos tocassem emocionalmente, para que nos sintamos obrigados a mudar a nossa relação com a natureza”.

As fotografias de Tim Flach têm a capacidade singular de captar a essência das espécies, promovendo simultaneamente uma ligação emocional profunda entre o observador e o observado. “Ao longo deste projecto, senti-me afortunado por ter visto e fotografado alguns dos animais mais extraordinários do mundo. No Quénia, olhei nos olhos o último macho de rinoceronte branco do norte. Nas águas em frente às ilhas Galápagos, observei tubarões-martelo a rodopiarem serenamente à minha volta. No México, olhei para cima e observei milhões de borboletas-monarca, suspensas no céu como confettis dourados. Esta viagem tornou claro que não podemos simplesmente arrancar os animais do seu entorno e pô-los numa arca para protegermos o seu futuro sem pensarmos na importância do habitat que lhes foi tirado.”

Essa sensação de maior consciência da natureza transformou-se em algo que tento sempre redescobrir e transmitir no meu trabalho como fotógrafo.

As suas fotografias de animais são deslumbrantes, mas têm também um compromisso visceral: não antropomorfizam excessivamente os animais, mas fomentam uma relação através da captura dos instintos e das emoções que partilhamos com eles: medo, emoção, vulnerabilidade, a necessidade de fazer parte de um grupo ou de proteger os mais novos.

Como disse o Dr. George Schaller, um dos biólogos mais respeitados do mundo, pode fazer-se a melhor ciência do mundo, mas a conservação baseia-se na emoção e, se não forem as emoções, nunca conseguiremos fazer nada relevante.”

“Temos de mudar culturalmente a nossa relação com o mundo natural.”

A conservação vem do coração e nunca deveríamos esquecer-nos disso. “A principal mensagem deste livro é que temos de mudar culturalmente a nossa relação com o mundo natural”, comenta o fotógrafo. É fundamental criar uma sensação de parentesco com os animais, pois é absolutamente necessário que haja um impulso emocional que nos leve a agir. Este é o desafio actualmente enfrentado pela ciência. Para ligar as pessoas à ciência e à conservação precisamos da arte. Temos de sentir alguma coisa para começarmos a agir”, conclui Flach.